Meus dedos tamborilavam no tampo da mesa enquanto eu relia pela milésima vez a mesma frase. Concentração falha, primeiro sinal de cansaço. "Olha pra mim", pensei, "mal consigo manter os olhos abertos!".
- E são só os exames. Espere para ver nos NOMs. – Max Ditroid disse, sentando-se ao meu lado.
Fiz que sim com a cabeça. O quinto ano era deveras difícil para os alunos de Hogwarts, porque a professora Minerva não admitia que nossos resultados fossem baixos. Contudo, para mim era imensamente difícil. Eu era não só a nova monitora de Gryffindor, mas também tinha de estudar em dobro. Pode-se dizer que eu tinha o triplo do trabalho dos meus colegas.
Max estava no mesmo ano que eu, era monitor de Ravenclaw e artilheiro do time de quadribol, então acho que ele, mais do que eu, tinha noção do que era estar atarefado.
Deitei a cabeça sobre o livro e fechei os olhos, pensando em como eu poderia fazer aquilo na frente de alguém que devia estar bem mais cansado que eu.
- Vamos dar uma volta, assim você desperta e já aproveitamos para fazer a ronda. – Max sugeriu e eu concordei. Enfiei as coisas de qualquer modo na mochila e o segui para fora da biblioteca.
Max veio me contando sobre como as festas em sua casa tinham sido boas. Na verdade, era a primeira vez que conseguíamos conversar sozinhos, ao passo que eu sempre saia para as rondas com o outro monitor de Gryffindor, Ryan Caldwell. Gostava de Max porque ele falava bastante e isso me permitia ficar em silêncio, ocasionalmente concordando ou meneando a cabeça, perdida em meus pensamentos. Na verdade, eu ficava pensando em como minha cama deveria estar aconchegante naquele momento, até que ele parou na minha frente.
- Vic? – perguntou, passando a mão na frente do meu rosto.
- Hum? Ah, é, claro, concordo. – respondi, mas percebi que não era aquele tipo de resposta que ele pretendia com sua pergunta que eu sequer escutara.
- Perguntei se vocês se falaram.
- Ah. Quem?
- Você e seu primo.
- Ele não é meu primo! – respondi, meio brava. Aquilo o assustou.
- Desculpe, é que...
- Tudo bem. – disse, fazendo um sinal de "deixa pra lá". – Mas não, ainda não falei com ele. Na verdade, nem preciso. Ele não é, sabe, meu responsável para ficar opinando na minha vida daquela forma. – disse e continuamos andando.
É claro que Max se referia ao incidente na biblioteca duas semanas atrás, quando nos conhecemos. Eu estava ajudando um grupo de alunos com seus estudos quando ele me pedira ajuda extra pouco depois. Concordei, é claro. Ele me contara sobre como seria de grande auxílio, visto que na sua condição de "sempre ocupado" mal tinha tempo para tudo. Mais conversamos do que estudamos e isso se repetiu por diversas noites até que ele me beijou, enquanto procurávamos um livro numa das estantes. O dito cujo "primo" sobre quem Max se referia era Teddy, que por alguma razão estava ali naquele momento e começou a gritar com o pobre garoto.
- Entendi.
- Ele só é extremamente estúpido.
Max deu um riso amarelo meio "é, claro, pode ser".
A verdade era que estava tudo bem até aquele momento, antes do Teddy fazer um escândalo na biblioteca. Nós passávamos as férias juntos desde que eu me entendia por gente – exceto quando eu ia à França, raríssimas vezes – e nunca estivemos tão bem como naquele último final de ano. Não brigamos, não discutimos, ele não comeu meu café da manhã antes que eu chegasse – na verdade até guardou um pouco do seu para mim, "como pagamento por todos esses anos que fiz você passar fome" – e até conseguimos formar uma boa dupla num jogo trouxa que tia Hermione nos ensinara. Estranho até demais, mas não pensei muito naquilo, na verdade senti falta de brigar com ele e um pouco de medo que ele estivesse crescendo muito, sem me esperar. Teddy já estava no seu último ano, e me dava certo incômodo lembrar disso cada vez que o via estudando para os NIEMs com os outros septanistas.
Depois disso, voltamos para Hogwarts e veio aquele escândalo sem razão aparente. Desde então ele não falara mais comigo.
