Capitulo 1 – Realidade cotidiana
As portas da sala de conferencia da Sky Volt foram abertas com força, o fundador da empresa estava totalmente impaciente, Kai Hiwatari agora com 36 anos entrou na sala visivelmente irritado. Os olhos violetas sempre frios deixavam sua impaciência aparecer, tinha um semblante cansado.
- Quero um bom motivo para me fazer vir aqui. – Anunciou, estava sentado na ponta da mesa de carvalho e encarava os seis homens dispostos pela mesa, Dimitre olhou seu chefe e suspirou passando as mãos pela cabeça lisa, não era uma boa idéia o tirar de onde estava naquele momento.
- Senhor é sobre o campeonato russo, temos os papeis enviados da Biovolt. – Falou um dos acionistas passando os papeis pra Kai. – Precisávamos de uma avaliação sobre isso. – Ele tremia.
- Qual a parte do: "Não me façam vir aqui a não ser que o assunto seja sério." vocês não entenderam? – Perguntou friamente, olhando para o grupo de homens. Tirando Dimite com sua camisa rosa e gravata roxa de bolinhas verdes e cabeça raspada, todos eles tinham o mesmo corte de cabelo, usavam o mesmo terno de linho preto camisa social bem engomada e gravata preta, eram perfeitos estereótipos do sistema o único dentre esses 5 que se destacava era Krull Dirnov por causa de seu corpo corpulento e cabelos grisalhos, era um dos poucos sócios de Kai e o único que se dispunha a ir a reuniões.
- Senhor, achamos que esse assunto tão delicado era importante o suficiente para trazê-lo a empresa… - Começou Nikolar da ponta esquerda da mesa, mas ele não conseguiu terminar, Hiwatari irritado o corto.
- Em pensar que eu pago quatro de vocês, e três me fazem essa idiotices. – Disse enquanto encarava Dimitre, que parecia ser o único a entender a situação, antes de pegar os papeis e tomar rumo para fora da sala. – Terão isso em algumas horas.
- Hiwatari não é só por que seu filho esta invalido… - Começou o sócio que estava sentado na frente de Dimitre, fazendo Kai parar e se virar para a mesa dando calafrios em vários daqueles homens.
- Repete. – Falou mais frio que de costume encarando o homem que não falou mais nada ao perceber a expressão de raiva dele. – Do que chamou o meu filho? – Perguntou apoiando as mãos na mesa e encarando Krull.
- Invalido. – Repetiu o homem com clareza.
- Um conselho Krull, você só tem 2% dessa empresa, não me faça comprá-la de você. – Ameaçou ríspido.
- Não disse nenhuma mentira rapaz. – Se defendeu o outro sorrindo com desdém.
- Mas é uma ofensa. – Manifestou-se Dimitre apoiando as mãos na mesa – O garoto tem necessidades especiais devido a doença, esse tipo de nomenclatura chula, Krull, como "Invalido" e "Aleijado" é descriminação e você poderia ser ate preso se Kai fizesse uma queixa.
- Obrigado Dimitre, mas disso cuido eu. – Disse ele encarando o advogado. – Mandem qualquer coisa para minha casa. – Falou saindo da sala de reunião com os papeis na mão. Já no carro Kai tirou o paletó e olhou os papeis enquanto o motorista ia devagar pelo transito de .
- Para casa senhor? – Perguntou Willhans olhando o patrão pelo retrovisor.
- Não. – Disse Kai tirando os olhos das copias dos documentos em suas mãos. – Vamos a Wizards and Fairies antes. – Disse com calma voltando seus olhos para os papeis.
A viagem ate a livraria infantil não foi longa e ele tentou ser o mais breve possível no local lotado. A livraria era extremamente movimentada, e haviam crianças por todos os lados mexendo nas baixas porem compridas estantes coloridas, Kai não tinham tempo hábil para procurar um por um os livros que davam condições para o filho, mas já tinha deixado especificações na loja do que precisava antes, apenas chegou no balcão e pegou os que haviam sido separados.
De volta em casa Kai entrou no Hall carregando o paletó, a sacola de livros e a pasta de documentos sendo recebido pelo mordomo já quase idoso.
- Bem vindo Senhor. – Falou Ivan pegando os objetos das mãos de Kai. – Pasta para o escritório, livros para Nana separar e Paletó para o seu closet?
- Sim, obrigado Ivan. – Falou indo para a sala com decoração medieval e subindo as escadas para os corredores superiores, era um ambiente mórbido de paredes azul escuro e piso de madeira escura, as portas dos quartos eram de imbuia e extremamente pesadas, era todas iguais tirando uma que tinha na porta um quadro bordado em azul: "Mikhail" Kai olhou o nome do filho entre uma pipa e um trem de relance entrando pela porta semi aberta para o quarto colorido, as paredes eram azuis claras com nuvens desenhadas, o piso era claro e tinha vários tapes espalhados, um felpudo lilas com vários bichos de pelúcia perto da grande janela que tinha no momento sua grande cortina azul escura fechada, outro alaranjado a frente da estante de livros junto a escrivaninha, havia um grande espaço livre, numa parede estava embutido o closet e a porta de acesso ao banheiro, mas Kai não deu atenção a nenhum desses detalhes, seus olhos foram diretamente para cama, cama na qual o garoto de cabelos bicolores parecia dormir entre as cobertas azuis escuras. Os ouvidos do pai logo se acostumaram novamente com o som do respirador que estava ao lado da cama dando auxilio ao pequeno que não conseguia fazer isso mais sozinho. Ele se aproximou devagar e olhou a enfermeira, sentada na poltrona que estava ao lado direito da cama, pedindo para ela se retirar, assim que ela havia saído Kai deu um beijo na testa do garoto que abriu os olhos verdes opacos.
- Boa tarde filho, espero não o ter acordado. – Falou segurando as mãos inertes do garoto.
- Pai… - Murmurou sonolento. – estou…feliz…que…esteja…de…volta. – Disse com um leve sorriso.
- Pode voltar a dormir. – Falou acariciando os cabelos do garoto que adormeceu em poucos minutos, Kai foi até o escritório e voltou para sentar na poltrona ao lado da cama, ficou analisando a proposta do campeonato e acabou por ver Dranzer na cabeceira de cama do garoto e desvirar o olhar para o titulo russo na prateleira e suspirou, o filho não ia poder participar da edição daquele ano. Assim que terminou de checar toda a proposta uma senhora de meia idade entrou na sala, era a governanta, Nana.
- Licença senhor. – Falou entrando no quarto e levando os livros para a estante.
- Obrigado Nana, peça para Wilhans levar esses documentos na Skyvolt, por favor.
- Sim senhor. – Disse olhando para o garoto. - Quer que façamos algo diferente pra ele comer hoje? – Perguntou antes de sair.
- Ele almoçou sopa, creio que uma refeição mais composta vai ser bom, mas que seja fácil pra ele engolir, o lanche você vê o que esta disponível. – Disse cobrindo o garoto melhor.
- Certo. – Ela saiu em seguida, Nana era governanta e trabalhava lá desde antes de Kai comprar a casa era uma senhora de meia idade com um aspecto extremante idoso, tinha olhos claros extremamente expressivos e um ar bondoso, Anavikia era um nome muito forte para tão figura, Nana era a maneira com que Mikhail a apelidara se tornando logo a maneira de todos na casa a chamar. Depois que ela saiu ele foi até a estante e olhou os livros novos mantendo a organização de Nana, ia poder variar mais as historias com o garoto, que mesmo cansado não demorou a acordar
-Pai… - O murmúrio era quase inaudível, mas foi suficiente para chamar a atenção de Kai.
- Quer alguma coisa Mikhail? – Perguntou se aproximando e arqueando o corpo na direção do filho.
- Só queria…saber…se estava…ai. – Falou com dificuldade enquanto Kai passava uma das mãos por seus cabelos com um sorriso tristonho na face.
Já faziam sete meses desde que Mikhail adoecera, nenhum médico conseguia dizer o que o garoto tinha, havia começado como uma fraqueza constante, depois o inicio da paralisia que logo o prendeu a uma cadeira de rodas, então veio a cegueira no terceiro mês, fazendo com que Kai transferisse seu trabalho para casa, no sexto mês a situação já tinha se agravado de tal forma que o garoto perdera todos os movimentos, por mais que ainda sentisse o corpo, não conseguia respirar sem auxilio e começava a ficar anêmico, e nesse momento, no sétimo mês, começara a dor.
Kai nunca demonstrara amor pelas pessoas, mas com Mikhail ele aparentava abrir uma exceção, era carinhoso com o menino, mesmo que apenas quando estavam sozinhos, e desde que a doença consumira todas as forças do filho, ele se mantinha ao seu lado para fazer o que ele precisasse.
- Está fazendo sol, vai ser difícil outro dia assim, quer sair um pouco? – Perguntou tirando a tala da mão direita de Mikhail para exercitar um pouco os músculos do garoto.
- Eu não…posso…ver e vou…estar preso a…cadeira…de rodas. – Disse com lágrimas começando a se formar.
- Não precisa chorar. Sei que é difícil pra você aceitar o que esta acontecendo, mas ficar na cama não é a melhor opção. – Falou enxugando as lagrimas do filho. – Se não se sentir bem te trago de volta pro quarto, certo? – Negociou sabendo que era complicado para o filho aceitar sair.
