Disclaimer: Simple Plan, infelizmente, não me pertence. Até onde eu sei, isso aqui é tudo fruto da minha imaginação doentia, e a última vez que chequei minha conta bancária – inexistente -, eu não recebo nada por isso, além de satisfação pessoal.

Iniciada em: 14/10/2007 Concuída em: 14/03/2008

Capítulo 1

Tinhamos a relação mais invejada de todo o colégio, e a mais odiada também. Invejada por estar sempre mostrando a todos que o que sentiamos superava o sentimento que o casal mais antigo de nossas turmas sentia.

Invejada por ser tão perfeita, por nunca haver brigas, por sempre sabermos do que o outro precisava sem termos que falar nada absolutamente.

E mais odiada pelo fato de sermos nós: os mais amados e os mais odiados, como você sempre dizia com um sorriso nos lábios. Ah, seu sorriso.

Aquele seu sorriso em que a arcada superior era tão perfeitamente alinhada e branquinha: seu sorriso cheio de alegria e sinceridade, cativando até mesmo aquele professor mal-humorado. Suas bochechas – naturalmente cheias e rosadas – ficam um pouco maiores e rosadas, e isso é tão adorável em você.

Sem contar na forma magnifica que seus olhos castanhos – que você insiste em dizer serem tão comuns – brilham intensamente: e quando eu estou perto o bastante de seu rosto, gosto de perder alguns minutos apenas observando-os, tentando memorizar cada pequeno risquinho cor de terra que aparece quando o sol bate diretamente em seu rosto.

Oh, sim. Você sempre me ganhou com um sorriso: e foi assim que me fez me apaixonar tão perdidamente; sorrindo de qualquer coisa que um amigo seu lhe dizia.

Sei que você se lembra de como foi que nos conhecemos: eu, o novato perdido pelos corredores. Você o veterano do sorriso bonito. E foi uma cena digna de um filme clichê de água-com-açucar. Você olhou para o lado bem no momento em que eu observava o seu sorriso.

E quando nossos olhos se encontraram naquele primeiro contato foi algo quase indescritivel, como tudo em você: meu coração disparou, a respiração falhou, as pernas bambearam e os pés enroscaram-se no outro, levando-me ao chão.

Todos riram, menos você. Você apenas deixou de sorrir e ergueu as sobrancelhas, dando-se ao trabalho de ir até mim e ajoelhar-se em minha frente, segurando entre suas mãos bonitas o único livro que eu não levava na mochila.

"Você está bem?" você me perguntou, revelando-me sua voz grossa e sedutora; toda sua preocupação expressa em cada sílaba. E eu sorri; sorri como uma adolescente que se apaixonou pelo líder do time de futebol.

E não foi muito diferente, de todo modo.

"Estou ótimo." lembrei-me de responder quando um sorriso confuso surgiu nos seus lábios bem desenhados e naturalmente avermelhados: você olhava-me curioso, enquanto as pessoas ao arredor voltavam aos próprios afazeres. "Mas não acho que essa tenha sido a melhor impressão que eu poderia lhe causar."

E você soube, nesse momento, que essa ousadia não me era natural: soube que eu apenas queria que você me notasse para muito além do que somente naquele momento.

Você sempre me desvenda em menos de um minuto e, estranhamente, isso nunca me incomodou. Apenas me fascina mais por você.

"Certamente não foi." você me disse, ajudando-me a levantar e me devolvendo o livro. "Mas você me impressionou somente com seu olhar." e desde o primeiro momento você soube como me fazer corar.

Lembro-me de ter sorrido como um idiota, enquanto apertava o livro contra meu peito com força: meus olhos nunca deixando os seus. Você apenas sorriu, sem graça, enquanto passava uma mão pelos cabelos castanhos escuros, deixando-os mais bagunçados, enquanto a outra ia para o interior do bolso da jaqueta do time.

"Qual seu nome?" perguntei, tolamente, mesmo sabendo que essa provavelmente não era a resposta que você esperava. Mas você apenas riu, puxando-me para um canto qualquer, me tirando do meio do corredor.

