- O Fugaku morreu? _ As lagrimas vieram instantaneamente assim que assimilou o que o homem a sua frente dizia em tom sério e profissional.
- Você... Você está chorando? _ Apressou-se em lhe oferecer um lenço.
- Me desculpe. _ Aceitou o lenço. – É que... Isso... Eu não esperava. Sinto muito.
Devia ser muito estranho ver uma desconhecida chorar a morte de seu pai, ainda mais quando o próprio filho parecia tão abalado quanto uma rocha depois de uma chuva. Mas ela não pode evitar, Fugaku Uchiha formara quem era hoje.
Ele era um empresário muito bem sucedido que amava ensinar. Conhecera-o ainda nova, aos 15 anos, quando iniciou um curso de gestão empresarial, tendo ele como professor. Fizera administração apenas porque ele a incentivara a fazer. Fez psicologia ao mesmo tempo.
Dias difíceis, carregar dois cursos nas costas. Por coincidência, ou não, ele ainda lecionara duas disciplinas a ela durante o curso de administração. Especializou-se em recursos humanos. Fugaku tinha sido seu mentor e estagiara com ele também. O considerava como um amigo, um pai.
- Como eu estava dizendo...
O homem a sua frente voltou a falar. O mesmo tom sério, postura profissional e rosto sem expressão. Sasuke Uchiha. Não sabia que Fugaku tinha filhos, ele nunca falara a respeito. Só mencionara a ex-mulher, que por sinal não falava coisas boas, de louca pra baixo.
O terno escuro de sombreado azul caia bem nos ombros largos. A gravata cinza sobre a blusa perfeitamente branca. Barba feita e os cabelos negros penteados para trás fazendo-o aparentar mais idade.
Lembrou-se que Fugaku fazia o mesmo com os fios cinzentos, a única coisa que denunciava seus sessenta anos, pois não aparentava ter muito mais que quarenta. Uma lagrima mais escorreu com a lembrança, sendo rapidamente escondida.
- Meu pai tinha um sócio que cuidava da empresa. Como ambos morreram, no acidente de carro como já te disse, os filhos estão assumindo.
Com filhos ele estava querendo dizer riquinhos mimados que não querem perder suas boas vidas e fazem de tudo para terem mais dinheiro. Basicamente isso. É claro que ele era uma exceção. Vendo o escritório bem organizado e a forma como ele se portava sentado atrás daquela mesa, ela podia dizer que ele era um profissional, e dos bons, com experiência.
- Acontece que a empresa já não produz como antes e estão querendo vender. _ Ele suspirou baixinho pela primeira vez mostrando que era humano. – Eu acho que não há necessidade, acho que podemos reerguê-la.
- Mas você é minoria. _ Concluiu.
- Sim, mas consegui que me dessem um prazo para apresentar crescimento.
- E onde eu entro nisso?
- Estava olhando uns arquivos e descobri que meu pai já estava trabalhando nisso e pretendia chamá-la para ajudá-lo.
- Então... _ Sim, ela queria ouvi-lo pedir. Não gostava da forma arrogante que ele a olhava.
- Eu gostaria que me ajudasse.
Ele não estava gostando nada daquilo. Pedir ajuda a uma mulher, uma estranha. Sakura Haruno. O nome não lhe chagava bem aos ouvidos. O que ela poderia ter de tão especial – além dos belos olhos verdes, os longos fios rosados e os seios fartos -, que pudesse despertar tanto a atenção de seu pai?
Não eram amantes, disso não tinha duvidas, estavam mais para pai e filha. Ele que tivera apenas meninos encontrar uma "filha" com interesses semelhantes seria o mesmo que ganhar na loteria. Não a queria como irmã, de forma alguma. Não era correto imaginar sua irmã gemendo e suspirando de prazer.
A pele morena, como a sua fora um dia – quando não passava o tempo todo em um escritório -, o corpo bem delineado na calça social preta e na blusa vinho, com um pequeno decote em 'V', e mangas curtas. Era bonita, tinha que admitir.
~OoO~
- Sasuke, eu já li e reli isso, está incompleto.
Sasuke suspirou e deitou no chão da sala que pertencera ao seu pai. Depois de mais de um mês de convívio já se tratavam sem formalidades. Praticamente moravam juntos, no escritório. Viraram varias noites trabalhando, não só no escritório, mas na casa dele também.