- Certo. – Murmurou ainda temeroso enquanto o pai colocava sua cadeira de rodas ao lado da cama.
- Pronto? – Perguntou enquanto retirava as cobertas, depois que ele consentiu o pegou no colo e o passou para a cadeira de rodas o acomodando antes de pegar duas blusas e um cobertor, Mikhail odiava depender de alguém pra tudo, mas se sentia bem com a atenção do pai. – Esta confortável? – Perguntou verificando o tanque de oxigênio.
- Estou. – Falou sentindo o pai recolocar a tala em sua mão ele odiava estar na cadeira de rodas, sentia as amaras em seu abdômen e peito e odiava a sensação de estar amarrado mesmo paralisado. No caminho para o jardim não falaram nada, dois empregados logo se dispuseram a ajudar Kai com o garoto, mas ele recusou sabendo da dificuldade de Mikhail em lidar com sua situação principalmente na cadeira de rodas onde ficava mais exposto. O jardim estava coberto de neve, mas o caminho de pedra estava limpo e não era íngreme o suficiente para impedir o passeio. – A sete…meses…eu podia…correr aqui. – Falou com lágrimas novamente querendo sair pelos olhos opacos.
- Vai poder, por mais que agora não saibamos o que você tem, daqui um tempo você poder estar andando novamente. Não esta ventando, sente o sol? – Comentou tentado tirar os pensamentos ruins do filho.
- Um…pouco. – Falou desanimado. Kai olhou em volta e soltou uma das mãos do filho colocando um pequeno punhado de neve entre a sua palma e a dele
- Sabe o que é? – Perguntou analisando os olhos verdes opacos que ganharam um pequeno brilho.
- Neve. – Murmurou com um sorriso fraco, a muito não sentia a textura familiar, mas logo o sorriso murchou. – Pai…eu quero…ir pra…dentro. – Pediu em um tom choroso, Kai entendeu que o lugar não estava fazendo bem, desde que perdera o movimento dos braços Mikhail se recusava a ficar em ambientes que antes brincava e a entrar em contato com diversas coisas, a intenção do pai era lhe proporcionar uma sensação diferente por conta do pouco contato que ele estava tendo com a típica característica da Rússia, mas isso lembrou ao garoto do que estava privado de fazer mais ainda.
- Tudo bem. – Disse ainda agachado na frente do filho. – Vou te levar pro quarto. – Disse levantando e levando o filho para dentro.
De volta ao quarto Mikhail foi mantido na cadeira de rodas, ele sabia que tinha que trocar de posição constantemente e um período na cadeira de rodas era necessário às vezes, mas isso não melhorava sua opinião sobre "a coisa" como chamava as vezes. Eram três e meia, horário que o garoto precisava comer, a anemia progredia muito rápido e os horários de alimentação eram mantidos a risca.
- Mingau. – Kai informou se sentado ao lado do garoto com o prato na mão. – Sei que não gosta muito, mas tente comer meio prato pelo menos. – A alimentação era uma das piores coisas pelas quais ele tinha que passar, tinha dificuldade de engolir e sua respiração ficava mais difícil nesse momento, o pai tentava tornar o momento menos doloroso, mas era quase impossível. A refeição demorou quase quarenta minutos.
- Minha…garganta…está…doendo. – Falou recusando a colherada quase vasia de mingau que lhe era dada.
- Mikhail, o certo seria eu te fazer comer tudo mesmo assim, mas você já comeu mais da metade, então vou deixar essa vez. – Falou tirando o cabelo do rosto do garoto. – Sei que é difícil pra você engolir, mas vai ser mais desconfortável ainda ficar com a sonda ou o soro. – Disse puxando a coberta que estava amontoada em seu colo e pernas até o peito.
- Posso…ir…pra…cama? – Perguntou tentando fugir do assunto.
- Pode, mas antes escovar os dentes. – Falou levando o filho para o banheiro, o ambiente havia sido adaptado para as necessidades do garoto. Mais tarde, após o jantar, Kai estava sentado ao lado da cama do filho segurando sua mão enquanto lia alguns documentos da empresa. Mikhail dormia, mas ele sabia que assim que acordasse ia se desesperar se estivesse sozinho.
- Senhor Hiwatari . – Chamou o mordomo baixo da porta.
- Entre. – Falou sem tirar os olhos do documento.
- Chegaram as correspondências do Japão. – Disse entregando um maço de cartas a Kai.
- Obrigado, Ivan. – Disse olhando o senhor de meia idade calvo, Ivan era extremamente alto e nem ele ficava livre das observações de Mikhail que dizia que ele parecia com um "poste de terno", não pro maldade, como era com Krull ao o chamar de " balão grisalho", com o mordomo era apenas uma demonstração de sua ingenuidade infantil.
- Desculpe a intromissão senhor, mas como Mikhail está? – Kai olhou para o mordomo e não se incomodou com a pergunta, sabia que os empregados tinham um grande carinho pelo garoto, mas isso não mudava sua maneira fria com ele.
- Não teve nenhuma melhora, mas a dor esta controlada. – Falou sem esboçar sentimento algum.
- 10 anos…deve estar sendo difícil pra ele, mas seria bem pior sem o Sr. por perto. – Falou recebendo uma olhada de Kai.
- Do que esta falando Ivan? – Comentou levantando para cobrir Mikhail.
- Quanto teve que se ausentar semana passada ele não parava de chorar, e quando parava qualquer coisa o deprimia. – Falou ele olhando o senhor da casa.
- Ele não pode se mover, está cego, não consegue respirar e tem dores fortes. Não vejo por que o espanto, até acharmos uma cura, o que tenho a fazer é aliviar a dor dele, não sou o pai dele pra ficar parado num canto esperando que um enfermeiro faça isso. – Disse checando se o menino não estava febril.
- Vou voltar as minhas funções senhor, desculpe por importuná-los. – Falou se retirando do quarto.
Kai então voltou a sentar-se ao lado do filho, demorou algum tempo pra ele acorda.
-Pai? – Chamou depois de abrir os olhos, Kai não respondeu, mas segurou sua mão. Isso foi o bastante para dizer: "eu estou aqui" para o garoto que logo voltou a fechar os olhos cansado.
- Quer tomar um banho? – Perguntou deixando os papeis da empresa de lado e acariciando os cabelos do garoto. Mikhail demorou a responder, mas quis. Kai então pediu a uma das empregadas para trazer água morna e foi pegar o necessário no banheiro, ele fazia isso todo o dia com o filho, as vezes mais para relaxá-lo do que por higiene, preso muito tempo a cama o contato físico que o banho proporcionava era reconfortante.
- Qual pijama você quer? – Perguntou antes de ir ao armário.
- O…azul…claro. – Falou com os olhos fechados.
Assim que pegou o pijama limpo voltou a beira da cama.
- Vou te descobrir e te sentar na cama. - Anunciou tirando as pesadas cobertas de cima do corpo extremamente emagrecido do filho. O colocou sobe os cobertores e envolveu suas pernas numa manta mais leve antes de sentá-lo apoiado nos travesseiros. Enquanto esperava a empregada trazer a água tirou as talas das mãos de Mikhail e as massageou para estimular a circulação.
- Senhor, a água. – Falou a governanta entrando no quarto deixando à travessa sobe a mesa de cabeceira.
- Lavo o seu cabelo amanhã depois da hidroterapia, vou te por no meu colo esta bem. – Disse esperando o garoto aceitar a idéia e logo em seguida o colocando apoiado em seu tronco, retirou a blusa verde musgo e a camiseta azul clara que ele usava e colocou uma toalha sobre seu tronco. Após ter certeza que ele estava bem acomodado, emergiu uma das esponjas que estava sob o criado mudo, junto com o sabonete e a vasilha da água, tirando o excesso do liquido para colocar na mão do garoto. - Esta muito quente pra você?
- Não… - Murmurou fechando os olhos, Kai emergiu novamente a esponja na vasilha e retirou o excesso então passou-a devagar sobre a face do filho que fechou os olhos.
- Vou afastar um pouco a mascara de oxigênio, vai ser um pouco incômodo. – Disse preparando o filho para puxar mais ar sem auxilio, não demorou a colocá-la no lugar, mas sabia que mesmo assim o desconforto era grande para o pequeno. Depois que terminou de fazer isso no rosto umedeceu a outra esponja e pôs sabonete nessa. Apoio outra tolha dobrada embaixo do cotovelo do garoto para ai esticar o braço e passar a esponja nele, passou um pano umedecido para tirar o sabão e por fim secou devagar, fez o mesmo com o outro braço assim que havia terminado as costas e o tronco passou creme na pele pálida do garoto massageando as costas devagar, Mikhail gostava daquele momento por causa desse contato físico que dificilmente tinha, assim que terminou isso pegou a camisa do pijama limpo e colocou no filho devagar, a peça de roupa azul bebe era um tanto grande para o garoto tendo que ter as mangas dobradas um pouco para não encobrir as mãos, assim que passara a ficar 80 % do tempo na cama vários pijamas foram comprados para garantir a higiene, mas alguns não tinham o tamanho exato pra ele, mas mesmo sendo grande o garoto gostava muito desse.
- Quer ficar sem as talas um pouco? – Perguntou segurando as mãos geladas do garoto entre as suas para aquecê-las.
- Elas…são…inúteis…mesmo. – Disse abrindo os olhos.
