Resumo: Quando Jensen Ackles encontrou Jared Padalecki em um hospital com corpo e mente quebrados e desejando desesperadamente a morte, seu coração exigiu que ele o salvasse. Mesmo que para isso ele tivesse que transformar o homem numa máquina de matar.

Aviso 1: Essa fic é uma padackles, mas é baseada em GunslingerGirls, um anime super foda que eu simplesmente amo. Para quem já assistiu esse anime será fácil identificar o José e a Henrietta em Jensen e Jared, mas a relação deles será muito mais profunda que a das personagens de GunsligerGirls. Afinal, José e Henrietta têm uma relação de irmãos mesmo (ao menos até onde assisti), mas Jensen e Jared irão além disso. Apenas o contexto da fic e o início estão baseados no anime. Pretendo seguir por um rumo independente muito em breve. Para quem não assistiu esse anime, se tiver oportunidade, assista. Ele é muito bom e você derramará muitas lágrimas.

Aviso 2: Essa é uma fic com conteúdo homoerótico. Isso mesmo. Pegação entre homens. Ela também contêm cenas de violência, tortura, linguagem chula, sexo e outras coisas que devo pensar no caminho.

Aviso 3: Não defini direito quem será o ativo ou quem será o passivo nessa fic. Minha tendência é sempre deixar o Jensen por baixo, mas nessa fic as coisas não são tão simples assim. Lendo o primeiro capítulo vocês vão entender o porquê. Então, se você tem uma ideia sobre as posições, estou aceitando sugestões. Mas não vale dizer simplesmente "Jared por cima" ou vice e versa sem uma justificativa baseada na fic, ok?

Exemplo: Em The World Jensen fica sempre por baixo (mas isso pode mudar futuramente) por que sendo o alfa Jared sempre deve star no topo.

I

O Oscurare era um pub pouco freqüentado. Não por que sua aparência não fosse convidativa, apesar do nome, ou por que seus freqüentadores não fossem atraentes. O que acontecia era que o Oscurare tinha como clientela padrão a máfia italiana. Todos do bairro sabiam disso, a polícia sabia disso, mas não havia como pôr as mãos nos mafiosos, pois suas teias de influência se estendiam até a câmara de vereadores, à prefeitura e as várias secretarias do estado. Ninguém podia deter os Maffeo. Eles eram tão ricos e influentes que a lei simplesmente não se aplicava a eles.

Mariano Maffeo, o jovem chefe da família e da máfia, havia assumido sua posição após seu pai ter sucumbido a um ataque cardíaco. Alguns diziam que o ataque, na verdade, fora um veneno dado pelo filho que não podia esperar até que a morte levasse o pai naturalmente para assumir os negócios da família. Alguns falavam de uma testemunha. A namorada do velho Meffeu. Mas a moça sumira. Desaparecera no ar. Ninguém nunca mais ouviu falar dela. Talvez Tonio Maffeo, sobrinho mais novo do velho e capacho do novo chefe da família, a tivesse silenciado. Mas muitos diziam que ela ainda estava viva. Tonio a mantinha em algum lugar.

Se isso era verdade ou não, pouco importava a maioria dos freqüentadores do Oscurare naquela noite. Tonio estava em seu lugar de sempre, um reservado no fundo do bar. Seus homens se espalhavam por todo o local. Além da máfia havia ali alguns clientes novos que ainda não haviam se dado conta do tipo de lugar que escolheram para beber. Tonio bebia tranquilamente sua taça de Vermute quando um homem loiro, cerca de 1, 85 m, na casa dos trinta anos, olhos verdes profundos, sentou-se sem ser convidado na cadeira vaga à sua frente. Tonio olhou feio para ele.

– Boa noite, Sr. Maffeo. Eu sou Steve Grey. – O homem lhe estendeu um cartão que Tonio não pegou. – Sou repórter do Independence e gostaria de umas palavrinhas suas sobre a morte de seu tio e sobre as acusações de envenenamento. É verdade que há uma testemunha? –Tonio estalou os dedos e um homem forte trajando um terno fino se postou as costas do homem. Steve Grey olhou para trás, mas pareceu não se intimidar. – Eu só preciso de umas três frases... – Ele insistiu.

