Primeira fic, hohoho! Decidi postar logo esse primeiro capítulo antes que eu mudasse de idéia! ;D

Disclaimer: Bom, pra evitar essa coisa do incesto eu optei por desenrolar a história como se eu, Shaka, não pertencesse à família MRS - e sim só a Jéssi. Logo, não sou filho, nem irmão e nem pai de ninguém lá, hohoho! E considerei ainda que a fic se passa antes de a Botan ter enxergado a Marjarie com outros olhos. XD

(Ah, que ninguém me mate por eu ter usado os nomes sem pedir. E quem quiser me matar por não ter aparecido na fic, pode ter certeza que aparecerá no próximo capítulo!)


KILL BOTAN

Casamento Conturbado

- Chamando... tenente Loreal-2, tenente Loreal-2...

- À escuta, general.

- Tudo pronto?

- Certamente, general. Aguardo o sinal verde.

- Perfeito.

Bip

- Capitã Blondsnake. Apostos?

- Positivo, general. Todas em posição.

- Ótimo...

Bip

- Cadete Oxi-1, tropa 88. A caminho?

- Seguramente, general. A caminho.

- Excelente.

Bip

- Podemos começar...


Ela se olhava no espelho, nervosa, dava meia volta, olhava do teto para o chão, e de volta para o espelho. O pé tamborilava no piso de madeira e produzia uma batida constante, lembrando de longe o tiquetaquear de um relógio - som que, sem dúvida, não melhorava em nada seu nervosismo. Parou, esforçando-se para conter a tremedeira, e começou a inspirar e expirar profundamente, os olhos e mãos cerrados a fim de aumentar a concentração. Inspirar, expirar, inspirar, expirar... Por um momento obteve êxito; os pensamentos pessimistas foram aos poucos se afastando, levando embora o frio que deslizava por sua espinha e parecia se acumular no estômago. Numa última golfada de ar a moça já não sentia qualquer ansiedade. Parecia que enfim havia conseguido estabelecer a calma e...

- JÉÉÉSSIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!

O berro caiu como uma âncora de puro gelo em seu estômago e por pouco seus joelhos não cederam. A moça apoiou-se na penteadeira e, ofegante, berrou em resposta, o coração zunindo de tão acelerado:

- O-O que foi!?

- COMO ASSIM "O QUE FOI"?? JÁ VIU QUE HORAS SÃO?? – rebateu a voz que vinha do cômodo seguinte.

Jéssi voltou o rosto para o espelho e viu o relógio digital que pendia na parede oposta. Estava atrasada! O tempo correra tão depressa enquanto estivera ali, mal conseguia acreditar que já chegara a hora. Olhando-se uma última vez no espelho, ajeitou de leve o cabelo, checou se a maquiagem estava aceitável e, só então, ao rolar os olhos em direção à porta, viu de relance o objeto circular que pendia acima de seu busto. Voltou outra vez o olhar à frente e enfim tomou ciência de que era...

Um amuleto de proteção, recordava-se de Faye ter-lhe dito a muito tempo atrás, no dia em que entregara-lhe o enorme, chamativo pingente, a forma de Yin-Yang representa minha união com sua mãe, a união dos poderes da primavera da juventude! E recordava-se ainda de Lyra dizendo-lhe, nunca retire este amuleto, nem pra tomar banho! Estará protegida, mas apenas enquanto estiver usando-o! Ouviu bem!?

Jéssi refletiu por um instante. Olhou do pingente metade negro-piche e metade rosa-fluorescente para o vestido completamente branco e de volta para o pingente. Meditou sobre a feia combinação que a roupa e o acessório compunham, levando em conta a ocasião que se seguiria. Pôs a mão sobre o Yin-Yang, hesitou, mas por fim decidiu que era melhor retirá-lo, pelo menos por ora. Usara-o por tanto tempo; não era possível que algo de errado fosse resolver acontecer justo naquele dia. Sendo assim, desprendeu a liga na nuca e jogou-o sobre a cama. Caminhou nervosamente até a porta e girou a maçaneta, aprumando o vestido para que passasse pelo vão.

- Hunf, até que enfim... – resmungou Faye, sua pai. – Podemos ir agora, madame!?

