Celular, sapatos e cafés duplos
Eu sou apenas uma advogada, como muitos outros ilustres colegas de profissão espalhados por toda ilha de Manhattan. A maioria das pessoas diria que somos a pior espécie que já caminhou sobre a face terrestre, mas acreditem em mim, os advogados podem até ser monstros sem caráter, mas por trás deles existem pessoas ainda piores.
Meu pai era advogado, meu avô foi advogado e como não houve um sucessor masculino essa adorável tradição familiar se estendeu para mim. Estudei em Harvard e me dediquei, até agora, à deliciosa tarefa de ser uma pessoa caridosa, digna e honesta. Mas, como eu mesma disse, somente até agora.
Meu pai trabalhava para uma espécie de comunidade milionária, trabalhava conjugado no passado porque ele está morto, 'acidente aéreo', mas no ramo dele acidentes aéreos não existem sem 'ajudinhas externas'. Ele costumava ser uma criatura infeliz, vivia em função das famílias vinculadas ao conglomerado Konoha Corp, nunca teve tempo para mim, para si próprio ou para o que quer que fosse. Era uma babá diplomada, e era uma vida péssima.
E eu jurei que jamais levaria essa vida, nunca me venderia a essa gente e, principalmente, nunca seria como meu pai. Eu, porém, estava um tanto quanto enganada. Essa gente pode comprar o que quiser, inclusive a dignidade alheia.
Obriguei Shikamaru a sair da cama, ele é realmente o namorado mais preguiçoso do planeta quando o assunto não envolve sexo ou... sexo. Meu pai seria enterrado e eu precisaria bater boca por longos trinta e três minutos para provar que eu era filha do falecido, tudo porque eles estariam lá, prestando suas últimas homenagens ao homem que fez o trabalho sujo deles por uns trinta anos – eu parei de contar e estou chutando.
Vou explicar quem são eles. São membros de uma comunidade em Nova York de milionários que acharam divertido se unirem em sociedade: Hyuuga, Yamanaka e Uchiha. Todos sujos como pau de galinheiro. Eu poderia dissertar por horas e mais horas sobe cada um deles, cresci com seus filhos e os conheço muito bem, mas nesse momento vou voltar ao plano presente e minha atual situação. Meu pai estava morto. Eu gostaria de olhar para seu caixão e lhe dizer com todas as letras "Eu te odeio, papai!", era um direito meu.
"Sinto muito, a senhorita não pode entrar..." Um segurança balançava a cabeça freneticamente e uma multidão de curiosos e oportunistas se acotovelava as minhas costas. Havia tantos fotógrafos que qualquer desavisado pensaria que era um show da Madonna.
"O senhor que não está entendendo, esse homem é meu pai."
Tentei mais uma vez, inutilmente. Não o culpava muitos ali inventariam as histórias mais absurdas para se aproximar da elite nova iorquina.
"A senhorita que não está me entendendo, metade dessa multidão já disse ter algum parentesco com esse homem." Suspirou, nem imagino quantas vezes precisou repetir essa mesma afirmação.
Bem, não tive tempo de responder, nesse momento às limusines invadiram as ruas e eles chegaram. Eram como a Britney Spears, mas todos estavam usando roupas íntimas. Bastava que espirrassem para que todos os tablóides americanos publicassem como tendência do mundinho do Upper East.
Era a minha solução, todos me conheciam e alguns me odiavam. Mas qualquer um deles poderia afirmar com absoluta certeza sobre minha relação pai-filha com o morto.
"O que faz aqui, Tenten? Já deveria ter entrado." Odiava quando Neji Hyuuga me dizia coisas como se eu fosse à culpada pela situação, a mesma coisa aconteceu quando fui barrada no Jóquei e na porta da casa de campo. Eles custavam a entender que eu não era e não desejava ser parte da família.