– Três palavras. – Tonio disse levantando o dedo do meio. – Vá se ferrar!

O guarda-costas de Tonio puxou Grey pelo colarinho e começou a arrastá-lo pelo bar em direção à saída. Várias pessoas observavam a cena. Os mafiosos olhavam aquilo com morno interesse, já os freqüentadores menos habituais se espantavam com a violência bem diante de seus olhos. No balcão um homem alto, cabelos na altura dos ombros, olhos castanhos esverdeados, trajando jeans e jaqueta de couro, com um estojo de violão encostado ao lado, assistia pelo canto dos olhos o homem ser arrastado.

– Espere um pouco, colega. – Grey pedia ao ser empurrado com toda brutalidade. – Eu só estou fazendo o meu trabalho...

– E eu o meu. – Disse o guarda-costas. – Agora cai fora antes que eu estrague esse seu rostinho bonito.

O homem alto e forte continuou empurrando Grey, mas quando o repórter deu mostras de não estar muito disposto a sair, o guarda-costas preparou-se para lhe dar um soco na cara que nunca veio. Ele não ouviu os passos atrás de si e certamente só sentiu que estava sendo atacado quando o estojo do violão acertou com força sua cabeça por trás. Ele caiu inconsciente no chão. Os outros mafiosos mal se deram conta do que estava acontecendo antes do homem alto de cabelos compridos abrir o estojo, tirar de dentro dele uma Uzi e começar a atirar. Houve gritos, correria, troca de tiro intensa e corpos caindo no chão. O repórter se abrigou no canto do bar atrás de uma mesa. Muitos clientes fizeram o mesmo, mas os mafiosos responderam fogo com fogo. Suas armas eram menores, mas eles esperavam que em conjunto elas fossem mais eficazes que a Uzi. Ledo engano. Quando três disparos atingiram o braço que o homem usava para defender o rosto, ao invés de cair no chão gritando de dor, ele apenas tirou o braço da frente de seus olhos e disparou nova saraivada de balas.

Os mafiosos iam caindo um a um enquanto o homem atirava e avançava em direção ao fundo do bar. Encolhido atrás da mesa do último reservado, Tonio sacou uma arma e esperou que o homem se aproximasse para sair de seu esconderijo e atirar. Três balas atingiram seu peito, mas o homem não caiu. Ele sequer deu mostras de estar sentindo dor. Tonio nem teve tempo de se espantar direito com a situação, pois logo o homem disparava e seu corpo sem vida batia com um enorme estrondo contra a parede e deslizava até o chão.

O repórter saiu do seu esconderijo ajeitando a gravata e olhando a bagunça ao seu redor. Todos os sete mafiosos do local estavam mortos. Alguns civis haviam sido atingidos também. As mesas estavam viradas, as garrafas e os vidros do bar estavam quebrados. Havia sangue para todos os lados. Grey caminhou até o homem alto que segurava a Uzi contra o peito e olhava de cabeça baixa para o corpo sem vida de Tonio Maffeo, como se sentisse vergonha pelos seus atos.

– Agora você conseguiu estragar tudo, Jay. – O suposto repórter disse tirando o celular do bolso e realizando uma ligação. – Águia Dourada, aqui é o Falcão. Nós falhamos. Jay perdeu a cabeça e disparou. Não conseguimos confirmar a localização da testemunha.

– Entendido, Falcão. – Uma mulher respondeu. – Saia daí. Mandaremos uma equipe de limpeza.

– Entendido. – O homem guardou o celular no bolso e passou a mão pelo rosto para limpar o suor. – Nossas ordens eram para verificar as suspeitas de que a testemunha estava sendo mantida aqui. Não era para atacar sem ter certeza. O que deu em você, Jay?

– Sinto muito, Jensen. – Jay disse apertando a arma ainda mais contra o peito. – Ele estava machucando você, então...

– Então? – Jensen olhou com apreensão para Jay. O homem apenas baixou mais a cabeça assumindo uma postura frágil que não condizia com seu tamanho, mas que fazia o coração de Jensen balançar. – Você se feriu muito? – Jensen observava o sangue escorrendo do peito e dos braços de Jay. – Quando voltarmos, deixe os médicos darem uma olhada em você.

