Disclaimer: Simple Plan, infelizmente, não me pertence, assim como as músicas usadas também não pertecem. Até onde eu sei, isso aqui é tudo fruto da minha imaginação doentia, e a última vez que chequei minha conta bancária – inexistente -, eu não recebo nada por isso, além de satisfação pessoal.

N/A: Cada parte dessa fic tem trechos de uma música, que eu achei que se encaixavam com a idéia da parte. Vale a pena baixar essas músicas, até por que são de bandas boas! (:

Iniciada em: 11/01/2009 Concluída em: 12/04/2009

Parte Um

Música: Little Things – Son Of Dork

You make me dream…

Férias de verão não foram criadas para serem passadas sonhando com uma pessoa que sequer sabia da sua existência. Ou, ao menos, essa era sua modesta opinião, por que, sério, sonhar com ele era sempre bom, mas frustrante ao mesmo tempo, por que você não poderia, você sabe, colocar seus sonhos em prática.

Quer dizer, se você fosse qualquer outra pessoa que não você mesmo, então até que seria possível... Se você também fosse dotado de genes melhores. E se fosse uma garota, então, você podia comemorar, por que, nem que uma única vez, você poderia fazer todos os seus sonhos virarem realidade.

Quão bom isso seria?

Mas o problema é que, bem, você ainda é Pierre Bouvier; você ainda tem os piores genes de toda Montreal. E, é, você ainda tem um pênis, então suas chances são... Bem, zero.

Por que era de conhecimento geral que David Desrosiers sequer olhava para alguém como você. Mas você entendia, por que, de verdade, ele tinha esse direito. Sério, o cara era engraçado, bonito, popular, e ainda era dono do sorriso mais lindo que qualquer um poderia encontrar no mundo – havia algo ali, você pensou, algo hipnotizante naquele sorriso; os dentes nem eram devidamente alinhados, mas talvez fosse isso que fizesse o sorriso dele ainda mais lindo.

E como se ter o melhor sorriso de todos não fosse o bastante, ele também tinha os olhos mais bonitos; um mel esverdeado, sempre levemente contornados por lápis, destacando-os. Sempre brilhantes em felicidade, vivacidade. Tão hipnotizantes quanto o sorriso.

E você sabia disso, por que teve aquela vez, logo que você entrou nesse colégio, que você estava atrasado para a primeira aula depois do almoço, e você esbarrou nele, derrubando todos os livros que ele carregava; essa foi a única vez que você falou com ele.

Não que pudesse ser considerado uma conversa, você apenas implorara para ser desculpado e ele rira baixinho, fixando aquelas íris magníficas dele no seu rosto, falando que não tinha problema. Você o ajudou a recolher seus livros, antes de David falar para que você tomasse mais cuidado e, com um sorriso, continuar seu caminho.

Você ainda ficara alguns segundos petrificado, por que, cara, ele era esse tanto mais bonito de perto; você apenas ficara lá, olhando para a silhueta dele, enquanto ele se afastava, seus olhos fixos e seus lábios levemente abertos.

Desde então, você se esforçara para saber tudo sobre ele; você descobriu que ele era de uma série abaixo da sua, e que os amigos dele podiam ser as piores pessoas de todo o colégio, mesmo que quando você o observasse com eles, eles parecessem ser muito legais. E você também descobriu que David ficava com quem quisesse, quando quisesse. Ele nem tinha que se esforçar para isso, não que esse detalhe fosse uma surpresa.

Então, certo, você já tinha se conformado com o fato de que nunca teria uma chance com ele; nem de serem amigos. Por que, sendo honesto, você não era interessante e sua vida era monótona, então você estava satisfeito em apenas observá-lo, longe o bastante para que ele não te percebesse, mas próximo o suficiente para ouvir o timbre da voz dele e o som da risada.

Oh, e passar suas férias sonhando com ele também era uma boa, considerando que ele só freqüentava os melhores lugares da cidade – aqueles que seus pais não tinham condição financeira de lhe permitir ir. O que fazia com que você o visse menos durante esses dias, resumindo-se a eventualmente vê-lo no shopping com um ou dois amigos.

Mas nessas férias, você descobriu, ele tinha ido à França, então você não o vira por todo esse tempo. E, agora, sentado em um canto do pátio, no primeiro dia de aula, esperando o primeiro sinal, você apenas o observa, parado perto da fonte que havia no caminho entre o portão de entrada e a porta do prédio, conversando com seus amigos, que iam chegando aos poucos.

E ele parecia bem mais bonito, você pensou; ele tinha desistido dos cabelos loiros, e agora estava com todos os fios tingidos de negro. E ele também tinha adicionado um piercing no lábio inferior, o que você achou extremamente sensual.

-Ei, P. – a voz do seu melhor amigo chega à seus ouvidos, fazendo você desviar os olhos de David, para fixá-los brevemente em Chuck, que estava se ajeitando para se sentar ao seu lado, antes de voltar à fixar David.

-Ei, C. – você disse apenas, antes de ver uma garota ruiva; que você nunca vira antes, mas talvez fosse por que você passara os últimos dois anos apenas observando David; parar ao lado de David e colocar, hesitante, a mão no braço dele, chamando sua atenção.

Você viu quando David se virou, as sobrancelhas erguidas em curiosidade; quando ele viu quem era, um sorriso enorme apareceu nos lábios bonitos dele, antes dele e a garota se abraçarem, depois de selarem os lábios rapidamente.