E, da mesma maneira que você aprendeu rápido a me fazer corar, você aprendeu a me tirar da órbita terrestre, levando-me para um mundo que, em breve, revelou-se apenas nosso.

"Pierre" você disse, subitamente revelando um levissímo sotaque francês. "Pierre Bouvier." e pelo meu olhar você soube o que eu achei: um nome tão bonito e forte quanto o dono. "Qual o seu?"

E eu sorri de leve, pensando que meu nome não soava tão bonito quanto o seu, ou tão atrativo quanto o seu.

"David" senti minhas bochechas esquentarem. "David Desrosiers."

"Belo nome" você disse, rindo baixinho. "Tanto quanto você, de qualquer modo." e não foi o que você disse, mas a maneira que o fez, que me fez sentir o coração voltar a disparar, enquanto minhas bochechas ardiam.

Você deve ter me achado um bobo, nesse momento.

Mas se o pensou, guardou apenas para você mesmo, preferindo engatar uma conversa qualquer, mostrando-se extremamente interessando em cultivar uma amizade comigo. Fato que me surprendeu, já que eu nunca sequer olhei na cara do lider do time de futebol do meu antigo colégio.

Mas você era diferente, e quanto mais você falava, mais eu notava isso: você se torna especial na vida das pessoas desde o primeiro momento em que fala com elas.

E me fez me apaixonar por você nos primeiros cinco minutos de conversa.

Um sentimento tolo, eu pensei na época: tolo por ter nascido por uma pessoa que eu sabia apenas o nome. Mas não importava, de todo modo.

"Vai fazer alguma coisa depois das aulas?" você me perguntou quando o sinal que indicava o ínicio das aulas tocava. Ergui as sobrancelhas, surpreso com a pergunta.

"Vou para casa." respondi apenas, dando de ombros. "Prometi à meu pai que estudaria se ele me mudasse de colégio." e eu nunca consegui descobrir porque dei essa desculpa esfarrapada, já que apenas de olhar para mim, você soube que eu não me importava em estudar: você soube que eu não me preocupava em perder um ano ou não.

Mas como em toda aquela conversa, você apenas riu de mim, no que eu aprenderia que era a forma que você encontrava de mostrar que estava nervoso.

"Bem..." você deu de ombros, ajeitando sua mochila preta sobre o único ombro em que estava pendurada. "Se mudar de idéia, eu vou estar na Starbucks do centro." E, sorrindo, simplesmente foi para sua sala de aula, me deixando para trás, aturdido.

Você havia me convidado para sair só com você, e eu não havia notado isso: eu não te conhecia, não sabia que você era tímido demais para convidar alguém sem ser com indiretas. Se eu houvesse notado isso antes, seria capaz de sair da escola naquele mesmo instante para poder passar mais tempo com você, mesmo que não tivessemos mais assunto na altura que as aulas do dia acabassem.

E eu só percebi o quanto era importante passar o máximo de tempo possível ao seu lado, quando me vi parando em frente ao espelho do meu quarto, ajeitando cada pequeno fio rebelde da minha franja, após ter passado uma generosa camada de lápis ao arredor dos meus olhos.

E me arrumar dessa forma nunca havia sido uma prioridade antes de você aparecer: a idéia de que você ficava bem em qualquer coisa que usasse, me fazia querer me arrumar para ser digno de ser visto ao seu lado, rindo com você e te beijando como nos meus sonhos mais delirantes, eu achei.

Mas você era imprevisível: eu nunca conseguia prever algo que você fosse fazer para ou por mim. Jamais seria capaz de olhar em seus olhos e saber exatamente no que você estava pensando.

Mas eu já estava atraído e achava que isso era o bastante para conseguir te conhecer como o conheço.

"Vou estudar com um amigo." foi o que disse aos meus pais, quando estava saindo de casa, com a mochila pendurada nas costas, pouco antes de minha mãe servir o jantar.

