Nota:
"Kakuryio no Yadomeshi" é um anime que estreou em abril de 2018. A história tem me suscitado várias teorias, e vários caminhos pelos quais o romance poderia seguir.
Como não há muita disponibilidade do mangá em línguas ocidentais, tem ficado tudo para nossa imaginação. Comecei a história, na inspiração dos primeiros 5 episódios, e convido os leitores a me ajudarem a traçar os rumos para ela... aguardo sugestões!
A obra não me pertence, suas autoras são Midori Yūma (escritora das light novels) Laruha (ilustradora)
Jantar Caseiro no Anexo
Já fazia um tempo que Aoi estava no mundo oculto desde que decidira voltar por conta própria para cumprir sua promessa ao akayashi – meses talvez, na contagem do reino comum. Tempo suficiente para se sentir perfeitamente confortável em seu restaurante no anexo ao Tenjin'ya. "Seu restaurante!" se alguém lhe dissesse há um ano que ela seria dona de um negócio próprio, ela diria que estavam loucos!
Era tão adaptada à sua vida solitária, que nunca esteve em seus planos, o contato direto com o público. Mas estranhamente, aquele lugar tinha uma sensação de lar para ela, muito maior do que em qualquer lugar que já viveu, nem nos tempos em que vivia com sua mãe, ela se lembrava de se sentir tão adaptada, tão "senhora de si mesma e da situação", estranhamente, aqueles seres que habitavam e trabalhavam na pousada, lhe davam um senso de "família".
Aoi havia dado seu toque pessoal na decoração do lugar, e o tornado ainda mais aconchegante e simpático, aos poucos sua clientela ia se consolidando, e sua culinária - "exótica" naquele mundo - ganhando fama de renovar as energias e ter grande poder espiritual. Ginji era seu sócio no negócio, a ajudava a servir os clientes, e no fornecimento de ingredientes de qualidade. Se demonstrava a cada dia, um amigo incansável e trabalhador, sempre cordial e diplomático.
A bela moça devaneava com seus olhos ametistas observando pela janela, sobre sua vida desde que chegara ali, enquanto dava os últimos toques no jantar que terminava: preparou todas suas especialidades, da entrada à sobremesa, colocou a mesa impecavelmente como mandava a etiqueta tradicional, acendeu alguns incensos florais, dando uma aura aconchegante à sala vip de seu espaço – hoje, tudo tinha de estar perfeito! Pensava enquanto espiava o sol crepuscular começar a tingir a paisagem...
Ela nem sempre admitia para os outros, mas o pôr do sol no reino oculto era ainda mais belo que no reino comum, as vezes ela se sentia um pouco culpada, pois nada em sua terra natal lhe inspirava saudades, seria isso normal? Apesar de não ser uma ayakashi, a beleza do reino oculto, não falhava em lhe fascinar mais a cada dia.
Odanna caminhava calmamente, alcançou o anexo de Tenjin'ya. Se no passado, raramente vinha para esta parte de seu estabelecimento, agora era quase que sua rotina, tudo por causa da chegada de Aoi. Nada saíra como ele planejava, ela não aceitou passivamente ser sua noiva, não estavam casados, mas de qualquer forma, a decisão de trazê-la para o mundo oculto, trouxe novas emoções para sua vida.
Acostumado a ser temido, respeitado, até mesmo adorado, não era seu costume lidar com uma mulher que discordasse de suas ideias, questionasse suas decisões, e dissesse sem medo o que achava, com uma honestidade quase inocente. Esta personalidade, que o irritou no início, feriu seu orgulho, logo em seguida, o cativou completamente. A menina e sua jovialidade trouxe-lhe risos espontâneos, e um prazer em estar em sua companhia, que não lembrava-se de já ter sentido.
Aquele entardecer não era diferente, na manhã daquele mesmo dia, foi surpreendido com um convite para jantar no anexo, escrito na delicada caligrafia de Aoi, seria seu convidado especial aquela noite, foi instruído a chegar ao anoitecer. Ele havia se negado a lhe dizer seu prato favorito – mesmo depois dela insistir muito - pois tal conhecimento poderia se transformar em um ponto fraco... ela o teria em suas mãos se soubesse. Mas após receber aquele convite atencioso, ele soube, que não interessava o que ela lhe cozinhasse, já o tinha nas mãos irremediavelmente...
Ao se aproximar do restaurante, podia vê-la pela janela, em frente ao balcão, com a luz crepuscular tingindo seus cabelos e pele de um tom avermelhado, parou alguns minutos para apreciar a visão... ela olhou para fora no mesmo momento, lhe pegou cativo de sua beleza, prendeu seu olhar no dela por uns minutos, e então abriu um sorriso carinhoso. Seu sorriso sempre o desarmava, ela era mesmo diferente de todas mulheres que conheceu, sempre soube que ela era especial, mesmo antes de trazê-la para seus domínios, a observando por todos aqueles anos.
