Nome: Não Podem Nos Matar
Resumo: Rose é uma agente secreta que foi designada a missão de proteger o bilionário Scorpius Malfoy, infiltrada como sua secretária e assistente nas Indústrias Malfoy há mais de oito anos. A empresa é responsável pelas maiores criações de armas militares da Europa, mas quando os produtos começam a ser desejados pelas mãos erradas, Rose precisará agir o tempo todo, e esconder sua verdadeira identidade ficará cada vez mais difícil.
Notas: Levemente inspirada na história por trás de Iron Man, só que sem Iron Man. Título (e clima) inspirado na música "Can't Kill Us" do The Glitch Mob. Espero que gostem e se divirtam!


CAPÍTULO UM: VIAGEM A NEGÓCIOS

As estatísticas apontam que de nove em dez casos, duas pessoas que trabalham juntas eventualmente irão se apaixonar. Eu e Scorpius Malfoy somos o décimo caso, o caso improvável.

Claro, Scorpius era profissional. Tirando a parte do playboy insuportavelmente sofisticado, arrogante e, naquele instante, sentado no sofá do seu jatinho particular com duas aeromoças em seus braços, o álcool ao gargalo dos copos de vidros.

– O que eu estou querendo dizer – ele contava para as duas moças como se fosse algo extremamente sério e relevante – é que não há segredo entre nós, Suzana.

– Meu nome não é Suzana, na verdade.

– Não, não é. Mas as duas serão Suzana por hoje. É mais fácil de lembrar. A viagem vai ser longa.

Claramente Scorpius conseguiu convencer as duas aeromoças a se juntarem com ele nas bebidas e na música, porque elas sorriram e aceitaram. Pelo visto ser inteligente não importa muito quando se tem álcool no organismo. Eu fiquei movendo os dedos nas teclas do notebook, mesmo sendo tentador dividir várias taças de whiskys naquelas condições extremas de preocupação e alerta quando estamos há quilômetros de distância acima do oceano.

Eu, por outro lado, era extremamente profissional. Como sua assistente secretária responsável por basicamente todas as obrigações dele. Eu atendia suas ligações, eu o lembrava de assinar papéis, eu agendava todas as conferências, eu dizia o que ele deveria fazer, se deveria fazer, quando deveria fazer. Até mesmo a cor da sua gravata eu o ajudava a escolher. E isso durante vários anos, uma quantidade de tempo suficiente para que eu admitisse já estar bastante acostumada com o jeito dele. Eu me incomodei no começo, mas ele nunca fez o trabalho ser chato.

– Alguém aqui não está se divertindo, como sempre – ele apontou em um tom acusador. Eu ocupava a poltrona a frente deles, mas não os assistia tagarelando porque o laptop conseguia tampar a visão deles. Infelizmente, não tampava meus ouvidos.

Scorpius afastou os braços de suas novas melhores amigas para se inclinar até mim e fechar o laptop. Sua expressão era de reprovação.

Falamos ao mesmo tempo:

– Eu estava completando o download dos seus arquivos para o Ministro e agora vou ter que começar tudo de novo, o que pode demorar mais vinte e quatro horas, muito obrigada, Scorpius.

– Está me ofendendo com o seu profissionalismo, por que não vem se divertir um pouco, srta. Weasley? – A última frase que deu para escutar no nosso atropelamento de palavras: – Já sei, tem medo de avião.

Girei os olhos.

– Não sou eu quem grita feito uma menininha quando temos uma turbulência, Scorpius – eu acusei, abrindo um canto dos meus lábios depois de soltar a provocação. Isso pareceu ter alfinetado ele, mas acabou sorrindo também.

– Viu? Não é difícil ser gente uma vez ou outra.

– O que está insinuando? Alguém aqui tem que continuar sóbrio, e não só o piloto do avião.

– Estou insinuando que você parece um robô. Tem certeza de que não é? – ele se aproximou abruptamente. Eu tinha um reflexo admirável, mas sobressaltei quando ele apertou meu pulso para verificar se era batimento cardíaco ou impulsos elétricos. – Se for, é um robô magnificamente perfeito, com as funções perfeitas.

Não era a primeira vez que Scorpius me cantava, mas em nenhuma dessas vezes ele esteve sóbrio de verdade para que as palavras significassem alguma coisa.

Eu afastei sua mão de mim.

– Meu pai era o C-3PO – brinquei.

– Mais um comentário sarcástico, Weasley, e vou acreditar que você é uma mera mortal. Aí não vai ter mais graça.

