DISCLAIMER: eu não possuo direitos sobre os Jovens Titãs, Novos Titãs, Teen Titans ou quaisquer personagens aqui utilizados ou mencionados. Eles pertencem a DC Comics e ao Cartoon Network que , por sua vez, pertencem a Warner Bros.
Esta história se chama "Adaptação" por dois motivos: primeiro, porque ela submeterá o Mutano do desenho animado a vários dos altos e baixos que o Mutano das Histórias em Quadrinhos teve de enfrentar (ou seja, eu farei adaptações livres de vários elementos das HQs). O segundo motivo é porque "adaptação" é o tema central da história (pois Mutano e seus amigos terão de se adaptar as mudanças que surgirão no caminho deles, sejam elas boas ou ruins).
O primeiro capítulo toma lugar imediatamete após o episódio "As Coisas Mudam" (o último episódio da série animada). O filme "Missão Tóquio" entrará cronologicamnte nesta história daqui a alguns capítulos.
Capítulo 1 – As Coisas Mudam... As Pessoas Também
Os cinco super-heróis adolescentes estavam no 'lugar da pizza', o local onde eles sempre se reuniam para comemorar as vitórias ou apenas para passar algum tempo juntos. Nessa ocasião, era pelo primeiro motivo.
Quatro deles haviam gasto boa parte dos três últimos dias enfrentando uma criatura capaz de transformar seu corpo em qualquer substância que tocasse. O quinto membro, cujas perícias haviam se mostrado essenciais para a batalha, chegou apenas no terceiro dia. Apesar do monstro ter sido derrotado com a ajuda dele, o resto do grupo ainda se encontrava aborrecido por conta da ausência.
No momento, Ciborgue estava explicando para os outros a estratégia que havia utilizado para derrotar a criatura.
"E foi assim que eu descobri que aquilo era um Nanomorfo. Então -- ".
"Um o quê?". Mutano interrompeu, com uma clara expressão de confusão.
"Um Nanomorfo". Vendo no rosto do seu amigo que isso foi o mesmo que não dizer nada, Ciborgue rolou os olhos e tentou de novo. "Um robô constituído por Nanobots. Então, como eu dizia -- ".
"Cara, não dá pra você tentar no meu idioma?".
Suspirando, o meio-robô usou explicação mais detalhada. "Nanobots são robôs microscópicos, do tamanho de bactérias ou até mesmo menores. Um Nanomorfo é como um 'enxame' de Nanobots. Trilhões deles, todos trabalhando juntos como um único ser. Como se fossem um único robô".
"Uau! Isso é legal!" , Mutano disse mostrando muita empolgação com o conceito apresentado.
"É, é, muito legal. Bom, como eu dizia -- " .
"Mas espera! Se aquilo era só um amontoado de robôs, como conseguia se transformar em pedra, metal, água e tal?".
"Se você parar de interromper, quem sabe ele chega lá... " , Ravena interveio, ela própria começando a ficar aborrecida com tantas interrupções.
"Obrigado, Ravena. Bom, como eu dizia, foi nessa hora que eu descobri que não adiantava continuar lutando com a coisa. Cada vez que um Nanobot é destruído, os outros podem construir um substituto em questão de segundos usando materiais do próprio ambiente".
"Tipo uma ameba se dividindo... ?". Mutano perguntou timidamente, com um tom de voz baixo e quase murmurado.
"É ... mais ou menos isso ... ", o meio-robô disse, quase impressionado com a demonstração de sagacidade do colega. "De qualquer modo, os Nanobots daquela coisa também podiam replicar qualquer substância a partir de uma pequena amostra. Em segundos ela podia alterar a sua estrutura molecular para se adaptar a novas situações, criando uma armadura para proteger individualmente cada Nanobot. É assim que ela se 'transformava'". Ciborgue ficou em silêncio por alguns instantes, apenas pra ver se Mutano iria interromper de novo. Vendo que não havia esse perigo, decidiu continuar. "Aí eu pensei -- ". Mas desta vez foi interrompido pela garçonete chegando com a pizza.
Aproveitando a interrupção, Estelar perguntou, pela quinta vez, para Mutano, "Amigo, você tem certeza de que não deseja participar desta agradável refeição comemorativa?". Dentre todos, ele havia sido o único que não pediu nada e nem sequer protestou quando os outros quatro pediram uma pizza que continha derivados de carne.
"Não, obrigado.. Eu já tive pizza o bastante por hoje", o garoto respondeu suspirando, sem nem mesmo se lembrar de que ele não havia estado lá naquele dia, mas sim no dia anterior (e, por sinal, ele nem havia comido pizza). Diante da resposta do colega, os outros quatro trocam olhares entre si. Um olhar preocupado, um aborrecido, um furioso e um frustrado. Teria ele abandonado o grupo numa batalha exaustiva e ido simplesmente lanchar? Seria a irresponsabilidade dele tão grande assim?
