Olá gente, volto com uma adaptação que achei super adorável...afinal, quem nunca sonhou com um conto de fadas?
Espero que curtam a história e apareçam se puderem para comentar!
Beijos e boa leitura!
Quando uma garota comum...
A eficiente, esperta e organizada Kagome Higurashi sempre fora discreta, quase invisível. Suas duas lindas irmãs ofuscavam sua presença. Mas nada a impedira de sonhar com seu príncipe encantado... Mesmo que secretamente.
... É contratada por um charmoso playboy...
Perigoso e carismático, Inuyasha Taisho não parecia muito principesco. Assim, ao se tornar sua assistente, Kagome ficou chocada quando descobriu que ele era um homem fascinante...
... Eles podem ser felizes para sempre?
No entanto, Kagome também é muito mais do que aparenta... Como Inuyasha bem sabe! Mas ousará ele oferecer à sua cinderela tudo que ela merece?
CAPÍTULO I
— Ah, pelo amor de Deus! — resmungou Kagome, impaciente, parada diante da máquina copiadora. Abriu-a para examiná-la por dentro. — O que foi agora — perguntou. — Já tirei a folha presa, já enchi todas as bandejas de papel... Não acredito que vou precisar trocar o toner também. Você está complicando a minha vida!
Exasperada, enfiou a mão dentro da máquina para soltar o dispositivo do toner. Feriu o dedo numa peça protuberante. Recuou, soltando um grito e um palavrão involuntário. Normalmente não usava esse tipo de vocabulário, mas só uma santa não perderia a paciência depois de todos os problemas enfrentados com a copiadora naquela manhã.
Voltou a fitá-la.
— Certo, por hoje chega . — Já estou de saco cheio de você! Sacudindo o dedo machucado e frustrada demais para pensar em outra solução, Kagome, feito uma criança zangada, deu um pontapé na máquina, soltando outro palavrão.
— Olha o vocabulário! — Um som impaciente a fez virar-se. Um homem parado na porta da sala sorria para ela. Não era um homem qualquer. Era incrivelmente bonito, cabelos escuros, olhos brilhantes azul-escuro, traços pelos quais qualquer modelo daria a vida e um sorriso destinado a deixar o coração da maioria das mulheres acelerado.
Mas não o de Kagome. O dela não batia acelerado. Talvez o batimento cardíaco tivesse aumentado um pouquinho ao vê-lo, mas apenas por causa da surpresa.
Pelo menos tentava se convencer disso.
Nunca o encontrara antes, mas sabia exatamente quem ele era, é claro. Não havia como se confundir. Inuyasha Taisho, o queridinho das colunas de fofocas, e novo presidente do Grupo Taisho, o que o tornava, tecnicamente, seu chefe.
E a última pessoa que esperava encontrar na sala onde ficava a máquina copiadora, exalando autoconfiança e glamour. O cliché do homem alto, moreno e bonito devia ter sido inventado especialmente para Inuyasha Taisho, pensou, forçando-se a não se deixar impressionar. Elegantemente vestido em um terno bem-cortado que caía à perfeição nos ombros largos. A camisa branca, impecável, a gravata discreta e de classe, o nó demonstrando a combinação perfeita de casualidade e elegância. Kagome gostaria de taxá-lo de afeminado, mas era evidente que nada havia de feminino em Inuyasha Taisho. Ele era másculo da cabeça aos pés.
Por um momento, pensou no que ele estaria fazendo no andar do departamento de comunicação. Talvez passasse por ali, vez por outra, para estimular os funcionários com sua presença e se divertir ao observar quanto tempo demorava até todas as mulheres se atirarem a seus pés.
Esperava-se que ela fizesse o mesmo, melhor esperar sentado, independentemente de ser ou não o chefe.
Por outro lado, ser surpreendida xingando e chutando o equipamento do escritório não era a melhor maneira de se apresentar, refletiu. Talvez desmaiar fosse uma opção melhor. Ou isso ou comportar-se como se nada tivesse acontecido.