Quando ele chegou à porta, ela já havia se aproximado para recebê-lo, estava com suas vestes de cozinheira, de um verde forte que realçava o ametista de seus olhos, cabelos presos em um coque, e a presilha que ele havia lhe dado. Ao vê-la usa-la de maneira tão considerada, seu coração mudou inesperadamente seu ritmo, o que o surpreendeu: tantos anos de experiência de vida, tantas mulheres maravilhosas que teve em suas mãos – em sua cama, se emocionar com uma atitude ínfima de uma menina, não era normal para ele.
Retribuiu o sorriso, lhe entregando o buque de camélias vermelhas que levou para ela, como agradecimento ao convite, percebeu que ela corou ficando levemente constrangida, e o convidando para entrar. Foi à cozinha, visivelmente feliz com as flores, enquanto Ginji o levava à mesa cuidadosamente reservada e organizada por ela para recebê-lo, sentiu uma pontada de decepção, ao ver somente um lugar arrumado, "- no final das contas, ela só queria retribuir algo que eu lhe concedi, e não passar um tempo comigo".
Assim que Odanna se acomodou, Aoi se aproximou com um caldo de entrada. Ginji se retirou discretamente os deixando à sós na sala vip. Como homem acostumado a verbalizar seus desejos, questionou: "- Aoi, esperava que você se juntasse à mim para jantarmos", ela respondeu "- Te convidei para que conheça – e julgue meu serviço, mestre Ogro." Ele, que não aceitava facilmente uma negativa: "- Sou o único cliente esta noite, abra uma exceção e me faça companhia, certamente será um jantar muito mais agradável, do que ficar aqui sozinho. Ademais, não precisamos de tanta formalidade entre nós, não acha?"
Aoi se deu então por vencida, afinal, quando foi a última vez que preparou o jantar e teve companhia para comer? Em sua casa, sem seu avó, ou outro alguém para dividir o jantar, era um luxo que ela não lembrava a última vez que teve. Trouxe então o prato principal – arroz com curry - e se acomodou na lateral da mesa, próximo a Odanna.
Observou-o provar os pratos, visivelmente impressionado e deliciando-se com o paladar do que ela lhe servia... pensava "- Será que acertei seu prato favorito?" o prazer em seu rosto, o sorriso espontâneo que ele estampava, a fez entreter a impressão de ter acertado. Dessa forma, ela também relaxou e comeu com prazer na companhia do ogro.
Quando eles se tornaram tão confortáveis na companhia um do outro? Ela pensava... e percebeu, que depois de seu passeio caótico na capital, seus encontros com ele só lhe trouxeram prazer e alegria, se sentia tão à vontade com ele, como se sentia relaxada no anexo. Quando estava com ele, parecia que tudo estava certo, e nada de ruim poderia lhe acontecer – havia uma sensação de proteção e aconchego - o que era um contrassenso, uma vez que tudo que ela ouviu sobre o mundo oculto, é que ele era hostil aos humanos.
Conversaram amenidades sobre o dia a dia no reino oculto, sobre o funcionamento do Tenjin'ya, sobre os atrativos daquela região, as cerejeiras perenemente floridas, a beleza das construções e das noites de lua cheia em Kakuriyo.
Aoi então foi buscar a sobremesa para servir, uma combinação deliciosa de sorvete de suco de cereja da região, e sorvete de matchá (cedido generosamente pelo mestre ogro ao seu pedido). Ele parecia extasiado com a originalidade de tudo que ela fez, e com o clima tão doméstico que aquele jantar lhe proporcionou.
Perdido em pensamentos, comentou com Aoi "Sua comida é deliciosa, tão simples, fresca, este lugar tão aconchegante... chego a pensar em como seria viver a vida de um ser humano, ter você como esposa, para voltar para casa depois de um dia de trabalho – para você – todas as noites, jantar esta comida caseira, e depois dormir com você nos meus braços..." mal terminou de falar, e percebeu a impetuosidade de sua fala... ele não era homem de retirar o que disse, ou de ficar desconcertado por isto, ele até já havia feito vária provocações à moça. Mas aquela fala saíra do fundo de seu coração, e surpreendeu-se por ter deixado um sentimento tão profundo assim, escapar.
Levantou então, agradecendo pela noite, "- Boa noite Aoi! Bom descanso, me desculpe se me perdi nos pensamentos, não tive intenção de te constranger!" Disse perante a moça, que estava extremamente corada e sem palavras... "Vou viajar nos próximos dias, a negócios, ficarei um tempo fora, mas quando voltar, gostaria que você fosse jantar comigo na pousada, como minha convidada especial. Me ocorreu que você ainda não provou os pratos tradicionais do chef do Tenjin'ya. Quando retornar te convidarei mais formalmente. Além disso, vários comerciantes do vilarejo me devem favores, como você vai morar aqui, gostaria que você fosse até as lojas comprar algumas roupas para seu uso diário, vou enviar meus empregados para te acompanharem, não se constranja em comprar tudo que for necessário para uma estada confortável por aqui."
E saiu, deixando Aoi, pela primeira vez, sem palavras, com o rosto afogueado e o coração descompassado, como não tinha estado, desde quando chegou naquele lugar...