E eles sorriram, orgulhosos. E você notou, quando cheguei ao local combinado, o quanto tal ato me incomodou: eles nunca haviam sentido orgulho de mim; por vezes, havíamos brigado sem motivos reais apenas porque eles não aprovavam meu descaso com o futuro.

E você notou o quão magoado com eles eu estava, e isso apenas me conquistou mais ainda em você: o fato de que eu não precisava, realmente, lhe falar algo; você simplesmente captava como eu me sentia no ar, somente de olhar para mim, não importando quantos sorrisos eu forçasse.

E você não me perguntou nada, ao me ver entrar arrassado no estalecimento: você apenas se levantou, pedindo licença aos seus amigos e, caminhando até mim, me guiou para a mesa mais discreta que houvesse. Você tirou minha mochila de minhas costas, colocando-a sobre a mesa, antes de apenas me abraçar com toda a força que você tinha, permitindo-me lhe enlaçar pelo pescoço, deixando aquele abraço ainda mais intimo: colando mais ainda nossos corpos.

Eu apenas suspirei contra seu pescoço, derrotado, sentindo seu corpo estremecer levemente, enquanto os cabelos curtos de sua nuca se arrepiavam.

"Hey." você murmurou dentro do meu ouvido, apenas para quebrar o silêncio, me fazendo estremecer não tão discretamente quanto você. Senti todos os pêlos do meu corpo de ouriçarem e um pequeno sorriso despontar na esquina dos meus lábios.

"Hey." murmurei em resposta, me afastando o bastante apenas para olhar em seu rosto, notando algumas pequenas pintinhas distribuidas por sua pele clara. Senti o olhar de seus amigos sobre nós, mas você não parecia se importar. "Posso voltar em outra hora, se quiser. Seus amigos devem querer conversar com você..."

Você sorriu, tirando uma de suas mãos quentinhas de minha cintura, pousando-a sobre minha bochecha, escondendo-a em sua palma. Envolvendo-me em seu carinho singelo.

"Eles não são tão legais assim, de qualquer modo." você diz num tom de quem conta algo extremamente sigiloso. "Prefiro conversar com você."

E você me fez corar mais uma vez, em um único dia. "Não me importo se quiser se sentar com eles." eu tinha qualquer problema com o clima que você estava tentando criar, e eu notei isso assim que essa frase havia terminado de sair por meus lábios.

Você apenas ergueu as sobrancelhas, não parecendo saber se eu o estava dispensando ou se apenas não havia entendido aonde você queria chegar.

"Bem..." você disse, dando de ombros, pondo um pouco de pressão na mão em meu rosto, puxando-o levemente na direção do seu. "Eu tenho algo mais interessante em mente, se não se importar."

Eu sorri. "Estranhamente não me importo." e o seu sorriso aumentou mais, fazendo minhas pernas tremerem com violência, fazendo-me apertar os braços ao arredor de seu pescoço para não cair mais uma vez.

O seu braço em minha cintura me apertou com mais força contra seu corpo, onde me encaixei com perfeição, como se nossos corpos houvessem sido desenhados sob medida para completar o do outro.

E talvez houssem mesmo.

"Bom." Você murmurou apenas, sorrindo docemente, enquanto nosso contato visual não era quebrando em momento algum. Parecíamos perdidos nos olhos do outro, como se conseguissemos ler o outro pelos olhos.

Arrisquei pensar que mantinhamos uma conversa muda por nossos olhares.

"Yeah..." concordei sem me dar conta de que o fazia, percebendo apenas o que estava para acontecer quando senti sua respiração quente chocar-se contra meu rosto, misturando-se com a minha própria respiração.

E estranhamente não me preocupei com o fato de que nunca havia feito isso antes: não me preocupei que você poderia não gostar. Não me preocupei se seria desajeitado ou não.

Algo me fazia desejar experimentar seu gosto que, eu já tinha certeza, era único e viciante.

E ainda mantendo nossa sonda, senti seus lábios quentes e umidos roçarem nos meus, fazendo meu corpo tremer como se uma descarga elétrica houvesse passado entre nós. Afastamo-nos levemente, a respiração ofegante e os corações disparados, pensando no quanto aquele momento era perfeito.