Você suspirou, chateado. Essa não era a primeira vez que você via algo do tipo, mas não era como se pudesse, realmente, fazer algo sobre isso, por que, sério, a garota era muito melhor do que você. E, com certeza, bem mais interessante.

-Você devia parar com isso, sabe. – Chuck disse, atraindo sua atenção. Decidindo que não estava com vontade de ver como David estava se afastando de seus amigos, levando a garota enlaçada em seu braço, você apenas olhou para seu melhor amigo e ergueu as sobrancelhas.

-Parar com o quê? – Chuck deu de ombros, fechando a revista que tinha nas mãos e olhando para onde David estava, beijando a garota.

-De perder seu tempo observando uma pessoa que você sabe que nunca vai ter. – você suspira, forçando seus olhos a permanecerem em Chuck; você não queria ver o mesmo que seu amigo estava vendo. – Ele pode ser o que for, mas obviamente não vale a pena.

Você suspira novamente, dessa vez aborrecido, antes de revirar os olhos e cutucar o outro, sorrindo levemente.

-Bem, podemos falar o mesmo sobre Sebastien. – você responde, observando como as bochechas de Chuck coram. Você sabia que Sebastien era para David, o que Chuck era para você, então você meio que gostava de idéia do seu melhor amigo gostar do melhor amigo de David. Era bonitinho imaginar vocês quatro saindo juntos, mesmo que não fosse nunca sair da imaginação.

-Seb é diferente. – Chuck disse apenas, evitando o seu olhar e corando mais; um leve sorriso no canto dos lábios. Você apenas ergue as sobrancelhas.

-Ele é tão inatingível quanto David. – você diz apenas, voltando a olhar para o grupinho de amigos de David, onde Sebastien estava conversando e rindo. David não estava lá, então você concluiu que a garota era mesmo boa.

Chuck resmungou qualquer coisa que você não entendeu, o que te fez voltar a olhar para seu amigo.

-Seb não tem a mania do David, de se achar melhor do que todos. – você ergue as sobrancelhas, surpreso. Por que, sério, David não tinha essa mania. Chuck apenas rolou os olhos ao ver sua expressão. – Não aja como se não soubesse disso.

Você pisca.

-Eu não sei mesmo, por que isso não é verdade. – Chuck ergue uma única sobrancelha e você cerra os olhos para ele. – Okay, certo, me diga uma vez que ele tenha se achado melhor que todos.

Chuck encolheu os ombros, enfiando a revista dentro da mochila, enquanto respondia.

-Bem, para começar é ele que tem essa mania de não falar com ninguém que vá puxar assunto com ele. Quero dizer, qual o problema em ser simpático com quem você não conhece? Ele não precisa ser amigo de alguém só por responder um boa dia. Ao invés disso, ele simplesmente ignora e continua andando, como se nada tivesse acontecido.

Você hesitou, por que, bem, é verdade. Mas isso parece tão certo para você, por que você acha que David tem essa aura que diz exatamente o tipo de pessoa que ele é. Você suspira, correndo seus olhos ao redor, procurando David, vendo-o de volta ao grupo de amigos; a garota ruiva não está em nenhum lugar à vista.

E você não ia dar à Chuck a satisfação de te ver concordando com isso, por isso você volta a olhar para seu amigo, um sorriso arrogante em seus lábios.

-Bem, ele não é assim, absolutamente.

Chuck ri, girando os olhos.

-Bem, então não vai ser problema para você abordá-lo e convidá-lo para almoçar com a gente hoje. – ele ergue a sobrancelha, num gesto mudo de desafio e você quer socá-lo, por que você sabe que se David sequer lhe olhar quando você abordá-lo, Chuck vai passar o resto da vida tirando sarro da sua cara por causa disso.

E você também quer socá-lo, por que você sabe o que significaria se, por algum milagre, David aceitasse seu convite; você iria tê-lo por perto o tempo o bastante para ele notar como você era chato e aborrecido. Por que, enquanto ele ia se divertir depois da aula, você ia para casa ajudar sua mãe com a limpeza.

E enquanto ele ia para as melhores festas aos finais de semana, você ficava em casa, comendo pizza com seus pais e assistindo a um filme qualquer. Ou apenas jogando vídeo game.

E, enquanto ele ia a todos os shows de suas bandas favoritas e tinha a sorte de conhecer todos seus ídolos – mas isso era fato, desde que o pai dele era produtor –, você ficava em casa, se lamentando por ter que ter escolhido entre todos os shows que gostaria de ir.

E enquanto ele é lindo e popular e legal, você é um nerd com uma queda do tamanho do monte Royal por ele.

Você suspira pesadamente, mordendo seu lábio inferior, levando seus olhos até onde David está; ele está sentado na beirada da fonte, conversando apenas com Sebastien, enquanto o resto do grupinho não estava em nenhum lugar perto.

E você pensa em como isso vai ser embaraçoso, por que você sabe tudo sobre ele, mas ele nem sabe que você existe. E você não sabe se deve fingir que não sabe nada, ou se deve falar com ele como se já fossem melhores amigos. E quando você está quase perguntando a Chuck como você deveria agir, seu amigo o está cutucando, deixando claro que você está ficando sem tempo, o sinal podendo tocar a qualquer momento.