"Só aproveitando a multidão..." Desdenhei, sem graça, puxei Shikamaru pela mão e me preparei para agradecer as condolências. Todos pareciam ter empunhado suas mãos de realeza me desejavam "Sinto Muito" com sorrisos esplendorosos, aquele circo não parecia um velório em nada.
Os patriarcas das famílias – com exceção dos Uchiha que hoje em dia se resumiam há apenas dois irmãos – pareciam bastante abalados, mas a única pessoa que realmente estava chorando era Hinata Hyuuga, mais até mesmo do que eu poderia chorar. Mas era plausível, meu pai havia sido uma espécie de pai-postiço. Ela era doce e meiga e Hiashi chamou isso de fraqueza, meu pai por outro lado disse que era uma dádiva divina. Muito mais filha dele do que eu jamais fui.
Toquei seu ombro ela me abraçou, sem dizer o que quer que fosse, nenhuma de nós duas precisava de palavras. E isso me fez ver que não importava o que ele fizesse ou representasse, era o meu pai, nada mudaria isso. E eu chorei por quatro minutos, que para mim pareceu uma pequena eternidade e que acabou sendo o máximo que pude fazer em sua memória.
xXx
Reencontrar os membros das famílias do conglomerado econômico Konoha Corp me fez repensar em como eles acabaram com a minha vida e ao mesmo tempo contribuíram de maneira bastante significativa em minha formação acadêmica, digo isso porque eles bancaram minha faculdade. E naquela manhã cinza de quarta-feira quando Hiashi Hyuuga me telefonou não pude recusar o convite para um encontro de negócios.
"Não sei por que está indo...".
Shikamaru estava prostrado no batente da porta, sem camisa, observando minha luta com os sapatos Gucci que ganhei de Ino no Natal passado.
"Porque eu preciso ir. Esses sapatos machucam meus pés...".
Nos sete minutos seguintes passei procurando minhas chaves que não estavam nos suportes da parede e estranhamente havia aparecido dentro da geladeira.
"Achei que não queria mais ver essa gente.".
"E eu não quero! Mas preciso ir...".
Peguei o metrô, nunca saia de carro em Nova York, deve ser o pior trânsito do planeta. E cheguei atrasada. Querendo ou não sempre estava atrasada.
"Bom dia senhorita Mitsashi." Hiashi estava sentado em seu maravilhoso escritório vermelho sangue, assim como Neji – para meu desespero – e Itachi Uchiha, o encarregado dos assuntos financeiros em nome da sua família que se reduzira a um único irmão mais novo, em vista que todos morreram em um "acidente" de carro – novamente entre aspas, os freios estavam cortados.
"Bom dia. Sinto muito pelo atraso... O metrô teve um problema na Union Square e..." Parada dramática e estratégica para um copo de água. "... Meus sapatos estão acabando comigo."
"Sempre tão espirituosa!"
Neji moveu-se com seu sorriso de lado, cheio daquele desdém milionário que eu conhecia melhor do que gostaria.
"Digo o mesmo!" Retruquei desgostosa, eu estava ali apenas em consideração a Hiashi e em memória de meu pai.
"Deixando suas amáveis discussões de lado, a chamei até aqui, senhorita Mitsashi, para convidá-la a ser nossa nova advogada de assuntos pessoais." A minha cabeça pareceu girar e aquilo me soou como um despropósito.
Eu não contive a minha língua e minha voz saiu mais alta e desrespeitosa do que eu esperava "O senhor o quê?" enquanto eu estava pálida e chocada, Itachi parecia bem alheio a tudo, como se não lhe importasse e Neji não estava surpreso, mas estava visivelmente contrariado.
"Pensamos bem no assunto, todos os membros da sociedade concordaram com a decisão, com exceção de Neji, que você é nesse momento a pessoa ideal para o cargo. Conhece-nos muito bem e é uma excelente profissional. É a mais qualificada a estar no nosso lado!" Duvidava um pouco que todos os membros houvessem acatado bem as ordens, Hanabi Hyuuga, por exemplo, nunca estaria do meu lado.