Jensen se dirigiu a saída com Jay logo atrás. Havia um furgão da Floricultura Belle na porta do bar. Jensen e Jay entraram na parte de trás onde havia assentos confortáveis. Assim que fecharam as portas, o furgão disparou para longe dali. Jensen se recostou no assento e afrouxou a gravata. Jay, ao seu lado, não falava nada. Sua cabeça continuava baixa fazendo seus cabelos cobrirem seu rosto como se ele estivesse escondendo as lágrimas. Jensen suspirou. Talvez ter sido gentil demais com Jay fora realmente um erro como Josh não cansava de dizer. Mas como não ser gentil com um homem que já havia sofrido tanto?

II

Os olhos castanhos esverdeados do homem estavam sem foco, perdidos para além da paisagem da janela. A expressão em seu rosto era vazia, quase como se ele não passasse de um boneco de cera. Jensen releu sua ficha novamente.

A esposa e o filho haviam sido brutalmente assassinados em sua frente. Ele fora impiedosamente espancado e largado quase morto. Havia tido cinco costelas quebradas com fraturas expostas, uma mão tão cruelmente pisoteada que os ossos haviam sido esmigalhados em alguns pontos e não poderiam ser recuperados. Alguns dedos dos pés e das mãos haviam sido arrancados. Também tinha uma perfuração profunda na coluna que comprometera permanentemente o movimento de suas pernas. Havia uma lesão grave na cabeça e o rosto fora desfigurado. Era de se espantar que ele ainda estivesse vivo. Na verdade, o que o salvara fora o fato de parecer não estar mais vivo. Seus agressores foram embora achando que haviam matado a família toda.

Apesar de seu corpo ter sido brutalmente judiado, os danos maiores que sofrera foram emocionais. Após as brutalidades feitas com sua família sem que ele pudesse fazer o que quer que fosse para salvá-la, Jared se fechara dentro de sua mente. Jared não comia, não procurava se recuperar ou mesmo se mover. As únicas palavras que saiam de sua boca eram: "Me deixem morrer."

– Então, Jensen, por quantos outros hospitais vamos ter que passar? – Josh perguntou. – Esse daí parece não ser muito apropriado. Aquele do outro hospital era mais viável. Estava menos estragado.

– Menos estragado... – Jensen repetiu. Para Josh era apenas a escolha de um instrumento, para Jensen não era bem assim. Aquela era a oportunidade de salvar alguém. Alguém que só via a morte pela frente. – Ele não se lembrará de nada?

– Nada. – Josh afirmou.

– Vou ficar com ele. – Jensen devolveu a ficha ao irmão. – Quando poderei levar o Jared?

– Esqueça o nome Jared. – Josh disse. – Escolha um novo nome para ele.

– Por que ele não pode ficar com o mesmo nome?

– São as regras. – Josh foi seco.

– Certo. – Jensen voltou a olhar para o homem na sala de exames separada do corredor onde estavam por um vidro grosso. – Jay.

– Não é muito diferente, mas deve servir. – Josh disse se afastando para tomar as providências necessárias.

Jensen voltou a se concentrar no homem quebrado na sala de exames. Algo em Jared mexia com Jensen e despertava nele seu instinto protetor. Se pudesse apagar daqueles bonitos olhos castanhos toda aquela dor, então se daria por satisfeito. Dali para frente, Jared faria coisas horríveis, mas não se importaria com isso. Não se importaria com nada além de Jensen, seu irmão mais velho, seu grande fratello dali para frente. Em compensação, Jared não se lembraria das coisas horríveis pelas quais passara. Na verdade, não se lembraria nem das coisas boas. Todo o seu passado seria apagado. Não haveria mais dor, mas também não haveria mais felicidade.

– Você ficará bem. – Jensen sussurrou para o homem separado dele por um vidro.

Sem saber que sua vida mudaria para sempre e que sua dor ficaria para trás, tudo o que Jared desejava era a morte. De certa forma, dali para frente não existiria mais Jared. Ele estaria morto. Dali para frente ele seria Jay e viveria unicamente para atender as ordens de Jensen.