Antes de ter tempo para decidir, Inuyasha Taisho entrara na sala como se fosse o dono de tudo.
O que, na verdade, era.
— Tenho bons motivos para dar queixa de você à Sociedade Real de Prevenção à Crueldade contra as Máquinas Copiadoras! — disse, apontando-lhe o dedo. — Essa pobre máquina não precisa se submeter a esse tipo de linguagem, principalmente quando não é capaz de revidar.
A declaração contrastava com o brilho de divertimento nos olhos e com o toque de humor na voz. O homem era puro charme, pensou Kagome, irritada por precisar reunir todas as forças para resistir a ele.
Como se já não existissem motivos suficientes para irritá-la.
De qualquer maneira, era tarde demais para desmaiar.
— Foi ela que começou — disse, em tom frio.
Os olhos de Inuyasha brilharam ao observá-la. Ainda estava se acostumando com a ideia de que o prestígio e a fortuna do Grupo Taisho eram responsabilidade sua. Na verdade, essa consciência de vez em quando podia ser bastante opressiva. Sempre que começava a sentir as paredes fechando-se em torno dele, sufocando-o, saía para dar uma volta. Dizia a todo mundo que queria se familiarizar com a empresa, o que era verdade, mas Inuyasha sabia que essas voltas pelo prédio tinham mais a ver com sua inquietação e sua incapacidade de resolver se tomara a decisão acertada ao voltar.
O Grupo Taisho era uma instituição formada por empregados leais e dedicados e, vez por outra, ele tinha a sensação de que todos ali estavam no lugar certo — exceto ele. Bem, agora ganhara a companhia dessa jovem, que acabara de ver explodir. Seu descontrole involuntário fora tão inesperado que ele parou ao passar pela porta, cativado pela moça num conjuntinho sem graça, xingando a máquina copiadora.
Surpreso com o contraste, Inuyasha fora incapaz de resistir à tentação de descobrir mais.
Nunca a vira antes. Pelo menos, não se lembrava de tê-la visto. A coisa que mais chamava a atenção nela era o cabelo castanho comum, puxado para trás num penteado que em nada valorizava seu rosto. A primeira impressão era de rigidez, o que contrastava enormemente com as palavras que saíam de sua boca. Entretanto, enquanto ela continuava ali parada e o fitava com aqueles olhos verdes e muito diretos, de repente não parecia tão inexpressiva, e seu interesse aumentou.
— Ainda não nos encontramos, ou já?
— Não — disse secamente. — Estou na empresa substituindo uma funcionária.
— Então seja bem-vinda. — Aparentemente indiferente à falta de entusiasmo demonstrada pela jovem, ele sorriu e estendeu-lhe a mão. — Sou Inuyasha Taisho.
Como se ela não soubesse!
Kagome podia não ter o menor interesse em celebridades, mas até ela conhecia Inuyasha Taisho. Ele era o mais conhecido playboy até uns quatro ou cinco anos atrás, quando sumira de Londres, presumivelmente para divertir-se em outro playground dos ricos e famosos. Ao retornar, há uns dois meses, para assumir as rédeas do Grupo Taisho, fizera a alegria das páginas de fofocas.
O pai morrera, vítima de um ataque cardíaco durante uma negociação de milhões de dólares em Nova York e, desde então, as páginas de finanças especulavam sobre a capacidade de Inuyasha substituir o competente pai.
Especulações de natureza mais sensacionalista apareciam nas colunas de fofocas dos jornais e das revistas de celebridades. Aos 35 anos, Inuyasha ainda se encontrava solteiro e, desde que herdara a fortuna do pai, raramente era mencionado sem o rótulo de "o mais cobiçado partido da Inglaterra" colado ao nome. Fora recebido de braços abertos na lista dos dez mais e era fotografado ao lado de várias mulheres espetaculares, mas até agora nenhuma havia sido eleita para o título de Sra. Taisho.
Kagome sabia disso tudo porque a irmã caçula, Rin, lia avidamente qualquer menção a Inuyasha Taisho e mostrava-se determinada a ser apresentada a ele. Ficara encantada ao saber que Kagome trabalharia para o Grupo Taisho.