"Além disso, tem certa dívida conosco!"
"Perdão? Se acaso desejam que eu pague o dinheiro utilizado na minha graduação, ótimo eu pago, não é problema algum. Mas não pretendo me aliar a vocês..."
"Dez milhões semestrais para seus projetos filantrópicos..." Pois é, isso calou minha boca.
"Quando eu começo?" Isso era mais do que eu esperava, eles doariam uma quantia significativa para projetos de caridade, ajudar pessoas que não eram relacionados a eles e por mais que parecesse loucura – na verdade, era loucura – eu estava vendida.
xXx
Tente entender que trabalhar para eles exigia certa paciência, mais do que isso, era um teste de santidade, sobreviva a eles e seja canonizado. E eu mal comecei no emprego para descobrir isso. Em questão de duas horas atendi dezoito telefonemas onde dezessete eram supérfluos e incluíam cores de gravatas e tipos de vinhos.
Quando eu finalmente parei, tudo o que queria fazer era curtir meu namorado, aproveitar meu apartamento e tirar aqueles malditos sapatos. Shikamaru estava em casa, havia pedido pizza de peperone – eu odeio peperone -, mas nunca reclamo sobre isso, enquanto detonava minhas últimas cervejas.
"E então?"
"Sou a mais nova advogada do conglomerado econômico Konoha Corp." Mordi um pedaço que me deixou um tanto enjoada e me alojei no colo dele.
"Você não parece muito feliz com isso." Seus lábios no meu pescoço, suas mãos vagando indiscretamente pela minha pele.
"Não, eu não estou muito feliz..." Biquinho sedutor de araque. "... Quem sabe você possa me deixar feliz, hein?"
Enfim, ele até poderia, mas meu celular tocou e pelo toque – fiz questão de escolher um para cada pessoa – só poderia ser Neji e ele não me ligaria se não houvesse um bom, ou grande, motivo. Ele me odiava, ou eu o odiava, tanto faz.
"Pode falar..."
"Hiashi pediu para que venha jantar conosco..." A voz estava embargada e ele não parecia muito contente em me dar à notícia.
"Não acho que seja apropriado." Eu tentei desconversar, não gostava desses eventos sociais, e jantar com eles era – sempre – um evento social.
"Acho que não está me ouvindo. Ele não a está convidando, é uma ordem. O carro estará em sua porta em quinze minutos." Tempo errado, o carro estaria na minha porta em três minutos.
Ele desligou na minha cara, recoloquei meus sapatos e mesmo com o olhar de Shikamaru me condenando eu tinha de ir, eram meus chefes, e iriam ajudar pessoas com todo aquele dinheiro que eles adoravam esbanjar com futilidades. Nunca me troquei tão rápido. Tanto eu quanto Shikamaru estávamos irritados, bem, se Konoha Corp tinha alguma influência nas emoções pessoais era isso, tinham o poder de nos deixar absolutamente irritados.
Meia hora depois nos encontrávamos entre figurões, políticos e empresários destruidores do meio ambiente, todos bebendo champanhe e tagarelando alegremente sobre suas estadias graciosas no sul da França ou o topless das esposas em Ibiza.
Ino Yamanaka, filha única, passeava deslumbrante com um vestido que ela mesma desenhou parte da nova coleção da sua grife. Hinata ainda tinha os olhos chorosos e conversava timidamente com Sasuke Uchiha. Todos muito alegres, felizes e embriagados.
"Senhorita Mitsashi..." Neji se aproximou um tanto debochado, com seu terno sob medida que lhe caia perfeitamente bem, e ele era tão lindo – uma verdade absoluta que eu não gostava de ressaltar, mas que era incapaz de negar. "... Quem é a companhia?"
"Meu namorado, Shikamaru Nara." Dei meu melhor sorriso e esfreguei na cara dele o meu grande trunfo, meu namorado respeitável, de família rica e influente e formado em economia.