III

Jensen se encaminhou para a sala de repouso dos pacientes da Welfare Association, a WA. Jay já havia passado pela cirurgia que substituíra todos os seus membros por partes geneticamente modificadas e fortalecidas com um tipo de metal leve e extremamente resistente. Ele havia sido condicionado por uma semana e todas as suas lembranças tinham sido apagadas. Quando Jensen entrou no quarto, ele ainda estava deitado, mas se sentou na cama assim que o escutou. Seu olhar estava vazio.

– Meu nome é Jensen Ackles. – Jensen se apresentou como seu irmão o havia instruído. – Sou seu grande fratello, irmão mais velho. – Jared voltou os olhos para ele, mas não fez nenhum comentário ou deu qualquer sinal de estar escutando. – Você é Jay. – Jensen disse se aproximando de Jared. Os olhos do homem o acompanhavam. Jensen parou junto à mesa a cabeceira de Jared e tirou uma pistola do bolso. Os olhos de Jared se concentraram na arma. Jensen, então, a desmontou e voltou a montá-la. – Você tem que saber montar e desmontar essa arma. – Disse colocando-a sobre a mesa. – Pratique.

Ao dizer isso, Jensen saiu do quarto. Ele havia sido a primeira pessoa com a qual Jared tivera contato após o condicionamento. Isso o tornava o alicerce dele. Jared, ou Jay, faria tudo o que Jensen mandasse.

Encontrou-se com seu irmão na cafeteria. Chad, seu fratello minore, estava sentado ao seu lado. Josh tomava apenas um café puro, enquanto Chad comia uma rosquinha e tomava um cappuccino. Jensen se sentou a frente deles.

– Como foi? – Josh perguntou.

– Estranho. – Jensen confessou.

– Você se acostuma. – Josh deu de ombros.

– O condicionamento e os implantes diminuem a expectativa de vida de nossos fratellos. – Jensen comentou. – Me pergunto por quanto tempo ele ficará bem... – Jensen deixou escapar.

– Quem se importa com isso? – Josh tomou um gole de café. – Quando ele não for mais útil, basta escolher outro. Sempre existem caras arrebentados nos hospitais de toda parte.

– É. Sempre existem... – Mas Jensen não queria outro fratello. Escolhera Jared por que queria salvá-lo, queria tirar de seus olhos àquela dor.

– Amanhã começam os treinos dele. – Josh informou. – Daqui a uma semana, quando ele já estiver treinado e acostumado com seu novo corpo, Jay passará a dividir o quarto com o Chad.

– Certo. – Os olhos de Jensen se concentraram no homem loiro de olhos azuis que comia uma rosquinha distraidamente ao lado de seu irmão. Havia um hematoma pouco acima de sua sobrancelha esquerda. Josh e Chad não haviam saído em nenhuma missão nos últimos dias, então, aquele hematoma fora feito por... – Tem alguma previsão de quando vamos sair numa missão?

– A agência está com poucos fratellos. – Josh disse. – Provavelmente assim que julgarem Jay preparado o bastante, devem enviar vocês.

– Certo.

– Não se preocupe. – Josh disse num tom reconfortante que ele reservava somente para Jensen. – Tentarei estar com você em sua primeira missão com seu fratello.

– Obrigado.

Jensen se levantou e saiu da cafeteria. Sabia que Josh estava tentando ajudá-lo, mas detestava aquele protecionismo do irmão. Desde que seus pais morreram, Josh cuidara dele e Jensen era grato por isso, mas a dedicação de Josh algumas vezes o tirava do sério. Voltou para o seu quarto e tentou dormir. Foi difícil. A cabeça estava cheia de informações que ele precisava guardar e ainda imagens de Jared. Jensen se perguntava se o homem finalmente havia conseguido dormir sem ter pesadelos com o que lhe acontecera.

– Você vai ficar bem. – Sussurrou para alguém que não estava ali.