— Consiga um encontro para mim com Inuyasha — suplicara à irmã. Kagome a fitava incrédula.
— Rin, trabalho lá como temporária — tentou explicar. — Pessoas na minha função não chegam a ver o presidente da empresa, quanto mais encontrá-lo e conseguir marcar um encontro para alguém. Eles estão no topo da hierarquia. Não vou chegar nem perto dele.
Entretanto, ali estava ele, a mão estendida e, sem dúvida, à espera de que ela se apresentasse.
Kagome suspirou em silêncio. Desaprovava tudo o que ele representava e não gostava do modo como ele parecia ocupar toda a sala com a boa aparência, o sorriso e aquele charme quase tangível. Aquela sensação de que ele usava mais do que a parte que lhe cabia na sala a deixava inquieta e ofegante. Kagome não gostava nada disso, mas era impossível recusar-se a apertar-lhe a mão.
— Kagome Higurashi— disse, relutante, e tocou-lhe a mão.
Tentou retirá-la, mas Inuyasha era rápido demais para ela. Os dedos se fecharam com firmeza em torno dos dela num aperto forte, ao mesmo tempo em que abria um sorriso. O toque da mão causou-lhe um arrepio na espinha. Ela retirou a mão, irritada.
Será que ele não podia se livrar daquele charme másculo por um instante sequer? O arrepio só podia ser a reação automática ao olhar intenso, ao sorriso e ao fato de ele ter segurado sua mão por tempo demais.
Kagome exasperou-se. Sem dúvida ele não esperava que acreditasse que ele a notara. Ele parecia um daqueles tipos prontos a atacar qualquer mulher que lhe cruzasse o caminho. Olhe só para ele, à espera que ela fique com os joelhos bambos e retribua o sorriso derretido!
Não tinha a menor intenção de lhe lustrar o ego e sorrir, muito menos de derreter-se, mas irritou-se ao notar que os joelhos, na verdade, não estavam tão firmes quanto deveriam.
Kagome fechou a cara. Inuyasha ergueu a sobrancelha ao ver-lhe a expressão.
— Algum problema?
A evidência de que não apenas ele a notara, mas a observava atentamente, a deixou ainda mais zangada. Certamente não poderia lhe dizer a verdade: Olhe, só estou irritada com os meus joelhos por terem fraquejado quando você sorriu. Agora precisaria mentir, e odiava isso.
— Desculpe, é que está doendo um pouco — improvisou, erguendo o dedo machucado e aproveitando para recuar. Por que ele não ia embora e a deixava em paz?
— Você se machucou? — Inuyasha franziu a testa, visivelmente preocupado ao ver o dedo esfolado.
— Não fui eu que me machuquei — corrigiu-o. — Foi à copiadora que me mordeu. Eu disse que ela tinha começado. Não sei por que está preocupado com a máquina. Você devia entrar em contato com o SRPCT.
— A Sociedade Real para Prevenção de Crueldade contra...?
— Temporárias — disse, despertando-lhe o riso.
Ela parecia um passarinho, pensou, daqueles com plumagem sem graça, mas de olhos brilhantes e alertas. Inuyasha gostava das pessoas e elas costumavam gostar dele, mas, desde que assumira a empresa, começara a refletir se não havia bajulação nos sorrisos aonde quer que fosse. A jovem de roupa séria, voz resoluta e olhar claramente desaprovador era uma mudança agradável.
— Parece inchado — disse ele. — Você está bem?
— Não se preocupe. Não vou processá-lo por causa de um dedo esfolado! — disse e voltou-se para a máquina.
Inuyasha ficara intrigado e recusava-se a perceber a indireta de que ele deveria ir embora para ela continuar trabalhando.