"Cof, cof ... Onde eu estava ... ", disse Ciborgue, tentando mudar de assunto. Na verdade, tentando retomar a sua narrativa. "Ah, certo ... Eu pensei: 'Nós temos que destruir todos os Nanobots de uma só vez, assim eles não podem replicar substitutos'. Então eu bolei o plano: a gente levaria o Nanomorfo pra usina elétrica da cidade, induziria ele a se transformar em metal. Depois era só jogar a coisa na rede de transmissão. Com uma descarga tão alta e um corpo feito de material condutor, todos os Nanobots fritariam na hora, sem tempo de se reconstruir ou se adaptar. Aí a gente fez isso e funcionou".
"Mandou bem, Ciborgue", elogiou Robin, que foi prontamente seguido por Estelar ("Glorioso!") Mutano ("É cara, foi bem pensado!") e Ravena ("Muito engenhoso")
"É a gente faz o que pode". Disse Ciborgue, com olhos fechados e um sorriso largo. Voltando sua atenção para a pizza de pepperoni, ele estava prestes a abocanhar uma grande fatia quando viu Mutano com a cabeça abaixada, olhando fixamente para a mesa e com uma expressão pensativa no rosto.
Embora ainda estivesse meio aborrecido, Ciborgue decidiu que devia tentar animar seu melhor amigo. "Mas sabem, o meu plano não daria certo se não fosse pelo Mutano". Todos olham para ele, incluindo Mutano, que parecia surpreso. "A gente precisou do faro dele pra rastrear o Nanomorfo e da força dele pra levar o monstro até a usina. E, no fim das contas, foi ele quem jogou a coisa na rede de transmissão".
Mutano respondeu apenas com um tímido sorriso de gratidão. Estelar decidiu dar total apoio ao que foi dito. "Sim, sim! Amigo Mutano chegou bem a tempo de nos ajudar a sobrepujar o terrível construto transmórfico!". Entretanto, os elogios atraíram de Robin uma expressão severa e de Ravena um olhar frio.
"Mas nós podíamos ter derrotado antes se ele chegasse mais cedo", falou a empata do grupo, com uma voz extremamente áspera e gelada que arrancou o sorriso do garoto verde antes mesmo que ela tivesse dito a terceira palavra da sua frase.
"O time precisava de você, Mutano. E você nos deu as costas", disse o líder da equipe, que pelo visto estava com aquilo engasgado na garganta. Ficando de pé, ele falou novamente. "Onde diabos você foi?".
"Cara, eu fui fazer o que eu disse que ia fazer", Mutano respondeu com um tom resignado, mas mostrando certa indignação.
"Você não devia ter gastado tanto tempo procurando aquela pessoa que você supostamente viu", disse Ravena, aborrecida com o que ela julgou ser cinismo do colega.
"Eu não fiquei procurando a Terra todo aquele tempo!", o garoto-animal respondeu de forma irritada, ficando de pé e encarando Ravena, que estava do lado oposto da mesa.
"Não?", disse ela própria ficando de pé. Embora não estivesse se exaltando, ela não gostava de ser encarada de cima. "Então o que você estava fazendo que era mais importante do que nos ajudar na luta?". A empata estava começando a perder a paciência.
"Eu estava tentando convencer a Terra a voltar pra gente!". Ouvindo isso, os outros quatro ficaram em silêncio, com expressões lívidas em seus rostos. Ravena quase perdeu seu equilíbrio, sentindo seu senso de controle sobre a situação se moer em pedaços. Tentando manter a compostura, sentou-se lentamente na sua cadeira. Robin continuou de pé, olhando o colega estarrecidamente.
Ciborgue foi o primeiro a falar, coçando a têmpora do lado humano de seu rosto, "Então ... Você a encontrou mesmo?". A única resposta de Mutano foi um leve aceno com a cabeça, pouco antes de se sentar novamente, com seus braços cruzados. Retornando do choque Robin se sentou e respirou fundo para se acalmar. "E onde ela estava, cara?", o meio-robô prosseguiu.
"Na escola. Num tal de 'Colégio Mukarami' ... Ou 'Munarami' ... 'Arakami' ... Alguma coisa assim ... " .
"E você simplesmente convidou ela pra voltar? Depois de tudo que ela fez? E sem nos consultar?", disse Ravena, tentando mostrar que ela continuava com razão. Mutano apenas desviou o olhar, sem se dar ao trabalho de responder.
"E ... como ela estava?", perguntou Estelar, principalmente para baixar os ânimos. Mas ela estava realmente preocupada com a situação de Terra. Mutano apenas baixou a cabeça e fechou os olhos. Percebendo essa reação, a alienígena ficou ainda mais preocupada e decidiu insistir. "O que aconteceu, amigo?".