Erguendo-se, você passa a mão pela sua calça, tirando qualquer sujeira que, eventualmente, tenha ficado presa ao tecido; pegando sua mochila, você resmunga para Chuck que o encontra na sala, antes de pendurar a mala em um único ombro e começa a caminhar até David.

Seus dedos, ao redor da alça da mochila, apertam o tecido com toda a força que você tem, deixando os nós brancos; a outra mão está no bolso do seu jeans, cerrada, por que você está nervoso, por que enquanto David não sabe de você, você pode apenas fingir que, eventualmente, você poderia ser completamente feliz ao lado dele para sempre e sempre.

Mas assim que David o conhecesse, você não teria espaço para ter esperanças, você teria que agüentar a dor da certeza absoluta de que nunca o teria para si. Por que você sabia que David não era delicado quando dispensava alguém e você apenas sabia que seria dispensado. Você estava a apenas alguns poucos passos disso, na realidade, e você deseja poder simplesmente mudar de caminho e sair correndo como o covarde que é.

Mas seu orgulho (e a vontade de provar para Chuck que David não é o bastardo que seu melhor amigo acha que ele é) não te permite ir se esconder, então você termina de caminhar o espaço que o separa de David, parando ao lado da perfeição que o mais novo era.

Sebastien e David pararam de conversar no momento em que você parou ao lado deles, ambos erguendo a cabeça para olhar para seu rosto; ambos com as sobrancelhas erguidas, em confusão.

Você pigarreia e desvia os olhos, por que ter David o olhando era algo indescritível. E mesmo que por cinco segundos, e por um motivo idiota, você era o centro da atenção dele. Isso era o máximo.

-Uh, algum problema? – Sebastien pergunta, depois de quase um minuto de silêncio; e você pragueja em pensamentos, por que pelo sorriso no rosto dos dois, e os rápidos olhares que eles trocam, é claro que eles te acharam um completo idiota.

-Eu, uh... – você gagueja, erguendo as sobrancelhas, surpreso consigo mesmo: sério que você podia ser tão mais idiota em menos de um minuto? Jesus!

David ri baixinho, cutucando Seb nas costelas, o que faz o outro garoto rir também, antes de voltar os incríveis olhos azuis para o menino mais velho.

-Você o quê? – ele perguntou, e Pierre se perguntou por que David não falava nada, apenas ria. Suspirou, olhando fixamente para seu all star gasto.

-Eu, uh, estava pensando se... – sentindo as bochechas corarem, você junta as sobrancelhas. – Vocês gostariam de sentar comigo e meu amigo no almoço, hoje?

Sebastien riu abertamente dessa vez, mas David continuou dando risadinhas, olhando para o rosto do melhor amigo. Cutucou-o uma vez, mas Sebastien apenas continuou rindo, as bochechas incrivelmente vermelhas. David revirou os olhos, voltando a fixá-los nos seus.

-Claro. – David respondeu; você sentiu seu coração se apertar, antes de bater disparado. David estava falando com você! Ah, deus! – Nos encontramos na porta do refeitório, okay?

Sorrindo, você assente com um balançar entusiasmado de cabeça, mas antes que possa falar qualquer outra coisa, o sinal toca. Você se despede do dois, e caminha até a sua sala, encontrando Chuck sentado no fundo, lhe esperando com um sorriso prepotente nos lábios.

-E então? – ele perguntou num tom que te deixava claro como ele achava que a resposta negativa tinha vindo de Sebastien. Na verdade, você não se surpreenderia se Chuck estivesse achando que, quando lhe viu, David apenas se levantou e foi embora.

Você sorri, tirando a mochila do amigo de cima da mesa que ele havia guardado para você, colocando-a do lado da cadeira dele. Pousando a própria mochila sobre a mesa e sentando-se, deu de ombros, ainda que você não conseguisse conter o sorrido extasiado que estava em seus lábios.

-David disse que ele e Sebastien vão nos encontrar na porta do refeitório. – você disse apenas, dando de ombros e rindo quando seu melhor amigo engasgou com a própria saliva, antes de lhe olhar com os olhos arregalados.

-O quê? Seb também vai?

Você riu.

-Bem, é lógico que Seb também vai. Eu fiz o convite para ambos se sentarem comigo e um amigo, que obviamente é você.

Chuck resmungou.

-É claro que sou eu, sou seu único amigo nessa escola. – você riu novamente, e ergueu o dedão para ele, concordando, no momento em que o professor entrou na sala, silenciando todos os grupinhos.

Maybe it's time I gave up, drew the line
My friends say I should
I wish that I could
But there's nothing they can do to stop me now

Se havia algo que você odiava, era esperar, por que isso te fazia pensar que a pessoa que você estava esperando não ia aparecer. Normalmente, você não se importaria em esperar, enquanto pensava isso, por que você sabia que era besteira.

Mas você estava esperando David, e você não sabia se ele estava brincando quando disse que lhe encontraria na porta do refeitório, por que, oras, você não tinha uma razão para David querer ser visto almoçando com você. Você era o nerd, o perdedor que fazia o possível para não apanhar, enquanto seu melhor amigo era aquele que apanhava todos os dias quando voltava para casa.

E David... Bem, David era aquele que todos queriam estar com; era quem todos tentavam ser. E David era aquele que se divertia com esse tipo de coisa. De fato, você já até estava imaginando Sebastien aparecendo e avisar, rindo, que David não tinha falado sério.

Mas você sabia que isso era uma besteira completa, por que sua turma tinha sido dispensada vinte minutos mais cedo nessa aula, e o sinal não tinha tocado ainda, então meio que não era culpa de David que você tivesse que esperar.