E o era.

Sorri levemente, pensando que nunca havia me sentindo tão nervoso e ansioso quanto naquele momento. Você sorriu de volta, inclinando-se levemente sobre meu corpo, fechando seus olhos. Fechei os meus, e senti seu lábios se pressionarem contra os meus.

E, então, iniciamos aquela bricadeira que eu sempre via os casais fazendo: um tentando capturar os lábios do outro, que não permitia. Rimos baixinho, apertando o outro com mais força entre nossos braços.

Pousei uma mão no seu rosto, no mesmo instante em que a sua ia deslizar por minha nuca, fazendo-me arrepiar. E, então, quando iamos continuar a brincadeira, fomos tentar capturar os lábios do outro ao mesmo tempo, juntando-os mais fortemente que antes.

Ofegamos.

E, então, eu cansei de somente sentir seus lábios roçarem nos meus: eu os queria nos meus, queria saber como era ser beijado. Queria saber como era beijar você.

Arranhei seu rosto de leve, invadindo sua boca com minha língua, procurando pela sua, que logo juntou-se à minha, iniciando movimentos preguiçosos.

Meu coração chicoteava meu peito, numa dança alucinante, enquanto eu pensava que não havia como meu primeiro beijo ter sido mais perfeito que esse: sua língua se enlaçando com a minha nos movimentos lentos que, logo descobririamos, são tão caracteristicos de sempre que nos beijamos.

Sua mão em minha nuca puxava-me para mais perto, tentando aumentar ainda mais o contato de nossas bocas: seus dedos arranhando levemente a região, enviando-me arrepios por todo o corpo. Sua outra mão se esgueirou, ousada, por sob o tecido da minha blusa branca, acariciando levemente a pele da base da minha coluna.

Meu braço, que se encontrava enlançando seu pescoço, saiu dali, indo pousar ao arredor de suas costelas, enquanto minha mão em seu rosto deslizava para seus cabelos, acariciando-os; sentindo os fios sedosos fazerem uma leve cócegas nos meus dedos.

Minhas pernas bambeavam e eu era capaz de sentir borboletas em meu estômago e um frio delicioso na barriga.

Aquilo era muito bom.

"Nossa..." você murmurou quando nossas bocas se separaram, finalmente. Eu sorri de leve, meus olhos ainda fechados, sentindo meus lábios formingando pelo atrito anterior.

"Nossa de 'nossa que bom' ou 'nossa que ruim'?" eu perguntei, temendo sua resposta. Você riu, rouco, depositando um selinho na ponta do meu nariz.

"Nossa que bom." você respondeu, fazendo-me erguer as pálpebras, deparando-me com seus olhos lângüidos de paixão. Sorri. "O que achou?" você parecia um pouco inseguro, embora eu soubesse que não era a primeira vez que você beijava: adorável, de qualquer maneira.

"Bom." murmurei e rimos.

"Tão bom a ponto de eu poder pedir outro?" perguntou, ousado, fazendo-me rir.

"Certamente." e, então, aconteceu novamente. Só que, dessa vez, você não quis fazer aquela brincadeira deliciosa de outrora: você preferiu me provocar, mordiscando o piercing que adornava o centro do meu lábio inferior, vez ou outra chupando-o para você, fazendo que meu desejo por ter sua boca na minha, novamente, aumentasse.

Passei meus dois braços ao arredor de sua costelas, lhe apertando contra meu corpo; minha cabeça ligeiramente erguida para que seus lábios pudessem tocar os meus sem que você precisasse se curvar tanto.

"Isso é bom..." você sussurrou dentro de minha boca, sua voz embolada por estar com meu piercing entre seus dentes branquinhos. "Isso é muito bom."

Eu apenas lhe apertei mais entre meus braços, antes de ficar nas pontas dos pés, obrigando-lhe a cobrir meus lábios com os seus.