Estavam sentados no carpete vendo os últimos documentos com os planos de Fugaku, mas faltava a conclusão para que pudessem implantar a idéia. Já era madrugada, só eles e os seguranças permaneciam no prédio.
Sasuke estava jogado no chão, a gravata frouxa pendurada no pescoço, todo amarrotado, o paletó nas costa da sua cadeira em algum lugar, no meio daquela papelada, e faminto, além de exausto.
Sakura estava descalça, tão amarrotada quanto Sasuke, os cabelos presos com fios soltos pelo rosto e desanimada pela falta de retorno. Cansada, ela deitou-se também no chão. De olhos fechados ela sentia uma pontinha de dor de cabeça que ela atribuiu à fome. Abriu os olhos, para sugerir que pedissem algo, quando seus olhos encontraram um compartimento interessante embaixo da mesa.
- Sasuke, vem ver isso.
Ele ergueu o rosto para olhá-la, mas ela não se moveu. Arrastou-se até onde ela estava e se deitou ao lado dela, olhando na mesma direção.
- O que é isso?
- Parece uma gaveta. _ Ela procurava uma forma de abri-la. – Talvez...
- O que?
- E se puxássemos para baixo?
- Podemos tentar.
Ela levantou e ele permaneceu onde estava. Sakura pôs a mão sobre a superfície de madeira lisa, as unhas de tamanho médio e pintadas de cor escura, procurando o centro onde havia um botão. Tentou puxar o pequeno gancho pra ver se a gaveta descia, mas foi em vão.
- Tenta... Empurrar. _ Sugeriu pensativo.
Ela assim o fez e no mesmo instante houve um ruído que a fez afastar a mão e ele levantar apressado, ambos em expectativa. A gaveta desceu e se pós abaixo das outras três. Sasuke tomou a iniciativa de abri-la. A gaveta revelou uma tela que se acendeu. Uma mensagem apareceu acima de um teclado virtual.
- Por que pessoas sob uma mesma condição reagem de forma diferente?
- Bem a cara dele. _ Sasuke pensou alto.
Sakura tomou a frente, digitando rapidamente uma resposta. A tela escureceu e entrou para debaixo da mesa, revelando um pen drive preto e um caderno. Sasuke pegou o pen drive e já ligou o computador num só movimento.
- O que você respondeu? _ Quis saber.
- Porque são pessoas. _ Tentava retirar o caderno da gaveta.
- Como sabia? _ Aguardava o computador iniciar.
- Lembra do estudo da administração? As trezentas costureiras?
- Sim, divididas em três turnos.
- Mesmo salário, a mesma carga horária.
- Mas um grupo produzia mais.
- Por quê?
- Porque eram pessoas, se motivam de forma diferente. _ Concluiu.
Sakura finalmente conseguiu tirar o caderno da gaveta. Era grande e pesado. Perdeu o equilíbrio ao segurá-lo por completo. Sasuke a segurou e tirou o caderno das mãos dela, com certa dificuldade.
- O que houve? _ Ela suspirou se apoiando nele.
- Tontura. _ Estava há muito tempo sem comer, com o esforço repentino a vista escureceu.
- Fome. _ Colocou-a sentada em sua cadeira. – Vou pedir alguma coisa para comermos.
Enquanto ele atravessava a papelada para chegar ao outro lado da mesa, onde se encontrava o telefone, ela pegou o caderno e pôs no colo. Abriu e folheou calmamente, lendo as inscrições, analisando. Resolveu parar quando uma pontada mais forte lhe atingiu a cabeça. Gemeu de dor bem baixinho e fechou o caderno.
- O que tem ai? _ Sasuke perguntou indo na direção do computador.
- Esboços. E ai?
Ele olhou rapidamente os arquivos, lendo por auto. Um pequeno sorriso surgiu na face geralmente séria. Virou para ela, já sem o sorriso, mas com os olhos brilhando em euforia.
- A conclusão. _ Ela sorriu.
- Ótimo. _ Levantou animada. – Imprima para eu... _ O movimento súbito fez a visão perder o foco. – Eu... _ Sentou-se novamente, fechando os olhos e relaxando no estofado.
- Quer dormir na minha casa hoje? _ Os pensamentos tomaram um rumo impróprio apesar de não ser a primeira vez que ele a convidava. – Será mais cômodo. Podemos acordar cedo e ver isso juntos. _ Sugeriu.
- Seria ótimo.