Suspirando, você levou os olhos para o grande relógio que havia na parede, agradecendo por já estar no horário do sinal tocar. Mais alguns poucos minutos, e você saberia se estava sendo apenas um motivo de piadas para David ou não.

-Sabe, David pode ser um idiota, mas não acho que ele seja idiota o bastante para fazer esse tipo de coisa. – Chuck murmurou e você quis rir, por que era claro que ele estava tentando se acalmar, não a você. Por que você sabia que Sebastien iria almoçar com vocês, apenas para não fazê-los parecer tão idiota assim.

Você apenas desejava que David fosse um pouco mais como Sebastien, por que, nem que fosse como um favor, você poderia ter certeza de que ele viria, e não te faria parecer o idiota que tomou o cano.

-Algumas horas atrás, ele era o maior bastardo do mundo. – você resmunga, fazendo seu melhor amigo rir nervosamente e encolher os ombros.

-Bem, opiniões mudam. – você riu sarcasticamente ao ouvir isso, por que você tinha certeza de que se Sebastien não houvesse sido convidado também, ele estaria resmungando sobre ter que esperar por um idiota como David.

-Claro, e se David não aparecer, você vai voltar à sua antiga opinião, por que opiniões mudam, certo? – Chuck sorriu de leve, dando um tapinha nas suas costas, como que te consolando.

-Bem, se ele não aparecer e, ainda assim, você continuar obcecado por ele, meu chapa, eu vou achar que você gosta de sofrer. – e você rola os olhos perante isso, por que se fosse apenas uma obsessão você não sentira um terço do que sentia toda vez que o via.

E, definitivamente, não se sentiria assim por dois malditos anos. E você teria dito isso à Chuck se o sinal não houvesse tocado e, poucos momentos depois, vários alunos encheram os corredores, conversando e rindo, enquanto caminhavam lentamente para o almoço.

Você mordeu levemente o lábio inferior, escondendo as mãos nos bolsos da sua calça, enquanto seus olhos varriam toda a multidão, procurando qualquer sinal de David e Sebastien. Porque, apesar de tudo, você tinha essa sensação de que David viria, não importasse o que Chuck ficasse falando.

David não era o bastardo que Chuck achava que ele era; David era... Bem, você não tinha certeza do que David era, você só sabia que ele era especial. E importante, definitivamente importante. E você apenas sabia que ele não faria isso com você, por mais estranho que isso soasse.

Por que, considerando que até algumas horas atrás, você achava impossível que David, de fato, concordasse em fazer qualquer coisa com você e, no final, você ia almoçar com ele... Bem, então você queria desesperadamente que David continuasse a lhe surpreender.

-Sabe, o David dar o bolo na gente não seria assim tão vergonhoso... – Chuck comentou, balançando-se levemente sobre seus pés, as mãos nos bolsos da calça, enquanto ele também olhava ao redor. Você o olhou com as sobrancelhas erguidas, num pedido mudo para que ele continuasse. – Quer dizer, todo mundo sabe que David pode ser um grande filho da mãe quando dá vontade.

-E o ponto disso, é?

Você não está realmente com paciência para ouvir as teorias malucas de Chuck, mas isso provavelmente era melhor do que esperar em silêncio. O seu melhor amigo riu baixinho, mas você sabia que ele não estava tão confiante assim.

-Bem, a verdadeira vergonha seria tomar um bolo do doce Sebastien, por que todo mundo sabe quão legal ele é. Se ele disse que estaria aqui e não vier, bem, podemos nos considerar um pouco mais isolados do que já somos.

E você ri, por que você nunca disse que Sebastien havia falado que iria. David falara, mas você não ia comentar esse pequeno detalhe com Chuck, por que, bem, ele ficaria um tanto mais paranóico do que já estava e você não estava no clima para ouvir um sermão do seu melhor amigo.

-Bem, se tomássemos um bolo do Sebastien, ele não seria mais tão doce assim. – você diz apenas para, você sabe, provocá-lo e passar o tempo.

Chuck faz uma expressão desdenhosa ao ouvir isso.

-Seb sempre será doce.

E você ri, por que, sério, você não era tão patético assim que o assunto era David... Certo? Bem, mesmo que fosse, Chuck era o sempre racional, então era realmente engraçado vê-lo desse jeito.

-E aquela história de que opiniões mudam? – e Chuck abre a boca para responder, mas nenhum sai, e você ri, por que ele apenas faz uma careta e cruza os braços, emburrado, olhando fixamente para frente.

Chuck era tão criança às vezes.

Silêncio caiu entre vocês, que apenas continuaram olhando fixamente para o único caminho possível para dentro do refeitório; e conforme o número de alunos que passavam por você diminuía, você se sentia afundar em si mesmo, por que estava cada vez mais óbvio que eles não iam vir.

E você queria chorar, por que, sério, você esperava isso de David, mas você não queria ter que viver com isso sendo jogado na sua cara pelo resto da sua patética vida: quão idiota você tinha sido ao acreditar na palavra de David. Por que você sabia que isso aconteceria, é claro. Especialmente por que não havia um motivo plausível para David concordar almoçar com dois estranhos.

Ele provavelmente só havia concordado para que você o deixasse sozinho, e ele pudesse terminar a conversa com seu melhor amigo. E você fora burro o bastante para esperar que ele não fosse nada do que Chuck achava que ele era.