Ficamos assim pelos próximos segundos, apenas sentindo nossas repirações pesadas chocando-se contra o rosto do outro, enquanto nossas mão trêmulas continuavam ousando, sem que nos importassemos realmente.

Lentamente, começamos a movimentar nossos lábios contra o do outro, mas não beijando realmente. Apenas provocavámos, afastando os lábios por breves segundos: o suficiente para rirmos baixinho daquela situação.

E, então, você tomou a iniciativa, achando que seria bom você poder explorar cada recanto da minha boca, como se isso fosse lhe fazer conhecer cada pequeno detalhe sobre mim.

Sua língua se encontrou com a minha e, assim como antes, elas se moveram lentas contra a outra, enviando uma seqüencia indescritivel de arrepios por nossos corpos, fazendo-nos apertar ainda mais o abraço e um baixo grunhido de satisfação tentar escapar por entre nossa conexão, conseguindo apenas invadir a boca do outro.

Meus dedos perdiam-se entre as mechas castanhas de seu cabelo, bagunçando-o, enquanto minha palma puxava sua cabeça de encontro a minha, tentando intensificar ainda mais aquele contato, mesmo sabendo que era quase impossível.

E eu ousei pensar que esse seria, para todo o sempre, o melhor beijo de toda a minha existência; ousei pensar que não havia como me sentir melhor do que não sendo exatamente assim: entre seus braços, meu corpo colado ao seu, nossas bocas fazendo esse contato divino.

E me assustei com tal pensamento; fiquei com medo, e acho que você notou isso, pois encerrou o beijo, depositando vários selinhos seguidos nos meus lábios. Fiquei com medo de estar me sentindo assim, tão bem, nos braços de uma pessoa que eu conhecia há, no máximo, doze horas.

Suspirando, paramos completamente de nos beijar, preferindo apenas ficar naquele abraço que, incrivelmente, logo nos tornaríamos dependentes.

Sorri de leve, esfregando a ponta de meu nariz contra seu peito, ronronando, antes de pousar minha cabeça em seu ombro, sentindo suas mãos me apertarem mais ainda contra você.

Você depositou um beijo singelo em minha têmpora, antes de sorrir, fazendo minhas pernas tremerem, de um jeito com o qual eu já estava me acostumando. Era bom saber que você me causava isso, de todo modo.

"Obrigado..." eu agradeci pelo fato de você me fazer esquecer, com tanta facilidade, sobre meus sentimentos magoados em relação aos meus pais. E, mesmo que você não houvesse entendido, você não perguntou sobre.

"De nada." disse e finalmente nos soltamos, apenas para notar os olhares chocados dos seus amigos. Você, no entanto, apenas sorriu para eles, feliz demais para se importar com o que eles podiam estar pensando.

Sorri, sem graça, quando eles olharam para mim de forma acusatória, antes de começarem a conversar em sussurros.

"Eu, uhm..." murmurei, incerto sobre o que deveria falar. Era fato: eu nunca sabia o que falar.

Você apenas sorriu, parecendo notar isso também.

"Quer beber alguma coisa?" você perguntou, poupando-me de ter que pensar em alguma coisa boba para dizer. Mordisquei o lábio inferior, tentando conter um sorriso, mesmo que esse tenha escapado parcialmente, enquanto encolhia um único ombro.

Rimos baixinho de minha atitude.

"Pode ser." você apenas sorriu, antes de me acomodar na mesa outrora escolhida, e ir comprar alguma coisa para ambos.

Você não demorou para voltar, trazendo em suas mãos minha bebida favorita da Starbucks; e, como começariamos a notar, passamos boa parte da noite conversando e sequer nos demos conta disso, perdidos demais em nos conhecer melhor. Você sempre me faz perder a noção das coisas, mas não é como se algum dia eu tenha me importado com isso.

E quando percebemos o quão tarde era, você me fez uma pergunta que eu não achei que fosse ouvir tão cedo. "Se quiser, você pode ficar lá em casa... Está tarde, e meu pai vem me buscar."