Respirando fundo e suspirando ele finalmente respondeu. "Ela disse que não se lembra de mim. Que não se lembra de nenhum de nós". Os outros arregalaram os olhos ao ouvir tal afirmação. "E eu acho que ela estava fingindo", adicionou logo em seguida.
Todos trocaram olhares preocupados entre si. Robin apoiou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos na frente do rosto. "Você ... Tem certeza que era realmente ela?", perguntou tentando vociferar a opinião de todos os outros sem piorar a situação. Sentia-se como se estivesse patinando sobre gelo fino.
O rapaz verde franziu a testa e respondeu indignado, "Cara! Você acha que eu não ia saber depois de passar uma tarde inteira com ela! Era a Terra! Só podia ser ela ou uma irmã gêmea perdida!". Eles trocaram mais olhares de preocupação entre si. Essa foi a última gota. "Vocês precisam VER pra CRER? Será que vocês não podem me levar a sério UMA ÚNICA VEZ NA VIDA?", ele gritou ficando de pé.
"Calma, cara!", disse Ciborgue colocando a mão no ombro do amigo. "Eu acredito em você". Instantes depois, Mutano se sentou novamente.
"Eu vou te dar um voto de confiança", disse Robin, percebendo que o amigo realmente merecia mais crédito do que havia sido demonstrado até o momento. "O que você propõe que a gente faça? Quer que falemos com ela? Talvez fazer alguns exames médicos?".
Mutano ponderou a questão por alguns segundos, mas ele já havia tomado aquela decisão antes mesmo da discussão começar. "Não. Nós não vamos fazer nada", disse num tom calmo mas decidido.
De todas as afirmações, gritos e reações extremadas ditas pelo garoto verde, nada estarreceu mais os seus amigos do que aquelas palavras, mesmo que elas tenham sido ditas em tom ponderado. De todos no grupo, Mutano era o único que ainda mantinha esperanças sérias de que Terra voltaria daquela forma de pedra algum dia. Também era o único que sempre se mostrava disposto a aceitá-la de volta sempre que ela retornava. E agora, que ela tinha finalmente retornado, contra todas as expectativas, ele tinha simplesmente desistido?
Mesmo Ravena não conseguiu esconder sua surpresa. E sua curiosidade. "Por que?".
"Ela não quer voltar. É um direito dela", respondeu sem olhar para ela.
"Mas ... E se ela não estiver mentindo?", perguntou uma preocupada alienígena. "E se ela realmente estiver sofrendo de amnésia? Você não gostaria de ajudá-la a se lembrar de quem ela é?".
"De quem ela foi, Estelar", Mutano corrigiu rapidamente. "Com ou sem memória, ela não é mais a mesma pessoa. Ela mudou". Parando para pensar sobre a questão da amiga por alguns instantes, ele adicionou, "Se ela está mesmo com amnésia e sem os poderes ... melhor que tudo continue assim".
"Mas -- " .
"Ela está tendo uma chance de levar a vida como uma garota normal. Sem poderes saindo do controle. Sem as preocupações do combate ao crime ... E sem nenhum peso na consciência pelos erros do passado. Essa é uma chance única e eu não tenho direito de tirar isso dela". Isso levou seus pensamentos na direção do homem que havia arruinado a vida dela da última vez e que poderia fazer isso de novo em breve se alguém não impedisse. "Ninguém tem".
Os quatro trocaram olhares entre si novamente. Mas desta vez os olhares eram de surpresa diante do fato de Mutano ter tomado uma decisão tão madura, correta e abnegada por conta própria.
"Você ... vai ficar bem?", Robin perguntou, tentando eliminar a última questão pendente e visando encerrar o assunto da melhor maneira possível.
"Eu vou superar. Já superei coisas piores. As coisas mudam, então eu tenho que mudar junto e me adaptar". Ele disse recuperando seu típico sorriso. O retorno daquele sorriso elevou os humores na mesa rapidamente. Sentindo os últimos vestígios do prévio aborrecimento se evaporarem, todos na mesa retribuíram o sorriso, incluindo Ravena. Entretanto, ela ainda estava levemente preocupada. As habilidades empáticas dela, ou talvez fosse mera intuição, diziam que nem tudo estava resolvido. Havia algo mais. Algo que Mutano estava tentando esconder.
"É esse o espírito, cara!", disse Ciborgue, dando um vigoroso tapa nas costas do amigo verde. Um tapa que quase derrubou ele da cadeira. "A Terra foi só a primeira, mas a fila anda. Logo, logo, você arranja outra namorada". Mutano corou. Robin gargalhou de forma debochada. Estelar deu risadinhas bobas, cobrindo sua boca com a palma da mão. Ravena franziu a testa, considerando 'a fila anda' uma forma muito leviana de encarar relacionamentos amorosos.
