Extremidades de um Muro

Em homenagem aos 45 anos da construção do Muro de Berlim e suas vítimas.

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Mu.ro. s.m. 1- Parede forte que circunda um recinto ou separa um lugar do outro. 2- Fig. Defesa, proteção. 3- Bras. Lugar cerrado para guardar colméias. Porém... um muro pode ter muitos significados e funções desconhecidos pelo "Aurélio"...Em homenagem aos 45 anos da construção do Muro de Berlim e suas vítimas.

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12 de agosto de 1961

Berlim; Alemanha

Kagome e Inu-Yasha eram um casal muito feliz. Viviam em constante harmonia a se casariam em apenas três semanas. Uma festa muito simples, pois eram de famílias humildes, mas mesmo assim bastante significativa, pelo menos para eles... Mas mal sabiam, que nesse dia, algo mudaria terrivelmente suas vidas... para sempre...

- Eu quero esse, Inu! – exclamou a garota, maravilhada.

- Mas, Ka, esse é muito caro... – retrucou o hanyou, sem-graça.

- Mas eu quero esse! É o mais bonito! Eu quero esse! – insistiu. Era tão teimosa...

- Meu amor, é muito caro, não podemos pagar... – murmurou envergonhado. Sentia-se mal por não poder dar a ela tanto conforto quanto ela queria.

Kagome fez beicinho.

- Mas, Inu... Olha bem pra ele! É o bolo de casamento mais bonito que já vi... Os outros são sem-graça... Esse não... Esse tem vida, tem personalidade, tem...

Não sabia como ela conseguia ver aquelas coisas naquele bolo... Aliás, em tudo... Tudo e todos... E talvez fosse essa característica exótica que o fez apaixonar-se por ela. Porque ela conseguiu ver a beleza através do seu belo físico e através da sua solidão, seu comportamento agressivo, sua personalidade forte e orgulhosa. Ela era tão meiga e inocente... Enxergava através de tudo, mas não conseguia ver a própria pobreza. Não que tivesse sede de luxo, simplesmente não via-se inferior às pessoas de status.

Baixou a cabeça refletindo sobre o que fazer. Se levasse aquele bolo, teria que economizar no vestido, e queria que Kagome estivesse à altura de uma rainha, afinal aquele dia seria único. E bolos têm sempre o mesmo gosto. O recheio seria à sua escolha mesmo, então... Contudo ela deixara bem claro que não queria um vestido muito enfeitado e, conseqüentemente menos caro...

- Tudo bem... Pode ser esse... – disse por fim.

- Jura? – ela o fitou com os pequenos oceanos contidos em seus globos, pequenos oceanos brilhantes. Ele acenou – Ahh, obrigada, Inu! – esganiçou-se, atirando-se nele e o abraçando com força.

Ele contornou a cintura fina dela, retribuindo-a gentilmente, e a afastou em seguida. A vendedora, que os acompanhava desde que entraram na loja especializada em buffets de casamento, olhou-o significativamente e perguntou:

- Então vai ser esse mesmo?

- Vai sim...

Ele era Inu-Yasha Takahashi. Órfão desde os seis anos, fora criado em um rigoroso orfanato religioso.

28 anos. Hoje, trabalhava como redator em um jornal exclusivo para a capital alemã. Católico, hanyou, alto, forte, cabelos prateados, olhos âmbares e um par de orelhas caninas no topo da cabeça. Tudo o que sabia sobre sua família é que seu pai era um youkai cão que morrera horas depois de sua mãe dar-lhe a luz; e sua mãe fora uma humana muito bonita, ainda conservava a única foto que tinha dela. Um dia acharam-na morta no meio da rua...

Ela era Kagome Higurashi. Católica, humana, estatura mediana, corpo bem formado, cabelos negros, pele branca e maravilhosos olhos azuis. 23 anos. Ocupava o cargo de recepcionista de um hotel requintado no centro da cidade.

Conheciam-se há dois anos.

Assim que acabara de assinar a encomenda do buffet, sugeriu que fossem tomar um sorvete, afinal era um dia bem quente.

- Inu...

- Sim? – respondeu, desviando os olhos do seu sorvete para o rosto angelical.

- Tem planos para hoje à noite? – perguntou com um sorrisinho travesso. De onde mesmo que tirara que ela era inocente?

- Perdão, amor... Tenho que terminar uma redação para amanhã de manhãzinha... – um arrepio percorreu-lhe a espinha ao ter que negar uma noite de loucuras com ela.