"Consultor econômico se não me falha a memória..." Neji sabia, ele sempre sabia de tudo era o senhor Informação.
Fiz um 'humpf' que ele interpretou como um afronta. Um erro muito grande da minha parte. Nunca brinque com a boca de Neji Hyuuga, nunca se sabe o que ele pode responder.
"Eu tirei a virgindade dela..." Deu mais um gole na taça e caminhou imponente e triunfante, enquanto eu estava grudada no chão como uma gosma inanimada e esmagada em um tapete persa.
Isso era estupidez, suportar a convivência com Neji Hyuuga ou a rebeldia sem motivos de Hanabi se mostrava bem mais difícil e perturbador do que parecia a princípio.
Pense assim, Ino e Sasuke eram gêmeos malvados, mesma idade e mesma postura e só perdiam para Itachi que bateu o carro com toda a família dentro e os reduziu a dois. Todos cheios de processos, multas por excesso de velocidade e coisas ilegais que ganhavam em jogos de pôquer. Era uma gente complicada demais. Todos mentirosos de carteirinha, mas com dinheiro suficiente para comprar o que precisassem ou quisessem. Compravam até mesmo talento, como Ino, que mantinha uma grife e assinava como estilista, mas nunca desenhou nada na vida.
XXx
Antes de prosseguir com a festa vou voltar um pouquinho no tempo e explicar minha relação esquisita – entre outras coisas – com Neji Hyuuga e contar nossa história de não-amor inacabada.
Considerando que hoje temos 25 anos isso deve ter acontecido há longínquos 10 anos, quando éramos adolescentes cheios de hormônios, ideais e falta de juízo.
Nunca acredite quando uma pessoa como ele te diz "Eu te amo" porque isso na verdade quer dizer "Estou te usando". Bem, nós tínhamos quinze anos e eu acreditava em cavaleiros em armaduras prateadas montando cavalos brancos, uma teoria absolutamente infantil sobre o que era amor. Eu achava que Neji era essa pessoa, que ele viria ao meu resgate sempre. Eu nunca me importei com seu dinheiro ou coisa parecida, eu só tinha olhos para a pessoa ideal. Eu só tinha olhos para a máscara de perfeição que ele vestia.
Para entender melhor, pense que no lugar do sapo se tornar um príncipe aconteceu exatamente o oposto. E eu que era a gata borralheira entendi que meu lugar era atrás da mesa arquivando papéis. Eu não era parte desse mundo. Às vezes é melhor não ouvir atrás da porta, às vezes é melhor esquecer o cara que se encaixa nos seus sonhos, esquecer o cara que você quer e se focar no cara que você precisa. Homens são como vigilantes mascarados, eles podem não ser o que você almeja, mas normalmente é o que te é necessário.
Claro que não precisamos tanto assim de homens, somos auto-suficientes e homem é só para fins de entretenimento e reprodução, pelo bem da espécie.
Era um dia lindo, estávamos nos Hamptons e ele me deu meu primeiro beijo. Três anos depois dormimos juntos. Ninguém precisava saber, era o nosso romance secreto e era lindo. Até que eu acordei.
"Ela não significa nada..." Boa coisa para se dizer quando eu estou atrás de uma porta usando a porcaria de uma calcinha nova que me custara metade da mesada. "... A Tenten é só um divertimento, se o senhor quiser, eu termino com ela agora mesmo."
"Ela é uma boa moça, mas não é para você. Espero que não se sinta mal por isso." Hiashi estava de frente para a minha singela visão, frio como sempre e compenetrado como se a minha vida amorosa fosse algum negócio a ser discutido com uma comissão de acionistas famigerados.
"Eu compreendo. Ela não pertence ao nosso status..." Subserviente e estúpido, mas o pior estava por vim.
Vinte minutos depois ele me perguntou por que eu estava chorando e com incríveis dois minutos e três segundos eu disparei como uma metralhadora, atordoada, magoada, uma gosma no tapete.
