Como velhos fantasmas estragaram o Natal

Adriana Swan

Capítulo 01 – Casa dos Gritos

Tudo era branco.

A Casa dos Gritos coberta pela grossa camada de neve se misturava a imensidão clara que a rodeava. Suas janelas fechadas com madeira, suas portas trancadas, seus caminhos esquecidos, o maldito barulho do vento que a fazia ranger como se a casa inteira balançasse junto a ele.

Pansy bufou zangada. Não podia acreditar que Draco a havia deixado esperando ali e não aparecera. Já passava da hora de voltar para o Castelo, a visita a Hogsmead estava no fim e logo seria noite, noite de Natal, sem contar que a neve prometia uma noite bem gelada. Onde estaria Draco?

Harry andava solitária pelo caminho que dava para a Casa dos Gritos. Com Rony e Hermione namorando, sobrava pouco para se fazer sozinho. Depois de perambular por horas entre a Zonk's e a Dedos de Mel (e fugir de Romilda Vane e amigas) acabara decidindo vir ver a Casa dos Gritos, lugar que lembrava muito o padrinho, o professor Lupin e até seu próprio pai.

Parou.

Todos os alunos de Hogwarts foram ensinados a temer a Casa dos Gritos, achando que ela fosse assombrada quando na verdade apenas servira de refúgio para um jovem lobisomem muitos anos atrás. Nada podia ter deixado Harry mais surpreso do que ver uma garota parada sozinha em frente a entrada da casa no meio da neve.

Pansy Parkinson.

A garota parecia desconfortável, talvez pelo frio, talvez por ele não ser quem ela esperava ou talvez por estar tão perto de um lugar que todos consideravam assombrado. De fato, Parkinson não parava de andar de um lado para o outro, enquanto olhava a estrada com desagrado como se esperando alguém.

Harry caminhou devagar se aproximando da garota, de alguma forma ela não combinava com aquela paisagem abandonada e que parecia tão acolhedora e familiar para o grifinório.

- Está perdida, Parkinson? – ele falou alto se aproximando. Com sorte, ela se sentiria incomodada pela presença dele e sairia dali.

Pansy rangeu os dentes de frio e irritação olhando o rapaz que se aproximara. Segurou a sacola de comprar onde trazia consigo o cachecol que fizera com as próprias mãos de presente para Draco, todo em tom de ver como o loiro gostava. Quando recebeu a coruja marcando um encontro ali justo na véspera de Natal, a garota achou que depois desses seis anos estudando juntos ele finalmente ia querer ficar com ela, mesmo a tratando muitas vezes como uma irmã. Agora estava ali, sozinha, congelando, com medo e sendo atormentada pelo Potter.

- Resolvi fazer bonecos de neve, Potter. Este parecia um local agradável. – Ela respondeu sarcástica torcendo o nariz em desagrado, coisa que fez Harry lembrar dos buldogues de tia Gida.

Ele a ignorou andando em direção a casa. Estavam dentro dos limites da cerca, pois Pansy havia marcada "em frente a casa" e ela não queria correr o risco de dar a Draco a desculpa de "eu não te vi por lá". O grifinório deu alguns passos e logo estava na pequena entrada de pedra que quase sumia em meu a neve e que ficava bem em frente a porta sinistramente fechada por tábuas.

- Eu acho a Casa dos Gritos bem agradável. – Ele comentou suspirando e lembrando do encontro revelador que tivera com o padrinho ali, alguns anos antes.

- Bem agradável se você tem a sensibilidade de um trasgo – ela comentou revirando os olhos para o céu. Ele riu.

- Está com medo, Parkinson? – Harry comentou sorrindo. Ele sabia muito bem como todos os alunos de Hogwarts temiam aquela casa, tanto que certa vez assustara Malfoy ali.

- Não é medo, Potter, é inteligência – ela comentou enquanto cruzava os braços assumindo inconscientemente uma postura arrogante – Sei que a Casa dos Gritos é assombrada por alguns dos piores tipos de aparições do além que já se ouviu falar no mundo mágico. Não brinco com isso.

Ele riu mais abertamente da superioridade e ignorância da garota e bateu três vezes na madeira antiga como se chamasse alguém lá dentro. Voltou-se para a sonserina.

- Fantasmas? – ele falou zombando do medo dela – Que tipo de bruxa do sexto ano tem medo de fantasmas?

- Não são só fantasmas, Potter – ela retrucou, seus olhos presos na atitude dele de bater na cada como se não a temesse. – Eu sei tudo sobre essa casa, você não tem noção do perigo.

- Sabe tudo sobre essa casa? – ele exclamou começando a gargalhar. Incrível como a história inventada por Dumbledore sobre a casa ser assombrada havia ganhado tanta intensidade. Ele voltou a bater na madeira, dessa vez na porta da frente. – E você sabe exatamente o que é que habitava as noites da Casa dos Gritos?