Em vez disso, recostou-se na mesa e analisou-a. Há tempos não encontrava uma mulher tão pouco preocupada com a aparência. Por exemplo, o terninho que usava era pavoroso. Não era possível distinguir como era seu corpo, mas ela tinha outros atrativos. O cabelo era de um castanho comum, mas sedoso e solto, a pele era linda e os traços delicados. Se usasse um terno mais bem cortado, soltasse o cabelo e se preocupasse em usar ao menos um pouco de maquiagem, não ficaria nada mal.
— Em que departamento trabalha?
— Comunicação — disse laconicamente, louca para que ele fosse embora. Inclinou-se e voltou a examinar a máquina.
—Ah, claro, você deve estar substituindo a assistente de Sesshomaru. Helen, não é isso? Ela teve um problema com a mãe, não foi?
— É Ellen, e o pai dela está doente — corrigiu-o, embora secretamente estivesse impressionada por ele ter se lembrado. Em sua experiência trabalhando como temporária, os presidentes de empresas do porte do Grupo Taisho raramente se davam ao trabalho de saber os nomes dos funcionários, quanto mais lembrar-se de detalhes de seus problemas domésticos. — Vou substituí-la durante uma semana enquanto ela arranja alguém para cuidar dele.
— E depois?
Ela deu de ombros.
— Vou torcer para que a agência encontre outro emprego para mim.
— Faz tempo que trabalha como temporária?
— Alguns meses.
Inuyasha a olhou quando ela franziu a testa examinando a máquina.
A luz faiscou em seu cabelo e ele notou o comprimento dos cílios e como as sobrancelhas finas uniam-se perto do nariz. O rosto era inteligente, tinha personalidade. Ela parecia diferente das outras jovens que pegavam empregos temporários.
— O que fazia antes?
Ela lhe lançou um olhar irritado.
— Você sempre se interessa pelos funcionários do quadro temporário?
— Interesso-me por todos os funcionários — respondeu — Por que ela não queria contar ? — Está gostando de trabalhar aqui?
Kagome deu de ombros.
— Estou. Todos são muito profissionais. — Exceto o presidente, teve vontade de acrescentar, mas ficou só na vontade.
Trabalho temporário podia ser um retrocesso para alguém que havia sido membro do conselho, mas precisava do dinheiro e havia lugares piores para trabalhar.
Trabalhar ali era ao mesmo tempo bom e ruim, pois lhe trazia recordações. Como a empresa Higurashi, o Grupo Taisho era uma empresa familiar, uma dinastia, mas adotara novas tecnologias e método de conduta profissional; diversificara os interesses, com o objetivo de tornar-se unia empresa global, ao passo que a Higurashi confiara na reputação que conquistara.
De nada adiantava acalentar mágoas. Tinha tarefas a cumprir e só queria que Inuyasha Taisho a deixasse prosseguir, em vez de ficar ali parado, interrogando-a sobre assuntos que não eram da sua conta.
— É uma lástima o estado dessa máquina — acrescentou, tirando o cartucho do toner e resmungando entre os dentes enquanto o recolocava com firmeza.
— Posso ajudar? — perguntou Inuyasha, inclinando-se para espiar os mecanismos da máquina.
— Não, a não ser que queira sair e comprar outra — disse Kagome, com a maior frieza possível, o que era difícil com ele por perto. A sala parecia abafada e com aquele homem de mais de l,80m ao lado, ela se sentia sem oxigênio.
— Está quebrada?
— Não consigo tirar o cartucho do toner.
— Para mim é fundamental que os funcionários tenham o equipamento necessário para exercer suas funções a contento — disse Inuyasha. — Não quero que pense que sou mesquinho, mas comprar uma máquina nova, quando basta substituir um cartucho, me parece um pouco exagerado.
Kagome engoliu em seco, irritada novamente com o tom de ironia na voz.
— Eu não estava falando sério. — Cautelosamente, enfiou a mão na máquina. — Se eu conseguisse... — resmungou, fazendo uma careta quando os dedos voltaram a tocar o dispositivo. —Ah, vamos lá, não banque a difícil!
Inuyasha observou-a, achando graça quando ela se sentou nos calcanhares exalando um suspiro de frustração.
— Você sempre conversa com copiadoras?