- Umm... – ela fez beicinho de novo – Bom, acho que posso esperar até amanhã...

Ele sorriu e beijou as costas da mão dela.

Andaram mais um pouco, fizeram uma visita à Sango, prima e melhor amiga de Kagome, onde combinaram de sair dali a dois dias para alugarem os vestidos de noiva e madrinha, a qual seria a própria Sango. Jantaram por lá, a convite da outra mulher.

Quando Inu-Yasha a deixou em casa, já eram mais de sete e meia da noite. Despediram-se com um beijo gostoso e ele voltou para sua casa.

Terminou, leu e releu o editorial para a coluna de investimentos, corrigindo erros aqui e acolá. Depois tomou um banho bem gelado para aliviar a sensação que lhe invadiu ao imaginar a noite com Kagome que acabar de perder. E foi dormir feliz, pois o dia seguinte seria sexta, e o dia depois do dia seguinte seria sábado, e teria Kagome inteirinha para si durante esse período, exceto quando saísse para alugar o vestido de noiva.

Kagome também dormiu feliz. Cada dia a menos para o seu casamento parecia dobrar sua felicidade, sua sensação de leveza e bem-estar.

Mal sabiam eles que, nesta mesma noite, um acordo cruel fora fechado...

13 de agosto de 1961

Berlim; Alemanha

- INU-YASHAAAAAAAAAAA! – gritava, enquanto os policiais insistiam em empurrá-la para cada vez mais longe dele, o rosto lavado de lágrimas.

- KAGOME! – acotovelava quantas pessoas conseguia, até chegar bem perto dela, temeroso, preocupado, desesperado... Suas mãos chegaram a tocar-se por um instante, até quatro homens da guarda socialista agarrarem-no e arremessarem-no no chão.

- NÃO! – ouviu o grito agudo e nervoso da noiva sobrepor-se ao barulho ao redor, enquanto ela sumia ante a barreira humana que os oficias formavam.

Não era apenas esse casal nessa situação arrebatadora. Em todos os cantos pessoas resistiam à separação. Irmão chamava por irmã, mãe por filho... Seguravam-se ao outro como podiam, até serem novamente separados. Alguns morriam lá mesmo, friamente fuzilados. Berlim fora dividida... E com ela muitas famílias. E, tragicamente, Kagome e Inu-Yasha moravam em lados distintos da cidade...

- KAGOMEEEEEEEEEEEEEEEE! – As lágrimas pareciam queimar-lhe interiormente enquanto vinham à tona. Investiu mais uma vez contra os policiais furiosos, mas estes o jogaram no chão e um deles preparou sua arma e apontou-a para a cabeça do hanyou.

- INU-YASHAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – ouviu mais uma vez Kagome gritar por ele, mas mil vezes mais angustiada.

Encarou determinado o oficial. Preferia morrer a viver longe de Kagome. Porém, como lendo sua mente, o homem baixou o fuzil e o olhou, sorrindo com escárnio.

- Inu-Yasha Takahashi, não? – perguntou, sem precisar de uma resposta. Outros dois policiais torceram seus braços para trás e o algemaram com um material resistente à sua força youkai.

Encaminharam-no até um caminhão, onde mais várias pessoas estavam sendo "amontoadas". Reconheceu alguns artistas e muitos outros jornalistas, inclusive alguns colegas de trabalho seus.

A situação fez oscilar seus nervos de aço. Seria torturado até a medula dos ossos, enquanto o governo tentaria arrancar informações da oposição (ou, no caso, sobre os projetos capitalistas), depois, quando ele se recusasse a dar essas informações, prenderiam-no e eletrocutariam-no... Se tivesse sorte... Senão passariam décadas a fio infligindo-o às mais terríveis dores. A principal delas, tirando Kagome de si... Um grande sentimento de indescritível angústia invadiu-o ao imaginar o que poderia estar acontecendo com ela, e lembrando-se que ela também poderia ser torturada...

Em poucos dias um muro alto e resistente fora erguido, e cortava a cidade de Norte a Sul. Como esperado, fora dolorosamente torturado até restar semi-morto, apesar de ter que voltar caminhando para a cela pouco confortável... Compartilhava-a com mais dois youkais e um humano: Bankotsu. Começaram a trabalhar na redação do jornal no mesmo dia e desde então tornaram-se grandes amigos. Outro era um youkai lagarto locutor de rádio e o outro o ex-deputado anti-socialista. Este último fora eletrocutado logo na primeira semana.