A pergunta dele tinha som de desafio e ele estava claramente se divertindo as custas das respostas dela. Pansy bufou e pensou seriamente me mandá-lo para o inferno, mas respondeu a pergunta, ainda admirada com o desrespeito de Potter pelo local.

- Claro que sei – ele a olhou cético enquanto ela falava – No ano de 1917 quando um misteriosa gripe matava aos montes tanto trouxas quanto bruxos, a guerra devastava o continente e a esperança havia morrido, um casal de trouxas muito inteligentes descobriram a existência da magia. Apaixonados demais para viverem um sem o outro, os dois fizeram um pacto de amor para que vivessem eternamente juntos, nessa casa.

A garota terminou a história com um ar teatral, como se tivesse acabado de contar algo muito importante.

- Eles se mataram? – ele perguntou franzindo o cenho.

- Foi – ela respondeu balançando a cabeça para frisar a afirmação.

- E o que há de assustador nisso? – ele indagou dando as costa a casa e voltando a se aproximar da sonserina. Incrível como a imaginação das pessoas para acreditar e detalhar mentiras era fértil.

- E o que é pior – ela comentou arregalando os olhos (que Harry já achava bem grandes por natureza) – dizem que isso aconteceu na noite do Natal. – Ela falou o mais baixo que pode em meio ao vento.

- Na noite do Natal ou na noite da véspera? – ele indagou.

Ela abriu a boca para responder, mas parou pensando na resposta, Fechou e abriu a boca de novo, parecendo indecisa.

- Hummm, não sei dizer. – Ela reconheceu ainda pensativa. Ele riu.

- E é disso que você tem medo? – ele falou se voltando para a casa e se aproximando mais uma vez da porta.

- Dizem que alguns casais já tentaram viver na casa depois disso... mas eles sempre sumiam na noite de Natal. Ou na véspera, sei lá. Pense bem, Potter, eles simplesmente sumiam.

- Isso se chama a-p-a-r-a-t-a-r, Parkinson, e achei que já houvesse visto falar disso. – Ele chegou até a porta e girou a maçaneta fria e enferrujada que nunca havia usado, já que das vezes que estivera ali entrada por uma passagem secreta em baixo da casa. A maçaneta girou com facilidade. – Veja! Está destrancada.

A porta se abriu dando, apouca luz do dia que começava a se acabar entrou mostrando um longo corredor vazio e empoeirado. Harry se virou para a garota, ela estava com a boca aberta.

- Potter! O que você fez? – ela falou assustada.

- É só uma casa velha, Parkinson, não precisa entrar em pânico. – ele reclamou da reação exagerada da garota.

- Potter, é a Casa dos Gritos! - Ela falou apressada.

- Ah, eu sei. E vocês sonserinos são covardes demais para entrar na Casa dos Gritos. Bem, você pode ficar aqui no meio da neve ou voltar para o castelo sozinha e me deixar em paz, o que seria o ideal. – Harry falou e sem esperar uma resposta entrou na casa a fazendo soltar uma exclamação pouco educada.

A garota mordeu o lábio preocupada. Diabos! Potter era mesmo doido. Bateu o pé agoniada e deu meia volta decidida a voltar ao castelo antes que ele arrumasse encrenca para os dois.

Pansy ainda deu alguns passos em direção a estrada quando sentiu falta de alguma coisa. Onde estava a sacola com o cachecol que fizera com as próprias mãos para Draco? Voltou-se para a casa aberta, os dentes trincados de raiva. Potter devia estar brincando com ela! Será que ele queria ver se ela tinha coragem de entrar na Casa dos Gritos? Ela fechou os punhos e começou a se aproximar da casa com passos decididos, espumando de raiva. Potter ia ver só que não devia brincar com uma sonserina. Potter não ia estragar o seu Natal!

A sonserina entrou ruidosamente na casa, seus sapatos ecoando na madeira velha do piso. Ele estava parado no fim do corredor de entrada quando a viu se dirigir a ele irritada, cruzando os braços e batendo o pé como uma criança mimada. Ficou surpreso.

- Me dá o cachecol, Potter. – Ele falou em tom de ordem.

- Que cachecol? – ele perguntou franzindo o cenho.

- O cachecol verde que você pegou de mim lá fora. Devolva-me agora. – Ela ralhou.

- Não peguei droga de cachecol nenhum. – Ele respondeu perdendo a paciência.

- Quem mais poderia? – ela indagou.

- Sei lá! Vai ver você com essa inteligência toda o perdeu ou quem sabe – ele sorriu maldoso- foram os fantasmas.

- Ha-ha-ha, Potter, muito engraçado – ela desdenhou imitando uma risada e o olhando ainda mais zangada.

Neste momento, um vento forte atingiu a casa a fazendo estremecer com um sonoro barulho e numa pancada forte a porta por onde entraram se fechou.

N.A.: Fic totalmente e descaradamente baseada em um episódio de Arquivo X.