- Si-sim... podemos. - respondeu a noiva, evitando mostrar à pai que retirara o amuleto rosa e sanguinário.


Mais tarde ele diria que fora um erro, que não entendia como conseguira ser tão alheio. Diria à ela que o perdoasse, que nunca mais permitiria que algo como aquilo acontecesse novamente. E ela, ainda que relutante, o perdoaria. Tudo acabaria bem, todos terminariam felizes. No fim, seria como o planejado.

No entanto, nenhum deles sabia o quão longas e insólitas seriam as horas que fariam daquela pacata tarde de verão um verdadeiro caos. Ninguém sabia que sangue seria derramado e que cabeças iriam rolar antes que qualquer felicidade fosse consumada.

Mas ao menos terminaria bem, e isso era bom. A coisa que a tempos agia às escondidas seria de uma vez por todas interrompida, e isso era melhor ainda. Ele enfim conseguiria viver ao lado de alguém – um único alguém -, e isso era quase um milagre, oh, Deus, se era.

Ele observava a faixa de um verde desbotado, distante. Era um tom monótono - sem a mínima graça que teria caso fosse substituído por, quem sabe, um afresco -, mas ele não conseguia evitar. Não porque o tom exercera-lhe algum estranho tipo de atração – pelo contrário, ele odiara aquilo desde a primeira vez que pisara no lugar, quando ainda era um garoto -, mas porque ele meramente distraíra-se. Se é mesmo verdade que cada ser humano nasce com um dom, o seu não poderia ser outro senão a aptidão para distrair-se. Olhar cinco segundos na mesma direção era mais do que motivo para distanciar-se infinitamente do mundo e entrar num estado letárgico, quase um transe – que duraria até que alguém chegasse ao seu ouvido e berrasse algo alto o suficiente.

E dessa vez o que observava era o teto. Aquela invariável extensão cinza-esverdeada, que não combinava em nada com o resto da Igreja. Comparada à decoração feita para aquele dia então, compunha um contraste berrante – mas não o suficiente para prender a atenção do distraído.

Foi então que ele ouviu um ruído. No início soara como um som abafado, inaudível. Logo tomara a forma de um murmúrio, mais próximo, mas que ainda não conseguiu decifrar. Um instante depois ele ouvia seu nome.

- Shaka! Ei, Shaka!

O estado de transe foi quebrado. Ele sentiu-se aterrissar no próprio corpo e, logo que retornou inteiramente a si, desviou o olhar para aquela que chamava seu nome.

- Vê se pára de fazer essa cara, está assustando os convidados! – balbuciou Pipe, avó da noiva, ao seu ouvido.

Shaka olhou de Pipe para os convidados – algumas dezenas de faces assustadas -, e de volta para Pipe.

- Oh, claro, me desculpe...

- Ok – disse Pipe, lançando-lhe um olhar que não tinha muito de repreensivo – Só procure não olhar muito tempo na mesma direção, certo? Isso às vezes assusta as pessoas... – e desceu os degraus de mármore do altar até a primeira fileira de assentos. Shaka refletiu sobre como era curioso Pipe dizer-lhe algo como aquilo.

Procurou então manter-se olhando para todos os lados da Igreja, sem fixar o olhar por mais que alguns segundos num mesmo ponto. Tanto à esquerda quanto à direita, viu os pilares de sustentação, que hoje eram adornados por enormes borrões escarlate – rosas, concluiu ao aguçar um pouco mais a visão (claro, idéia de Wanda, tia da noiva, que declarara-se decoradora oficial do casamento) -; as hastes prateadas que seguiam em pares pelo corredor principal, ostentando exóticos deltas de ramos ressecados nas extremidades – medusas psicodélicas, foi a primeira coisa que lembraram a Shaka -; as velas customizadas presentes em trios nos limites de cada fila de assentos, nos formatos sombreiro, poncho e bigodes – talvez fosse apenas impressão, mas as velas pareciam exalar um odor peculiar enquanto queimavam.

