This is your life...
Essa é sua vida.
A noite pairava em Konohagakure no Sato. O céu estava sem estrelas e apenas uma fraca lua minguante, quase como um risco bem no alto, podia ser vista. Algumas nuvens em tons de diferentes azuis davam a impressão de que em breves minutos iria chover.
Talvez a chuva resolvesse vários problemas... Lavasse todo sangue derramado desde então, e quem sabe um temporal pudesse apagar toda solidão reinante naquele coração.
O homem pulava de telhado em telhado, sem sequer fazer barulho. Era silencioso como as sobras. Na verdade, depois de tudo o que acontecera, quem sabe ele fosse a encarnação da própria sombra.
Alguns anos haviam se passado, e a vila permanecera abandonada. Konoha não tinha mais a vitalidade de antes. A maioria de seus moradores morreu quando a kyuubi fora libertada novamente. O restante se dispersou pelo mundo.
Agora, apenas lamentos e culpas existiam ali. As ruas cheiravam a morte, as casas estavam fechadas com pesadas tábuas e o vazio era o único sentimento a ser sentido em meio às encruzilhadas.
O homem não sabia o que acontecera com seus jovens aprendizes. Em um passado remoto, ele se lembrava dos rostos de seus alunos. Vagamente ele tenta imaginar onde eles estariam. Há mais de cinco anos que ele não tinha notícia de Sasuke. O de sempre era lhe informado: o Uchiha vingador estava se tornando cada vez mais rancoroso e sedento de poder, o que o fazia cada vez mais hostil e sem nenhum vestígio de sentimento. Sakura partira da vila há dois anos, convicta que iria trazer Sasuke de volta com suas próprias mãos. Ela estava cansada, revelou um dia, de esperar os outros fazer as coisas para ela. Saiu sozinha, em uma madrugada, rumo à estrada e em busca de um amor que jamais existiu. Naruto desaparecera. E isso era o que mais lhe incomodava, já que o Uzumaki era sua última aposta para trazer finalmente a paz em Konoha.
Em vão. Naruto era fugitivo agora, procurado pelas 5 nações shinobi. O loiro fora acusado de ter destruído Konoha e ter matado milhares de inocentes. Acusação não era menos real quanto a situação atual da vila. Em meio a um dia de batalhas, a raposa de nove caudas fora libertada e trouxe o apocalipse para aquele povo.
Naruto tinha se tornado um homem rancoroso e triste. Lamentos eram seu único discurso, e agora vivia como um criminoso sem rumo. Kakashi esperava, do fundo de seu coração, que o Uzumaki conseguisse se livrar de toda culpa que o corrompia. Torcia ainda mais para que ele consiga sentir a vida de novo. E talvez a pessoa que fora a seu encontro pudesse trazer isso a ele.
O homem de cabelos prateados parou. Em um telhado mais alto, ergueu o olhar para os céus. Suspirou mais uma vez. Ele vestia uma capa surrada sobre a roupa de juunin de Konoha. Contudo, esse posto não mais existia.
Kakashi perdera tudo mais uma vez. Estava cansado de ter que recolher por tantas vezes seus pedaços de vida, perdidos todas as vezes que ele não conseguia manter as pessoas por perto.
Mas dessa vez, ele tinha convicção de que o que ele perdera era muito mais importante que qualquer outra coisa que ele já teve em toda vida. Era mais importante que seus amigos do passado, seu pai, seu sensei, seus alunos. Era mais importante até mesmo que sua própria vida. Afinal, o que lhe fora tirado era uma parte sua.
Kakashi remoia cada vez mais sua culpa.
"Eu não devia ter a deixado sair por aquela porta." Pensava, olhando para a lua.
E ele lembrava do que aconteceu no passado...
(...)
Konoha estava em partes. A guerra tinha assolado grande parte da vila, mas mesmo assim, os shinobis não desistiam de acreditar que a paz pudesse ser reconquistada. Muita coisa acontecera a partir de então. Novas pessoas apareceram. Tanto aliados quanto inimigos.
Aquela mulher chegara a vila, em um dia qualquer, com o intuito de ajudar. Contudo, ninguém sabia realmente se ela era confiável ou não. E por possuir um coração tão amargurado ninguém nunca lhe dera créditos de confiança.
Achavam apenas que ela queria vingança ou poder, como o único consangüíneo seu. Mas nunca pensaram que o que ela queria era uma chance. Somente uma oportunidade para conseguir viver.
- Não a acho confiável, plenamente. – falava Tsunade um dia em seu escritório para Kakashi.
- Não nos custa dar um pouco de crédito a ela. – falou o homem.
- São esses créditos concedidos que poderão fazer Konoha ser destruída. – falou ríspida Tsunade.
- Você não confia nela? – perguntou o Hatake.
- Na verdade Kakashi, eu só acho que é você que confia demais nela. – falou a Hokage. O homem permaneceu em silêncio. Até que tornou a falar:
- Talvez seja isso que ela veio buscar aqui, Tsunade. Confiança. Ela nunca teve ninguém que lutasse por ela...
- Então você está dizendo que é você que pode ser esse alguém a lutar por ela? – perguntou Tsunade olhando firme nos olhos do Hatake.
- Se for preciso, eu lutarei por ela sim. – disse ele.
- Já me é suficiente. Acho que eu tenho a resposta que queria. – disse a Hokage olhando para baixo.
- É isso mesmo, Tsunade. Eu acredito em cada palavra que ela diz.
- Você está fora da missão, Kakashi. – disse Tsunade erguendo o olhar.
- Mas por quê? – assustou-se o Hatake arregalando os olhos.
- Você está confundido amor com essa missão. – disse Tsunade. - Kakashi, você acabou se apaixonando pela sua companheira de time. E pior, uma companheira que nem sabemos se está do nosso lado.
- Tsunade-sama, eu sei muito bem o que estou fazendo. Eu não estou confundindo nada... – começou ele.
- Kakashi, me responda uma coisa com sinceridade. – pediu Tsunade. – A que ponto chegou seu envolvimento com ela?
- Foi longe demais para ser apagado, Tsunade. O que foi feito não pode ser negado.
- Então, você chegou a dormir com ela? – perguntou Tsunade repreensiva depois de pensar durante algum tempo.
Kakashi olhou quieto para ela, fechou os olhos e fez que sim com a cabeça. A Hokage se sentou na cadeira e colocou a mão na boca. Agora, fitava Kakashi preocupada.
- Você admite que isso aconteceu em missão, ou vocês se encontraram fora dela? – continuou a interrogar Tsunade.
- Sim, Tsunade. Foi em missão. – disse Kakashi. Tsunade agora mordia o dedo preocupada. Depois de um longo suspiro falou:
- Você, Kakashi, um ninja experiente, devia saber que isso é contra as regras. Não é ético...
- Eu sei disso Tsunade. – interrompeu-a.
- Então você deve saber também as conseqüências. Se caso, ela for condenada pelos anciãos, você poderá ser considerado como cúmplice.
- Ela não seria capaz...
- Kakashi, pare de confiar tanto nela desse jeito. Você sabe o ódio que ela tem por Konoha. Você deveria ter sido mais prudente... Se ela por algum acaso alegar que você a molestou eu não quero nem imaginar o que eles irão fazer com você.
- Tsunade. – começou Kakashi sério – Eu sei o que eu fiz. Eu sei o que pode me acontecer. E sei também que eu não irei desistir tão fácil assim dela.
- Tudo bem, Kakashi, se sua decisão já está tomada, não sou eu quem irá intervir. Mas que fique claro que eu avisei.
(...)