Burro o bastante para achar que, bem, aquela seria sua chance de entrar na vida de David, mesmo que apenas como um conhecido. Melhor do que ser conhecido como o idiota que achou que David almoçaria com um nerd.

David sequer era visto ao lado de um nerd, por que você pensara que poderia ser o primeiro a quebrar esse costume? Oh, é verdade, por que você não achava que David pudesse ser esse idiota.

Puxando o ar com força, você estava quase se virando para Chuck e empurrando-o para dentro do refeitório, para que vocês pudessem comer alguma coisa, antes que o sinal tocasse, quando Sebastien e David apareceram no corredor, rindo e conversando, ainda que andassem apressado.

Eles ainda estavam longe o bastante para que você não conseguisse ouvir o que era dito, mas você definitivamente havia notado o rápido olhar que Sebastien lançara à Chuck, antes de comentar alguma coisa que fez ambos gargalharem.

Você gemeu em pensamentos; era só o que faltava, os dois usando Chuck como piada. Bem, você pensou, pelo menos vocês não tomaram um bolo.

Quando eles finalmente alcançaram vocês, David sorriu para você, enquanto Sebastien praticamente se pendurava no braço do melhor amigo, um sorriso nos lábios, enquanto as íris azuis corriam ao redor, como que tentando evitar rir de qualquer coisa.

-Desculpem a demora, a professora de francês não quis nos liberar antes. – David disse, e Sebastien riu, resmungando qualquer coisa que você entendeu ser algo como 'ela queria nos dar detenção por não calar a boca, isso sim'.

Você apenas riu de leve, balançando a cabeça.

-Não tem problema. – Chuck respondeu, antes que você pudesse fazê-lo. Você olhou rapidamente para seu amigo e quis gargalhar ao ver a expressão extasiada no rosto dele. – Então, vamos almoçar? – sugeriu, indicando a porta do refeitório atrás de si com um gesto de mão.

David apenas sorriu de leve, olhando atentamente para Chuck, enquanto respondia.

-Huh, na verdade, estávamos pensando em algo mais, huh... Qual seria a palavra, Seb? Divertido?

Sebastien rolou os olhos.

-Nah, eu diria sociável.

David girou os olhos e riu.

-Ble, que seja. Qualquer adjetivo que vocês queiram desde que não se aplique à escola. – ele deu de ombros, enquanto Sebastien olhava para você e seu melhor amigo, com seus pidões olhos azuis.

Você e Chuck trocaram um rápido olhar, por que vocês dois sabiam o que isso significava: não era segredo para ninguém (exceto, talvez, para os professores) que David e Sebastien viviam cabulando as aulas da tarde. Não que você nunca tenha matado aula, mas... Okay, então, você era um nerd e não estava com vontade de matar aula, e você sabia que Chuck se sentia da mesma maneira.

Mas, você decidiu, vocês não precisavam parecer ainda mais nerds naquele momento. Talvez na próxima vez – se houvesse próxima vez, de todo modo.

-O que vocês têm em mente? – foi sua resposta, e Chuck lhe lançou um olhar que deixava muito claro que ele não gostara da sua resposta. Mas era claro que seu melhor amigo não iria dar para trás agora, por que essa era, provavelmente, a única vez que vocês poderiam matar aula para estar com David e Sebastien.

O de olhos azuis parecia realmente animado com sua resposta, mas você soube que David entendera o olhar que Chuck lhe lançara, por que, subitamente, ele estava olhando para seu melhor amigo de modo estranho.

-Huh, se você preferir, podemos ficar na escola... Charles, certo? – disse apenas e Sebastien pareceu confuso com a frase do seu melhor amigo; o sorriso sumiu do rosto do mais novo dos quatro, enquanto ele olhava para Chuck rapidamente, antes de cutucar David nas costelas e inclinar-se sobre ele o bastante para sussurrar algo em seu ouvido.

David apenas balançou levemente a cabeça, antes de voltar a olhar para Chuck, como que esperando uma resposta. E você jurou para si mesmo que mataria Charles, se ele falasse que isso seria melhor.

Chuck olhou para você rapidamente, antes de analisar o rosto ansioso de Sebastien e o questionador de David. Bem, se Chuck quisesse ficar no colégio, você decidiu, problema dele. Você estava indo aonde quer que David quisesse que você fosse.

Chuck suspirou antes de sorrir e encolher os ombros.

-É, bem, o que vocês têm em mente, mesmo?

Os três sorriram suavemente perante isso, antes de voltarem a conversar.

You got me falling
Through noticing the little things you do

Você tinha esse sorriso besta no rosto, por que, sério, você nunca achou que David fosse esse maravilhoso. Certo, você sempre soube que ele era uma das melhores pessoas para se ter por perto, mas você nunca teria adivinhado que ele era a melhor pessoa.

Depois de se esgueirarem para fora da escola, vocês foram para uma lanchonete e passaram todo o horário de almoço por lá, conversando, rindo e contando piadas idiotas. E, bem, David era, provavelmente, o campeão de piadas bestas, mas ainda assim você não conseguia evitar achá-lo adorável a cada comentário bobo que ele deixava escapar.

Por que, sério, era meio que surpreendente ver aquele garoto, que era sempre tão seguro de si, tão confiante, agindo como uma criança. Surpreendente... Certo, sua opinião estava mais para adorável.