II

WA. Walfere Association foi fundada em Washington há menos de um ano. O modelo fora copiado de um programa parecido na Itália. O procedimento era simples. Pessoas debilitadas fisicamente e mentalmente por lesões graves e traumas profundos eram levados a esse centro onde recebia tratamento médico e apóio sócio psicológico. Cada pessoa no Centro recebia um grande fratello, um irmão mais velho, que era um assistente social que acompanharia seu caso e contribuiria para sua recuperação emocional enquanto seu corpo era tratado. O programa era experimental, mas já contava com ao menos quatro pacientes. Essa era a história pública da WA.

Porém nos arquivos secretos do Governo, a WA estava entre os programas militares experimentais. Homens com o corpo e a mente extremamente debilitados eram levados a esse centro onde tinham quase todas as partes do seu corpo substituídas por membros geneticamente modificados e fortalecidos com um poderoso tipo de metal recém-desenvolvido. Suas memórias eram apagadas e eles entravam em um condicionamento que os transformavam em instrumentos mortais nas mãos de seus fratellos.

Jared Tristan Padalecki, um jovem funcionário público casado há três anos com uma dentista e pai de um garotinho de dois anos, foi vítima de um grupo mafioso. Jared havia sido procurado uma semana antes por um homem que se dizia o intermediário da máfia. Jared deveria dar um sumiço numa papelada referente a um processo contra o mafioso ou ele e sua família pagariam caro. Jared se negou. Como o bom cidadão que era, denunciou a ameaça às autoridades. A polícia assegurou que ele e a família dele estariam em segurança. Mas numa noite sua casa foi invadida por homens armados e o policial que tão prontamente o tranquilizara estava entre eles.

Jared e sua família foram torturados por horas. Os mafiosos fizeram questão de manter Jared vivo até que sua família morresse. Mas eles não mataram a mulher e o filho de Jared imediatamente. Eles os torturaram lentamente. A mulher e a criança gritaram desesperados durante quase a noite inteira. Quando eles já não tinham mais como gritar, suas línguas arrancadas as traquéias muito lesionadas, Jared chegou ao ponto de implorar que matassem logo sua mulher e seu filho. Só depois que sua família estava morta é que as torturas começaram de verdade para Jared. Se ele achava que a mulher e a criança haviam sofrido, ele não fazia idéia do que o aguardava. Mas ele sobrevivera, porém em um estado lamentável. Sua recuperação era impossível, porém a WA pediu permissão aos pais dele para ingressá-lo no programa. Sem ter esperanças e achando que qualquer mínima melhoria seria um milagre, seus pais concordaram. Agora Jared pertencia legalmente a WA. Agora Jared era uma arma do governo americano.

IV

Jensen acordou cedo e foi ver como Jared, não, Jay, estava. Assim que entrou no quarto o viu sentado à mesa montando e desmontando a arma. A cama estava arrumada e ele vestia o mesmo pijama que usara na noite anterior.

– Você dormiu? – Jensen perguntou.

– Não. – A resposta de Jared foi seca.

– Por que não?

– Por que você me mandou praticar.

Jensen o estudou. O homem continuava a montar e desmontar a pistola com movimentos mecânicos e monótonos. Parecia mais um daqueles andróides sem emoções que costumam aparecer em filmes. Quando Jensen o salvou, não esperava que o transformassem naquilo.

– Largue isso. – Jensen tomou a arma de suas mãos. – Vá dormir.

Ao dizer isso, Jensen saiu do quarto. Não tinha experiência com aquele tipo de situação. Se fosse necessário dar cada ordem detalhadamente, a convivência entre eles seria bem difícil. Encontrou-se com Kurt Fuller, outro assistente social da WA, e o deixou a par de suas dúvidas. Os dois estavam sentados em um dos pátios da ala norte da WA.

– No começo é mesmo assim. – Kurt dizia enquanto acendia um cigarro. – Depois com o tempo ele se acostuma com seu jeito e suas ordens.

– É, mas é muito estranho vê-lo agindo como uma máquina.

– Mas é isso o que ele é. – Kurt tragou. – Ou quase é. – Kurt soprou a fumaça para longe e se levantou. – Acho que vocês dois precisam se acostumar um com o outro. Depois do treinamento de hoje à tarde, leve-o para jantar em algum lugar. Quebrar o gelo, sabe...?

– Jantar? – Jensen refletiu sobre isso. Seu irmão, Josh, tratava Chad como se ele fosse apenas um instrumento de trabalho, uma arma, mas os dois sempre comiam junto. – Farei isso.