O que diferenciava a ala esquerda da direita, entretanto, não dizia respeito à decoração – mesmo porque simetria tinha uma enorme relevância no método de Wanda. A diferença estava no número de convidados. Na ala direita da Igreja, onde os assentos eram reservados aos convidados da noiva, mal via-se lugares vazios. Em toda sua extensão jaziam avós, irmãos, primos, tios, conhecidos da família e amigos de Jéssi, todos entusiasmados, exatamente como deveria ser num casamento. Na fileira da frente, Lithos, a outra avó da noiva, conversava com Hauser e Pipe; ele parecendo pouco interessado no assunto, ela acentuando uma careta perplexa a cada palavra de Lithos; mais além, Ayumi e Chibiusa questionavam Wanda quanto à decoração, enquanto esta apontava toda prosa das pilastras adornadas para as hastes e para as velas customizadas, os olhos brilhando; Siren, Yami e Ling postavam-se bem na fileira do centro, e conversavam sobre algo que deveria ser bem engraçado, considerando o esforço que faziam para conter risadinhas – Shaka notou que vez ou outra olhavam para ele de relance e tornavam a sufocar as risadas -; Maioki, Koneko e Marjarie ficavam mais ao fundo, e murmuravam algo relacionado à ala esquerda da Igreja, onde estranhamente não havia convidados.

A ala esquerda, reservada aos convidados de Shaka. A ala onde não havia ninguém - ou melhor, havia: uma meia dúzia de sujeitos esparramados nos fundos, olhando ao redor com indiferença, mal parecendo saber o que estava acontecendo ali. Até onde se lembrava, Shaka não conhecia nenhum daqueles rostos. Preferiu, no entanto, ligar isto ao fato de que não os observava tempo o suficiente para uma identificação precisa. A hipótese de que os únicos presentes do seu lado eram penetras era demasiado deprimente.

Shaka não parecia tão nervoso como poderia estar diante daquilo, todavia – nervoso, sim, mas não a ponto de arrancar os cabelos e começar a rir histericamente sem motivo algum. Ele sabia que se seus convidados realmente viessem, viriam todos de uma vez, num único grupo – e isto era, de certa forma, confortante. Caso não viessem, de fato não viria mais ninguém, além de, quem sabe, mais meia dúzia de penetras que estivessem passando na rua aquela hora – e isto era, sem dúvida, desesperador. E alimentava dúvidas quanto à sua presença. Era verdade que haviam prometido comparecer, mas era bem possível que tivessem mudado de idéia. Talvez fosse doloroso demais para seus convidados assistí-lo casando-se com outra mulher, talvez realmente tivessem pensado melhor. Talvez...

Uma nuvem dourada surgiu de repente à porta da Igreja. As vozes se calaram e todos os presentes contorceram pescoços para olhar a massa ofuscante ali postada. Apenas instantes depois – quando seus olhos acostumaram-se à luminosidade que se projetava do grupo -, puderam concluir que eram os convidados de Shaka. Ou melhor dizendo... as convidadas.

O batalhão de mulheres altas, belas, esbeltas, com feições indiscutivelmente parecidas – pareciam ter, de alguma forma, saído da mesma fôrma - e cabelos loiro-prateados extremamente chamativos – daí o peculiar efeito luminoso - permaneceu ali por um minuto, as dezenas de olhos percorrendo cada centímetro do local, examinando-o.

A loira da frente – ligeiramente mais alta e corpulenta que as demais – deu dois passos à frente, a coluna ereta, o rosto erguido, e então estacou subitamente, fazendo um gesto para que as outras continuassem às suas costas. Suspirou, torceu os lábios num gesto de impaciência e virou-se lentamente para o lado, seus olhos azuis focando o grupo de penetras esparramados ao fundo, como se tivessem detectado a presença de um corpo estranho. Aproximou-se um passo do grupo, sem dar a mínima ao fato de que onze a cada dez presentes praticamente dissecavam-na com os olhos, e cravou-lhes um olhar determinado – que, diga-se de passagem, não tinha nada de amistoso. Os penetras entreolharam-se, temerosos, menearam a cabeça, voltaram-se para a loira - seu olhar ainda fixo, sem previsões de pestanejar -, e tornaram a olhar um para os outros.