Eu recusei, e você continuou insistindo até que o carro negro de seu pai parou em frente à nós. Você me olhou com seus belos olhos castanhos, com aquele ar pidão que somente você sabe como fazer; um pequeno biquinho no canto de seus lábios e as sobrancelhas erguidas. "Por favor." Você disse apenas.

E foi como se você já me conhecesse completamente nesse momento, pois tão logo eu vi sua expressão e qualquer temor que eu pudesse ter em relação ao seu convite, sumiu. E eu me vi concordando com um aceno de cabeça, e um esticar de lábios timido.

E você sorriu aquele seu sorriso bonito, fazendo minhas pernas tremerem fortemente e meu coração disparar. Brinquei com meus dedos, sem jeito, enquanto você se inclinava na janela do carro de seu pai, conversando com ele sobre eu ir para sua casa.

Senti meu rosto corar violentamente quando notei você dar um passo para o lado, revelando a face curiosa de seu pai, que me olhou analiticamente, antes de sorrir e concordar com você com um aceno de cabeça.

"Pode entrar, jovem." ele me disse, o sorriso ainda nos lábios, me mostrando que você herdou dele o sorriso bonito. E, nesse momento, eu tive o pensamento tolo de que a habilidade de me fazer sentir um bobo, apenas com um esticar de lábios, você puxou de sua mãe, porque o sorriso de seu pai não tinha qualquer coisa que havia no seu.

Você dirigiu seus belos orbes castanhos para mim, sorrindo, antes de abrir a porta de trás para mim, fazendo-me corar; nesse momento, eu já estava começando a ter uma idéia de que você adorava ver-me corado.

Murmurando um agradecimento, sentei-me no banco negro, colocando minha mochila em meu colo, olhando para baixo o tempo todo, extremamente sem jeito.

Você fechou a porta, logo indo sentar-se na frente, ao lado de seu pai, o qual você cumprimentou com um beijo na bochecha. "Tudo bom, pai?" você perguntou, ligando o rádio, deixando numa estação qualquer.

E o modo que vocês conversaram o caminho todo me fez sentir uma pequena pontada de inveja, sabendo que eu nunca teria um relacionamento tão agradável com meu próprio pai: este sempre me deu a liberdade tão sonhada pelos adolescentes, mas faz falta sentir que meu próprio pai se preocupa comigo, mesmo que por coisas bobas.

Por isso, eu apenas fiquei em silêncio, um pequeno sorriso chateado no canto dos meus lábios, enquanto fixava a cidade pela janela do carro, meus ouvidos captando a conversa amena de vocês.

"Então, David..." seu pai disse, quando parou em um farol, fitando-me pelo retrovisor. Virei o rosto de modo que pudesse fixar a lateral de seu rosto, notado um sorriso simpático nos lábios que você também herdou dele. "Pierre disse que você é novo na escola."

Assenti, sorrindo de leve.

"E na cidade, também." disse num tom baixo, sentindo-me extremamente timido. "Me mudei no começo das férias de verão." expliquei, sabendo que essa seria a próxima pergunta que um de vocês me faria.

Você virou-se no banco, de modo que pudesse olhar para trás, permitindo-me matar a saudade que eu estava começando a sentir de fitar seus olhos.

"Você morava onde?" me perguntou e lhe sorri, seu pai ficando em silêncio, com um sorriso de quem sabe das coisas no rosto, antes de arrancar ao que o sinal ficou verde.

"Sept-lles..." disse, dando de ombros e você ergueu as sobrancelhas.

"É uma cidade agradável." seu pai comenta, entrando numa larga rua residêncial, onde há várias casas de classe média; e eu me senti incomodado, pensando que a melhor coisa que meu pai podia comprar era na ala pobre da cidade.

"Sim..." murmurei, torcendo meus próprios dedos. "Muito agradável."

"Por que saiu de lá?" você perguntou e eu pisquei, confuso. Seu pai riu baixinho.

"Seja discreto, Pierre." ele lhe repreende, mas você apenas me sorri, deixando claro que não sou obrigado a responder. Mas eu estava começando a sentir uma necessidade de lhe deixar conhecer tudo o que quisesse sobre mim, mesmo que eu odeie deixar alguém saber muito.

