Título: Um Pouco de Fé

Autora: Lab Girl
Categoria:
Bones, B&B, 5ª temporada, romance, sexo
Advertências:
Linguagem e situações adultas, inapropriadas para menores!
Classificação: NC-17
Capítulo: 1/2
Spoilers:
Episódio 5x21 (The Boy With the Answer)

Sumário: Brennan fica abalada após o julgamento da Coveira. Ao vê-la ir embora naquele táxi, Booth sente-se reviver uma determinada noite, seis anos atrás. Será que dessa vez o final vai ser o mesmo?

Nota da Autora: Esta é mais uma daquelas histórias que Seeley Booth me inspira a escrever (então já sabem o que esperar!). A canção que ouvi enquanto escrevia - e da qual uso alguns versos nesta fic - para quem quiser saber, de repente até mesmo escutar ao começar a leitura: "Have a little faith in me", na voz de Mandy Moore. Agora vamos lá... on with the show ;)

Ah, reviews serão sempre – e altamente – apreciadas! Por favor =)

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Ele a viu entrar no táxi. Num táxi muito parecido com um em que a havia visto entrar anos atrás. Para ser exato, seis anos atrás.

Ele a viu partir, e virar-se para olhá-lo uma última vez, dentro do táxi.

Booth sentiu seu coração encolher. Se aquilo fosse possível, tinha a certeza de que era o que estaria acontecendo dentro de seu peito.

Estava ali, de pé, na rua. Vendo Temperance Brennan partir em um táxi.

E como naquela noite, seis anos atrás, voltou para casa. Sozinho.

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Quando a estrada escurecer
E você já não conseguir enxergar
Deixe meu amor lançar uma luz
E tenha
um pouco de fé em mim

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Ele não poderia culpá-la por querer partir. Depois de tantas coisas que haviam visto, que havia passado juntos. Em frequente contato com os horrores humanos, Booth desconfiava que algum dia ela quisesse partir. E esse era seu grande medo.

Suspirou, retirando a chave do bolso de sua calça. No fundo, esse medo sempre estivera lá, em seu coração. Ele que havia feito questão de empurrá-lo bem para o fundo, de modo que não viesse à tona para assombrá-lo.

No entanto, esse temido momento havia chegado. Temperance já não tinha certeza. Ela finalmente havia atingido o momento em que se via na borda daquele precipício. E era saltar ou recuar.

Ele temia que ela recuasse.

Mas não podia culpá-la se escolhesse se afastar.

Abrindo a porta de casa, não se preocupou em acender as luzes. Estava cansado, de modo que entrou em seu velho apartamento sem se importar em imergir no escuro. As luzes da rua lá fora, e da lua, providenciavam a claridade suficiente para que trancasse a porta em silêncio.

Permaneceu parado, no corredor de entrada. Estava cansado. Cansado de chegar em casa todas as noites para ser recebido pelo silêncio e pela solidão.

Se ela o deixasse, seu mundo se tornaria ainda mais vazio.

Balançou a cabeça, repreendendo-se mentalmente. Não podia ser tão egoísta a ponto de pensar apenas como seria sua vida sem ela. Tinha de pensar em como seria a dela, livre de violência, assassinatos e gente pervertida.

Esse era seu único consolo, caso ela decidisse não mais ser sua parceira.

Ela não sabia que seria como arrancar uma parte de si mesmo caso ela fosse embora?

Não. Claro que ela não sabia. Ela não podia saber porque ele havia usado de todos os seus esforços através dos anos para aprender a esconder sua necessidade por ela.

Ela não fazia idéia de por quantas vezes ele sufocara os próprios instintos, se proibira de tentar se aproximar mais do que devia. Ela não sabia que sequer conseguia imaginar mais sua vida sem ela, e o simples pensamento de que isso pudesse acontecer o consumia por dentro.

Ela nunca percebera quantas vezes ele forçara as próprias mãos a se manterem firmes a seu lado, resistindo à tentação de demorar-se mais do que o suficiente no fundo das costas dela quando a guiava por uma porta, ou mesmo reprimindo a intensa vontade de tocar o delicado rosto, uma mecha de cabelo...

Tudo porque havia se tornado, ao passar dos anos de sua parceria com Brennan, mais e mais consciente de seus sentimentos por ela. E temia que aqueles sentimentos tivessem crescido tanto a ponto de que não pudesse saber mais como lidar com eles. Desde sua declaração frustrada, diariamente travava uma luta interna para contê-los dentro de si.

Booth suspirou, quebrando o silêncio de seu apartamento.

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Brennan o ouviu suspirar. Mas não disse nada. Permaneceu calada, encostada à parede no final do corredor. Ele ainda não havia percebido sua presença.

Havia deixado o restaurante dizendo a ele que precisava ir. Precisava pensar.

Ele tinha razão. Estava abalada. Muito abalada com os últimos acontecimentos. Sua fé – se é que podia chamar assim – havia sido abalada.

Sua confiança na justiça, no sistema para o qual trabalhava. Tudo tinha sido sacudido com violência nas últimas quarenta e oito horas. E não conseguia mais saber se era capaz de continuar. De prosseguir naquele caminho.

Sentia necessidade de respirar. De uma libertação. De algo que nem mesmo sabia o que era.