"Você é um idiota... Eu não significo nada para você, nem ao menos estou no seu nível de superioridade extrema, então pegue esse monte de mentiras que tem me contado e saia da minha frente. É o mínimo que pode fazer por mim! Tenha dignidade e seja homem ao menos uma vez na vida. Se só queria transar comigo podia ter se poupado ao trabalho de ser romântico... Droga, Neji! Você é um babaca."
"Tenten... Escuta..."
"Você não consegue calar essa maldita boca?"
Não. Ele não conseguia calar a maldita boca. Eu não conseguia calar a minha maldita boca. E agora estávamos no cenário mais constrangedor de todos, ambos dilacerados, eu havia acabado com ele, mas o que ele fez comigo era mais dolorosa do que meras ofensas. Mentiras podem ser muito mais dolorosas do que verdades, principalmente quando elas perdem o delicado encantamento que as fazem doces. Doces mentiras são venenosas. Basta que fechemos os olhos por instantes e elas se viram contra nós. Meu mundo perfeito desabou como um castelo de cartas, eu estava irada demais, ferida demais para ouvi-lo. Animais feridos são mais perigosos.
"Tenten... Não era verdade... Escuta!" Ele gesticulou procurando as palavras certas, ainda consigo me lembrar do rosto dele, transtornado. Ainda me lembro de muitas coisas que eu deveria esquecer.
"Eu sei que não era verdade. É justamente isso, não era..." E eu chorei por três dias, depois peguei minhas malas e me mudei para o campus de Harvard. Transei com o primeiro babaca que eu conheci, um jogadorzinho de futebol americano sem nada na cabeça, mas muitos músculos para compensar a distração.
Achei que era uma boa afronta para ele. E foi, porque desde então ele me odeia. Depois disso nunca mais torçamos qualquer palavra que não fosse ofensiva ou escandalosa. Nunca mais nos olhamos nos olhos do mesmo jeito, aliás, evitamos ao máximo olhar no fundo dos olhos do outro, olhares costumam ser traiçoeiros. Nem ao menos ousamos tentar. Feridas abertas são bastante doloridas quando se coloca os dedos, melhor deixar cicatrizar com tempo e cervejas. Mesmo que não cicatrize, melhor não tocá-la.
xXx
Agora que minha dor mais íntima está exposta vou voltar a contar a história central. Acho que eram seis e quinze da manhã e eu não planejava sair da cama até mais ou menos umas sete e meia, mas o telefone tocou. Nenhum toque específico e isso me levou a crer que era engano, ou era o IML ou era da polícia. Era da polícia.
"Quem? Sasuke Uchiha? Iate?"
Era uma história um tanto confusa, então vou tentar fazê-la parecer ter sentido: Sasuke Uchiha havia ganhado na noite anterior após o jantar um iate numa partida de pôquer. Ganhar iates em partidas de seja lá o que for já era estranho, mas a parte seguinte era ainda pior, o mal perdedor dono do barco deu queixa na polícia alegando que Sasuke havia roubado no carteado. Quem prende uma pessoa por roubar jogando cartas?
"Ela não está preso por isso dona..." Odeio ser chamada de dona ou doutora, parece que eu sou dentista. "... Ele foi preso por desacatar o policial que foi averiguar o caso."
Ah! Claro! O que esperar de uma pessoa como ele?
"Tudo bem... Mande-o ficar quietinho aí, em uma hora estarei na delegacia."
A delegacia não ficava longe do meu apartamento, uns dez minutos indo a pé, mas ele podia esperar. Agora seguiria meu rigoroso ritual matinal que envolvia higiene pessoal, roupas decentes e limpas e um Frapuccino de Café Duplo com Creme e Chocolate no Starbucks. Era o mínimo que eu merecia para começar bem o meu dia. A história do iate era demais, mas ninguém apressaria o momento mais importante das minhas manhãs. Ao menos quando Shikamaru não estava aqui para torná-las mais interessantes.