"Meu pai foi demitido..." respondi baixinho, sentindo minhas bochechas corarem. "E como, por lá, era o melhor trabalho que ele poderia conseguir, ele decidiu tentar em Montreal, então... Aqui estamos."

"Estão gostando?" seu pai perguntou, entrando com carro na garagem aberta de uma das maiores casas do bairro, desligando o automóvel.

Dei de ombros, enquanto descia.

"Montreal é... Interessante." respondi, por fim, sorrindo levemente.

Você riu da minha falta de jeito, roçando sua mão na minha, antes de começar a caminhar para a porta da frente. Comecei a lhe seguir, mas seu pai me parou, pousando uma mão em meu ombro, fazendo-me encará-lo, notando-o sério.

"E seu pai, ele... Conseguiu um emprego?" ergui as sobrancelhas, sentindo-me, agora, totalmente deslocado.

"Bem... Não, mas ele está fazendo alguns bicos para conseguir pagar a escolinha da minha irmã." disse, sentindo-me corar. "Estamos nos virando bem." completei.

"Tudo bem, então." ele sorriu, antes de me permitir ir até você, que me esperava, curioso, na porta. Caminhei até você, apressado, sentindo-me terrivelmente sem jeito.

E, embora minha vontade de passar o máximo de tempo ao seu lado, eu queria ir embora; a cada segundo que eu conhecia mais sobre sua família e seu modo de vida, eu notava o quão diferentes éramos.

Você pareceu temer isso, pois segurou minha mão entre a sua, o sorriso bonito de volta aos seus lábios, antes de me puxar para dentro de sua casa, notando-a bem iluminada e clara, com móveis bonitos e que pareciam ter acabado de serem comprados.

No corredor, que levava tanto para a cozinha quanto para as salas e a escada, as paredes eram repletas de fotos da família, revelando-me que você tinha dois irmãos.

Mas você não me deu muito tempo para ficar parado analisando as fotos; você continou me puxando para o final do corredor, para uma porta de vidro, no que você me revelou levar para a cozinha, onde uma mulher estava sentada na mesa com dois garotos mais velhos que você, com algumas cartas nas mãos e um sorriso vitorioso nos lábios.

Sua mãe, e eu pude notar que estava certo sobre você ter herdado dela fosse o que fosse que fazia-me sentir como um bobo em sua frente. Ela ergueu as belas iris castanhas escuras, sorrindo para nós e mandando uma piscadela para seu pai, que surgiu atrás de nós.

"Hey, pirralho..." um dos garotos disse, carrancudo. Suas cartas deitadas sobre a mesa, mostrando que ele desistira do jogo. Você sorriu para ele.

"Hey, Jay..." você riu do gritinho animado que sua mãe deu ao constatar que ganhara do outro garoto, que apenas revirou os olhos. "Gente..." todos olharam para você. "Esse é o David." e, então, todos olharam para mim.

"Olá, David." a mulher disse, erguendo-se e, caminhando até mim, me abraçou levemente. "Eu sou Louise, mãe de Pierre." sorri para ela, que me retribuiu, antes de bagunçar seus cabelos e ir conversar com seu pai.

"Hey, David..." Jay me olhou, sorrindo e acenando com a mão. "Jay, irmão mais velho desse traste." e apontou para você, que apenas revirou os olhos, mas nunca me privando de ver seu sorriso.

Sorri em resposta, olhando instintivamente para o outro que garoto que, ao contrário do resto da família, olhava-me sério, com os braços cruzados sobre o peito e as sobrancelhas erguidas.

"Sou Jonhathan..." ele disse apenas, olhando-me cético. "Irmão de Pierre." concordei com um aceno de cabeça, sentindo-me incomodado com sua sonda intensa, mas você parecia não notar isso, então achei que fosse normal.

Olhei para você, numa pergunta muda do que fazer e você apenas me piscou um único olho. "Está com fome?" perguntou, fazendo-me negar com um aceno de cabeça.

