Capítulo I
Ser sozinho é uma coisa muito relativa, como dizem você pode estar entre um milhão de pessoas e se sentir sozinho ou então estar só em uma floresta e se sentir aconchegada, bem, eu sou sozinha por natureza, mas nunca me senti assim.
Meu nome é Rachel Berry, mas as pessoas me chamam de Rae e eu sou órfã... Morei minha vida toda no Orfanato Path of Love no estremo sul de Ohio, um lugar maravilhoso, com muitos animais e uma mini floresta em volta, tenho 16 anos e sai de lá poucas vezes em minha vida.
Cresci sem conhecer meus pais, sem saber por que fui abandonada, mas não me sentia abandonada, porque eu estava rodeada de outras pessoas que sempre me deram carinho.
Nunca tive uma mãe para me abraçar e para me cuidar, mas tive a Mãe Sira, a madre que comanda o orfanato, uma freira que deixou o convento e uma vida de sucesso como pianista para abrir um orfanato, mulher forte e amorosa que sempre esteve por perto quando precisei, me apoiando e me ensinando a ser uma pessoa de bem.
Nunca tive um pai para me levar para a escola e para ser ciumento de mim em relação aos garotos, mas tive o Papa Tony, o jardineiro do orfanato, homem simples e muito carinhoso, que me mostrou a beleza da natureza, e a cuidar das criaturas com amor e carinho, assim como ele cuidava de mim.
Eles não são meus pais biológicos, são mais que isso, são anjos amados que Deus enviou para cuidar de mim, para me guiar quando eu mais precisei, assim como a muitas outras crianças.
Sem contar as crianças, dezenas que passaram por mim no decorrer dos anos, alguns entravam e não ficavam muito tempo, aquelas pequenas fofuras que logo eram adotadas, e outras, que permaneciam, pois já eram grandes demais ou tinham alguma deficiência e não eram adotadas.
Fui adotada uma vez, quando tinha um ano e meio. Passei quase quatro anos com a família Willians, foi onde conheci Colin, meu irmãozinho autista, ele nasceu seis meses depois que a família me adotou, os pais queriam uma irmãzinha para ele. Mas voltamos para o orfanato quando Colin tinha pouco mais de três anos, pois seu pai teve um surto psicótico causado por drogas e matou a mulher e si mesmo com uma faca de cozinha.
Escapamos por pouco, eu que na época tinha pouco mais de cinco anos percebi
o que estava acontecendo e tirei Colin da casa, seu pai me viu tirando ele, e se assustou, provavelmente em sua loucura me viu também como uma ameaça, e enquanto eu corria agarrada a Colin ele me atingiu nas costas, me deixando uma cicatriz de presente, um risco partindo do meu ombro direito com 13 centímetros de cumprimento.
Depois disso nunca mais quis ser adotada, passei a cuidar de Colin e não me interessava em ter novos pais, então eu sempre me escondia quando tinha visitas.
Sempre gostei muito disso... Esconder-me... Sumia sem deixar rastros... Às vezes ficava brincando com os animais da fazenda, às vezes ficava deitada perto do riacho pensando no futuro ou lendo um livro.
Mas é claro que ninguém mais se preocupava, porque sabiam que eu voltaria, afinal, o orfanato fica em uma fazenda, grande o suficiente para ter muitos lugares para uma criança levada se esconder, mas nada perigoso demais.
Há duas coisas em que eu sou realmente boa... Coisas que aprendi dentro do orfanato, incentivada pelos meus anjos, e é no piano e em me defender, e foi graças a uma destas coisas que consegui lugar em uma importante academia educacional, a Academy McFaller para alunos com grandes aptidões.
Deixar meus pequenos irmãozinhos adotivos foi difícil, Colin o mais velho dos 3 agora com 14 anos foi mais forte, mas o fato dele ser autista também atrapalha um pouco, os autistas não demonstram emoções.
Mas Colin superou muitas dificuldades do autismo no orfanato, agora era um jovem alto e bonito, com cabelos e olhos pretos e uma língua afiada para respostas. Tinha muita habilidade com aparelhos eletrônicos, lia muito e conseguia consertar praticamente tudo.
Jack com 12 anos, um pequeno ruivo com olhos verdes e sardas, o único ruivo do orfanato e era completamente surdo, desde que nasceu, chorou muito sem se importar em parecer forte, como sempre fazia. E Carlie, a mais nova com apenas 5 anos, uma loirinha com lindos olhos verdes prateados, não entendeu muito bem, mas me abraçou forte e chorou ao ver Jack chorando.
Eu me mantive neutra, fui capaz de abraçar todos sem chorar, apesar de ser chorona por natureza não gostava de chorar na frente das pessoas, então aguentei firme.
Dentro do ônibus, que me levava até o centro da cidade, pensava nas pessoas que deixava para trás. A despedida fora difícil, apesar de me achar uma pessoa forte, de não gostar de deixar os menores me verem chorando, foi por pouco que mantive os olhos secos.
