ANYTHING BUT ORDINARY
"Qual
o seu nome?"
"Harry James Potter"
"Qual a
sua idade?"
"Vinte e cinco anos"
"Profissão?"
"Comensal
da morte"
"Conte sua história"
Somethimes
I get so weird
Algumas
vezes eu fico tão estranho
I
even freak myself out
Eu
até mesmo enlouqueço
I
laugh myself to sleep
Eu
rio de mim mesmo para dormir
It's
my lullaby
Esta
é minha canção de ninar
"Nunca cheguei
a parar para pensar em mim mesmo nessa vida.
Que está
chegando subitamente ao fim.
Nunca parei para pensar em alguém
sem serem os meus amigos... E ela.
Sabe, nunca achei que as coisas
pudessem ficar desse jeito...
Já que meu mundo sempre foi
meio adocicado, apurado e refrescado pelas pessoas que sempre
cuidaram de mim - fossem elas Hagrid, Dumbledore, meus tios, ou
Sirius - eu nunca notei a quantas o perigo me rondava de
verdade...
Agora, por pensar sempre nos outros antes de mim, por
tentar agradar, eu estou aqui: uma cama de palha, as grades e a lua,
os dementadores...
Isso é o que eu chamo de
retribuição.
Mas, agora, na beira da morte, pela
primeira vez, eu estou pensando em mim; na realidade, estou sentindo
pena
de mim.
Estou aqui, condenado ao Beijo do Dementador, por algo que
eu fiz por amor.
Por algo que eu fiz por ela.
A boa menina.
Boa. Há, há, muito engraçada a pessoa que me
contou essa piada.
Muitíssimo engraçada.
Mas
agora, não dá para voltar atrás.
A marca no
meu braço pode estar ardendo, mas não é isso o
que me incomoda.
O que me incomoda é o fato dela ter me
acusado, dela ter me condenado a ser o que eu sou agora, e de ter me
transformado
no que sou agora.
Já era. Não dá mais para
volta atrás... Pelo menos eu vivi ao extremo, e deixei muita
gente feliz - eu acho.
Deixe-me explicar quem é ela,
senão vocês podem achar que eu sou louco; e não
que eu estou
louco.
Trait Mordicant é o seu nome.
Risco mordaz em
francês.
Logo que a vi, eu me apaixonei.
Uma francesa e
tanto... Tinha os olhos mais profundos, o sorriso mais tentador, as
mãos mais suaves...
Eu ficava estranho quando estava perto
dela, ou ao menos era isso que meus melhores amigos viviam me
dizendo.
E o que eu fiz... Bem, foi ela que me açulou a
fazê-lo"
Somethimes
I drive so fast
As
vezes eu dirijo tão rápido
Just
to feel the danger
Somente
para sentir o perigo
I
wanna scream
Eu
quero gritar
It
makes me feel alive
Isso
me faz sentir-me vivo
"Trait vivia me metendo em
encrencas... Mas eu gostava... Eu sempre seguira as regras, sempre
fora o menino bonzinho, sempre agira de acordo com as expectativas...
Trait me levava mais longe, me mostrava o novo, o inesperado, o
inexplicável... Com ela eu vivi no limite, e a cada dia que
passava eu me apaixonava mais e mais...
E então, chegou o
dia em que... Bem, em que nós dois tivemos a primeira
vez.
Quero dizer, que eu tive a minha primeira vez... Ela
provavelmente já era mais arrombada...
Bem, em todo caso,
quando estávamos dormindo, e eu lhe acariciava o rosto... Eu
notei algo estranho em seu braço esquerdo...
A Marca Neg...
(O que importa é que ela me denunciou)... A Marca Negra.
Eu
me assustei... Mas, por fim, deixei passar e guardei seu segredo...
Acho que foi porque eu a amava... Ou talvez porque eu sempre quis o
melhor para os outros... E condená-la não era o que eu
chamava de ser bom para os outros. Ou para ela. Ou para com o meu
coração, que ficaria partido...
Mas... O que antes
era para ser apenas um segredo, passou a ser uma pressão...
Ela
começou a me pressionar... Dizia que eu podia ser de grande
poder... Dizia tantas coisas...
Falava tanto que o Milorde queria
que eu fosse um de seus... Aliados...
Assim como Snape... Malfoy... E tantos outros... Tantos outros...
E
então, como minha vida estava se tornando subitamente
monótona... Eu me deixei levar... Para sentir o
perigo...
Troquei de lado tão rápido que nem eu
notei direito...