O dia de seu casamento chegara e se fora e não se casou, e nem seria mais possível. Contudo, durante a madrugada, recebera um bilhete de um guarda bem amigável. Dizia que Kagome o esperava na praça central (que ficava do outro lado do muro) e tinha bem explicado um esquema de fuga, que seria realizado na noite seguinte e que ele deveria passá-lo discretamente pra o máximo de presidiários que conseguisse.

O plano falhara miseravelmente. Até conseguiram sair com sucesso da cadeia, mas, infelizmente, havia policias de guarda em pontos estratégicos, dos quais não puderam passar despercebidos. Conseguiram correr até o local combinado, onde o tio de Kagome, que era chefe de um esquadrão, montara um esquema clandestino para contrabandear prisioneiros socialistas. Alguns infelizes não foram rápidos o suficientes e eram atingidos por fuzis. Inu-Yasha, graças ao seu bom Deus, não estava entre eles. Corria o máximo que conseguia, pulava pelos prédios e até que, do topo de um, a viu.

Ela estava sentada na sarjeta da praça bem cuidada e iluminada. Uma saia até os joelhos, bege, que esvoaçava conforme a brisa e uma blusa regata azul meia-noite. Fitava um ponto imaginário no meio da avenida, apenas esperando.

Saltou do prédio para a rua, onde pôde ver o senhor Myouga, o tio de sua noiva, indicar discretamente a passagem que deveria atravessar. Algumas pessoas já conseguiram alcançá-la, e estariam seguras do outro lado – ao menos era o que imaginavam. Porém, assim que pôs os pés no chão, vários carros o cercaram, juntamente com outros fugitivos. Havia, também, dois grandes helicópteros. A elite, que fora imediatamente acionada, atirava sem direção, acertando o primeiro que conseguisse. Para sua desgraça, fora apenas atingido no braço. Preferia morrer... Sabia que nunca mais haveria outra chance como aquela para escapar.

Kagome, quando percebeu a agitação do outro lado, correu para a passagem que seu tio fechava rapidamente. Olhou pelo pequeno espaço aberto e viu, para seu espanto, Inu-Yasha. Seus longos cabelos prateados balançando conforme a brisa. Mas, o que realmente a assustou, foi ver um longo e brilhante cano de arma apontando para ele e o acertando. Fechou os olhos e gritou o mais alto que conseguiu, até sentir a garganta arder. Para seu alívio, viu-o, ainda em pé, com a mão segurando o antebraço esquerdo, e sangue manchando rapidamente a roupa rota que ele trajava.

Ele não conseguira... Não conseguira voltar... Não conseguira reencontrá-lo... Caiu de joelhos e abraçou a si mesma, imaginando que fossem os braços dele...

Aquela dor excruciante de novo. Apesar de que já estava acostumado. Acostumou-se depois de um certo tempo... O que mais doía, e nunca parava de doer, era seu coração.

- Só vou perguntar mais uma vez, hanyou maldito, eu quero informações! – ordenou entre-dentes.

- Eu já disse que não tenho informações! – gritou, sustentando o olhar inquiridor do torturador – Eu estou a dez anos longe de alguma civilização, como espera que eu tenha informações! Já me tiraram o que eu tinha de mais precioso, a única coisa que me resta é minha vida a ser tirada... – murmurou, levando as mãos ao rosto para enxugar as lágrimas amargas, fazendo as pesadas correntes retinirem.

Sem que notasse, os olhos de Narak se estreitaram de satisfação ao fitar a fina aliança dourada reluzindo no dedo anular direito dele.

- É dela que você está falando, não é? – perguntou sarcástico.

- Dela quem, seu maldito?

- Da sua noiva, não é? Ou devo dizer "ex-" noiva. Hu-hu-hu... – riu. Viu o hanyou perder a cor. Agarrou com força o pulso dele e puxou a aliança – Por que a usa, mesmo depois de vinte anos, hein? – ele a rolava entre os dedos contra a luz fraca daquele lugar – Porque não... descartá-la? Afinal, ela já deve estar velha, com um marido rico, filhos, e talvez até netos... Já te esqueceu... – disse e começou a caminhar até um cesto que havia ali.

- Não, por favor! Não faça isso! – implorou, ao perceber a intenção dele.

- Então me dê informações, hanyou... – propôs, colocando o máximo de desprezo que conseguiu ao chamá-lo pela raça.

- Já disse que não tenho! Eu era apenas um redator! – retrucou insistente.