Mas era principalmente por eles que aceitara a oferta de Mãe Syra, estudar piano em um lugar como o grande Conservatório de New Haven onde Mãe Syra se formará seria excelente para ter um bom futuro, e assim poderia ajudar meus pequenos, já que Mãe Syra e Papa Tony jamais abandonariam o Orfanato.
A viagem que de carro demoraria cerca de uma a duas horas demorou praticamente três de ônibus, diante de todas as escalas cheguei à praça central da cidade as dez e cinqüenta da manhã. Desci do ônibus com minha única mala e caminhei um pouco observando a paisagem.
Nós nunca saíamos do Orfanato, então não conhecia a cidade, mas havia visto fotos pela internet, com medo de me perder achei melhor saber o que fazer quando chegasse. Então me encaminhei para a lateral da praça onde eu sabia haver um ponto de taxi, logo avistei um senhor encostado em um dos carros com um jornal nas mãos.
― Bom dia Senhor, eu preciso ir para a Academia McFaller, quanto fica? - Perguntei enquanto me aproximava um pouco.
― Bom dia minha jovem, fica cerca de 20 dólares, a Academia é um pouco afastada você deve saber. ― Respondeu o Senhor dobrando o jornal.
― Sei sim ― Sorri ao lembrar que Mãe Syra me dera 50 dólares, prevendo que a corrida até a Academia ficaria em torno de 20 ou 30 e me sobraria um pouquinho para tomar um sorvete se quisesse.
― Então vamos lá, posso colocar sua mala no bagageiro? Perguntou ele já
o abrindo.
―Sim, claro, por favor.
Após guardar a mala seguimos caminho para a Academia, ao qual chegamos cerca de vinte minutos depois. Um grande complexo com prédios de estruturas magníficas forma a Academia McFaller.
Três grandiosos prédios eram vistos por cima do muro alto que rodeava o complexo, o central era o mais alto, vários andares eram visíveis. Todo pintado da cor bege com detalhes em bronze e um grande letreiro com o nome da escola.
O prédio a esquerda da entrada era menor, mais quadrado, pintado de um tom de amarelo claro, tinha três andares visíveis, e inúmeras janelinhas. O último prédio, à direita e um pouco mais afastado era azul, com o telhado arredondado, parecia ser um ginásio ou algo do tipo, já que era todo fechado.
Ao pararmos no grande portão de bronze um guarda que estava dentro da guarita apareceu na janelinha.
― Pois não, o que desejam? ― Perguntou olhando em minha direção.
― Sou uma nova aluna, meu nome é Rachel Berry ― informei. Ele pegou uma prancheta na mão e começou a vasculhar, na certa procurando meu nome.
― É claro Srta. Berry,Madame Phisman está aguardando sua chegada. Pode seguir direto para o prédio central, vou avisar que chegou assim ela irá recebe - lá ― Ele disse enquanto apertava um botão e o grande portão começava a se abrir. Em seguida pegou um telefone e discou rapidamente, quando estávamos atravessando o portão ele começou a falar com a pessoa do outro lado.
O caminho que levava até os prédios era todo pavimentado, ladeado por canteiros lotados de flores lindas que teriam feito Papa Tony abrir um grande sorriso e se embrenhar no meio delas. O taxista foi andando devagar, como que para me deixar analisar o local.
Eu conseguia ver que logo atrás do prédio azul havia um pequeno prédio que parecia ser uma igreja, com certeza, sabendo que a dirigente da escola havia sido freira juntamente com Mãe Syra, ela ainda deveria ter uma grande devoção.
Todos os prédios eram bem conservados e demonstravam que a Academia era uma instituição muito bem frequentada, mas eu não avistara nenhum aluno. Talvez estivessem em horário de aula ainda.
Chegando a frente do grande prédio central o taxista parou, bem quando uma senhora de meia idade vinha descendo os degraus de entrada. Ela era uma mulher muito conservada pela idade que tinha, segundo Mãe Syra ela deveria ter em torno de 50 anos, mas aparentava uns 40 no máximo, uma pele azeitonada com imensos olhos azuis, que me lembravam o céu logo após a chuva, claros e límpidos, vestia-se sobriamente e mantinha os cabelos pretos presos em um coque baixo.
Desci do carro enquanto o taxista pegava minha mala. Paguei a corrida e virei para a diretora da Academia.
― Rachel, enfim você chegou. Estava ansiosa para conhece - lá, Irmã Syra falou tanto de você que sinto como se já a conhecesse ― Sua voz era melodiosa, calma, não conseguia imaginar essa mulher gritando com alguém.
― Eu gostaria de agradece – lá Sra. Phisman, pela oportunidade que me ofereceu, é muito importante para mim, conseguir essa bolsa de estudos – agradeci meio sem jeito com a sinceridade exprimida por ela.
― Que isso minha querida, não precisa agradecer, esta Academia esta aqui para encontrar talentos e encaminhá-los, você pelo que eu soube tem um grande dom, espero que aqui possa encontrar um caminho também ― Ela se aproximou e me abraçou, quase tão ternamente como Mãe Syra.