- Por mais que você não possa se mover ainda pode sentir, depois falamos disso, agora vou terminar o seu banho. – Disse o deitando cobrindo o tronco e os braços com a manta. Mikhail já havia perdido a vergonha de deixar o pai lhe dar banho há algum tempo, mas ainda era incomodo ter que receber tais tratamentos apesar de gostar da atenção. Outro grande incomodo para ele eram as fraudas que era obrigado a usar por causa de não ter total controle sobre seu sistema excretor e urinário, Kai demitira a primeira enfermeira que contratara para ficar com o garoto nas horas que não podiam estar presente por causa de uma brincadeira que ela havia feito sobre isso o comparando com um bebe. Assim que estava vestido novamente Kai o cobriu e foi levar as coisas a seus devidos lugares, não gostava de empregados circulando pelo quarto com o filho tão debilitado, quanto terminou isso pegou um objeto e o colocou no colo do filho, sentou-se na cabeceira da cama e colocou Mikhail quase sentado apoiado em seu corpo.
- O…que…vai…fazer? – Perguntou o menino enquanto o pai segurava suas mãos deixando suas palmas livres.
- No seu colo tem um objeto, quero ver se consegue o identificar. – Falou levando as mãos do filho ate lá, Mikhail conseguia sentir a superfície felpuda e os detalhes a medida que o pai mudava suas mãos de lugar, demorou um pouco mas ele consegui identificar.
- É…o…Lumiqui. – Disse sorrindo.
- Se esse foi o nome que você deu pra um pato de pelúcia. – Comentou ainda mudando as mãos do garoto de posição.
- Sim. - Kai então fechou um pouco os dedos do filho sobre o brinquedo para lhe dar a sensação de apertar a pelúcia. – Pai…pega…a…Matrizia…pra mim?
- Qual é ela? – Perguntou olhando para os poucos bichos de pelúcia no quarto, isso lhe trouxe o pensamento de que precisava mudar a organização do quarto para deixar esses objetos mais próximos á cama.
- A…fênix. – Murmurou sonolento. Kai o deitou e o acomodou antes de ir pegar a representação de Dranzer em forma de bicho de pelúcia e por nas mãos do filho.
- Boa noite filho. – Disse dando um beijo na testa to garoto que logo fechou os olhos.
-Boa…noite…pai. – Assim que teve certeza que Mikhail estava dormindo ele saiu do quarto e foi chamar a enfermeira que estava na sala ao lado com a governanta..
- Clarisse. – Chamou ele da porta do cômodo.
- Sim? – Perguntou a jovem de 27 anos se aproximando, usava um uniforme branco e tinha a metade da altura de Kai.
- Vou ir dormir um pouco, Mikhail já esta dormindo e estava com um leve principio de febre, qualquer coisa me chame.
- Vou ir imediatamente pra lá. – Disse ela passando pelo lado de Kai e entrando no quarto do garoto.
- Uma menina adorável. – Comentou Nana se aproximando.
- Mikhail gosta dela, a conduta dela me agrada e é competente, pra mim é o suficiente. – Disse indo para seu quarto, passou antes na porta do quarto do filho e foi pra cama.
Na manhã seguinte Kai estava brincando com Mikhail no tapete felpudo que ficava próximo da janela, o garoto estava com os ombros e a cabeça apoiados em varias almofadas para manter a cabeça um pouco virada para trás para facilitar sua respiração. Primeiro Kai o ajudou a explorar o espaço que tinha a sua volta no tapete, o garoto não podia se mover sozinho, mas com ajuda rapidamente encontrava todas as coisas no ambiente, sob o tapete haviam vários brinquedos,o pai o ajudou a identificar cada um e depois balançou um objeto perto do filho.
- O…que…é…isso? – Perguntou não conseguindo identificar o som.
Kai não respondeu, colocou o objeto entre as mãos de Mikhail era uma bola.
- Tem…um…guiso…dentro? – Perguntou escutando o barulho baixo.
- Sim, Mikhail, quero fazer um jogo com você, se eu jogar a bola numa direção consegue me dizer pra qual? – Perguntou deixando as mãos do filho ao lado do corpo.
- Não…sei… - Murmurou.
- Quer tentar?
- Sim. Pai…coloca…uma…almofada…embaixo…dos…meus…joelhos? – Pediu ao sentir o desconforto, Kai sorriu, era raro ele pedir as coisas mesmo incapacitado severamente, antes de pegar a almofada que estava próxima soltou a bola numa direção que fosse ficar próxima a cabeça do garoto, assim que arrumou a almofada começaram a brincadeira.
No inicio Mikhail tinha dificuldade de localizar o som, mas depois de algum tempo já conseguia dizer exatamente de onde vinha. Após 40 minutos nisso Kai teve que o levar pra cama e o deitar de lado, manter a mesma posição por muito tempo não era bom.
- Amanhã fazemos outro jogo. – Falou acomodando o filho o mais confortável possível.
- Sr. Hiwatari. – Chamou a governanta da porta – Há uma ligação para o senhor.
- Já vou atender, Nana pode trocar Mikhail? – Perguntou acariciando os cabelos do garoto.
- Sem nenhum problema.
- Volto logo filho. – Disse dando um beijo na testa do garoto que reinou:
- Pai…por…favor. – Pediu Mikhail não querendo ficar com a governanta.
- 20 minutos Mikhail. Nana vai ficar com você. – Falou saindo logo em seguida, por mais que o garoto precisasse de companhia e carinho, tinha que saber os limites disso. No escritório que mantinha na mansão sentou-se a mesa para atender ao telefone. – Alô?
- Kai sou eu, Tyson.
- O que você quer Tyson? – Falou frio olhando pelo aposento abandonado.
- Vou ir pra Rússia fazer um trabalho para o , vou levar a Hillary e as crianças, Hakuro logo perguntou se ia poder ir ver Mikhail, eles não se vêem a quase um ano.
- Não é m bom momento Tyson, Mikhail está muito doente. – Falou tentando não entrar em detalhes.
- Duvido que ele não goste de ter um amigo por perto. – Retalhou Tyson.
- Se eu desligar o telefone na sua cara você vai aparecer aqui de um jeito ou de outro.
- Mesmo se você não desligar eu vou aparecer ai.
- Sei disso.
A conversa levou meia hora, mas Kai acabou cedendo, contanto que Tyson viesse antes sozinho a casa sabia que vendo Mikhail as chances dele querer trazer Hakuro para ficar com o garoto eram minimas.
De volta ao quarto do filho o encontrou emburrado não dando grande chances a governanta de fazer muita coisa, já estava sem o pijama, usava um moletom cinza uma camiseta azul e uma blusa preta meio aberta meio fechada.
- Filho. – Disse ao lado da cama.
- Pai! – Falou o mais alto que pode o procurando pelo quarto.
- Estou a sua direita, lembre do jogo de hoje cedo. Não posso ficar o tempo todo aqui você tem que se acostumar com isso. – Censurou, sentado na poltrona – Gostaria que um dos seus amigos viesse aqui?
- Eu…não posso…brincar…como…eles. – Falou tristonho.
- Mesmo se achassem uma brincadeira que você pudesse participar? – Perguntou tentando animar o garoto.
- Ia ficar…preso na….cama…ou na…cadeira…do mesmo…jeito.
- Não estávamos brincando no tapete hoje? – Perguntou acariciando os cabelos do menino.
- Mesmo…assim…eu…não…posso…fazer…muita…coisa. – Disse ele irritado, Kai acabou trocando de assunto, sabia que era doloroso para a criança ficar limitada a ser movimentada pelos outros e não poder ver.
- Seu professor vem uma e meia, são 11: 35 as 11:45 é o seu almoço e vamos ficar nisso ate 12:30, quer fazer alguma coisa entre isso e 13 e meia? – Perguntou sentando o garoto na cama.
- Pode…ler…pra…mim? – Pediu.
- Posso, os AFO's(2) estão muito apertados? – Perguntou olhando os tornozelos do garoto. E vendo os imobilizadores de plástico rígido que mantinham seus tornozelos retos.
- Não. – Respondeu enquanto o pai colocava suas pernas sobre uma almofada. – Vou…ficar…na cama…a aula…toda?
- Isso vai depender do que o seu professor vai fazer hoje, prefere almoçar na cama ou na cadeira de rodas?
- Na…cama. – Respondeu rápido, Kai sorriu.
- Quer ficar no meu colo? – Perguntou tirando o cabelo que caia nos olhos do garoto.
- Quero. – Disse mais rapidamente que antes.
Kai o colocou nos braços e sentou-se na poltrona que ficava ao lado da cama o acomodando com as costas apoiadas em seu peito, não demorou para a governanta trazer um prato de sopa morna, o garoto comeu devagar com pausas para respirar. A refeição demorou 50 minutos, a dificuldade em engolir fazia o garoto receber a colherada extremamente rasa para não se engasgar.
- É a ultima, você conseguiu comer o prato todo hoje. – Falou sorrindo e colocando o prato no criado mudo pegou um guardanapo para limpar a boca do garoto. Após isso o deitou na cama e mexeu um pouco com o corpo dele.
- Por…que…tem…que…fazer…isso?
- Você passou muito tempo na mesma posição, é ruim para o seu corpo, sei que é meio desconfortável, mas é necessário, sua fisioterapia é amanhã falando nisso, que livro quer que eu leia? – Perguntou olhando para a estante.