- Então... – lamentou sarcasticamente, soltando o círculo dourado sobre o cesto onde descartavam materiais inutilizados, fazendo-a tilintar melancolicamente, quase como se sentisse por aquilo ter acontecido...

O guarda empurrou-o violentamente para dentro da cela, fazendo-o cair de lado e machucar dolorosamente o flanco esquerdo. Bankotsu percebeu que o amigo chegara múltiplas vezes mais abatido que o normal. Ficara curioso, mas esperaria até ele se recuperar um pouco da sessão.

Sentou-se no seu canto habitual e tirou a camisa. O dia estava extremamente abafado... Ou talvez fosse algo natural daquele lugar... Nunca se lembrara de ter sentido muito frio lá. Quando pousou a roupa no chão, Bankotsu reparou em seu dedo nu.

- Inu-Yasha! Cadê sua aliança?

Quando o colega o olhou com um brilho melancólico nos olhos dourados, levou as mãos à boca. Falara demais... Provavelmente fora isso que o deixara tão abatido.

- O Narak... – murmurou – Ele a arrancou... A única coisa que me ligava à Kagome... Por nada... - dizia melancólico, enquanto passava distraidamente um dedo pela sua mais recente cicatriz. Atravessava seu abdômen de sudoeste a nordeste e fora resultado de uma lâmina incandescente usada para tortura...

Olhou para sua esquerda e puxou o pedaço solto de cimento onde escondia sua corrente de ouro. Sempre tomara a precaução de não entrar com ela na sala de tortura, senão com certeza já a teriam usado para martirizá-lo, assim como Narak acabara de fazer.

Eles eram baixos... Todos baixos e sem honra... Mais que a tortura física, eles utilizavam-se da tortura psicológica. E, desafortunadamente, eram muito bons...

- Sinto muito por perguntar... – o outro sussurrou cabisbaixo.

- Sei que sente... – respondeu, enquanto passava delicadamente a correntinha por seu pescoço.

Passou de leve as garras em sua orelha direita, como Kagome costumava fazer, seus cabelos bem mais curtos. Preferia mantê-los bem aparados para não correr o risco de ele ser usado contra si. Já seu único colega de cela insistia em mantê-los longos e caprichosamente trançados.

Escorregou de leve as pontas dos dedos pelo metal dourado, até encontrar o pingente de coração, abri-lo e contemplar novamente a foto da mulher, única mulher que amara. Havia duas, ambas em branco-e-preto ainda: à esquerda, ela com os ombros e pescoço desnudos, a mão direita no ombro oposto, o rosto baixo e na diagonal, os cabelos negros jogados atrás da face, fazendo contraste com sua pele alva e os lábios fartos e róseos entreabertos. Já a da direita era uma foto de frente onde ela simplesmente sorria, aquele sorriso angelical que parecia iluminar tudo ao seu redor. E as palavras de Narak martelando dolorosamente em sua cabeça... "Afinal, ela já deve estar velha, com um marido rico, filhos, e talvez até netos... Já te esqueceu..."

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Hello, minna!

Fic meio sem-graça, neh? Eu adoro o tema dela, mas agora que voltei a reler... sei lah... Mas mesmo assim eu estou postando XD

Na verdade... Era pra eu ter postado dia 13, que é o dia da divisão da cidade (até porque eles não conseguiriam construir um muro de quilômetros de extensão em uma noite, rsrs), mas eu esqueci (detalhes à parte).

Essa fic não é, de forma alguma, baseada em dados verídicos, até porque eu nem sei como que foi essa divisão, e talz... Nota-se pela falta de detalhes. O que eu mais queria passar mesmo é o sentimento. A fuga da cadeia socialista também não é verídica! Foi só para tornar a estória um pouco mais dramática (mais ainda?).

Ahh! Eu baseei as torturas alemãs nas aplicadas durante o Regime Militar brasileiro (embora, notem, que eu não descrevi-as), porque eu não sei quais tipos eram aplicadas, maaaas... acho que deu pro gasto. Essa, felizmente, não é uma parte importante pra estória.

ANTES QUE SE PERGUNTEM vai sim ter uma continuação, que eu vou postar dia 9 de novembro, que é o dia da derrubada do muro. O emocionante reencontro entre a Ka e Inu... Como será que ela vai estar? Como vão reagir após quase 30 anos! de separação?

Bjks, e ateh mais!

P.S.: Não fiquem com muita raiva de mim por "Jogo da Vida", juro que será uma mudança para melhor.