Ela também era boa em manipular pessoas.
Pelo menos foi comigo... Foi muito boa.. Muito boa mesmo...
Muitíssimo boa...
E, então, ela me fez matar... Para
me fazer sentir vivo... Para sentir o perigo...
E, o estranho, foi
que eu me senti vivo... Eu matei para me sentir vivo, e me senti
vivo... Eu matei para me sentir vivo... Vivinho! Me senti vivo! Vivo,
como nunca havia me sentido! Eu me arrisquei, corri, aparatei, matei,
matei, matei, matei! Eu matei e me senti mais vivo do que nunca!!
VIVO! Vivo... Vivo... Muito vivo... Você não imagina o
quão vivo eu me senti...
E tudo por causa da adrenalina, da
rapidez, do perigo... Ah, o perigo...
Mas agora eu vou morrer, sem
nem ter direito a um último pedido... Você não
imagina como é ter que morrer sem nem poder dizer adeus para
meus amigos, sem nem poder ter tempo para retribuir todo o carinho
que eles tiveram, toda a paciência, toda a compreensão,
todo o otimismo e todas as tentativas de me trazerem a razão
novamente..." o homem mais velho esperou por uma continuação
que não veio; Harry encarou por longos minutos a parede
encardida, os olhos pesados e vazios.
"Obrigada, Sr. Potter"
o homem com sua barba castanha escassa e rala se levantou do chão
da cela, e dispensou o Dementador que estava ali por perto.
O
pobre garoto estava para morrer, e voltava a pensar nos outros.
Apenas queria agradecer.
Era um grande desperdício ele ter
trocado de lado tão rapidamente, mas agora tinha que pagar
pelo que fizera. Haviam sido dores demais, vidas demais, desperdícios
demais...
Is
it enought to love
Isso
é o bastante para o amor?
Is
it enought to breath
Isso
é o bastante para respirar?
Somebody
rip my heart out
Alguém
arrancou meu coração
And
leave me here to bleed
E
me deixou aqui para sangrar
Is
it enough to die
Isso
é o bastante para morrer?
Somebody
save my life
Alguém
salve a minha vida
I'd
rather be anything but ordinary please
Eu seria qualquer coisa menos normal, por favor
Harry viu o homem
sair da cela com algum pesar. Ele era a sua ultima chance de
sobreviver... Mas sabia que não iria sobreviver. Nem o amor
justificava seus atos.
E todos tinham tanta certeza de que ele
estava cansado de ser sempre o bonzinho, e que por isso trocara de
lado...
Dessa vez nada o poderia salvar.
Eles iam o deixar ali,
sozinho, sangrando as dores do passado, se lembrando de cada perda,
cada lágrima, e cada sorriso que esquecera nos lábios...
Eles iam o deixar nas mãos da dor e da justiça sem
justiça, da morte, da guerra, do sacrifício.
Mas,
para ele, morrer era melhor do que ter que viver como réu,
como vítima mais uma vez, ter que passar pelo preconceito,
pelo ódio e pelo amor... Ele só queria ser normal. Ser
ele mesmo. O que, aliás, não era exatamente normal, mas
era muito melhor que os últimos catorze anos de olhares
estranhos ou os últimos dez de adrenalina.
E, se não
era para ser normal, ele preferia não ser nada. Preferia
morrer.
Uma figura vestida de preto fez Harry esquecer de seus
pensamentos, e mergulhar em berros, dores, mortes e vingança.
Frio. A figura o amortecia com lembranças de arrependimento,
de escuridão e traição, tudo o que ele queria
esquecer... Um maldito dementador.
Estava lhe trazendo aquela
massa com gosto de pó e dor que eles chamavam de comida. Mas
Harry não tinha tempo para nojo. Então o dementador
colocou aquela tigela de barro encardida e fedorenta para dentro da
cela, e deixou Harry vislumbrar o horror que era sua mão
macilenta, apodrecida e cheia de cicatrizes de uma guerra que não
o afetava de jeito algum. A dor em sua cicatriz o deixou cego durante
alguns instantes, mas ele já estava acostumado...
Principalmente agora que tinha uma outra cicatriz que ardia muito
mais que a outra... A cicatriz da dor, do arrependimento.
Ele
havia acabado uma guerra uma vez, e começou uma guerra na
outra...
O que o fizera ser tão estúpido?
Ah,
sim... O amor... Seu estúpido amor cego...