- Qualquer…um. – Respondeu.
Kai balançou a cabeça negativamente e foi até a estante, havia alguns livros novos e lembrou-se de um em especial, o pegou juntamente de um pacote e sentou-se na cama ao lado do filho colocando o livro sobre o colo do garoto.
- Este você não viu ainda. – Disse sentando o filho com as costas apoiadas em seu peito.
- Pai… - Reclamou o garoto ao ouvir a palavra "viu" não gostava de referencias a isso.
- Desculpe filho. – Falou abrindo o livro que se tornou um barco pirata em três dimensões. – Posso mexer com as suas mãos? – Tentava não impor nada ao garoto, apesar de não poder fazer sozinho, ele tinha que querer ou não fazer as coisas e ele não podia forçar a não ser que fosse vital para a saúde do filho.
- Pode. – Consentiu o garoto. O pai então tirou as talas e levou as mãos de Mikhail ate o barco. –O…que…é…isso? – Perguntou não conhecendo a forma.
- O que te parece? – Questionou estimulando o garoto a identificar sozinho.
- Um…barco. – Respondeu ainda duvidando.
- Sim, é isso, é um livro ele não conta uma historia, mas te da o cenário pra uma historia, eu não vou contar uma historia pra você hoje, mas vou te ajudar a montar uma. – Disse colocando as mãos do garoto ao lado de seu corpo.
- Mas…e os…perso…nagens? – Disse não conseguindo falar a ultima palavra toda antes de ter que puxar o ar
- Bem aqui. – Falou Kai tirando o boneco de um capitão de dentro do pacote e colocando na mão do garoto. – Este te parece quem? – Falou movimentando os dedos do menino sobre o boneco.
- Um…pirata. - Murmurou abrindo um pequeno sorriso.
Meia hora depois a enfermeira passou pelo quarto pra ver se precisavam de ajuda com alguma coisa, seu serviço era normalmente ficar com o garoto a noite, mas sempre passava pelo quarto durante o dia. Ela se surpreendeu ao ver o garoto, sempre tristonho, descontraído e sorrindo com a verdadeira brincadeira que o pai estava lhe proporcionando, entrou em silencio pegou o prato do almoço e saiu sem incomodalos. Ficaram assim ate duas da tarde, tendo só intervalos quando Kai mudava o corpo do menino de posição, quando o tutor chegou atrasado.
O homem de cabelos ruivos e terno marrom apareceu no quarto esbaforido carregando seu material, era extremamente baixinho e tinha a voz grave.
- Licença Sr. Hiwatari, eu tive um contra tempo, sinto muito pelo atraso. – Falou o homem de meia idade entrando no quarto. – Boa tarde Mikhail.
- Não há problemas Arthur, Mikhail a noite terminamos isso. – Disse Kai guardando os personagens e fechando os livros.
- Tá. – Falou o garoto desapontado.
Kai acompanhou o inicio da aula, Arthur havia adaptado um quadro em que podia ajudar o garoto a formar contas grudando números, os cálculos tinham que ser quase totalmente mentais para o garoto, mas assim conseguia continuar os estudos. As frações estavam sendo difíceis pra ele entender. Depois de meia hora Kai desceu para almoçar, estava acostumado em fazer as refeições em horários variados.
Com o fim da aula perto das cinco e meia, ele retornou ao quarto já com o jantar do garoto em mãos.
- Até mais Arthur.
- Retorno na sexta Senhor Hiwatari.
- Acerto esse mês com você lá. - Falou se sentado na cama com Mikhail, assim eu o professor saiu Kai perguntou. - Como foi a aula?
- Cansa…tiva. – Falou cortando a palavra no meio ao respirar.
- Conseguiu entender? - Ele respondeu que sim e o pai pegou o prato com o sanduíche cortado que havia trazido para dar ao garoto, a algumas semanas ele conseguiria tirar os pedaços do sanduíche mordendo, mas agora já era difícil pra ele mastigar os pedaços pequenos. Kai não gostava muito de dar para o filho comer coisas que não fossem fáceis pra engolir, mas não podia restringir a alimentação dele a sopas e papas, e nem que fosse uma vez pro semana o garoto precisava de algo a historia durante uma hora, eram oito horas quando Mikhail adormeceu ainda no colo do pai, Kai não teve coragem de acordar o garoto e acabou adormecendo ali com ele após puxar as cobertas. Às dez horas Nana o acordou.
- Ele esta bem confortável no seu colo, mas vai ser péssimo para as suas costas ficar assim.- Kai concordou e deitou o filho devagar na cama e levantou cobrindo o garoto logo em seguida.- Nunca imaginei que ele ficaria assim quando o trouxe no colo aquele dia. - Ela comentou vendo o rosto calmo do garoto
- Temos a concepção de que uma criança nunca deveria ficar doente, talvez pela maneira com que elas vêem o mundo, mas a vida é assim. – Respondeu enquanto fechava a cortina.
- Quem não o conhece acredita que você é mesmo frio assim. – Kai a encarou arqueando a sobrancelha. – Depois de o ver com Mikhail fica difícil te ver como asentimental e frio. Vou chamar Clarisse pra ficar com ele.
Kai ficou ao lado da cama até a enfermeira entrar e depois foi para seu quarto, tomou um banho longo pensando na situação do filho demorou a dormir preso aos mesmo pensamentos.
Na manhã seguinte Kai acordou o garoto cedo para levá-lo a hidroterapia. Desde que começara a perder os movimentos fazia hidroterapia constantemente, agora era o único momento em que ficava com o corpo ereto e que por causa do relaxamento conseguia respirar com mais facilidade. A viagem de carro era um grande problema para Mikhail, acomodar-se no banco era complicado mesmo na frente, Kai quase sempre optava por leva-lo sem motorista por esse motivo.
- Esta confortável? – Perguntou apoiando a cabeça do filho.
- Não…muito…minhas…pernas…- Disse pela metade, mas Kai entendeu, dobrou as pernas do garoto e apoio seus pés no chão.
- Qualquer coisa me avise durante o trajeto. – Foi um caminho calmo para a clinica onde Mikhail fazia a hidroterapia, mas mesmo assim era estressante para ele, o tempo no carro não era o melhor. – Já estamos chegando. – Disse vendo o local a frente. Mikhail logo sentiu a parada do carro e ouviu o pai saindo para o tirar dali.
Acomodado na cadeira de rodas Mikhail fechou os olhos e ficou quieto, odiava quando as enfermeiras do lugar mexiam consigo, Kai passou as mãos no cabelo do garoto e o levou, falou com a recepcionista e foi até o vestiário arrumar o filho.
- Não vou poder te acompanhar hoje na seção inteira, tenho que ir na empresa. – Disse tirando a blusa do filho.
- Não…pode…ir…outro…dia? – Perguntou tristonho.
- Tenho que ir, vou demorar uma hora e meia pra ir, fazer tudo e voltar sua sessão é de duas horas e meia, vou estar aqui no final. Não se preocupe, vai ficar tudo bem. – Comentou já o deixando só com o shorts que usava na hidroterapia.
- Espera…até…eu…ir…pra…piscina? – Pediu manhoso.
- Espero. – Respondeu antes de um homem de uns 30 anos de cabelos loiros bem mais alto que Kai entrar na sala.
- Que cara manhosa é essa, Mikhail? Bom dia, Hiwatari.
- Vai ficar sozinho com ele hoje. – Comentou Kai fazendo o rapaz rir.
- Já entendi por que a manha, vamos lá rapaz, hoje vou forçar mais os seus exercícios. – Disse pegando o garoto nos braços.
- Volto em uma hora e meia Mikhail. – Falou.
- Tá… - Disse decepcionado.
- Andrey, de uma olhada no quadril, é a parte do corpo que menos é movida, e estou preocupado com escarras². – Falou se afastando.
- Certo, vamos lá garoto. Vou tirar isso do seu rosto e te levar pra água. – Mikhail ficou quieto enquanto ele o levava para a piscina. Foi deitado numa "prancha" de isopor duro com amarras. Para ai ser levado para a piscina. – Não gosta nada de ficar amarrado assim não é?
- Já…basta…na…cadeira…de…rodas. – Falou enquanto o fisioterapeuta soltava seu corpo e colocava uma meia argola de plástico azul em seu pescoço para evitar que sua cabeça virasse e ele engolisse água.
- Vou trabalhar as musculatura antes, depois te coloco em pé um pouco. – Disse colocando o garoto na água e começando os exercícios. – Você está muito deprimido hoje. – Disse dobrando e esticando as pernas dele varias vezes. Mikhail não respondeu. – O que está acontecendo garoto? Mês passado você estava bem mais animado.
- Mês…passado…eu…podia…mexer…a…cabeça. – Reclamou.
- Você conseguiu mover o ombro semana passada. Parece pouca coisa,mas já é um bom começo, Mikhail. – Falou continuando os exercícios.
- Mas…não…consegui…fazer…de…novo. – Suspirou.
- Tudo a seu tempo guri apressado. Vamos lá, a série de exercícios é grande hoje. – Disse girando o garoto na água. O fazendo rir, os exercícios eram em sua maioria para impedir a atrofia muscular, mas também visavam ajudar a recuperar os movimentos. A sessão era longa, o que chegava a ser exaustiva para o menino, mas Andrey conseguia o descontrair à medida que o exercitava. Kai chegou quando o fisioterapeuta já havia colocado as caneleiras em Mikhail e o ajudava a se manter em pé na água, por mais que não pudesse andar ficar em pé um pouco animava o garoto.