Ainda assim, por toda àquela hora você não conseguira adivinhar quem era mais bobo: Sebastien ou David. E pelo olhar babaca no rosto de Chuck, você sabia que seu melhor amigo estava ficando ainda mais caidinho por Sebastien, mesmo que você provavelmente tivesse a mesma expressão no rosto.

David simplesmente era... Bem, você sequer conseguia achar palavras. Por que ele havia superado tudo o que você já havia pensado sobre ele, tudo o que você se permitia ousar ao imaginar a personalidade dele. E, é claro, você havia se baseado no que você via na escola, então era claro que você nunca imaginaria o lado infantil dele. Ou o lado meigo.

Mas talvez você tenha imaginado as piadas bestas, por que... Okay, então, você não imaginou. Isso era quase que um conhecimento geral. Ainda assim, poder rir abertamente das besteiras que ele falava, era algo maravilhoso. Por que era você que estava sentado no mesmo banco que David, naquelas mesas de canto, seus braços se roçando vez ou outra, enquanto vocês se mexiam para comer, ou simplesmente se ajeitar sobre o estofado fofo.

Além do mais, você era uma das pessoas que podia responder à ele, fazê-lo rir e sentir-se orgulhoso por ser o responsável dele estar exibindo aquele sorriso maravilhoso dele. E seu peito se apertava em uma sensação maravilhosa toda vez que ele focava aquelas íris magníficas em você, felizes, com um brilho a mais por causa das poucas lágrimas de riso. E isso te fazia se sentir arrogantemente satisfeito, por que, cara, você nunca achou que seria realmente capaz de fazê-lo rir tanto.

Várias risadas – e um David completamente melecado de sorvete – mais tarde, vocês decidiram pagar a conta e simplesmente ir andar pela cidade, enquanto não dava o horário que, supostamente, vocês deveriam ir para casa.

O pequeno grupo acabou ficando afastado, você notou. Chuck e Sebastien andavam mais lentamente, realmente próximos, conversando em um tom baixo e dando risadinhas a todo o momento.

Suspirando, você enfiou as mãos no bolso da sua calça, sinceramente feliz que seu melhor amigo estivesse tendo tanto progresso. Você, contudo, não pôde evitar sentir-se idiota por estar em silêncio com David, que estava andando a uma distância saudável de você, o que deixava claro que o único progresso que você faria com ele hoje, seria pular de um completo desconhecido para um colega.

Vários minutos se passaram até que vocês chegassem a um parque e ficassem ali mesmo; Seb e Chuck mais ao longe, sentados lado a lado sob uma árvore, enquanto você e David estavam parados lado a lado próximos ao pequeno lago que havia ali.

Mais minutos se passaram apenas assim; você observando o efeito da luz do sol sobre a água do lago e David revezando seu olhar entre seu melhor amigo e o lago.

-Bem, pelo menos eles se acertaram. – David disse, finalmente quebrando o silêncio; você olhou brevemente por sobre seu ombro, apenas para ver seu melhor amigo beijando o melhor amigo de David.

Você sorriu de leve, levando seu olhar para David, apenas para ver que ele olhava fixamente para seu rosto.

Pigarreando, você encolheu os ombros e desviou os olhos.

-É, uh, Chuck tem esperado por isso há algum tempo já. – diz simplesmente, por que você sabia que Sebastien era bom o bastante para Chuck, e bom o bastante para, também, não menosprezar isso.

David riu baixinho.

-Yeah, Seb também. – você voltou a olhá-lo, as sobrancelhas erguidas e ele apenas riu da sua expressão. – O quê? Sebastien está interessado em Charles há algum tempo, mas não sabia como se aproximar. Você e Charles parecem... Eu não sei, fechados em si mesmos. Quase como se fossem repelir qualquer um que se aproximasse, sempre enfiados em livros ou alguma revista chata.

Você ri com isso, por que, cara, isso é tão verdade! Exceto pela parte de repelirem qualquer um que quisesse conversar com vocês, por que, bem, em geral ninguém queria.

-Mas fico feliz que você nos tenha convidado. – David completou, sorrindo suavemente para você. – Foi muito legal da sua parte.

Você sorri com isso, escondendo as mãos nos bolsos novamente, para que ele não veja seus pulsos cerrados, numa tentativa de não tocá-lo.

-Uhum. – você pigarreia novamente, encabulado. – Eu achei que você simplesmente me ignoraria, então... Uh... – e você sentiu o rosto queimar, por que você não devia ter dito isso, absolutamente.

David ergue as sobrancelhas, o sorriso sumindo um pouco.

-Ignorar? Do que você está falando? – então, certo, ou ele realmente não notava o que fazia ou era realmente cara de pau.

-Você sabe... – murmurou, mordiscando levemente o lábio inferior. – Todas aquelas pessoas que vão falar com você, e você simplesmente faz que não ouviu e vai embora. – ele parecia surpreso com isso, e você se sentiu na obrigação de continuar. – Ou, você sabe, talvez você não note que faz isso...

E, então, David parecia decepcionado. E você não entendeu, por que, sério, o que isso deveria significar?

-Achei que depois de dois anos só me observando, você saberia um pouco mais que isso.

E, okay, então talvez você devesse rever aquele seu progresso: de um completo desconhecido para um completo idiota a ser evitado. Maravilhoso, exatamente o que... Espera, ele disse que sabia que você o observava? Ah, Deus!