— Tenho a teoria de que são como cavalos — contou. — Quando se trabalha como temporária, a gente passa muito tempo brigando com copiadoras. A princípio são ariscas, e percebem quando você não sabe o que fazer. É preciso familiarizar-se e fazê-las entender quem manda.
— Você quer dizer que é uma espécie de encantadora de equipamentos de escritório?
— Não muito eficiente desta vez.
Kagome suspirou e soltou o dispositivo, mas quando puxou a mão, o dedo voltou a ficar preso. O mesmo ferro, o mesmo dedo.
—Ai! — exclamou, sacudindo o dedo ferido. — Talvez a melhor opção seja mesmo comprar uma nova! — acrescentou. — Eu podia primeiro usar um martelo nesta e, assim, você teria que substituí-la.
— Deixe-me tentar.
Inuyasha suspendeu a calça do elegante terno italiano e agachou-se ao seu lado.
Assim tão perto, a masculinidade era mais gritante. Kagome encolheu-se e se afastou o máximo possível, mas havia pouco espaço entre a mesa e a copiadora e, no final, acabou se erguendo. Pelo menos assim conseguia respirar.
— Não acho uma boa ideia.
— Por que não?
— Você está bem vestido demais — disse, indiferente, tentando ignorar que cada célula do seu corpo ainda parecia palpitar sob o efeito do poder por trás daquela aparência serena. — Mudar o cartucho do toner pode sujar sua roupa.
— Assim como deixar temporárias manobrarem martelos — disse, erguendo o olhar com um sorriso que fez o coração de Kagome quase parar.
Furiosa consigo mesma, observou Inuyasha colocar a mão dentro da copiadora, pegar o cartucho e puxá-lo até ele finalmente se soltar.
— Pronto — disse. — Cartucho usado retirado.
— Obrigada — disse Kagome, relutante.
— Não precisa me agradecer — disse Inuyasha. — Normalmente não tenho a oportunidade de ser útil.
Ela o fitou sem saber se era ou não uma brincadeira. Aparentemente não. Ele com certeza não dava a impressão de ser um homem acostumado com trabalhos menores, e por que seria? Poucas pessoas podiam levar uma vida luxuosa como Inuyasha Taisho.
— Cuidado! — alertou quando ele se levantou ainda com o cartucho na mão. A experiência lhe ensinara que cartuchos de toner usados costumavam vazar, e Inuyasha não ficaria tão satisfeito se acabasse com o terno imaculado coberto do fino pó preto. Ele fazia o tipo meticuloso e ela não tinha tempo a perder, essa manhã, com o guarda-roupa de emergência de um executivo.
Mas parecia que ele era mais competente do que aparentava. Descansou o cartucho sem deixar escapar uma partícula do pó.
— Não sou tão descuidado quanto pareço — disse, como se lesse sua mente. Sorriu ao ver a expressão no rosto dela.
Kagome adoraria que ele parasse com isso. O coração voltou a bater desvairado e, desesperada por colocar alguma distância entre eles, acabou recuando até bater com a coxa na mesa. Ficava grata por ele ter consertado a copiadora, é claro, mas agora ele devia sumir.
De perto, Inuyasha era menos bonito do que aparecia nas revistas, percebeu. Isso devia ser um conforto, mas os traços irregulares e a leve sombra de barba por fazer davam-lhe um ar que tornava, paradoxalmente, os olhos escuros e faiscantes e a boca ainda mais atraentes. Num segundo, ficou totalmente ligada nele, no perfume caro, no leve toque de humor que sentia vibrar sob a aparência suave, no calor que dele emanava.
Engolindo em seco, Kagome voltou-se para se ocupar em colocar o novo cartucho. Ao encaixá-lo, limpou a superfície para remover qualquer mancha de tinta e fechou a tampa da máquina.
— Agora, ao trabalho! — disse, colocando para fora os sentimentos ao apertar o botão de iniciar.
Obediente, a máquina pôs-se em ação.