Se ele soubesse o mínimo sobre mim, viria o quão engraçada minha sem-gracisse era.

Naquele instante o avião deu um tranco forte para baixo e Scorpius, que estava sem o cinto, foi arremessado contra o teto. Eu sabia a diferença entre turbulência e que "algo está errado". O avião estava sofrendo uma queda de altura brusca. Rapidamente tirei meu cinto para socorrer Scorpius, caído no chão sem se mover, quando o avião tornou a ficar estável. Suzana olharam alarmadas e uma delas conseguiu se soltar do cinto para ver o que tinha acontecido na cabine do piloto.

– Scorpius, você está bem? – eu disse com a voz alta. – Não feche os olhos agora, ok? Você bebeu demais e se machucou, você precisa continuar com os olhos abertos, olhando pra mim, entendeu?

Ele enrijeceu o maxilar e continuou com seus olhos cinzas em minha direção.

– Eu estou bem – ele disse, tentando respirar firmemente. – Eu gritei feito uma menininha dessa vez?

Fiquei aliviada que ele estivesse conversando.

– Não, mas não foi uma turbulência. Consegue levantar?

– Não sem sua ajuda, pra variar – ele percebeu quando só foi capaz de voltar ao assento com meu braço apoiando seu corpo. Quando eu estava terminando de trancar seu cinto, vi que ele tinha fechado os olhos.

– Não, não, não. Scorpius, olha pra mim – chamei alarmada, segurando o rosto dele. – Merda.

Uma das aeromoças ainda não tinha voltado da cabine, e no momento em que eu me aproximei para ter certeza do que estava acontecendo, o piloto do avião saiu.

– O que está acontecendo? – perguntei, e então, assim do nado, ele encostou o silenciador da pistola bem no meio da minha testa.

Pode parecer improvável, mas eu continuei com a expressão intacta. Talvez eu fosse mesmo um robô.

– Me dá o laptop.

De relance olhei para a cabine. O corpo de uma das Suzana estava caído, rtagüentado, no chão.

Eu não era idiota de desobedecê-lo ou de tentar dar uma de heroína ali em pleno vôo automático, então andei até o meu assento para pegar o laptop que ele estava exigindo. Enquanto isso, ele ajeitava uma mochila de paraquedas em suas costas.

Eu não era idiota de desobedecê-lo... se eu não tivesse sido treinada minha vida inteira só para isso.

No momento de sua distração eu apertei meus dedos na alça da mala de ferro do laptop e com força acertei-o em cheio no rosto, sendo capaz de desnorteá-lo para, em poucos movimentos, arrancar a arma de sua mão.

– Recebe ordens de quem? – exigi saber, contornando a situação ao apontar a arma para ele.

– Minhas.

Eu não vi isso acontecer. A segunda Suzana se levantou do sofá e seu chute acertou minhas costas, desequilibrando-me. Não soltei a arma, mas o laptop caiu no chão e se arrastou para perto da porta do banheiro. A mulher ia me acertar um chute no rosto, mas sua apertada saia de aeromoça atrapalhou o movimento, desacelerando-o. Consegui segurar seu tornozelo a dois centímetros do meu nariz. Até comentei:

– É por isso que eu odeio usar saia quando estou trabalhando.

O soco na barriga foi por ela não ser exatamente uma aeromoça.

Ela tinha um treinamento para conseguir se defender e lutar daquela forma, mas não um treinamento melhor do que o meu. Ela estava mais surpresa.

– Então você é um robô mesmo – limpou o sangue dos lábios, sorrindo.

– Não. Só uma assistente, querida.

Dessa vez, ela caiu no chão. Quando fui pegar o laptop de volta, infelizmente já se encontrava na mão do homem com o paraquedas nas costas.

Eu evitava disparar uma bala dentro de um avião, mas os arquivos existentes no hardware daquele notebook obviamente valiam o risco para tentar protegê-lo a todo custo.

A bala entrou em seu ombro, fazendo-o gritar de dor. Não tinha perfurado a pele, estava queimando seus músculos, o que agradeci. A mala do laptop caiu e eu consegui recuperá-la. O alívio não me atingiu, quando vi Suzana apontando outra arma, mas dessa vez para a cabeça de Scorpius Malfoy.

– Me entrega o laptop, agora, ou eu vou estourar os miolos dele. Os miolos que valem bilhões de euros e dólares.

Não perdi meu tempo e arrastei a mala até seus pés.

Não importa o que aconteça, seu trabalho é protegê-lo. É proteger Scorpius Malfoy, e não um computador.