-O quê? – a expressão completamente confusa e encabulada, você o olhava como se houvesse nascido uma terceira mão nele. – Você sabia que eu estava te observando?

E ele parece levemente sem jeito por isso, desviando brevemente o olhar, antes de bufar e girar os olhos.

-Você não é exatamente discreto... E, de todo modo, esse não é o assunto! – ele balançou levemente a cabeça, exasperado. – Eu esperava que, depois de todo esse tempo, você soubesse que a única razão pela qual eu não falo com essas pessoas, é por que elas sempre vêm puxar assunto falando sobre a droga da profissão do meu pai. Quero dizer, quem não quer ser amigo daquele que é um passe livre para os backstage do show que quiser ir?

E, okay, então você era um completo idiota, mas isso não era nenhuma novidade, era? Ah, droga, então você estragou tudo, apenas por que você nunca estava perto o bastante para distinguir o que era dito.

-Bem, depois de tanto tempo sabendo que eu estava te observando, eu esperava que você soubesse que eu nunca estava perto o bastante para entende o que era dito. – e, certo, então, talvez você pudesse ser um completo idiota quando se tratava de David, mas isso não significava que você iria apenas ficar calado, aceitando qualquer oportunidade de deixá-lo achar que você era mais idiota do que você era.

Mas, então, lhe ocorreu que falar assim com ele apenas faria com que vocês brigassem. Além do mais, a culpa era sua, de qualquer maneira. Por que foi você que falou o que não devia, foi você que ferrou com tudo.

Puxando o ar com força, você correu a mão pelo cabelo.

-Olhe, David, me desculpe, eu não devia estar falando assim com você. E nem devia ter dito que você ignora as pessoas, também. Sinto muito, okay?

Ele apenas ficou lhe olhando, sério, quase como se estivesse te analisando, enquanto brincava com a jóia no centro do lábio inferior. E você tinha certeza de que ele estava te odiando, mesmo depois de ter pedido desculpas. Quer dizer, se você estivesse no lugar dele, você estaria se odiando.

-Por que você aceitava a idéia de que eu simplesmente ignorava as pessoas? Quer dizer, qualquer outra pessoa dá para entender, mas você... Bem, você obviamente perdeu bastante tempo comigo, então você deve ter alguma 'desculpa' para achar que isso seria algo que eu faria.

E como você iria explicar para ele que, na sua concepção – completamente duvidosa – ele poderia fazer o que bem entendesse, por que tinha esse direito apenas por ser quem era? Como você ia explicar isso, sem revelar seus sentimentos? Por que era claro que, se você o fizesse, ele lhe acharia patético.

Você abriu e fechou a boca várias vezes, mas não emitiu nenhum som. Por que não havia nada a ser dito, nada que não te entregasse.

-Então? – ele perguntou, parecendo intrigado com o seu silêncio. Oh, bem, dane-se.

-Eu meio que... Uh... – você sentiu o rosto esquentar absurdamente, por que, sério, você não conseguia acreditar que ia mesmo dizer isso. – Acho que... Uh, bem... Que você pode fazer o que bem entender, só por... Uhm... Ser você?

Ele piscou, as sobrancelhas erguendo-se um pouco e os lábios levemente separados.

-Por ser... Eu? – você assente, não conseguindo manter seus olhos nele, então você olha para qualquer outro lugar. David não parecia conseguir entender o que isso verdadeiramente significava e, se entendesse, não parecia conseguir acreditar. Ou querer. – Eu... – ele piscou novamente, obviamente surpreso.

Você suspira, se sentindo miserável.

-Apenas deixe para lá. Desculpe por ter dito essas coisas. – você suspirou, ouvindo seu relógio apitar, mostrando que você ainda tinha uma hora, antes de ter que voltar para casa. Desde que você não estava no humor para ficar segurando vela para Chuck, e David obviamente não ia mais querer falar com você, você não tinha nem idéia do que ir fazer para se impedir de se jogar da ponte mais próxima.

E antes que você pudesse entender o que estava acontecendo, você sentiu os dedos finos dele segurarem o seu queixo, forçando sua cabeça a se virar na direção de onde ele estava. No momento em que ele parou a pressão, e você estava pronto para focar seus olhos nele, ele juntou seus lábios.

Seus olhos se arregalaram, seu coração falhou um batimento, antes de disparar no seu peito, parecendo desesperado por mais espaço. Suas pernas estavam trêmulas e você não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.

Ele se afastou levemente, dando um pequeno passo para frente, colando seus corpos, enquanto passava os braços finos ao redor do seu pescoço, ficando nas pontas dos pés, para voltar a juntar suas bocas.

Por impulso, você encontrou uma brecha entre o corpo dele e a mochila, abraçando-o pela cintura, puxando-o para mais perto; os olhos de ambos se fechando automaticamente, enquanto você começava a ameigar os lábios dele com os seus.

Você sentia seu corpo formigar em puro deleite, enquanto ele corria uma mão por sua nuca, arranhando-a levemente com as unhas curtas, antes de esconder os dedos entre as mechas castanhas do seu cabelo e entreabrir levemente os lábios, num convite mudo para que você aprofundasse o toque.

E, deus, deus! Isso era tudo o que você sempre quis: os braços dele enroscados ao seu redor, o corpo dele colado ao seu, enquanto os lábios se tocavam, as línguas exploravam a boca do outro, finalmente sabendo como era tê-lo ali, tão entregue ao momento quanto você estava – ainda que, provavelmente, fosse a única vez que isso aconteceria.