- Seu pai chegou. – Disse Andrey para Mikhail o levando mais para a borda da piscina, em meia hora ele estava dormindo na cadeira de rodas.
- Como ele está? – Perguntou enrolando as pernas do filho numa manta azul.
- Esta indo bem, a respiração normaliza na água, e mesmo com a evolução da paralisia ele tem um movimento ou outro, mas são muito contidos pra ele sequer ter noção que os tem. – Falou, soltando um suspiro no final.
- O ombro direito e o pescoço um pouco, ele pende a cabeça um pouco pro lado às vezes.
- No principio achei que era só impressão, mas ele consegue mover por mais que pouco. – Concluiu Andrey olhando a criança com um pouco de pena, não costumava ter isso, mas cuidava de Mikhail desde o inicio da paralisia sabia exatamente pelo que o garoto passava e isso mexia consigo um pouco, quando ele fora trazido para a hidroterapia apenas tinha dificuldade de caminhar e tinha que ficar com um aparelho para ficar de pé. – Ainda não sabem o que ele tem?
- Ele tem novos exames em alguns dias. - Falou levando o filho.
- Quarta?
- Sim, as duas. – Disse abrindo a porta do vestiário.
No dia seguinte Tyson chegou a casa, agora mesmo também pai, ele não tinha mudado muito, continuava com seu velho jeito criação.
- E ai Kai? – Perguntou sorrindo e abrindo os braços como se esperasse um abraço do amigo
- Não tenho tempo Tyson, vamos ao que interessa.
- Já sei a empresa esta tomando todo o seu tempo, agora sei porque Mikhail esta doente. – Afirmou irritado.
- Não Tyson, nao tenho tempo por que tem um garoto de 10 anos na cama lá em cima paralisado do pescoço pra baixo sem poder ver que não quer que eu saia do lado dele.
- Como? – Perguntou sem acreditar no que acabara de ouvir.
- Mikhail está paralisado e cego. – Falou sentando no sofá junto com Tyson.
- Como isso aconteceu? – Perguntou Tyson sentando-se ao lado do amigo.
- Progressivamente, esta assim a sete meses.
- Meu deus, Kai. Por que não falou nada antes?
- Não vi motivo. – Deu de ombros.
- Kai assim você só vai isolar ele. –Tyson ainda estava em choque.
- Ah sim, vou deixá-lo com outras crianças que vão lembrar a ele que não pode brincar como elas. Boa idéia, Tyson.
- Kai, não quis dizer isso…posso vê-lo? – Pediu sabendo que as chances eram mínimas
- Se ele ficar agitado ou começar a chorar saia. – Falou subindo sem olhar se Tyson o estava seguindo. No quarto Mikhail estava na cadeira de rodas perto da janela com um bicho de pelúcia no colo, as mãos sem imobilizações estavam afastadas da pelúcia, quando o garoto percebeu a movimentação no quarto chamou por Kai, Tyson sentiu muita pena em ver o garoto assim.
- Pai. – Murmurou tentando encontrar o pai.
- Estou aqui, foram só 13 minutos, não precisa ficar assim. – Falou levando-o mais para o meio quarto. – Lembra-se do Tyson? Ele veio te fazer uma visita.
- Oi Mikhail.
- Oi. – Murmurou o garoto meio assustado, não tinha convivido com muitos "estranhos", tirando os médicos, tutor e terapeutas que via, desde que adoecera.
- Não precisa ficar acanhado. – Kai retirou os cabelos bicolores do rosto do filho.
- Tudo bem Kai, ele só não gosta muito de estranhos, Mikhail você quer que o Hakuro venha aqui? Ele está preocupado com você. – Tentou perguntar da melhor maneira possível, era assustador ver o filho de Kai nesse estado. O garoto não respondeu e perguntou algo em russo para o pai, que respondeu na mesma língua.
- Quero… - Falou tímido fazendo Tyson sorrir.
- Eu vejo com o seu pai um dia pra ele vir aqui então. – Disse animado tirando um sorriso curto do garoto que voltou a chamar o pai.
- Tyson, eu já desço e falo com você. – Falou ele se colocando entre o garoto e Tyson, não era um pedido, era uma expulção.
Tyson ficou na sala até que Kai apareceu na sala uns 15 minutos depois.
- Vai mesmo expor seu filho a isso?
- Eles são amigos Kai.
- E como pretende explicar isso para Hakuro? – Perguntou sentado-se no sofá.
- Ainda não sei. – Respondeu, também se sentando no sofá.
- Se quiser mesmo trazer Hakuro, venha domingo. – Disse calmo
- Hoje é terça. Por que não amanhã? – Perguntou intrigado
- Achei que você pelo menos tivesse idéia dos tratamentos que ele necessita.
- Como pode ser tão frio com isso é o seu filho. – Se irritou ao ver a frieza de Kai perante o assunto.
- Tyson, isso realmente não é da sua conta. Se não se importa Mikhail esta me esperando, Ivan te mostrara a saída.
- Você não mudou nada Kai!. – Comentou antes de sair.
De volta ao quarto Kai tentava convencer Mikhail a sair, o garoto se recusava as lágrimas.
- Calma filho. – Pediu o pai acariciando os cabelos e secando suas lágrimas.
- Não…quero…sair…não…assim. – Disse respirando com mais dificuldade.
- Tudo bem, venha – Falou colocando o filho no colo e sentando na cama com ele aninhado em seu peito. – Sei que não gosta de sair, mas você não pode ficar só em casa.
-Pai…eu…não…posso…ver…mas…sei…que…todos…olham…até…no…hospital…é…assim. – Disse com dificuldade.
- Mikhail, é complicado para os outros entenderem o quão difícil esta sendo pra você, e quando saímos não quero em nenhum momento te expor a isso, mas sim te ajudar a quebrar essa barreira, você precisa ficar um pouco no sol e mudar de ambiente, lembra do garoto que dividiu o quarto com você quando esteve no hospital?
- Sim, o…Mitza. – Falou o garoto já quase não chorando mais.
- Ele ficava na cama direto e sempre queria poder sair um pouco, aproveite, sei que é difícil, mas se o médico quiser te internar eu não vou poder dizer não. – Falou vendo a expressão de medo. – Durma, depois falamos disso.
No dia seguinte Kai acordou Mikhail cedo, ele tinha médico e ia passar por vários exames no dia, mas como nenhum era de sangue o café da manhã foi reforçado por não haver certeza se seria possível um lanche de manhã.
- Não…quero…mais. – Reclamou enquanto era alimentado pelo pai, não conseguia comer muito, e as ordens médicas eram lhe fazer comer a qualquer custo
- Só mais pouco. – Insistiu levando outra colherada à boca do filho que aceitou emburrado. – Não gosto de te obrigar a comer, mas você precisa se alimentar melhor.
- Minha…garganta…fica…doendo. – Falou recusando a ultima colherada que Kai estava tentando lhe dar.
- Tudo bem, vamos trocar essa roupa e sair. – Disse deixando o prato de lado.
Mikhail deixou o pai lhe trocar sem falar nada. Odiava hospitais, e quantos antes fossem antes voltariam pra casa. Não demoraram muito para descer até a entrada principal da casa.
- Posso…ficar…no seu…colo? – Perguntou a Kai.
- Pode. – Falou antes de colocá-lo nos braços para entrar no carro. Acomodou-se e deixou Mikhail confortável em seu colo com as pernas retas no banco. – Pode dormir se quiser, a viagem é um pouco longa. – Falou antes de dar as ordens ao motorista.
- Uhum. – Murmurou fechando os olhos.
Já no hospital eles tiveram que esperar um pouco. Na sala de espera Kai sentou-se na ponta de uma fileira de cadeiras e deixou Mikhail enquanto acariciava os cabelos do garoto que estava muito nervoso.
- Não precisa ficar preocupado, são só exames. – Falou arrumando a mascara de oxigênio no rosto do filho.
-Não…gosto…daqui.
- Não vai demorar muito hoje. – Falou enquanto o garoto fechava os olhos. Kai olhou para uma menininha sentada com a mãe, ela olhava constantemente Mikhail.
- Ann, isso não é educado. – Censurou a mãe ao perceber o olhar de Kai, ele sabia que era difícil as pessoas não olharem pra o garoto, a sociedade dificilmente aceitava o diferente.
- Sr. Hiwatari. – Chamou uma atendente entrando na sala. – O Dr. Otavius os espera no consultório 23.
Kai não respondeu e levou o filho para lá, na porta um senhor de meia idade os esperava na porta.
- Bom dia Sr. Hiwatari, Como passou o mês Mikhail? – Perguntou o médico se aproximando do garoto que não respondeu. – Ainda nada a vontade com hospitais, entrem. Vamos fazer os exames preliminares. – Disse abrindo caminho para Kai levar o filho. – Pode o deitar na maca. – Disse o médico indo para o lado oposto da mesma.
Mikhail estremeceu quando o pai o tirou da cadeira de rodas e o deitou. Não gostava da idéia de não conhecer o ambiente onde estava. O médico logo começou a mexer com seu corpo e isso o incomodou mais ainda.