― E não precisa de tanta formalidade, quando estivermos juntas me chame só de Irmã Lizbeth certo?
― Certo Irmã Lizbeth, então me chame só de Rae,Rachel é para quando estão bravos comigo ― ela se afastou rindo ― tudo aqui é tão bonito, há tantas flores e árvores ― disse observando ao redor para disfarçar minha timidez.
― Sim é verdade, eu amo a natureza e faço o possível para preservar a mata que existia aqui antes da escola, ao fundo, depois dos prédios há uma parte da floresta intacta ― ela me contou apontando para trás do grande prédio central. ― Você terá oportunidade de conhecer tudo nos fins de semana e nas suas horas vagas, agora se você puder me acompanhar vou levá-la ao seu novo quarto.
Eu concordei e segui-a em direção ao prédio quadrado amarelo.
― Este é o prédio dos dormitórios, todos os alunos e funcionários dormem neste prédio, somente eu e os professores dormimos no prédio central, nossos aposentos ficam conjuntos a nossa respectiva sala ― informou ela enquanto caminhávamos.
― Quantas pessoas dividem os quartos? ― por estar acostumada a dividir
o meu não me importava muito, mas queria saber quantas pessoas iria conhecer de imediato.
― Somente duas, querida, você dormirá com mais uma jovem, que já se encontra aqui, pois nossas vagas estão todas preenchidas agora, só havia mais um lugar vago e é onde você ficará. Espero que você se dê bem com Santana ela é meio temperamental, mas é uma exímia cantora, a música geralmente a acalma ― ela pareceu ficar meio sem graça com ter que falar na garota. ― Irmã Syra disse que você tem uma grande percepção quanto às pessoas, tenho certeza que saberá se relacionar com ela, e com todos aqui, você verá que assim como temos todos os tipos de aptidões nos também temos todos os tipos de personalidade.
― Eu imagino que sim, aprendi a lidar com essas diferenças no orfanato, acredito que não terei problemas aqui ― comecei a imaginar o tipo de gente que iria conhecer aqui.
― Nossos alunos vêm de diferentes classes sociais, mas a maioria tem boas condições financeiras, e possuem digamos, um pensamento um tanto quanto equivocado sobre o que é realmente importante na vida, mas como nós estamos aqui para direcioná-los em suas carreiras, não podemos mudar personalidades. ― Mais uma vez ela se mostrava sem graça, imaginei que ela tivesse problemas com alguns alunos.
― Compreendo, deve ser difícil para a Senhora lidar com tantos jovens e seus temperamentos em ebulição todos os dias ― Eu entendia porque era exatamente assim no orfanato, só que em uma escala menor.
― Sim, é realmente difícil, mas fazemos o possível para passar uma idéia correta a todos, do que é certo e errado, e tentamos ao máximo evitar situações vexatórias aos outros alunos, mas eu sinto dizer que é provável que você se depare com alguns preconceitos, se isso acontecer não se acanhe em me informar, por favor. ― Percebi que ela estava me avisando de possíveis dificuldades à frente.
― Não se preocupe Irmã Lizbeth, eu sei muito bem lidar com situações complicadas ― tranquilizei-a. Ela pareceu respirar mais levemente, mas ainda mantinha a expressão preocupada.
― Eu sei que você saberá sair destas complicações se elas aparecerem, Irmã Syra me informou que você também sabe se defender ― ela parecia rir-se de alguma coisa que eu não entendi.
― Sim, é verdade, espero não ter que chegar a tanto, pode ficar tranquila Irmã Lizbeth vou me esforçar para me dar bem na Academia.
Ela sorriu para mim, mostrando dentes perfeitamente alinhados e brancos. Chegamos à frente do prédio e adentramos a porta grande de madeira maciça.
Me deparei com a maior sala que já vi em toda a minha vida, provavelmente devia pegar metade do prédio, com muitas poltronas, sofás, pufs, tapetes, televisões, computadores, mesas de jogos, refrigeradores, mesinhas, estantes e diversos ornamentos.
O interior do aposento estava organizado e limpo, nos sofás havia almofadas bonitas e fofas, as poltronas estavam agrupadas próximas em grupos, algumas perto das televisões outras perto dos computadores, tudo muito bonito misturando peças antigas com a modernidade dos aparelhos.
― Uau, quanta coisa ― fiquei boquiaberta com a profusão de cores e a diversidade das coisas.
― Aqui é a chamada sala comunal, onde todos os alunos passam seu tempo livre, você pode aproveitar tudo o que tem sempre que quiser ― Irmã Lizbeth me deu um tempo para absorver tudo e disse ― Vamos querida, os quartos ficam lá em cima.
― Oh sim, claro ― Parei de admirar as coisas da sala e segui Irmã Lizbeth pela lateral do aposento, no qual havia outra porta de madeira, entramos e começamos a subir a escada de mármore que havia ali. Rumo ao começo da minha nova vida.
