Você jurou que me amava

Katakura abrira os olhos. Ouvia o noivo gemendo, como todas as noites desde que se tornaram publicamente compromissados. Ele sentia que seu casamento seria uma farsa, mas nada poderia fazer para impedi-lo. Amava demais aquele dragão para simplesmente entrega-lo a outro homem. Mesmo que soubesse que seu noivo amava este outro. Levantou-se cautelosamente, para não acordar Date. Sua cabeça doía por todas as noites mal dormidas. Date continuava a se debater, como se quisesse se libertar de algum espírito maligno. Katakura sabia exatamente qual era esse espírito, e sabia que para Date ele não era nada maligno, mas para ele, era mais do que isso: era uma barreira completamente poderosa.

Foi para o banheiro, pegando o pente que jazia mofado sobre a pia, lavou-o rapidamente e começou a pentear os cabelos castanhos claros. Pelo espelho, podia ver seu noivo ainda gemendo e se debatendo. Suspirou, lembrando-se do dia em que percebeu tudo. Ainda se lembrava dos olhos castanhos claros se enchendo de lágrimas quando, em um jantar, fora anunciado o casamento de Date Masamune e Katakura Kojuro. Ainda se lembrava das trocas de olhares entre Date e esse garoto de olhos castanhos claros, como se estivessem se desculpando por tudo e se arrependendo de tudo. Ainda se lembrava da tristeza nos olhos do rapaz ao anunciar o casamento, um sorriso forçado preenchendo seus lábios. Ainda se lembrava dos beijos sem amor, das palavras sem verdades, dos olhares sem brilho.

Uma lágrima rolou silenciosamente pelo rosto de Katakura. Nervoso consigo mesmo por mostrar este sinal de fraqueza, limpou rudemente a lágrima com a manga do pijama. Ele jurou que seria forte e que aguentaria até onde fosse aguentar. Voltando a pentear o cabelo, lembrou-se de como era antes. Alguns meses antes do pedido de casamento, Katakura tinha certeza que Date o amava verdadeiramente. Ele era tão carinhoso, tão afetuoso, tão amoroso, que para ele não restava dúvidas. Para ele, a outra já saíra do coração de seu amado, e só restava Katakura para preenchê-lo. Mas foi no anúncio que ele percebeu que nada mudara no coração de Date. Os olhares de ambos de um para o outro. Os gestos. A tristeza. O arrependimento. O ato mal feito. Katakura percebeu na mesma hora que aquilo era um erro, mas decidiu prosseguir com a decisão. Ele sabia que, apesar de tudo, eles seriam felizes.

Ele sabia. Ele acreditava. Ou desejava acreditar. Olhou-se no espelho. Sua cabeça doía, seu rosto estava péssimo pelas noites de lágrimas, seu cabelo, agora penteado, mostrava-se um pouco mais comportado do que na noite anterior.

Três meses se passaram. Três meses desde que o erro fora cometido. Três meses desde que um amor fora quebrado por um capricho de ambas as partes. "Não foi um erro". Pensou Katakura. "Date me ama. Eu sei disso." Katakura, na frente do espelho da suíte, proferiu as palavras: Katakura Masamune.

Katakura Masamune. Como soava bem. E nenhum homem poderia mudar aquele som. Katakura Masamune. Ele sonhara a vida inteira por aquelas palavras. Sonhava no dia em que encontraria Date Masamune de novo. E encontrou, por força do destino, como ele mesmo repetia inúmeras vezes. A relação deles já estava escrita.

Katakura voltou a pentear o cabelo demoradamente, repetindo para si mesmo: Katakura Masamune. Katakura Masamune. Seria Katakura Masamune, e nenhum homem de cabelos castanhos e olhos castanhos poderia mudar isso. Date era dele e ele era dele. Continuou assim por vários minutos, ouvindo os gemidos de Date no quarto ao lado. Seria Katakura Masamune. Ele estava certo disso. Voltando ao quarto, começou a observar seu noivo. Date tinha parado de gemer e se debater, e seu peito arfava calmamente. Ele ficou assim, observando-o, até que ouviu algo que fez uma lágrima teimosa rolar pela sua face.

- Yukimura...

De repente, o nome Katakura Masamune não soou tão bem como antes.