- A perda de peso é visível. Esta conseguindo comer Mikhail?
-Não. – Murmurou irritado.
- Ele nunca comeu muito, é difícil terminar uma refeição inteira. – Disse num tom ameno segurando a cabeça do filho.
- Vamos pesá-lo, se estiver com menos de 35 Kg vai ter que ficar com soro, receber mais vitaminas, alem de uma dieta mais pesada. – Falou indicando para Kai o levantar, enquanto iam para uma ante-sala do consultório ele consolava o filho nos braços que se concentrava em respirar por falta do auxilio da mascara, como não podia ficar em pé quando tinha que ser pesado tinha que ser como pesavam bebes, ficava deitado sobre uma manta forte que era suspensa, e isso o deixava enjoado. – Não vai demorar. – Falou o médico irritando Kai.
- Com a dificuldade que ele tem pra respirar espero mesmo. – Terminando de colocar o filho na balança. Em menos de um minuto após isso o médico já disse que podia tirar Mikhail e o deitar na maca. Kai fez isso rápido para poder facilitar a respiração do garoto.
- Isso não é nada bom. – Falou o médico anotando algo num papel antes de olhar para Kai. – 26 Kg. Ele precisava estar com mais 7 no mínimo.
- Vai mantê-lo com soro? – Perguntou Kai temendo uma internação, as 3 semanas que passara com Mikhail no hospital haviam sido muito ruins para o garoto.
- Sim, mas como vocês tem condições de mantê-lo em casa, não vai ser necessária a internação por hora. Mas isso depende de como forem os exames também, ele tem uma ressonância agora. – Concluiu enquanto preparavam Mikhail para o exame assim que o levaram para a sala especifica ele começou a ficar nervoso.
-Pai…você…vai ficar…não…é? – Perguntou o garoto enquanto os enfermeiros o colocavam na maquina.
- Sinto muito Mikhail, seu pai não vai poder ficar durante o exame. – Disse o médico fazendo o menino começar a chorar, Kai se aproximou e ajoelhou-se ao lado da cabeça do filho.
- Vou estar aqui do lado. Assim que o exame terminar venho pra cá.
- Não…por…favor. – Implorou soluçando.
- Não posso. Você tem que agüentar agora. Vou ir agora, se não conseguir ficar o exame todo depois é refeito, mas vai ter que passar por isso de novo.
- Vou…tentar. – Murmurou segurando as lagrimas.
Enquanto Mikhail fazia o exame Kai conversava com o médico do lado de fora da sala sempre olhando o filho na maquina.
- Ele esta com mais dificuldade pra respirar, não é? – Perguntou o médico.
- O médico é você, deveria ter percebido. A paralisia no peito está aumentando?
- Ao que parece sim, se continuar nesse ritmo em um mês vai ter que estar com uma traqueotomia, se não antes.
- Fazem sete meses, ele só piora e os remédios não ajudam em nada, quero algumas respostar logo. – Exigiu se aproximando da janela.
- Os exames não foram conclusivos. – Justificou o médico.
- Então consiga alguns que sejam. – Disse ríspido olhando o filho pelo vidro. O médico não disse mais nada.
Assim que o exame terminou, Kai entrou na sala e sentou o filho o apoiando contra seu peito, ele ainda chorava um pouco.
- Tudo bem, acabou. – Falou acariciando os cabelos do garoto, um dos enfermeiros se aproximou com uma ampola sem agulha cheia d'água, Kai a pegou e soltou devagar na boca do garoto que bebeu com pressa.
- Quer ajuda para o pôr na cedera de rodas? – Perguntou o enfermeiro ao ver Kai prestes a levantar o filho .
- Não, consigo sozinho. – Falou logo em seguida virando para Mikhail que soluçava em seu peito. – Calma. Só mais a consulta com o ortopedista e vamos pra casa. – Disse o passando para a cadeira de rodas. Mikhail não falou nada e deixou ser levado. Na sala do ortopedista ele não falou nada e evitava responder perguntas.
- Que aconteceu? – Perguntou a médica a Kai.
- Ressonância, ele ficou sozinho. – Comentou acariciando os cabelos dele.
- O barulho é horrível, mas não se preocupe Mikhail, agora já passou. – Disse a mulher mexendo com as pernas do garoto.
- Quero…ir…pra…casa. – Disse irritado.
- Só mais alguns minutos e te libero. – Falou sorrindo. – Ele tem ficado com os AFO's direto? – Perguntou permitindo Kai se aproximar.
- São retirados em vários momentos do dia para exercícios. – Falou sentando o garoto
- Ele não sofreu nenhuma deformação nas pernas ou nos braços, isso é bastante raro mesmo para quem tem cuidados diretos, quantas sessões de fisioterapia ele tem?
- Hidroterapia duas horas e meia de duas a três vezes por semana, e exercícios diários. – Concluiu colocando o garoto na cadeira de rodas.
- Estão fazendo um bom trabalho com ele, é só por hoje. – Disse se despedindo de Mikhail em seguida, o garoto ainda estava assustado.
- Não precisa ficar assim Mikhail, o pior dos exames já passaram, agora você pode ir pra casa.
Em 20 minutos estavam voltando pra casa. Se pudesse Mikhail estaria agarrado ao pai que o mantinha no colo. Já em casa Kai deixou o filho dormir, na cama se não fosse o soro e a mascara de oxigênio era impossível dizer que havia algo errado com ele. No dia seguinte a hidroterapia melhorou um pouco o humor do garoto, o fisioterapeuta conseguia animar um pouco enquanto fazia os exercícios com ele. A tarde a governanta estava lendo para Mikhail enquanto Kai tivera que sair um pouco, o garoto não estava nada animado pelo fato de estar sozinho com os empregados, e ficou quieto até adormecer.
- Nana. – Chamou a enfermeira entrando no quarto.
- Algum problema Clarice? – Perguntou a senhora cobrindo o garoto.
- Ele fica muito deprimido quando o sai. – Disse a garota verificando o soro.
- Mikhail nunca teve muita atenção de Kai por mais que ele tentasse sempre sair com o garoto e ficar um tempo com ele em casa, agora como está, o único conforto que ele tem é atenção do pai. – Falou a governanta olhando para a porta e escutando os passos.
- Ele realmente é pontual. – Falou Clarice olhando o relógio.
Kai entrou no quarto com uma caixa nas mão alguns segundos depois e olhou para o garoto adormecido, se aproximou da cama sem falar nada e olhou para a enfermeira.
- As medicações dele são em uma hora. Separe os remédios. – Disse ríspido colocando a caixa na mesa de cabeceira e olhando para o garoto que dormia com o rosto virado para a direita.
- Sim, senhor. – Faloupegando as caixas na mesa no canto do quarto.
- Não precisa ser tão frio Kai. – Falou a governanta com a mão no ombro dele, ele a ignorou.
- Como ele ficou?
- Triste, ele não gosta que você saia. – Nana respondeu ainda olhando Kai.
- Mesmo doente tem que entender que não posso ficar com ele o tempo todo. – Disse ajoelhando-se do lado da cama e acariciando os cabelos do garoto delicadamente, não queria acordado. – Teve febre? – Perguntou ainda olhando para o filho.
- Leve, não durou muito, possivelmente o nervosismo com sua saída. – Disse Clarice se aproximando da cama com os remédios separados numa caixinha.
- Nana amanhã Jerome vem as 3, é isso? – Perguntou puxando pela memória.
- Sim, e domingo talvez seu amigo traga o filho pra ver Mikhail. – Falavam baixo velando o sono calmo do garoto.
- Podem ir, eu do as medicações. – Falou sentado-se ao lado da cama.
As duas se retiraram e ele ficou quieto ali por quase 40 minutos ate Mikhail abrir os olhos.
-Nana… - Chamou ao abrir os olhos.
- Cuidando do jantar, do que precisa filho?
- Pai…achei…que…ainda…não…tinha…voltado… - Falou com os olhos opacos totalmente abertos.
- Tentei não demorar muito. – Disse deixando o rosto do filho reto. – Quer água?
- Quero. – Kai colocou um pouco de água no copo que havia na cabeceira da cama, a garrafa d'água era sempre trocada. Ele apoiou os ombros e a cabeça do garoto os levantado para facilitar que ele engolisse. – Pai…pode…me…levar…no…jardim?
Kai se assustou com o pedido, nunca Mikhail havia querido sair, ficava nervoso só coma idéia de sair do quarto desde que perdera o movimento dos braços.
- Sim, mas antes te trocar de roupa e você também tem que tomar os remédios – Falou sentando o filho que ainda estava de pijama. – Creio que o mais confortável pra você seja um moletom, quer algum deles?
- O cinza. – Pediu.
Depois de medicá-lo, Kai levou o filho para dar uma volta no jardim, o passeio foi curto por causa de estar ventando e a imunidade de Mikhail estar baixa, mas o garoto aproveitou bastante comparado as outras vezes que se recusava a ficar no local. O dia foi tranqüilo apesar de Kai estar preocupado com o extremo cansaço do filho que adormecera varias vezes mesmo em atividades mais atrativas para ele.
- Pai. – Perguntou o garoto num dos momentos em que estava no colo do pai.