- Mas vamos mudar de assunto. Se eu começar a pensar nisso, vou esquecer aquela maldita frase que eu tanto reli no livro, porque na verdade nem a lembro mais.
Então, Max – um pouco mais relaxado e contente – começou a contar sobre algo que acontecera com ele no Beco Diagonal e eu resolvi que prestaria atenção no que ele dizia. Fiz bem, porque a história era até bem engraçada.
- Mas por que você falou isso ao duende? Sabe que aqueles do Gringotes são bem esquentadinhos... Meu pai disse que uma vez ele...
- Ahn, é, vamos voltar? – Max falou de repente, tentando me girar para o outro lado.
- Quê? Mas nós ainda nem chegamos ao fim desse corredor e ir por aqui é mais perto do que voltar! – exclamei, confusa.
- É bom que você tem tempo para terminar a história. Vem Vic...
- Deixe de ser bobo, ainda temos mais uns vinte minutos e...
Foi aí que eu vi o que ele tentava evitar. Escorados no arco de uma porta entreaberta de uma sala bem a nossa frente, estava uma menina, com suas vestes de Ravenclaw um tanto amassadas, agarrada naquele sempre distinguível monte de cabelos azuis.
- TEDDY! – gritei, sem pensar muito.
Ele soltou a menina e ambos nos olharam confusos. Quando perceberam o que acontecia, Teddy estreitou os olhos e juro que vi, na penumbra de um archote, seus cabelos ficarem vermelhos como o fogo.
- Oi Vic. – ele respondeu, ainda muito próximo da garota.
- O que estão fazendo nessa... digo, o que estão fazendo aqui? – perguntei, tentando ficar calma.
- Ora, acho que estamos nos beijando. – ele disse rápido, seu olhar indo de Max para a menina e voltando para Max.
- Vocês não deviam estar fora da cama!
A essa hora, todos os quadros já haviam despertado e estavam esbravejando conosco. Pouco me importava, na verdade.
- Nós temos permissão. Você mesma conseguiu, esqueceu?
Quando eu retornei das festas, tive a brilhante ideia de pedir McGonagall, a diretora, que nos deixasse ficar na biblioteca além da hora permitida, de modo que tivéssemos mais tempo para estudar.
- Sim, mas era dentro da biblioteca! – eu continuava gritando. Manter a calma não era comigo naquela situação.
Max tentava me acalmar, mas ele mal conseguia dizer alguma coisa, talvez com medo de que eu o estuporasse ou furasse seu olho com a varinha.
- Desculpe, amanhã nos beijaremos dentro da biblioteca. – eu enrubesci e ele pareceu contente. – Parece que vocês descobriram um bom lugar por lá. – Teddy comentou, encarando Max.
Naquele momento, eu avancei para cima dele com a varinha empunhada. Ele fez o mesmo com a varinha dele. Nós duelaríamos ali mesmo se Max não tivesse me desarmado.
- Por que você fez isso?! – virei para ele, gritando.
- Vamos voltar, precisamos estudar. – ele disse, recolhendo minha varinha com um accio.
- É, você e seu namoradinho precisam estudar. – Teddy falou fazendo aquela voz idiota.
Tomei minha varinha da mão de Max antes que ele pudesse evitar e apontei para Teddy e a garota.
- É melhor você e sua namoradinha irem para a biblioteca antes que eu aplique uma detenção aos dois! – foi ai que reconheci a menina, que era a outra monitora de Ravenclaw, também do quinto ano.
- Vá em frente. – ele me encarou com aquela careta de desafio.
- Vic, chega, vem. – Max me puxou. Por ser jogador, ele era bem mais forte que eu e pouco adiantou minha resistência. Em verdade, o que fiz foi olhar bem na cara de Teddy e depois beijar Max com ferocidade. Eles ficaram bastante surpresos Aproveitei esta como uma deixa e puxei Max para longe dali.
No caminho inteiro, eu não disse nada. Pisava forte e Max me seguia, também sem falar. Ao chegarmos na biblioteca, disse que não estava mais a fim de estudar e voltei para meu dormitório. Enquanto eu andava, sentia vontade de socar alguma coisa, de ter dado um soco na cara daquela garota de Ravenclaw. Também sentia vontade de chorar, como se algo estivesse muito errado dentro de mim. Depois, afundei na cama. "Você estava com ciúme. Tinha de ser você ali, não é?", uma vozinha sussurrou dentro da minha cabeça antes que eu caísse no sono.