— É disso que eu gosto — disse Inuyasha, que continuava observando-a com ar divertido. — Firmeza. Não há a menor dúvida de quem manda aqui, não é mesmo?
— Muito engraçado — disse, com ironia, os olhos nas cópias que saíam da máquina. Depois da trabalheira com a copiadora naquela manhã, era difícil acreditar que ela afinal cumpria sua função.
Era inacreditável que Inuyasha tivesse brincado sobre quem mandava ali. Ele parecia não ter noção da própria importância. Era diferente de todos os chefes que conhecera. Definitivamente não era o tipo de chefe que ela fora nos últimos desastrosos meses da Higurashi.
Aprendera que os chefes deviam manter distância dos funcionários, seja por estarem sempre muito ocupados ou por estarem cientes do seu status. Certamente não visitavam os departamentos, como era, evidentemente, o hábito de Inuyasha Taisho. Kagome não se lembrava de nenhum outro chefe que entrasse na sala de tirar cópias, conversasse com a nova secretária temporária e tentasse consertar a copiadora. Será que ele não tinha nada mais importante com que se ocupar?
Aquela irritante sensação que a invadira, por ele ser um homem poderoso, desaparecia e ela podia voltar a pensar nele como um cavalo em ternos caros, uma celebridade de cabeça vazia passeando pela empresa porque não sabia o que fazer.
— Está procurando alguém? — perguntou em tom de reprimenda.
— Queria conversar com Sesshomaru — respondeu, voltando a se lembrar de seu primeiro objetivo. — Ele está?
— Saiu, lamento. Voltará à tarde. Tinha uma reunião às duas horas. — Kagome fez sinal com a cabeça para os papéis empilhados na bandeja da copiadora. — Por isso estou tirando todas estas cópias.
— Então falo com ele depois — disse, indiferente.
— Quer que eu peça para procurá-lo ao chegar?
— Como preferir. Também posso descer mais tarde. Assumi a presidência há cerca de um mês e ainda estou tentando conhecer todo mundo — explicou, ao ver que Kagome parecia indiferente ao seu jeito descontraído. — Gosto de andar pela empresa e ver o que está acontecendo, em vez de esperar que os funcionários venham a mim. Assim, conheço gente como você e aprendo coisas interessantes que desconhecia, como palavras grosseiras e como conversar com copiadoras.
Kagome corou ligeiramente. Será que ele não levava nada a sério?
— Posso adiantar o assunto para Sesshomaru? — perguntou, deliberadamente formal.
— Tenho uma ideia que gostaria de discutir com ele. Acho que devíamos organizar um baile.
Um baile? Os lábios de Kagome contraíram-se em sinal de desaprovação. Inuyasha devia estar preocupado com investimentos, desenvolvimento de produto, previsões financeiras; não com festas, bailes e fotos nos jornais! Ele lembrava o pai dela, que nunca se preocupava com o dia a dia do negócio e consumia toda sua energia — sem mencionar os lucros da empresa — em se exibir. Inuyasha Taisho tinha a reputação de desmiolado e Kagome esperava que ele não destruísse tudo que o pai e o avô construíram, como o pai dela fizera na Higurashi.
— Aviso Sesshomaru assim que ele voltar — disse, pegando as cópias e ajeitando-as na parte superior da máquina para formar uma pilha organizada.
Inuyasha teve a nítida sensação de estar sendo dispensado. Por um momento, dividiu-se entre a irritação e a satisfação. Quem essa funcionária temporária pensava que era? Mas, como acontecia com frequência, a satisfação venceu. Não podia deixar de lhe admirar a ousadia.
— Então, deixo você à vontade. Avise Sesshomaru, por favor. Foi um prazer conhecê-la, Kagome Higurashi.
Kagome se despediu, acenando de leve a cabeça. Graças a Deus ele fora embora, pensou. Talvez agora conseguisse trabalhar. Era impossível concentrar-se com ele por perto, tornando o ar opressivo com a simples presença e deixando seus nervos à flor da pele. Seria melhor que Inuyasha permanecesse na sala dele em vez de perambular pelas dependências da empresa deixando as pessoas nervosas daquele jeito.