- O que foi Mikhail? – Perguntou acariciando os cabelos do garoto
- O…Hakuro…va…vir…aqui? – Perguntou sonolento, Kai estava sentado no divã que havia perto da janela com o filho enrolado em uma manta no colo. Ficou interessado na vontade do filho em querer sair um pouco e em ver o filho de Tyson.
- Talvez domingo, não posso te dar certeza. – Disse pegando o livro que tinha separado. – Quer ouvir uma historia?
- Quero. – Respondeu sorrindo.
O dia havia sido pacato, o garoto tinha conseguido se alimentar bem apesar de muito cansado, e sua animação estava bem maior que de costume, isso animava um pouco Kai, era difícil pra ele ver o filho doente, Mikhail era uma das únicas, se não a única, ligação afetiva que Kai tinha sem nenhuma dificuldade, o filho sabia encontrar os sentimentos no jeito frio de seu progenitor quando entre estranhos e sozinhos conseguia tirar sorrisos dele as vezes, já o outro tinha o pequeno como sua vida depois de muitas coisas pelas quais passara, tentara dar sempre a ele tudo que não pode ter quando criança sem mimá-lo a ponto de corromper seu jeito singelo de ser.
Todos que viam Mikhail lutar pra ficar acordado até o pai chegar quando tinha uma reunião que se estendia, só para ganhar um abraço e talvez ouvir uma historia acharia que Kai não lhe dava muita atenção, mas eram raros os fins de semana que não levava o garoto a algum lugar ou que simplesmente tirava uma tarde pra ficar com ele. O garoto nunca fora de pedir as coisas e nem se importar em ter grande numero de brinquedos ou coisas do gênero. Quando perguntado se queria alguma coisa acabava sempre por pedir um livro, o que levou a Wisards and Faires se tornar o local que iam toda sexta-feira quando Kai o buscava na escola, isso era talvez uma das coisas que mais entristeceu Mikhail assim que perdeu a visão.
Assim que o filho dormiu Kai ficou olhando para seu rosto e lembrando-se daquela segunda feira a sete meses atrás. Estava em reunião com uma das fornecedoras quando sua secretaria entrou na sala de reunião.
- Desculpe interromper . – Começou a jovem loira da porta.
- Liv, deixei claro para não nos interromper. – Censurou olhando para a mulher, a reunião era com a Baker and Baker fornecedora de aço para as peças que a Skyvolt produz.
- Sinto muito senhor, mas recebi uma ligação da escola do seu filho… parece que ele se machucou. – Kai olhou a garota por alguns segundos, Mikhail já havia sofrido alguns ferimentos na escola principalmente na , voltava com um curativo e um bilhete explicando a situação, mas para ligarem deveria ter sido algo sério. Ele olhou para os dois irmãos donos da fornecedora e levantou-se
- Sinto muito senhores, mas não vou poder ficar presente de agora em diante, Dimitre cuidará de todo o resto. – Disse pegando o paletó que estava sob a cadeira.
- Esta tudo bem Hiwatari, também temos filhos. – Disse um dos rapazes.
Na ida até a escola Kai pensou que poderia ser um osso quebrado, o que já tinha ocorrido com um colega da turma de Mikhail, mas não fazia idéia que aquilo era apenas o começo do que não tardava em vir. Assim que entrou no estabelecimento de ensino foi recebido pela pedagoda.
- Senhor Hiwatari, sou Ann peda…
- Pedagoga, lembro da ultima reunião. Apenas duas coisas: Onde esta o meu filho? E o que aconteceu? – Perguntou ríspido.
- Na enfermaria, me acompanhe, te explico tudo lá. – Disse ela saindo apressada pelos corredores cheios de trabalhos expostos. Assim que entraram na enfermaria Kai viu o filho sentado na maca chorando.
- Pai. – Falou enquanto via o pai se aproximar, acabou agarrado a ele chorando em seu peito.
- Ele caiu na aula de educação fisica, a professora não achou machucado nenhum, mas ele não consegue ficar em pé. – Disse a pedagoga trêmula.
- Não consegue ficar em pé? – Perguntou não acreditando muito no que tinha ouvido. – Deixem eu falar com ele. – Elas se olharam e saíram, depois disso ele sentou-se ao lado do garoto que secava as lagrimas. – Mikhail, esta fazendo isso pra chamar a atenção? – O garoto o olhou assustado.
- Não pai…eu estava correndo, perdi o equilíbrio e não consegui levantar. – Falou passando as mãos nos olhos. – A professora me colocou em pé, e eu cai de novo. – Disse mostrando os olhos verdes irritados por causa do choro.
- Tentaram novamente?
- Sim. – Falou olhando o pai que via claramente que o filho tentava não chorar.
- Mikhail, eu vou te colocar em pé, se estiver fazendo isso por algum motivo pare e depois conversamos, se realmente tiver algo errado vou te levar ao médico. – Falou o colocando em pé e na frente do filho que trêmulo desceu da maca segurando nos braços do pai que teve que o segurar, Kai notou nitidamente que o garoto não conseguia firmar os pés no chão, por conta disso Mikhail voltou a chorar. O pai o ergueu nos braços. – Fique calmo, vou te levar no médico. – Falou saindo com o garoto nos braços e encontrando a pedagoga no corredor. – Traga as coisas dele, vou levá-lo no médico, tinha alguma prova hoje Mikhail?
- Não. – Disse o garoto agarrado ao pescoço do pai.
- Vou providenciar tudo.
No carro Mikhail estava quieto no banco de traz olhando para fora, estava assustado.
- Sei que não gosta de hospitais, mas se realmente algo esta acontecendo é necessário. – Falou vendo o filho pelo espelho, o garoto olhou para frente:
- Não sei o que aconteceu pai… - Falou num tom baixo voltando a cabeça para o colo logo em seguida.
Kai sabia que era algo sério a partir dali, Mikhail odiava hospitais, e se dispor a ir a um era o suficiente para o pai sanar todas as suas dúvidas. No hospital não demoraram a ser atendidos, os diagnósticos não foram conclusivos nem otimistas, o melhor de todos era do garoto estar com problemas no ouvido interno e por isso não conseguir manter o equilibro, os outros tendiam para paralisia muscular. Mikhail passou uma semana em casa proibido de sair da cama, mas todos os exames deram inconclusivos e negativos e a situação motora do garoto piorava.
- Dr. Hilber, alguma coisa tem que ser. – Disse irritado com o filho no colo durante uma consulta.
- Eu sei Sr .Hiwatari, mas já fizemos duas baterias de exames, até encontramos o que esta o impedindo de ficar em pé, como o problema dele é restrito as pernas acho que com um aparelho ortopédico ele pode voltar a caminhar limitadamente.
Outra coisa que Kai lembrava bem era do período que Mikhail fora obrigado a escolher entre o aparelho e a cadeira de rodas, por mais que quase não pudesse ficar em pé nos primeiros dias e sofrendo para apoiar boa parte do corpo nas muletas ele conseguiu caminhar, mas conseguir isso em casa era uma coisa, enfrentar a descriminação na escola era outra que piorou quando ele acabou na cadeira de rodas, Kai acabou falando com vários pais perdendo a paciência com alguns, mas nada ajudou o garoto, que se isolou mais da turma, sempre fora reservado, mas passou a não falar com ninguém. Quando se iniciou a perda da visão, Kai não achou motivo algum para mantê-lo na escola optando pelo tutor.
Agora olhando para o filho em seus braços, queria ao menos saber quando o sofrimento do pequeno terminaria independente da forma que fosse. Não se importava em cuidar de Mikhail, mas não suportava mais o ver naquela situação sabendo que nenhum remédio o ajudaria por muito tempo.
- Pai. – Chamou o garoto abrindo os olhos.
- Está desconfortável Mikhail?
- Estou…com…frio. – Disse tornando a fechar os olhos, Kai o enrolou melhor na manta e levantou após soltar o cano do tanque de oxigênio para poder levar o filho para a cama.
O acomodou embaixo das cobertas e trocou a mascara que tinha no rosto pela do respirador artificial, ficando ao lado da cama acariciando os cabelos do menino por um longo período.
- Boa noite filho. – Disse colocando a fênix de pelucia em suas mãos e indo chamar Clarisse logo em seguida.
A manhã de sabado parecia mais gélida do que nem uma outra naquele rigoroso inverno, apesar do sistema de aquecimento da casa todos estavam com blusas mais pesadas, Kai teve que manter Mikhail na cama coberto e agasalhado. O forte vento batia com força nos galhos das arvores contra as janelas e formavam "assobios". Desde que acordara o garoto estava calado, até que em um momento:
- Pai…to…com…medo. – Disse o garoto visivelmente desnorteado com os sons. Ele se ajoelhou ao lado da cama e virou o rosto do filho de lado.
- O barulho é mais alto pra você por que seus ouvidos se desenvolveram para suprir sua falta de visão. – Falou pegando a touca no criado mudo e colocando na cabeça do garoto devagar. – O vento está forte, você esta escutando os galhos bater na janela.
- Não…são…os…galhos. – Murmurou.
- O que é filho? – Perguntou com a mão na cabeça do garoto.
- Pai…se…eu…não…melhorar? – Perguntou em um tom mais baixo. Kai colocou a mão no rosto do filho e tentou amenizar a situação.
- Por que acha isso?
- Já…fazem…sete… meses…e… - Falou com dificuldade.
