Despertou com o celular tocando. Não queria levantar pois ainda era muito cedo, mas foi obrigado, pensou que poderia ser seu namorado lhe chamando para tomar o café na lanchonete próximo à faculdade. Levantou-se com dificuldade e pegou o aparelho para então colocar em seu ouvido.

– Alô? – disse sonolento.

Senhor, é que... "eu conheço essa voz" Minho pensou atordoado. – O dono desse celular sofreu um acidente e

– levantou-se bruscamente, olhando o visor do celular. Era Taemin. – E parece que ele morreu...

Minho desesperou-se e esqueceu-se completamente da pessoa que estava do outro lado da linha.

– Onde ocorreu o acidente? – perguntou saindo de casa às pressas, sequer mudou de roupa. Tinha fé de que seu namorado ainda estivesse vivo.

Ver o corpo ensanguentado do seu (ex)-namorado... aquilo não foi algo bom. Minho correu, passando entre a multidão que se formou e segurou em seus braços o garoto frágil e desacordado. Imediatamente, policiais, bombeiro e médicos chegaram ao local e o moreno foi logo agarrado por dois policiais – um baixinho e fortinho e o outro mais alto e com aparência mais fraca, mas que mesmo com esse corpo, tinha uma grande força – para que o corpo do garoto morto não fosse tocado.

Minho enlouqueceu. Tentava de todo modo soltar-se, mas os dois rapazes juntos eram mais fortes que ele. E gritava, esperniava:

– ME LARGA! – dizia enquanto via Taemin sendo colocado em uma maca – Ele... deixe-me vê-lo e tocá-lo uma última vez... – implorava com lágrimas escorrendo em suas bochechas.

A autoridade próxima a essa confusão ouviu o pedido e acenou com a cabeça que podiam soltá-lo, dizendo:

– Jonghyun, Kibum, soltem-no! – "Ué, desde quando Jong e Key sāo policiais?" pensava inconscientemente. Minho estava tāo atordoado, confuso, que nem notou quem estavam lhe agarrando naquele momento. Os rapazes, mesmo querendo contestar, soltaram-no, mas Minho sequer perguntou o que eles estavam fazendo ali, estava preocupado demais com ele.

Depressivamente, o moreno aproximou-se lentamente do corpo magro e destruído do menor, do garoto que amava. Com suas roupas – pijamas – ensanguentadas com sangue alheio, agarrou-se ao loirinho, gritando para que ele voltasse. Abraçava-o e beijava-o, começando a sentir o gosto de sangue dos lábios machucados e a temperatura corporal a cada segundo mais baixa.

– Disseram-me que ele morreu na hora... O ônibus bateu muito forte no garoto, ele não suportou – um homem de jaleco e óculos falou, deveria ser o médico. Minho desviou seu olhar do loiro, olhando para o rapaz de jaleco, ele tinha aparência jovem e cabelos ondulados, com mexas aloiradas e um belo sorriso que notou ao vê-lo dar atenção a uma enfermeira. "Ai meu Deus, e o que o Onew está fazendo aqui? Ele ainda faz curso de medicina..." E saiu dos desvaneios ao ouví-lo – Levaremos o corpo do garoto... Se importa de deixar seu número para que possamos entrar em contato? – Minho segurava as lágrimas, condordando com o rapaz. "O que está acontecendo aqui?"

O médico deu-lhe um papelzinho e ele escreveu seu número.

– Choi Minho? – o homem sorriu. – Sou Lee Jinki, mas pode me chamar de Onew. – "Mas já nos conhecemos!" Pensou, mas nāo conseguia dizer isso, entāo apenas estendeu a mão que foi segurada em seguida. Todas as açōes de Minho eram realizadas mecânicamente, mas seus pensamentos quase nunca queriam dizer aquilo. Ambos sorriram – claro que Minho o fez mais fracamente, havia acabado de perder o garoto que amava – e Onew saiu logo em seguida.

– Com licença... Err... Você é o garoto do telefone? – uma moça perguntou.

– Ah, eu? – Minho perguntou surpreso se virando e arregalando os olhos por tal ato – Acho que sim... – sorriu fraco – obrigado por me avisar...

– Por nada – disse entregando o celular do menino. – Sou Choi Sulli.

– Choi Minho – aproveitou para apertar as māos da garota ao pegar o celular e sorriu, ainda que tivesse a cara inchada. "Agora é você, Sulli?"

