Há muito tempo, quando os deuses e as criaturas míticas habitavam as terras do oriente, havia um dragão que não saía de sua caverna. Um ser tão solitário quanto majestoso, das mais diferentes tonalidades de azul possíveis, mas todas que lembravam a cor da água, do céu e do gelo que rodeava sua morada. Por mais de mil anos, o dragão contemplara o mundo de sua caverna, encontrada apenas por quem sabia o caminho, que começava atrás de um antigo templo de monges que se sediaram ali alguns milênios antes do próprio dragão.

Durante séculos, os monges estabeleceram uma relação de confiança e respeito pelo poderoso dragão, que passara a ver os habitantes do templo não só como seus queridos amigos e protegidos, mas como a família que nunca tivera. Ele era o último de sua espécie, portanto, não havia outros com quem ele pudesse conversar. E foi por causa da companhia constante dos monges e da comida que ofereciam a ele que o grande dragão de gelo os protegia e lhes concedia proteção.

Ainda assim, foi depois de 2 mil anos que surgiu uma pequena monja que conseguira chegar a tocar o dragão. Ela tinha a pele clara como a de suas irmãs, mas seu cabelo era preto, diferente dos cabelos de sua família, que eram castanhos. Seus grandes olhos verdes cativaram o dragão, afinal, ele nunca vira olhos tão belos nem na mais linda das criaturas. Eram olhos verdes que lembravam o gelo mais puro e mais frio dos mares do norte.

Um dia, depois que a criança havia crescido e se tornado uma adolescente muito bela, o dragão recebera sua visita novamente.

- Bom-dia, criança. O que faz aqui hoje?
- Bom-dia, grande dragão. Eu vim visitar sua árvore.
- Minha árvore? De novo? Faz tempo que você não vem me contar histórias. Talvez eu devesse te soprar daqui de volta pro templo. - Dizia o dragão com um olhar paciente para a moça.
- De novo? Você já fez isso comigo três vezes essa semana! Deve ser por isso que não tenho lhe contado histórias. - Ria a jovem monja, que arrancou um sorriso do amigo gigantesco.
- E vejo que mesmo depois de três vezes, você continua teimosa, Fuyuko. Muito bem, deixarei você passar.
- Muito obrigado, Hyourinmaru.

O dragão moveu-se e deu espaço para que a garota passasse. Ela chegou até a árvore sagrada que ficava atrás da caverna de Hyourinmaru. Era uma ameixeira enorme, que mesmo no tempo frio da montanha e tendo perdido suas folhas e flores por causa da nevasca recente, continuava viva e emanando sua aura sagrada. Fuyuko andara até a base da árvore, onde tinha um pequeno altar. Ela colocou lá as oferendas dos monjes e voltou à caverna.

- Fuyuko, em três dias retorne. Você quer ver Tobiume florescer esse ano também, não quer?
- Sim, eu quero. Eu não perderia por nada. - sorriu.
- Que bom. Mal posso esperar por sua melhor história esse ano.

A pequena monja de cabelos negros se despediu do dragão e voltou para o templo, o que deixou o dragão a pensar... Sempre que isso acontecia, ele se sentia mal. Sabia que o tempo de vida que tinha não estava nem um pouco perto de terminar, enquanto que sua protegida morreria em poucos anos mortais. Ele então baixou a cabeça e deitou-se para dormir, fechando assim a entrada da caverna. Ele não vira, no entanto, que Fuyuko jazia caída próximo à entrada do templo, onde fora vista e carregada às pressas para seu quarto. Ele não sabia.