- Eu sei Mikhail, nada tem melhorado, mas é apenas muito cedo ainda. Você já agüentou muita coisa, só precisa se manter firme. Sei que não é nada animador. – Falou colocando a mão do filho entre as suas. – Wuer que eu leia pra você? – Mudou de assunto.
- Quero. – Kai foi a estante pegar um livro e voltou a se ajoelhar na beira da cama. – Qual…é?
- O Narnia, não ouviu toda as historias. – Falou arrumando as cobertas. - Paramos na "Viagem do Peregrino da Alvorada"
A leitura perdurou ate o almoço, que Mikhail comeu quieto, a animação do dia anterior havia sumido, Kai se questionava do que poderia ter deixado ele tão amedrontado com sua situação, o que nunca havia chegado a esse ponto. Depois da refeição o garoto dormiu, o pai o deixou com a enfermeira por algum tempo pra ir tomar um banho.
-As coisas estão piorando. – Disse socando a parede azulejada. Não sabia mais como animar o garoto com as pioras que estavam havendo.
Duas e meia Kai estava conversando com o filho quando Ivan veio o chamar, Jerome estava ali, ele logo desceu para falar com o psicólogo, Jerome era um rapaz de 31 anos ao qual ninguém daria mais de 26, tinha olhos e cabelos castanhos e a mania de sempre estar com roupas excessivamente coloridas e vibrantes.
-O que ele te falou que te deixou preocupado? – Falou o psicólogo olhando a face fria de Kai, era quase impossível dizer como ele havia percebido a preocupação nele.
- Disse que estava com medo de não melhorar. – Disse terminado de descer a escada. – E foi bem claro, não deixou subliminar como das outras vezes.
- Bem, pelo menos agora ele tem consciência do que tem medo, na faze dos pesadelos não era tão explicita assim, ele tinha sim idéia do que era, mas agora isso pode ter aumentado. – Falou calmo.
- Isso é meio obvio Jerome.
- Um pouco, ele esta acordado?
- Sim. – Disse fingindo não ter ouvido a primeira parte.
- No mínimo irritado por que você saiu de lá, realmente precisa achar outro ponto de segurança pra ele quando não pode ficar com ele.
- Como o que? – Inquiriu, Jerome era realmente irritante quando queria o que era quase sempre, mas era um bom profissional.
- Nada que eu tenha notado serve pra isso. – Admitiu
- Quando encontrar fale. – Disse subindo para o quarto com Jerome atrás de si.
Já com o garoto Kai ficou os primeiros momentos, Mikhail não gostava muito de ficar sozinho com alguém, mas sabia que tinha que conversar com Jerome sozinho.
- Seu pai me disse enquanto subíamos que quis sair ontem. – Começou sentado do lado da cama.
- Estava…cansado…de…ficar…no…quarto. – Disse o garoto impaciente.
- Esta nervoso por estar sozinho comigo ou por seu pai não estar aqui Mikhail? – Perguntou olhando para o garoto que pareceu não gostar nada da pergunta.
- Se…sabe…a…resposta…por…que…pergunta? – Inquiriu sem animo.
- Por que esse é o meu serviço, te encher o saco até resolver falar comigo.
- Se…eu…não…quiser?
- Por que não ia querer? Item: Por que eu sou um chato não vale. – Disse tirando um sorriso pequeno de Mikhail.
- Você…não…é…chato…é…irritante. – Disse de olhos fechados.
A conversa durou uma hora, perduraria mais se não fosse o cansaço e a dificuldade de Mikhail em se expressar, Jerome se despediu e Nana entrou no quarto, irritando o garoto que queria o pai, Kai esperava o psicólogo no corredor.
- Então. – Perguntou apoiado na parede olhando para dentro do quarto.
- Continuo achando que ele é mais velho e que tem problemas de nanismo. Apesar do desanimo ele esta bem para alguém na situação dele.
- Com o que esta comparando? – Perguntou sem olhar Jerome.
- Alguns outros pacientes, o medo de Mikhail não é bem de piorar, mas sim de não poder interagir com você. – Kai arqueou uma sombrancelha.
- Como descobriu isso?
- Mikhail não é nada explicito, mas em geral os medos dele são com relação a você, o garoto realmente te adora, e como tem sido cada vez mais complicado pra ele conversar isso o tem afetado, o que ele demonstrou hoje é uma parte desse medo. Quanto ao resto, é carência, você nunca esteve muito perto, agora ele não quer perder isso.
- Não vai perder. – Falou entrando no quarto, Ivan vinha pelo corredor com o pagamento e para acompanhar o psicólogo até a porta. Kai sentou-se na beira da cama e sentou o filho. – O que quer fazer? – Questionou colocando uma manta nos ombros do garoto.
- Pega…o…livro…do…barco? –Pediu sorrindo.
- Pego. – Passaram a tarde brincando com a historia dos piratas, parando apenas para o jantar e continuando até o garoto cair no sono nos braços de Kai, que se preocupou com o início de febre que ele tinha. Acabou passando a noite no divã perto da janela acordando a cada duas horas.
Na manhã seguinte Mikhail acordou febril e exausto, o pai acabou o colocando no colo e passando a manhã com ele dessa forma, isso dava uma sensação de proteção ao garoto. O almoço foi complicado, mesmo sendo sopa o garoto não conseguia engolir bem.
- Só mais um pouco. – Insistiu sabendo que mesmo com dificuldade ele tinha que comer. Depois de uma hora praticamente forçando o garoto consegui comer 1 terço do prato e Kai achou que era hora de parar e o deixar dormi. Perto das duas da tarde Ivan apareceu no quarto.
- Sr. Hiwatari, o e o filho estão aqui. – Kai estranhou ouvir o nome de Tyson daquela maneira e praguejou por ter esquecido da visita, mas por ele ter trazido Hakuro decidiu acordar um pouco Mikhail.
- Traga-os aqui. – Disse seco acariciando os cabelos do filho.
Não demorou muito a eles aparecerem no quarto. Hakuro estava no colo de Tyson segurando um bicho de pelúcia e olhava atentamente para Mikhail encolhido no colo de Kai.
- Kai. – Começou Tyson colocando o garoto no chão
- Mikhail, Hakuro veio te ver. – Disse fazendo o garoto abrir os olhos. – Pode vir Hakuro. – Ele se aproximou hesitante da cama e subiu na beirada.
- Hakuro. – Murmurou Mikhail com os olhos fechados. Kai pegou uma das mãos do filho e deu para o outro garotinho segurar.
- To aqui tava com saudades de você. – Disse com um sorriso triste no rosto.
- Eu…tam…bém. – Falou ficando quieto logo em seguida.
- Hakuro ele precisa descansar. – Falou vendo o filho adormecer novamente. – Outro dia vocês ficam mais tempo juntos.
- Ele vai melhorar? – Perguntou o pequeno vendo o outro respirar com dificuldade.
- Vai demora um pouco filho. – Falou Tyson o colocando no colo. – Quando o Mikhail estiver melhor vocês brincam juntos.-
- Ele esta muito cansado hoje. – Disse aninhando melhor o filho. Tyson decidiu que era melhor levar Hakuro que antes de sair deixou o bicho de pelúcia que segurava com Mikhail, Kai deixou um sorriso escapar ao ver a versão de pelúcia de Dragoon nas mãos do filho junto a Dranzer, cada um dos filhos mais velhos dos Bladebreakers tinha um, fora idéia de Dikenson dar a cada um dos meninos que logo se apegaram aos brinquedos.
Depois que eles saíram Kai deitou o filho com os bichos de pelúcia ao seu lado, pensando que assim que Mikhail estivesse melhor ia dar um cachorro ou um gato para o garoto. Ficou ali até Ivan aparecer novamente.
- Senhor. – Começou vacilante. - A senhora Lilian esta aqui.
A face fria de Kai tomou uma expressão de nojo e ódio.
- Quem deixou essa vadia entrar aqui. – Disse irritado levantando. – Chame a Clarisse, eu mesmo vou por essa mulher pra fora. – Falou indo para o andar inferior irritado, na escada logo pode ver o cabelo loiro da mulher sentada no sofá como se fosse a dona da casa.
- Depois de sete meses, melhor dez anos, lembrou de Mikhail? – Perguntou frio no ultimo degrau.
A mulher descruzou as pernas e levantou arrumando os cabelos, mesmo com o frio usava um vestido curto e o casaco aberto.
- Como esqueceria Kaizinho? Eu sou a mãe. – Disse sorrindo escariosamente.
- Uma mãe que abandona o filho, e que sequer o vem ver doente, coisa que dévido ser o motivo da sua visita. – Disse encarando os olhos verdes idênticos aos do filho.
- Kai, mesmo eu tendo parido o garoto, o que me causou muitas estrias chatas de sumir, não tenho necessidade de ver uma criança aleijada numa cama com todas que tem por ai na rua. – Falou pegando o batom vermelho na bolsa.
- Sabe Lilian, cada vez que olho pra sua cara tenho mais certeza de que estava muito bêbado quando transei com você. – Falou sorrindo sadicamente. – Diga logo o que quer. – Completou frio olhando a mulher sorrir.
Continua…
Betarider: The Sadistics
Primeiro capitulo e lá vou eu pedir reviews XD, espero que goste, estou mesmo adorando escrever essa fic. Bjs Ja nee.
Idiotice do dia: "Hummmmmmmmmmm, eu sou um mago, vejo que seu teclado possui a letra "A"!"