Então, um a um, como se através daquele olhar a loira tivesse enviado-lhes uma ameaça de morte telepática, ergueram-se cautelosamente dos assentos, sem virarem as costas, tateando o que houvesse atrás e afastando-se em passos curtos. Ao tomarem uma certa distância, giraram os corpos e partiram em disparada pela porta lateral de Igreja – um deles inclusive deixara um tênis com um buraco no dedão para trás. A loira balbuciou algo como "agora sim...", virou-se repentinamente na direção do corredor principal – gritinhos de susto foram ouvidos aqui e ali à direita – e, finalmente, adiantou-se por ele. As demais seguiram-na, formando uma fila indiana.

O fato é que havia pelo menos cem delas – todas loiras. Conforme iam passando pela porta, as expressões de incredulidade à direita cresciam, as bocas pendiam mais e mais abertas, os olhos mais e mais arregalados. A alguns deles ocorreu que não haveria espaço suficiente para todas. Já outros simplesmente não conseguiam digerir a imagem, era demasiado insólito.

Ao chegar à fileira da frente, a primeira loira deu um giro repentino – que arrancou mais dois ou três gemidos à direita - e fez um aceno para as demais. Cada loira da fila virou-se instantaneamente de encontro aos assentos, passando pelos vãos e posicionando-se nos lugares, de forma algo mecânica. Quando a última se sentou, a líder também virou-se para o lado e aprumou-se num espaço vazio da primeira fileira.

E tudo aconteceu como se fosse algo absolutamente normal. Pelo menos metade dos convidados à direita, no entanto, rolavam olhares incrédulos de Shaka para as loiras e de volta para Shaka, como se perguntassem: "Já posso rir...?". A resposta não veio, afinal, Shaka não desgrudava os olhos das recém-chegadas, sem a menor preocupação de distrair-se novamente. O alívio e a satisfação transbordavam em seu rosto. As loiras abriam enormes sorrisos para ele – curiosamente, sem semicerrar os olhos – e pareciam igualmente satisfeitas. Satisfeitas até demais.

O silêncio pós-choque perdurou por alguns minutos – que na verdade soaram como muitos minutos. Durante esse tempo, Shaka notou que o contraste na Igreja tornara-se maior do que nunca – superando até mesmo aquele existente entre o teto verde pastel e a decoração escarlate -, e que dessa vez não tinha nenhuma relação com o número de convidados, mas com aspectos físicos destes. De um lado, via-se homens, mulheres e crianças; diferentes tons de pele e cabelo, diferentes semblantes, estaturas e modos de agir; um grupo heterogêneo, com todo tipo de gente. Do outro lado, via-se mulheres loiras – muito loiras - , mulheres loiras, mulheres loiras, mais mulheres loiras e... olhem só que coincidência, mulheres loiras! De fato, pareciam uma enorme nuvem bioluminescente à primeira vista...

Suas comparações foram interrompidas junto ao silêncio, quebrado pelo primeiro murmúrio que despontou à direita – na verdade não fora um murmúrio, e sim um espirro um tanto esquisito de um alérgico a flores, mas serviu de pontapé inicial para que mais pessoas voltassem a murmurar e cochichar ao redor. Logo, o ritmo de conversa de outrora fora reestabelecido – talvez porque as pessoas simplesmente não suportavam mais segurar o que tinham para falar. E qualquer leigo afirmaria sem titubear que o assunto X que brotava de cada garganta à direita era o estranho batalhão de loiras que Shaka convidara.

- O-o que significa isso...? – disse Koneko em voz baixa, a boca ainda pendendo aberta.

- Não me pergunte... – respondeu Marjarie, já conseguindo fechar a boca, mas ainda visivelmente chocada.

- Então... essa é a família do Shaka?

- Bem, é o que parece...

- Mas... Mas... – Koneko achou um tanto estranho que Shaka não tivesse parentes homens, mas ao recordar-se que na família de Jéssi era comum duas mulheres terem filhos, de repente começou a encarar o fato com curiosa naturalidade. – é, a família.

- Hehe... oi! – ambas ouviram alguém dizer ao lado.

A voz pertencia a Maioki, que não parava de lançar olhares, risadinhas e cumprimentos a uma loira do outro lado. Ela, porém, mantinha um sorriso fixo na direção do altar e parecia não ter notado sua presença.

- Maioki! – chamou Marjarie, e ele voltou-se para ela – Qual o seu problema??