Ele balançou
a cabeça em negação, para esquecer novamente
dessas coisas, e tentou se lembrar de alguma coisa boa que lhe
acontecera, mas a força dos dementadores o estava deixando
insano. Não conseguia se lembrar de jamais ter sorrido em sua
vida, de ter respirado um ar puro... Só se lembrava de ter
sofrido, visto mortes e chorado dores que ele já havia há
muito esquecido...
Um outro vulto negro passou pela sua frente, e
ele fechou os olhos.
Os berros de sua mãe começaram
a ecoar loucamente em sua cabeça. Logo a voz de seu pai
começou a o ensurdecer e, por fim... Seus amigos. O choro
copioso de Hermione, os berros de dor de Rony... E a voz doce de Gina
lhe implorando para voltar a realidade.
Milhares de flashes de
sangue, batalhas, morte, dor, lágrimas... Tudo o que ele havia
se habituado a gostar... As lagrimas começaram a rolar
lentamente por seu rosto, enquanto a figura apenas o encarava.
Quando
o Dementador saiu do campo de visão de Harry, ele escondeu o
rosto entre as mãos.
Sua respiração ruidosa
poderia ser ouvida de longe.
E então, sem mais nem menos,
ele se levantou e correu para as grades.
"SOCORRO!!!"
e caiu no chão novamente. Chorando.
To
walk within
the lines
Andar
na linha
Would
make my life so boring
Deixaria
minha vida tediosa
I
want to know that I
Eu
quero saber que eu
Have
been to the extreme
Estive
sempre no extremo
Um
longo tempo depois, outro vulto de negro se aproximou das grades.
Harry fechou os olhos, já esperando as cenas de dor e
sofrimento, mas tudo o que aconteceu foi o clique das portas se
abrindo.
"Obrigada" uma voz doce sussurrou para um dos
guardas. Ele podia sentir as lágrimas dela escorrendo, e soube
quem era. Não era um dementador "Olá, Harry"
"Não
imagino como te deixaram entrar aqui..." ele falou, as lágrimas
começando a escorrer pelo seu rosto também; não
queria que ela visse sua fraqueza, descobriu em sua insanidade, então
virou o rosto e se escondeu dela no escuro "E não
imagino como você pode querer
vir aqui..."
"Eu também não. Mas ter uma
forte ligação de amizade, amor e ser uma Auror... Ajuda
muito para o seu lado" a pessoa abaixou a capa, e ele pode ver o
rosto lindo riscado pelas lágrimas. Suspirou.
"Me
desculpe. Eu realmente estive cego... Não via o que estava
fazendo... Apenas fazia... Me desculpe... Eu nunca, jamais quis te
fazer infeliz... Eu apenas... Apenas fiz... Era como agir sob um
Imperius,
mas sem estar sob o feitiço..." parou por um segundo,
ponderando sua história, sua idiotice, sua loucura "É
uma coisa terrível amar. Eu realmente não queria te
machucar. Nunca quis, nunca vou querer"
"Então
não se entregue, Harry. Por favor" o tom dela era quieto
e gentil, e ele sentiu o coração sendo arrancado do
peito com aquelas palavras. Como ela podia ser tão boa depois
de todas as coisas terríveis que ele havia feito? Ele havia
destruído a vida dela, e ainda assim ela queria que ele
sobrevivesse e não se entregasse? Ele mesmo queria se
entregar, pelas barbas de Merlim! Mas, ao invés de expor seus
pensamentos para ela, trilhou um caminho ainda mais tortuoso, movido
pela força da insanidade que se apoderava lentamente dele,
mais e mais a cada dia que passava.
"Sabe, era como morrer e
viver ao mesmo tempo... Aquela paixão louca, que a gente nunca
sabe se é verdadeira ou não, de tão repentina
que é. Eu não sabia se queria apenas estar no extremo
ou se eu estava realmente apaixonado... Era assustador, sabe?
Assustador..." ele estava novamente se perdendo. A mulher se
abaixou na sua frente e lhe deu um tapa no rosto. Ele lhe encarou
assustado.
"Por que fez isso?" seus olhos brilhavam com
a voz da razão, mas ela podia ler nas íris que ele
partiria logo. Porque partir era a escolha mais fácil, diante
da idéia de ter de encarar seus piores medos e maiores
vergonhas.