Quando finalmente cheguei à delegacia dei de cara com Neji, sentado com uma expressão de nojo e certa arrogância natural nos olhos claríssimos.
"Ele na precisava ter te ligado, eu vim assim que pude." Expliquei como quem explica para uma criança, eu não precisava de nenhum supervisor observando meu trabalho, era boa nisso, afinal antes trabalhava na promotoria pública, e tirar um delinqüente rico da cadeia era o que de mais comum poderia haver.
"Você estava demorando... Ele pediu para trazer o café-da-manhã." Mostrou o que deveria ser um copo de Martini, eles eram o tipo de pessoa que acordavam com champanhe ao Inês de cafés duplos – cafés duplos me faziam falar rápido demais, mas por outro lado me impediam de dormir no metrô.
O delegado era um gordo simpático, entendeu de quem se tratava e liberou mediante pagamento de fiança. Tudo se torna mais simples quando você pode bancar a fiança e ainda dar um agrado bastante compensatório aos policiais. Na minha terra – um buraco no meio de Iowa que eu não piso há 23 anos – isso se chama suborno, aqui se chama bonificação por serviços prestados, um nome bonito para uma infração da lei.
O carro os aguardava no lado de fora e meu telefone tocou, como um prenuncio de um dia ruim. Do outro lado o Sr. Yamanaka esperneava algo sobre Ino ter se enfiado em um hotel após uma briguinha regular de pai e filha. Eles ainda não tinham entendido minhas funções, eu não era a babá, eu era a advogada. Longe de mim alimentar e educar adultos malcriados, eu só precisava pedir habeas corpus quando um deles se enfiar em algo realmente problemático.
"Sasuke fala com ela. Sabe que a Ino não escuta ninguém. Pelo menos você ela finge que está ouvindo..."
"Você deveria falar com ela, é sua função!"
"Não. Eu sou a advogada. Eu trato dos seus problemas sérios, não me meto em briga de família..."
Foi uma discussão em vão, no final, os três acabaram dentro do quarto luxuoso no vigésimo segundo andar, estranhamente não era a cobertura, de um hotel no Upper East, quase ao lado do apartamento dela, tentando convencê-la a andar trinta metros e voltar para os braços do papai.
"Eu não vou voltar... Eles não dão valor ao meu trabalho!" Os cabelos loiríssimos e naturais estavam bagunçados e ela usava um hobby terrivelmente rosa que fazia meus olhos arderem. Uma mulher feita se comportando como uma garotinha de quinze anos brava com os pais por alguma bobagem.
"Quê trabalho, Ino? Você assina desenhos de estilistas anônimos..." Sasuke respondeu de atravessado, ganhando sobre si meus olhos mortais cintilando e anunciando que na próxima ironia eu ia matá-lo com minhas próprias mãos.
"Por que não está na cobertura?" Perguntei a fim de desviar as atenções do problema central e esperar ela baixar a guarda, bastava uns vinte minutos e tudo estaria resolvido.
"Têm uma vadia lá..." Ela só falava assim de uma pessoa, uma única e exclusiva pessoa que costumava ser sua rival, em tudo.
"Sakura?" Sasuke também entendeu. Sakura. O que diferenciava Sakura de Ino era algo banal, Sakura fora uma espécie de Ino até entender que poderia ser ela mesma, se formar em medicina e viver a sua própria vida com sapatos confortáveis.
O título da fic foi pego emprestado da série "Dirty Sexy Money" e a premissa, até primeiro momento, também... Mas breve ela toma rumo próprio!
Engraçado, mas eu adoro escrever em primeira pessoa e adoro colocar um pouco de mim nas personagens principais, e, aliás, nesse caso a Tenten está a minha imagem e semelhança...
Enfim, se gostaram me mande reviews... Se não, podem reclamar, eu adoro receber críticas!