V

Jay abriu os olhos e encontrou-se novamente sozinho. Ele sentou-se na cama e se perguntou se já havia dormido o bastante. Jensen lhe dissera para dormir, mas não disse por quanto tempo. Havia uma jarra com água e um copo na mesa ao lado de sua cama. Jay não sabia se podia tomar da água ou não. Jensen não havia dito nada. Mas estava com sede. Timidamente estendeu o braço e apanhou a jarra e o copo. Estava enchendo o copo quando a porta de seu quarto foi aberta. Seus instintos o deixaram prontamente alerta, porém ele relaxou ao reconhecer Jensen.

– Você dormiu? – Jensen perguntou novamente.

– Sim. Eu dormi.

– Ótimo. – Jensen ficou um tempo apenas o observando. – Tome sua água. – Jay obedeceu. – Essa água é sua. Beba sempre que estiver com sede. Você não precisa da minha autorização para fazer cada coisinha mínima. Você pode ir ao banheiro, comer e beber sempre que desejar, desde que isso não interrompa os treinamentos e as missões. Entendeu?

– Eu entendi, Jensen.

– Ótimo. – Jensen enfiou as mãos no bolso. – Ainda está com sede?

– Não.

– Então se vista e vamos para o treinamento.

Jay se levantou e foi até o armário. Havia muitas roupas ali, mas ele não sabia o que vestir. Seus instintos o mandaram escolher calça moletom, camiseta e tênis. Jay se trocou na frente de Jensen. Ele pareceu não se importar.

– Estou pronto. – Anunciou.

– Então vamos.

O treinamento consistia em disparar contra alvos de papel em forma de pessoas. Cada ponto do corpo do boneco de papel tinha um número e Jensen o mandava atirar em números diferentes. Toda vez que Jay acertava, Jensen dizia: "Muito bem." Isso causava uma estranha sensação de conforto em Jay que buscava acertar cada vez mais para que Jensen dissesse aquilo outras vezes.

Ao fim do treino. Jensen levou para ele uma latinha de refrigerante. Jay tomou-a e ficou sentado ao lado de Jensen em um dos pátios. Só a sensação de ter Jensen ao seu lado já o fazia se sentir bem.

– Jay, volte para o seu quarto, tome um banho e se vista para sair. – Jensen disse. – Irei buscá-lo mais tarde.

Jay obedeceu. Quando já estava pronto, usando um dos muitos ternos de seu armário e sapato social, Jensen entrou em seu quarto.

– Vamos.

Foram jantar em um restaurante italiano. Enquanto Jensen comia, Jay prestava atenção aos mínimos movimentos que ele fazia. Tudo em Jensen parecia extremamente fascinante, quase hipnotizante. Seus olhos verdes que brilhavam quando ele sorria, os lábios carnudos que se fechavam sensualmente em torno do garfo quando ele comia, a pele salpicada de sarda que ficava rubra toda vez que ele apanhava Jay o olhando fixamente, tudo em Jensen o fascinava.

– Você não deve olhar assim para um homem? – Jensen disse. – É indelicado.

– Desculpe. – Jay baixou seu olhar para a lasanha que comia.

– Você deve aprender a se comportar com naturalidade fora da Wa. – Jensen o instruía. – Faremos muitos trabalhos disfarçados, então é necessário que você saiba representar seu papel.

– Sim, Jensen. – Jay tentava guardar cada mínima instrução. Faria tudo o que Jensen mandasse se isso o fizesse feliz.

– Jay, olhe para mim. – Jensen pediu. Jay levantou o rosto e olhou nos olhos verdes de seu fratello. Jensen sorriu fazendo o coração de Jay bater mais forte. – Sorria para mim. Você fica mais bonito quando sorri.

Jay sorriu, mas não exatamente por que Jensen pedira. Jay sorrira por que Jensen dissera que ele ficava mais bonito assim. Então Jensen o achava bonito. Se pudesse, Jay manteria Jensen olhando sempre para ele. Sentia um aperto no peito toda vez que Jensen se afastava ou ao menos tirava sua atenção dele até mesmo para conversar com o garçom. Jay tinha necessidade de fazer com que Jensen gostasse dele e passasse mais tempo com ele.