"Pra você acordar, seu imbecil. Eu não
quero que você morra, Harry Potter. Eu não quero te ver
perder a alma... Eu quero que você lute pela sua vida, eu quero
que você brigue, esperneie! E, se for para morrer, que morra
lutando pela vida... Não desista pelos erros que cometeu..."
ela respirou fundo, limpando os caminhos de lágrimas em seu
rosto e o encarando fundo nos olhos. Não queria dizer nada do
que estava dizendo. Viera ali para dizer que queria que Harry
morresse em meio a dor, que apodrecesse em Azkaban, sem alma e sem
amigos, mas não tivera força. Amava Harry; sempre o
amara. Não tinha como desistir dele. Não podia desistir
dele. Mesmo que ele já tivesse desistido de si mesmo "Todos
cometem erros... Eu também cometi os meus... E esse momento
provavelmente é um dos maiores erros da minha vida..." ela
baixou os olhos, respirando fundo mais uma vez e fechando os olhos
com força. Cada uma das palavras que disse a seguir doeram
como facadas "Você matou
o meu irmão. Mas eu posso te perdoar... Talvez eu mesma esteja
cega pela paixão... E só não sei mais o que
fazer sobre isso. Estou assustada e não quero que você
morra... Eu morreria no seu lugar, Harry..." essa constatação
a assustou, mas continuou falando, falando enquanto ele ainda estava
ali, enquanto ainda havia espaço para esperança e
palavras "Eu te amo demais... Te amo demais... Não morra,
Harry, por favor... Não desista da vida..." e contra
todas suas expectativas, ela acabou se abraçando e o
abraçando, apesar do terror e do arrependimento; ele a segurou
contra o peito, chorando com ela. Sentia saudades daquela sensação.
Fazia muito tempo que não a abraçava.
"Você
sabe que não tem saída. Não adianta ficar aqui
chorando, ou lutar... Eu cometi muitos erros. E erros enormes; tenho
que pagar por eles"
"Não, que droga, você
não tem! Todos erram, todos são perdoados... Porque
seria diferente com você?"
"Porque eu matei o meu
melhor amigo. Eu matei o Rony, Gina. Eu me matei, matei a sua
família, matei a você, matei a esperançado mundo
mágico. Eu não mereço ser perdoado"
So
knock me out off my feet
Então
me tire dos trilhos
Come
on now give it to me
Venha
agora, dê para mim
Anything
to make me feel alive
Qualquer
coisa para fazer sentir-me vivo
"Você
não fez nada de errado... Você..."
"GINA,
EU MATEI O RONY! Está mais do que claro para mim que eu não
mereço ser perdoado! Que eu fiz muito mais que milhões
de coisas erradas! Eu não sou o Harry Potter! Eu não
sou um garoto prodígio tentando escapar da fama, ou ganhar
mais fãs, dessa vez do lado das trevas! Não! Eu sou
apenas Harry, um cara que ficou louco de amor e cego, e começou
a agir como um tolo! É ISSO O QUE EU SOU!"
"Não!
Você é o Harry, o cara humano, que tem o direito de amar
de novo, de viver de novo, de se redimir dos seus erros... Se até
o Snape foi perdoado, por que não você? Você é
o Harry... O Harry que eu amo, o Harry que eu sempre amei, merda!"
"E
que, obviamente, não devia ter amado. E não devia
amar... Gina, por favor, eu não quero te fazer sofrer mais.
Saia daqui, por favor..."
"Só se você me
prometer continuar vivo"
"Eu não tenho porquê
continuar vivo..."
"Você tem três grandes
motivos para continuar vivo, Harry. A esperança de se redimir
de seus erros... A promessa que vai fazer para mim de que vai
viver... E eu. Que só conseguirei viver se souber que você
está vivo também" não, essas decididamente
não eram as palavras que ela viera ali para dizer; mas elas
eram muito mais certas do que xingamentos e juras de ódio
eterno.
"Me desculpe Gina... Eu não agüento mais
viver... Me deixe morrer em paz, por favor... Sai daqui... Por favor,
me deixa só..."
"Você nunca vai estar só.
Não importa o que aconteça" ela o encarou,
novamente recomposta, mas ainda meio assustada com os próprios
sentimentos. Abaixou-se em um gesto insensato e segurou o rosto dele
entre suas mãos, que tremiam levemente "Eu vou estar com
você" e o beijou. Os lábios roçaram de leve,
quase como uma carícia inexistente. Um toque de despedida, um
adeus frustrado, ou talvez um até logo. Harry nunca soube.
Apenas sentiu a sensação dos lábios dela nos
seus próprios, os dela doces, convidativos, macios, os seus
próprios secos, áridos e rachados, e achou que podia
morrer em paz. Que o cheiro dela estaria para sempre - ou pelo menos
até sua morte - em sua mente, que a quentura daquele corpo
aqueceria para sempre o seu.