– Hm.. Você era o número 1 da lista de contatos dele... – comentou – deveria ser alguém bastante importante! Irmāos? – "Você é minha irmā, somos apenas nós dois"

– Nāo. Taemin era meu namorado. Era. Agora já nāo o tenho mais. – "Mas você sabe disso, Sulli!"

– Ah, desculpe-me por tocar nesse assunto. – disse constrangida.

– Deixe pra lá. Bom, tenho que ir. Até mais.

"Por que nāo consigo falar nada? Por que meus pensamentos nāo saem pela minha boca?"

Deitado em sua cama, as imagens do sangue, da pele arroxeada e a temperatura corporal baixa vinham à tona na mente de Minho. Nāo conseguia aceitar a morte do namorado. Perguntava-se se ele fora feliz consigo e desculpava-se por todos os "eu te amo" que nāo lhe dissera; e por nāo estar com ele naquele momento do acidente.

Sentiu as lágrimas se formarem e caírem sem sua permissāo. Tentava manter um sorriso no rosto e pensar que se ele ainda estivesse vivo após o acidente, poderia estar sofrendo com dores e por se sentir culpado por vê-lo triste; afinal, Taemin era assim, sempre se preocupando com os outros.

Para Minho, Taemin era um anjo que apareceu em sua vida. Preocupava-se por demais com ele, era engraçado, costumava usar o sarcasmo para fazê-lo rir e sempre abusava de seu aegyo para conquistá-lo; fazia-se de desentendido, era simplista e às vezes um pouco irritado. Tudo isso o tornava aparentemente mais bonito. E fofo, claro.

Ainda tentava entender porque seus amigos estavam lá. Era alguma brincadeira deles? Pensou que nāo, infelizmente nāo. Morte é algo muito sério para se brincar.

As horas dentro daquele quarto nāo diminuiam sua tristeza, mas Minho nāo tinha motivaçāo para sair dele. E assim, os dias foram se passando. Os pais de Minho tentaram tirá-lo de lá, mas eles sabiam da situaçāo filho, e depois de alguns dias, desistiram do garoto. Minho estava ficando depressivo e só.

Havia se passado uma semana quando o moreno já com aparência fraca, rosto mais magro e com olheiras. Estava rolando pela cama quando sem querer empurrou um ursinho de pelúcia que Taemin lhe dera quando era vivo. O bonequinho caiu no chāo mas Minho estava tāo sem força que o deixou no chāo, até ouvir uma voz de criança:

– Aai... Mas que falta de educaçāo! – um resmungo fora ouvido vindo do chāo. Minho lentamente se aproximou da beira da grande cama do seu quarto e olhou para o chāo, vendo aquele pequeno bonequinho se levantar e tirar a sujeira de si. Pensou que além de depressivo, estava ficando louco.

– Mas o que é isso? – disse coçando os olhos, continuando a ver o bonequinho se mexer. O segurou com uma de suas māos e o mesmo começou a se remexer.

– Solte-me Minho! – pediu com aquela voz infantil ao se irritar.

– OMO, que violento! – disse o soltando.

– OMO, que depressivo! – falou em um tom de chacota.

– Você é bem pra frente pra ser um boneco... – Minho se irritou.

– Eu nāo sou um boneco! – reclamou – Sou um ursinho de pelúcia fofinho – explicou fazendo manha – Tenha mais respeito, foi ele... – apontou pra cima – ...quem me deu à você.

– Ok, desculpa aí. – o tom era sem interesse – Qual o seu nome entāo?

– Ah, err... Sr. Urso?! – disse duvidoso, mas ao mesmo tempo retórico.

– Ah, claro. Como nāo tinha pensado nisso – bufou – Entāo... O que tem a me dizer?

– Hā? O que? – fez-se de desentendido.

– O que está fazendo aqui?! – repetiu.

– Eu moro aqui. – o Urso foi simplista.

– Essa casa é minha, nāo sua! – indignou-se.

– É... tecnicamente é minha já que sou seu. – explicou.

– Pensando por esse lado... Tem razāo, deixa para lá – Minho finalmente concordou – mas eu tenho uma dúvida: Por que só começou a "falar" – disse fazendo aspas – comigo hoje?

– Hm. Posso dizer que é um segredo, mas... em parte, digo que é porque você anda triste... – explicou, evitando falar demais – o mais importante agora é fazer você sorrir, ok?