Arrumou outra pilha de papéis na bandeja e voltou a pressionar o botão.
O dia parecia não ter fim e ela ainda tinha uma longa jornada pela frente. Quando Sango perguntara se ela podia ajudar de vez em quando, trabalhando como garçonete à noite, Kagome animara-se com a perspectiva de ganhar um dinheirinho extra, mas era difícil ficar de pé a noite inteira principalmente quando, em dias como hoje, sonhava em voltar para casa depois do expediente e passar a noite na frente da televisão.
Mas todo sacrifício seria válido quando tivesse juntado o bastante para se mudar para Whitestones, pensou, ajeitando os ombros. Pense na casa, disse a si mesma. Pense nas montanhas, no som do mar batendo nas pedras.
Pense em deixar Londres e gente como Inuyasha Taisho para trás.
Então terá valido a pena qualquer sacrifício.
— Você não pode estar falando sério!
Kagome suspendeu o uniforme que Rosie lhe entregara e o observou, assombrada.
Rosie mexeu-se, desconfortável.
— Sei que é meio vulgar, mas os organizadores insistiram para que toda a equipe usasse isso.
— Eles querem que a gente se vista de gato !
— Acho que eles devem ter imaginado que seria engraçado
— respondeu — Rosie dando um suspiro.
— Hilariante — disse Kagome em tom ácido. Deixou cair à roupa de gato na pilha com um gesto de desdém.
— O que há de errado com uma saia preta, uma blusa branca e um avental com babadinhos?
— E o lançamento de um livro — disse Rosie, desanimada.
— Um daqueles livros de auto-ajuda: Como soltar a gata que existe em você, ou algo do gênero. Se acha o uniforme de mau gosto, precisa ver a bolsinha de doces que será oferecida como brinde.
— Fala sério. A gente não vai precisar vestir isso, vai? — A roupa justa de gato incluía o rabo e a máscara com orelhas e bigodes. Kagome olhou a fantasia horrorizada. — Não podemos simplesmente recusar?
— Ah, tenha piedade de mim, Kagome! — implorou Rosie. — Eu não pediria a você que aceitasse, mas esse contrato é realmente importante para o meu bufe. Eles disseram que, se tudo der certo, vão me contratar outras vezes, e acho que eles têm lançamentos assim aos montes. Não posso começar criando caso. Tudo precisa correr às mil maravilhas hoje.
Kagome suspirou. Tinha consciência de que Rosie lutava por deslanchar seu novo empreendimento. Rosie era uma cozinheira fantástica: fazia canapés deliciosos, criativos e originais, perfeitos para eventos, mas o negócio, como qualquer outro, dependia de ter a reputação firmada, e sua amiga precisava desesperadamente de descanso.
Como podia deixá-la na mão? Rosie era sua melhor amiga desde os tempos de escola. Outras, que se diziam amigas, haviam se distanciado, sem querer se envolver com pessoas falidas, quando a empresa Higurashi fechara as portas e o mundo de Kagome desabara, mas Sango lhe dera o maior apoio. Ela tinha um apartamentinho no final da linha de metro, mas sem hesitar oferecera um quarto a Kagome, pedindo um valor bem abaixo do normalmente cobrado.
Trabalhando como temporária durante o dia, Kagome ficava contente em ganhar um dinheiro extra ajudando Rosie à noite. Por vezes apenas lavava a louça ou ajudava com os preparativos. Quando se tratava de eventos maiores, como aquele, servia de garçonete. Normalmente usava preto e passava despercebida, mas ocasionalmente o cliente pedia a Rosie que a equipe usasse alguma roupa diferente. Era a primeira vez que tinham, em cima da hora, aparecido com traje tão ridículo, mas ao fitar o rosto ansioso da amiga, Kagome sabia que não tinha como recusar.
— Ah, está bem! — exclamou. Viu o rosto da amiga desanuviar-se, como num passe de mágica. — Afinal ninguém vai me reconhecer com esta máscara. Além disso, quem presta atenção às garçonetes?