Mas logo acabou. Ela se levantou e,
sem mais palavra - ou toque - saiu da cela e foi-se embora. Para ele
nunca mais a ver, apesar de saber que a promessa dela estaria sendo
cumprida a risca até os últimos dias dela.
Is
it enough to love
Isso
é o bastante para o amor?
Is
it enough to breath
Isso
é o bastante para respirar?
Somebody
rip my heart out
Alguém
arrancou meu coração
And
leave me here to bleed
E
me deixou aqui para sangrar
Is
it enough to die
Isso
é o bastante para morrer?
Somebody
save my life
Alguém
me salve
I'd
rather be anything but ordinary please
Eu
seria qualquer coisa menos normal, por favor
Jogou-se no chão,
as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, os soluços
escapando de sua garganta, a dor em todo o seu corpo; as más
memórias o atormentavam novamente enquanto, um longo temo
depois, um dementador - provavelmente - lhe servia mais uma daquelas
massas que eram chamadas de comida.
Sentiu algo gelado pousar em
seu braço e o levantar, sem problemas.
Não, estava
errado. Não era hora da comida. Era hora do julgamento.
"A
corte chegou a uma conclusão" um homem de cabelos
vermelhos falou em altos brados no salão silencioso. Mal se
ouvia a respiração das pessoas.
Percival Weasley
levou os olhos até o réu e o encarou. Sorriu
morbidamente, e pronunciou o veredicto:
"Culpado"
Let
down your defences
Abaixe
sua defesa
Use
no commom sense
Não
use o senso comum
If
you look you will see
Se
você olhar, você verá
That
this world is beautiful
Que
esse mundo é lindo
Accident,
turibulent, succulent, opulent permanent, no way
Acidental,
turbulento, suculento, luxuoso, permanente de jeito nenhum
I
wanna taste it
Eu
quero prová-lo
Don´t
wanna waste it away
Não quero gastá-lo a toa...
Harry encarou todos que estavam
a sua volta naquele momento. Estava sentado numa cadeira nada
confortável, um dementador perto de si. Tinha direito a um
último desejo.
Abriu os lábios secos, e notou a
excitação do dementador ao seu lado.
Fechou os
lábios novamente, com medo de falar. Mas continuou. Afinal,
ainda restava um pouco de Harry Potter nele.
"Eu quero..."
fechou a boca. Passou os olhos pela multidão difusa,
encontrando, na 'primeira fileira, em lugares privilegiados',
todos os Weasley. Gina provavelmente ali, também. Não
teve coragem o suficiente de os encarar para ter certeza.
Seu
coração se aqueceu.
"Eu quero..."
"Vamos
logo com isso, Potter!" alguém berrou no meio da
multidão. Harry o ignorou.
"O último desejo de
alguém no leito de morte deve ser respeitado de qualquer
jeito. O último desejo de um condenado é sua última
esperança, o último raio de sol em seu rosto. É
seu último sonho. Deve ser atendido "Eu quero... Que Ginevra
Weasley me dê adeus" ele sorriu devagar, não como
alguém que está feliz, mas como alguém que sabe
que deve aproveitar o último prazer que teria em vida.
O
silêncio que se alastrou na multidão era audível.
Que tipo de condenado tinha um 'adeus' como último pedido?
Era loucura!
Mas não para Gina, que se levantou
devagar.
Arthur Weasley segurou a mão dela, como que para
impedi-la de ir até lá, mas ela puxou a mão com
delicadeza.
"Me desculpe, papai... É o último
pedido de um condenado. Ele é sagrado"
Harry fechou os
olhos, apenas respirando o ar, e sentindo o oxigênio como se
fosse uma graça divina. Sentiu de longe o perfume de Gina;
jasmins e grama. Ouviu o som da respiração dela perto
de seu rosto. Manteve os olhos fechados para utilizar melhor os
outros sentidos. Levantou a mão em busca dos cabelos dela e,
cegamente, os tocou. Como última sensação teria
os cabelos dela entre seus dedos, macios como seda, leves como
pluma.
Sentiu ela chegar mais perto, mais perto e mais perto. Foi
abrindo os olhos devagar, soltou os cabelos dela, parou de sentir o
cheiro da respiração, apenas sentindo a proximidade
dela e querendo, quando ela estivesse bem perto, abrir os olhos, para
marcá-la como última visão.
"Adeus..."
ouviu de longe.
E então lábios tocaram os seus.
Eram
os lábios do dementador.