E era tão bom beijá-lo; era quase como se seus lábios houvessem sido desenhados para se completarem com total perfeição. Era quase como ir ao paraíso, era deleitoso, era exuberante, era simplesmente perfeito, por que tudo sobre David era apenas sublime.

E você se amaldiçoou por estar ficando sem ar, por que você não queria ter que terminar com isso; você não queria ter que deixá-lo ir. Não queria ter que aceitar que isso seria tudo o que você poderia ter: um beijo. Para toda a vida.

Nunca mais você poderia fazer isso, então você queria poder aproveitar o tempo necessário para que conseguisse memorizar cada pequeno movimento da língua dele contra a sua, cada leve suspiro que ele soltava dentro da sua boca, ou como os dedos dele estavam enroscados ao redor do seu cabelo, enquanto o corpo dele estava completamente colado ao seu, quase como se ele estivesse se segurando para não cair.

Você poderia morrer nesse momento, e o faria de bom grado. Por que nada, nunca, seria melhor do que isso. Nada poderia ser melhor do que a boca de David na sua, causando aquela sensação de asas no seu estômago, o coração bombeando mais sangue do que você realmente precisava, ou a maneira como seus corpos pareciam se encaixar com a mesma perfeição que suas bocas.

Os dedos magros dele arranhando levemente sua nuca, antes da palma exercer uma pressão na região, quase como que se ele quisesse aprofundar ainda mais o beijo – o que você não achava ser possível.

E da mesma maneira que ele começara aquele beijo, ele o terminou, depositando um selinho rápido nos seus lábios, antes de dar um passo para trás, um pequeno sorriso contorcendo os lábios bonitos, um pouco mais avermelhados do que o normal, enquanto ele abria os olhos para lhe fixar, uma risadinha boba escapando.

Você piscou, deixando as mãos balançarem na lateral do seu corpo, seus lábios ainda formigando pelo contato. Seus olhos fixos, incrédulos, nele, por que, sério, quando você poderia adivinhar que ele faria tal coisa, tomaria tal atitude, em se tratando de você?

-O que... – você pigarreou quando sua voz saiu rouca, voltando a esconder suas mãos nos bolsos, por que elas estavam implorando para voltar a espalmar as costas dele, pressioná-lo contra seu corpo. Senhor. – Que diabos?!

Ele riu, encolhendo os ombros.

-Vai dizer que não era o que você queria. – ele provocou e você sentiu as bochechas esquentarem. Ser beijado por ele era uma coisa com a qual você vinha fantasiando sobre há um bom tempo, mas nunca se permitira criar esperanças de que iria realmente acontecer.

-Não é isso. – você suspira, por que você não quer realmente ter que falar seus sentimentos, embora quisesse conseguir algum tipo de autorização para beijá-lo sempre que quisesse, mas você sabia que já era esperar demais. – Por que fez isso?

Dessa vez, ele pareceu sem jeito. Encolhendo os ombros, ele soltou uma risadinha sem graça, passando uma mão pelo cabelo.

-Oh, bem... Você parecia tão... Uh, bem, eu não sei se é essa a palavra, mas você parecia realmente fofo, todo sem jeito e eu... Bem, eu não sei. Me deu vontade.

E você sorri perante isso, por que, sério, ele estava tão mais adorável encabulando e sem saber o que dizer, ainda que essa fosse uma cena realmente inédita. David sempre sabia o que falar.

Você sabia que, provavelmente, não devia pressioná-lo mais do que isso, mas você sabia que se não perguntasse agora, nunca mais teria a coragem necessária para fazê-lo. E, de todo modo, você sequer sabia se voltaria a falar com ele.

-E você tem esperado por isso há algum tempo? – por que nada lhe daria mais satisfação do que uma resposta positiva, mesmo que você não a esperasse de verdade. Você apenas precisava ter certeza, precisava que ele te garantisse que seria apenas isso, um impulso, coisa de uma única vez, como aquele dia.

O pequeno sorriso sumiu dos lábios dele, enquanto ele piscava, obviamente não esperando essa pergunta. Ele inclina levemente a cabeça para o lado, os olhos fixos no seu rosto, e os lábios levemente entreabertos, enquanto ele analisava o que lhe fora perguntado.

-Eu... – hesitante, ele se ajeitou, escondendo as mãos nos bolsos da calça. Você mordiscou levemente o lábio inferior, apreensivo. Ele suspirou. – Eu não sei, desculpe. – ele parecia frustrado consigo mesmo, por que ele voltou a olhar para o lado, as sobrancelhas juntas. – Eu sempre soube que você ficava me observando, mas eu nunca... Parei para pensar sobre isso. Sobre um motivo para você o estar fazendo, nem para analisar como eu me sentia com isso. Então, é, eu realmente não tenho uma resposta para isso. Foi mal.

Você sorriu, por que de verdade? Ele não tinha que pedir desculpas por isso; você que era o idiota que passara dois anos apenas o olhando de longe, sem tomar nenhum tipo de iniciativa. Você fora o idiota que perguntara o que não devia.

Mas antes que você pudesse verbalizar qualquer uma dessas coisas, ele voltou a olhar para você, um sorriso leve na esquina dos lábios.

-Me dê um tempo para pensar, e eu te respondo. – você sorriu, assentindo, por que, de verdade? Ele tinha todo o tempo do mundo.

Doing the little things, those little things you do