– Jensen, se eu aprender todas as coisas que está me ensinando, iremos passar mais tempo juntos? – Jay perguntou sentindo o coração bater forte na expectativa da resposta. Jensen sorriu.

– Você gostaria disso?

– Sim. Eu gostaria.

– Então se esforce para aprender. – Jensen lhe disse. – Quando você estiver pronto, seremos mandados em missões. Aí passaremos muito tempo juntos.

Jay sorriu. Era tudo o que queria. Passar mais tempo junto de Jensen. Faria todo o possível para isso.

VII

Jay sentia seu coração se apertar dentro do peito. Já havia passado pelos médicos e tivera as partes danificadas de seu corpo substituídas por outras. Agora passaria um tempo sem sair para missões até que os superiores de Jensen tivessem certeza de que ele não iria perder a cabeça de novo. Isso significava que Jay ficaria um longo tempo distante de Jensen.

– Já está melhor? – Chad perguntou do beliche de cima assim que Jay entrou no quarto que dividiam.

– Não sinto mais dor. – Jay disse indo se sentar a mesinha redonda no centro do quarto. Chad pulou do beliche e foi se sentar ao seu lado.

– Não fique triste. – Chad disse colocando a mão em seu ombro. – Foi só sua primeira missão.

– E eu falhei. – Jay disse emburrado.

– No fim das contas, a testemunha foi encontrada. – Chad tentou consolá-lo.

– É, mas foram Kurt e Misha quem a encontraram.

– Tudo bem. – Chad deu de ombros. – Eles são um fratello mais experiente. Já estão acostumados a esse tipo de trabalho. Mas sei que no início o Misha também cometeu alguns erros.

– É, mas você não. – Jay olhou invejosamente para Chad. – Como você consegue nunca falhar.

– Simples. – Chad sorriu com descaso. – Meu condicionamento é bem mais forte que o de vocês. Quando Josh me dá uma ordem eu não fico pensando a respeito, apenas cumpro.

– Então, se meu condicionamento fosse aumentado, eu atenderia melhor às necessidades do Jensen? – Jay perguntou esperançoso.

– Jensen nunca faria isso. – Chad gesticulou para que Jay esquecesse o assunto.

– Por que você acha isso?

– Por que ele gosta de você. – Chad explicou. – Quanto mais forte o condicionamento, menos humanos nós somos e mais parecidos como bonecos sem sentimentos ficamos. Como marionetes mecanizadas.

– Mas você... – Jay estava em dúvida sobre as palavras de Chad. O companheiro de quarto não parecia um boneco sem sentimentos.

– Eu sou o instrumento de trabalho de Josh. Nada mais. – Chad deu de ombros. – Eu estou sempre de bom humor e sorrindo por que o Josh me mandou ser assim. – Chad voltou a sorrir. – Apenas cumprindo ordens...

Jay estudou o colega por um instante. Não sabia dizer se gostava de Chad ou não, mas certamente não o detestava. Chad era agradável e sempre lhe ajudava como podia. Uma dúvida surgiu.

– Você têm me ensinado e ajudado por que o Josh mandou?

– Agora você entendeu. – Chad deu um peteleco na testa de Jay. – Acredite, o Jensen não é do tipo que te manteria assim.

Chad se levantou e voltou para sua cama. Jay ficou mais um tempo refletindo sobre as palavras de Chad. Jensen gostava dele. Gostava o bastante para não querê-lo como um boneco sem sentimentos.

VIII

– Não. – Jensen disse com firmeza.

– Como acha que confiaremos outra missão a vocês correndo o risco de Jay surtar de novo? – Josh perguntou. – Aumente o condicionamento dele.

– Não. – Jensen simplesmente não podia fazer isso. Se aumentasse o condicionamento, Jay se tornaria uma simples arma de matar. Seu sorriso doce e sincero morreria. Isso Jensen não queria. Não o salvara para isso.

– Jensen, aumente o condicionamento do Jay ou eu vou tirá-lo da WA.

Jensen engoliu em seco. Seu irmão tiraria Jay dele?