Era possível que ninguém reparasse nela, mas seria difícil não se sentir chamativa usando aquela roupa colante de gato. De tão agarrada, revelava todas as suas formas.
_Para falar a verdade, você ficou ótima — disse Sango, surpresa, quando Kagome se apresentou. Rodeou-a, inspecionando-a com olhos críticos. — Você tem um corpo lindo, Kagome, mas sempre o esconde naqueles blazers folgados.
— Eu adoraria usar um bem folgado agora — suspirou Kagome, repuxando a roupa. — Estou me sentindo nua!
— Não exagere — consolou-a. — Quando colocar a máscara, não se sentirá tão exposta.
Kagome não tinha tanta certeza, mas agora era tarde demais. Ninguém nunca prestava atenção nela, portanto, não havia motivos para achar que hoje seria diferente.
A máscara a deixou um pouco mais confiante, mas ainda estava muito consciente dos olhares que pareciam acompanhá-la enquanto andava entre os convidados com a bandeja, e ficou apavorada ao vislumbrar Rin num canto afastado da sala.
Linda como sempre, a irmã caçula flertava com um ator de novelas que diziam estar fazendo muito sucesso e era cotado para se transformar na sensação do momento e, no processo, abandonaria a segunda mulher.
Kagome achava difícil abandonar o hábito de se preocupar com Rin, mas tinha certeza de que a irmã estava apenas se divertindo. Para uma jovem com sua aparência, Rin era um bocado cabeça-dura quando o assunto era homens. Mesmo assim, melhor evitar aquela parte da sala, decidiu. Não podia correr o risco e Rin, com certeza, a reconheceria, com ou sem máscara. Ela e Kikyo já criticavam demais sua ocupação noturna.
— E uma vergonha — resmungavam. — E se alguém reconhecer você e souber que é nossa irmã? — Pessoalmente, Kagome achava ser mais vergonhoso viver como parasita das amigas, como Rin, ou depender dos sogros, como Kikyo, mas há anos desistira de discutir com as irmãs.
Dando meia-volta, foi para o outro lado e atravessou a multidão, segurando a bandeja no alto, o rabo preso em um dos braços para evitar ficar tropeçando nele. Champanhe circulava à vontade e a festa logo esquentou, o tom de voz aumentando em vários decibéis, a risada tomando-se mais escandalosa.
Os pés de Kagome doíam quando arrumou a bandeja com sofisticados cogumelos , salmão defumado e canapés de ovos mexidos, e voltou ao salão de festas.
Lá estava Rin de novo, conversando com um imponente empresário.
Kagome desviou e dirigiu-se a um grupo parado do outro lado da sala. Uma moça incrivelmente magra, num vestido chamativo que provavelmente custara o mesmo que Kagome ganhava por ano, parecia enfastiada. Ao se aproximar, Kagome entendeu o motivo. Todos os homens na rodinha pareciam ter bebido demais e riam em tom alto com as piadas uns dos outros.
Kagome se perguntou por que a jovem continuava ali se, obviamente, não se divertia. Encontrava-se parada perto de um homem alto, cujas costas estavam voltadas para Kagome, a mão possessiva no braço dele. Talvez ela preferisse se aborrecer do que abrir mão de ficar ao lado do homem.
Ele devia ser o máximo, pensou Kagome, cinicamente. Uma mulher daquelas não ficaria com ninguém, a não ser que esse alguém fosse muito rico, muito famoso ou muito maravilhoso, e obviamente defendia seu território contra mulheres como Rin. Inútil dizer que ela nem notou Kagome estendendo a bandeja, mas seu acompanhante voltou-se para fitá-la. Kagome ficou imóvel, o coração quase saindo pela boca, o sorriso desaparecendo do rosto.
Agora entendia a razão da jovem de se dispor a suportar piadas tediosas e não abandoná-lo: ele era muito rico, muito famoso e também muito maravilhoso, por menos que Kagome quisesse admiti-lo.
Na verdade, tratava-se de Inuyasha Taisho.