– Não precisava de toda essa ação, não é mesmo? – disse Suzana quando segurou firmemente a mala. – Ele vai morrer de qualquer forma, o whisky tinha um gosto diferente.

Meu coração disparou. Ela tinha envenenado Scorpius durante a diversãozinha deles.

– Obrigada, rta. Weasley.

Abriu a porta do avião e os dois pularam. Apoiei-me em um lugar para vê-los desaparecendo entre as nuvens. A única coisa que eu tinha na cabeça: eu falhei. Eles roubaram todos os arquivos, todos os projetos, toda a vida de Scorpius. E tudo o que lutei para proteger. Eu falhei feio.

Uma explosão atingiu o céu bem abaixo de nós. Olhei assustada, sem entender. Suzana e seu ajudante piloto acabaram de explodir em pleno ar?

Olhei para Scorpius. Ele tinha voltado a abrir os olhos, mesmo que fracamente. Estava apertando alguma coisa dentro do bolso interno de seu paletó. Scorpius havia criado um dispositivo capaz de explodir a placa-mãe de um computador, para em casos de roubos como aquele. Pela primeira vez ele conseguiu testar a criação. E deu certo.

– Às vezes você me faz esquecer que é um gênio – falei em voz alta.

Ele estava muito fraco. Percebi que as veias de seu pescoço estavam com uma coloração arroxeada.

– Precisamos pousar imediatamente. Você não terá muito tempo.

Ele pareceu calmo demais para essa constatação. Ergueu uma sobrancelha.

– E você sabe pousar o avião?

– Há muitas coisas que não sabe sobre mim, Malfoy.

Tive que contar com a sorte e o tempo. Entrei na cabine de piloto e assumi o controle. Não, eu nunca fiz um pouso forçado de avião, mas tinha experiência em pilotagem. Eu não tinha tempo para ser pessimista. Não poderia ser.

Peguei o rádio e chamei a cabine de controle aérea. Aqui é a agente Weasley, eu preciso de apoio. Câmbio. Expliquei toda a situação em cinco frases. Garantiram que paramédicos estariam esperando há cinquenta quilômetros do local mais próximo para um pouso imediato.

Eu era excelente em cumprir as ordens mais complexas, e fui excelente no momento do pouso.

– Bom trabalho, agente Weasley.

Minha chefe estava esperando no aeroporto particular, com o grupo dos outros agentes secretos da A.U.R.O.R. Minerva se aproximou de mim e tentei ao máximo não mostrar minhas mãos trêmulas.

– O pouso foi excelente. Fez tudo o que podia para salvar Malfoy e agora deve deixar a saúde dele nas mãos dos nossos médicos. Sobre o acontecido de hoje, ele não se lembrará.

– Isso por causa do efeito da bebida envenenada ou porque vocês vão fazer alguma coisa?

Minerva não respondeu. Estava olhando os paramédicos da A.U.R.O.R levarem Scorpius, desacordado, em uma maca para dentro da van preta da agência. Era possível ver o rosto ficando mais e mais roxo do que antes. Isso me deixou tensa.

– Sei o que está pensando, Rose – disse Minerva ao reparar na minha expressão. Eu não achava certo eles alterarem a memória de Scorpius com suas tecnologias. – Mas ele não pode saber que você é mais do que uma assistente. Ninguém pode saber. – Virou-se para o homem alto, forte e negro. – Sr. Portland, por favor, entre em contato com a via aérea desse avião, precisamos descobrir algo sobre o piloto e a aeromoça que estava com eles.

Eu jamais me esqueci da promessa que fiz aos meus vinte e um anos, quando fui designada a minha primeira – e única – missão.

Meu nome é Rose Weasley, agora tenho vinte e nove anos. Mesmo em uma missão ultrassecreta, mantive meu nome e sobrenome, mas ninguém além dos agentes da A.U.R.O.R, isso incluindo minha família, tem idéia do que eu sou. Agente Weasley, infiltrada na vida do bilionário Scorpius Malfoy como sua secretária e assistente, quando ele herdou aos vinte e um anos a Indústria bélica mais conhecida da Europa. Seu pai e avô lhe deram o legado mais sofisticado e perigoso, e tiveram sorte de que o herdeiro fosse inteligente o suficiente para levá-lo adiante. Mesmo cercado por seguranças, eu era a mais qualificada entre eles para proteger Scorpius das ameaças inimigas que ele mesmo desconhecia. Eu não era somente uma mera assistente, uma mulher inofensiva. Eu era a pessoa que sabia o que fazer para mantê-lo vivo. Minha missão é essa, e ele não pode saber.