"Ei!", sacudindo a cabeça pra livrar seu rosto do rubor, Mutano respondeu com ar indignado, ainda que bem-humorado. "Em primeiro a Terra nunca chegou a ser a minha namorada. E depois, mesmo que tivesse sido, ela não ia ser a primeira".
"Errr ... Sério, é?", Ciborgue perguntou, com ar de curiosidade. " E então? Quem foi a sortuda?". Ele se inclinou na direção de Mutano, pronto pra ouvir tudo sobre o assunto. Seu movimento foi logo repetido por Robin e Estelar. Ravena apenas olhou para o lado, sentindo-se levemente constrangida pela situação.
Vendo que Mutano manteve o silêncio e desviou o olhar, Robin decidiu se unir à provocação, "Diz pelo menos o nome dela. Nem deve ser alguém que nós conhecemos".
"Tá bom, tá bom", disse o garoto verde, finalmente desistindo. "O nome dela é Jillian. Jillian Jackson. Satisfeitos?".
Estelar, sorriu e bateu palmas, num tipo de incentivo. "E onde você conheceu ela, amigo?".
Suspirando, Mutano respondeu, "Ela era minha colega de escola".
"Você está inventando isso", disse Ravena num tom seco e petulante.
"Ah é, é? Então você acha que eu nunca tive uma namorada?", respondeu o garoto-animal, com um claro tom de desafio na voz.
"Eu estava me referindo a parte de você ter freqüentado uma escola".
Nisso Robin e Ciborgue quase caíram de suas cadeiras de tanto rir. Estelar mostrou uma expressão confusa, tentando compreender a conexão entre ele ter ido ou não a escola e o assunto da namorada. Mutano abaixou as orelhas e respondeu ao comentário com um olhar que, apesar de venenoso, continha uma certa ponta de diversão. Ravena também estava satisfeita, mesmo que não demonstrasse. Ela considerava essa constante troca de provocações mais como um tipo de jogo do que qualquer outra coisa, nada que devesse ser levado a sério. Era a forma como eles interagiam quando seriedade não era requerida.
"E aí?" , Ciborgue perguntou recuperando o fôlego e limpando uma lágrima de seu olho humano, "Por que você e Jillian terminaram?".
Mutano, virou a cara pro lado e baixou o olhar. "Eu não quero mais falar sobre esse assunto". Sua voz soou bastante aborrecida.
Robin tentou um novo incentivo, "Vamos, cara, pode ser bom desa -- " , mas foi interrompido.
"Eu. Não. Quero. Mais. Falar. Sobre. Esse. Assunto. Ponto final". Dessa vez o tom foi realmente sério e aborrecido.
Seguiu-se um silêncio constrangedor tão espesso que poderia ser cortado com uma faca. Depois de um tempo, o garoto-prodígio tentou quebrar o clima pesado falando de 'assuntos de trabalho'. "Bom.. Mas voltando a questão do Nanomorfo, nós temos que descobrir de onde ele veio. Não existem muitas pessoas com acesso a um tipo tão avançado de nanotecnologia, então não deve ser difícil de rastrear. Depois que rodarmos alguns testes no que sobrou da coisa eu pretendo... ".
Ravena não estava prestando muita atenção em Robin ou na conversa que se seguiu. Ela estava ocupada pensando a respeito de como Mutano reagiu quando confrontado sobre o término de seu relacionamento com a tal de Jillian. Isso a levou a pensar sobre todo o incidente com Malquior. Quando Mutano apareceu pra confortá-la após o maldito dragão ter quebrado seu coração, Ravena sabia que o garoto já havia passado por uma situação muito semelhante. Sabia que, graças a Terra, ele tinha sentido o mesmo que ela sentia naquele momento. Sabia que Mutano entendia a sua dor.
Mas, aparentemente, o garoto-animal já havia passado por aquele tipo de situação antes mesmo de conhecer Terra. Ravena sentiu raiva de Jillian Jackson, quem quer que essa fosse, por machucar o amigo dela daquele jeito. Sem falar de Terra, que parecia ter retornado a vida apenas para causar a ele mais preocupação e sofrimento.
Vendo Mutano ali, sentado em silêncio, olhando pra baixo e com uma expressão pensativa no rosto, Ravena sentiu falta do seu sorriso idiota. Não conseguia pensar em ninguém que merecesse passar por aquele tipo situação menos do que ele.
NOTAS DO AUTOR:
Jillian Jackson é uma personagem pertencente à DC Comics. Sua primeira aparição foi em Doom Patrol Vol 1 - Nº99 (que também foi onde Mutano apareceu pela primeira vez).