"Não, obri—" contudo, antes que eu pudesse terminar de falar, Jonhathan falou novamente.

"David..." olhei-o, curioso. "Você está com meu irmão?"

"Desculpe?" disse, enquanto você apenas bufava ao meu lado.

"Quero saber se você está sendo fodido pelo Pierre." e ele deu de ombros, com descaso, parecendo tranqüilo. Sua mãe o repreendeu e seu pai mandou-o ser educado. Jay o fuzilou com os olhos e você parecia preste a pular no pescoço dele.

E, embora me sentisse deslocado e achasse que deveria ser educado na frente de seus pais, havia uma única coisa que meu pai se dera ao trabalho de me ensinar bem: nunca deixar um idiota me provocar.

"E se estivesse, no que isso te diz respeito?" dei de ombros, colocando minhas mãos no bolso das calças, cerrando os punhos.

Jonhathan sorriu e pela careta que você fez ao meu lado, eu soube que ele não falaria nada que prestasse. "Oh, bem... Quero saber quanto custa o programa. Você sabe, você é bem bonito."

"E você um perdedor..." respondi, erguendo as sobrancelhas, antes de me virar para você. "A gente se vê na escola, Pierre."

Você pareceu murchar perante isso, mas sabia que não adiantaria insistir para que eu ficasse, sabendo que seu irmão não pararia de me provocar. "Tudo bem." murmurou, chateado, lançando um olhar bravo para Jonhathan, que apenas ergueu as sobrancelhas. "Vem, eu te levo até em casa."

Sorri para você, espalmando minha mão no seu peito quando você começou a andar. "Não precisa, de verdade. Você deve estar cansado, e eu posso me virar."

"Não, eu—" você começou, mas seu pai disse para você me deixar fazer o que achasse melhor. Sorri para você, que me deu mais um daqueles sorrisos bonitos. "Vem, te levo até a porta."

Percorremos o curto caminho em silêncio, parando apenas quando você abriu a peça de madeira e alcançamos a soleira. Sai, descendo o pequeno degrau, antes de erguer a cabeça, de modo que pudesse lhe olhar. "Bem... Nos vemos amanhã?"

Você sorriu.

"Claro." você respondeu, descendo o pequeno degrau também, encostando levemente a porta. "David— Desculpe pelo meu irmão. Ele é um idiota." foi minha vez de sorrir.

"Sem problemas." você sorriu, erguendo uma mão para pousá-la no meu rosto, puxando-me para perto.

"Você é lindo..." foi tudo o que você disse, antes de colar seus lábios nos meus, mais uma vez naquela mesma noite. Suspirei contra sua boca, dando um pequeno passo para frente, me aproximando mais de você, enquanto uma mão pousava em seu peito, apertando de leve um punhado do tecido da sua camiseta.

Abrimos nossos lábios, e então nossas línguas iniciaram aquela dança tão deliciosa: lenta, preguiçosa. E da qual nos tornavámos dependentes.

E como em todas as vezes antes, meu coração disparou e minhas pernas bambearam. Pude sentir seu coração batendo desesperado contra seu peito, na minha mão que estava no seu tórax.

Gemi, baixinho, quando você terminou o beijo sugando meu piercing para você. "Te vejo amanhã." você murmurou, seus lábios ainda roçando os meus.

E as borboletas continuavam dançando em meu estômago. "Até amanhã, Piér."

Sorrimos um para o outro, beijando-nos uma última vez. "Tenho que ir." murmurei, separando nossos lábios e permitindo-lhe colar sua testa na minha. Permanecíamos de olhos fechados.

"Eu sei, mas não quero que vá." você me disse, me fazendo desejar que seu irmão não fosse o idiota que era.

"A gente se vê." disse apenas, me afastando de você, permitindo-lhe segurar minha mão; sorri de leve, antes de soltar a sua e lhe virar as costas, caminhando para a rua, vez ou outra olhando para trás, percebendo você a me observar com o seu sorriso bonito.