- Meu problema? Ah, que bom que perguntou... Mariazinha tinha sete maçãs e deu duas pro elefante Biboca, com quantas...

- Maioki!!! – Koneko interrompeu-lhe.

- Bah... eu só tava sendo gentil com a senhorita aqui do lado! Não pode?

- Quando se tem uma Wanda logo ali na frente, não! – rebateu Marjarie.

Maioki olhou para os assentos da frente e viu Wanda, sua namorada, que tornara a papear com Chibiusa e Ayumi – mas, desta vez, o assunto estava longe de ser "decoração".

- Você viu o que ela fez com aqueles penetras? Só com os olhos? – sibilou Wanda, incrédula.

- Vi, menina! – respondeu Chibiusa - Será que é aprendiz da Pipe?

Toda a igreja sobressaltou-se ao ouvir uma gargalhada monstruosa vinda de algum lugar à direita – algo como um "hisuhaissldjfklçdajgdmduhfasduihfiosdahfuas". Alguns juraram ver poeirinhas caindo do teto.

- Desculpe – disse Ayumi, enrubescida, cobrindo a boca – sem mais piadas, por favor.

- O-Ok, desculpe. – disse Chibiusa, ainda meio aturdida pelo barulho.

Nos assentos intermediários, Siren, Yami e Ling pareciam ter finalmente parado de rir.

- Só podem ser as clientes dele. – disse Yami, solenemente.

- Ahn!? – exclamou Siren. – Clientes?

- É, o Shaka deve ter uma fábrica de água oxigenada. E outra de silicone.

Os três voltaram a sufocar as risadinhas.

- Será, gente? – disse Ling. - Eu acho que talvez elas sejam mesmo parentes do Shaka.

- É, pode ser... – disse Siren - A cara de Barbie é igual...

O trio riu a ponto de algumas pessoas ao redor dirigirem-lhes olhares de censura. No primeiro assento, Lithos parecia bastante indiferente, Pipe intrigada e Hauser mais animado do que nunca com as recém-chegadas – óbvio que tentava esconder de Pipe os olhares que lançava à esquerda, afinal, não queria que seguido ao casamento houvesse um funeral.

- Como ela conseguiu fazer aquilo? Achei que só eu conseguia! – disse Pipe.

- Ahn? – disse Lithos.

- A loira, Lithos. Espantou aquele pessoal com um único olhar!

- Loira?

- É, a loira! As loiras! – disse, apontando para os assentos da esquerda.

- Oh! Quando foi que elas chegaram?

- A pouco, Lithos... – disse Pipe, impaciente - Tem certeza que você não foi irmã do Shaka em alguma encarnação, hein?

- Uhn... talvez...


Jéssi deixava o castelo, junto a Faye e Lyra, suas pais. Estas, após despedirem-se da filha, entraram num exótico carro metade preto e metade rosa – Rosangmóvel, era seu nome – enquanto a filha entrou numa limusine alugada especialmente para a ocasião – chegar de limusine é chique, dizia Lyra, que havia lido isso um dia antes numa revista de inutilidades para noivas, mas só se você for sozinha - salvo o motorista, claro -, porque senão acaba virando coisa de burguês. Óbvio, não é o nosso caso, já que somos nobres, refinadas e temos bom gosto. Jéssi acomodou-se no banco traseiro e acompanhou o Rosangmóvel dar a partida e seguir pela rua Afrowoods, desaparecendo na esquina com a Buenos Bigodes. Notando que a limusine demorava a sair, a noiva olhou para o retrovisor do carro e viu que o motorista - um homem esguio com óculos escuros que cobriam pelo menos dois terços do rosto – parecia observá-la, sua boca pendendo ligeiramente aberta.

- Err... podemos ir? – disse a noiva.

O motorista sobressaltou-se e, esboçando um sorrisinho constrangido, desviou o olhar do retrovisor. Jéssi forçou uma expressão de agradecimento e virou-se para a janela. O motorista, após ter errado o orifício de ignição um par de vezes e por uns bons dez centímetros, finalmente acertou a mira e ligou o carro. O veículo partiu e Jéssi observou as pessoas e casas na rua, que começavam a surgir e desaparecer.