Ao entrar naquele táxi, porém, vê-lo parado na calçada enquanto a observava partir havia ativado suas lembranças. Lembranças de anos atrás. De uma noite que não havia terminado exatamente como gostaria, e que se via relembrando com frequência nos últimos meses.

Desde aquela conversa no consultório de Sweets. Desde que essa tal conversa havia despertado cenas do passado em sua mente.

Booth a amava.

Ela sabia.

Ele era seu melhor amigo. Uma das pessoas mais importantes em sua vida. Talvez a mais importante delas.

Brennan não sabia se conseguiria tomar uma decisão tão facilmente sobre o que fazer, que rumo tomar em sua vida. Mas sabia que essa decisão o afetaria.

Afetaria a si mesma, a quem estava tentando enganar?

Não conseguia pensar em como seria se afastar dele agora. Depois de tantos anos juntos...

Existia um laço, e ela não podia fingir que não estava lá. Havia algo entre os dois. E para ela, era tão importante, tão necessário que por mais desesperançosa e sem rumo que estivesse, algo permanecia claro - não queria ficar sem ele. Longe dele.

Por isso havia mudado de idéia no meio do trajeto para sua casa, pedindo ao motorista que a levasse até ali.

Ao apartamento dele.

Ele ainda não havia retornado quando ela chegara. Mas ela sabia onde Booth escondia a chave reserva.

E estava ali, parada, no escuro. Ele acabava de voltar para casa, mas ela não tivera a coragem de se anunciar ainda.

Ele parecia tão cansado.

E ela simplesmente sentia uma esmagadora vontade de se aproximar e colocar os braços ao redor dele e abraçá-lo.

Confortá-lo.

Fazer o cansaço dele - e o dela - ir embora.

Era um sentimento tão puro, quase fraterno.

Quase.

Mas Brennan permaneceu parada. Percebeu que não iria se atrever a tocá-lo. Não sabia por que, mas tinha medo.

Medo? Mas o que precisaria temer se seus sentimentos eram tão fraternais?

Ela então percebeu que o medo era justamente esse. Seus sentimentos 'fraternos' podiam facilmente fugir do seu controle. E sua exaustão emocional não seria boa conselheira naquela noite.

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Ele deixou que um suspiro escapasse de seus lábios enquanto se livrava da jaqueta. Ainda não havia acendido as luzes. Nem queria.

Caminhou lentamente em direção ao sofá. Mas antes de atingi-lo, foi surpreendido por uma figura saída das sombras.

Seu primeiro instinto foi voltar-se para pegar sua arma, mas antes mesmo que pudesse fazer qualquer movimento ele sentiu o perfume inconfundível, o aroma e a essência de Temperance Brennan.

"Bones..." sussurrou, caminhando em direção a ela.

Ao se aproximar, as feições dela se tornaram mais claras sob a leve luz da lua. Os olhos brilhavam intensamente, e ela se aproximou com uma leveza que o fez sentir-se atordoado.

"Booth, eu..." ela iniciou em uma voz trêmula e hesitante, mas ele a impediu de continuar com uma leve sacudida de cabeça e lentamente a puxou para si, seus olhos se fechando cansadamente, uma de suas mãos depositando-lhe a cabeça contra o peito.

Enquanto a abraçava, meneou a cabeça de um lado para o outro, o rosto enterrado nos cabelos dela.

"Não diga nada por uns minutos..." murmurou, a voz tão baixa, quase um sussurro.

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Sabendo que não deveria, ela permitiu ao próprio corpo responder ao dele e fechou os olhos, apenas sentindo o aroma que emanava de Booth.

Ela percebeu então o quanto o queria, o quanto precisava da presença dele a seu lado. E isso a pegou de surpresa.

Talvez fosse isso o que as pessoas quisessem dizer quando falavam que ao encontrar a pessoa certa, você simplesmente sabia. E se havia algo que ela sabia com certeza, era que nunca havia experimentado sentimentos tão poderosos ao mesmo tempo pela mesma pessoa em toda sua vida - a necessidade de abraçar e confortar num minuto, e a arrasadora vontade de senti-lo mais próximo, de um modo que não tinha nada a ver com conforto em outro.

Brennan tentou não pensar nisso. Afinal, Booth era seu amigo.

Seu melhor amigo.

E o mais prudente era que permanecesse assim.

Mas sabia que, tendo chegado às conclusões anteriores, não seria capaz de ignorar os próprios sentimentos para sempre.

Após alguns minutos, ela se forçou a abrir os olhos e retornar à realidade. Ele não mostrava nenhuma intenção de soltá-la.

"Booth, você está bem?"

Ela ouviu uma suave, quase irônica risada escapar dele enquanto a soltava e se afastava um pouco.

Ele correu a mão pelos cabelos e suspirou.

"Era eu quem devia estar lhe fazendo essa pergunta, não?"

Brennan o encarou, séria.

"Eu estou bem" murmurou, tentando parecer convicta do que dizia.

"Então... por que veio aqui?" Booth perguntou. "Quero dizer, não estou me queixando. É só que... eu pensei que quisesse um tempo para pensar."

"Eu não quero pensar, Booth" disse, sincera. "Eu estou cansada de pensar. Por uma noite, eu não quero pensar" levou as mãos à cabeça, sabendo que era totalmente sem sentido o que dizia.

Ninguém conseguia ficar sem pensar.

Mas era exatamente essa sua vontade agora. Deixar os pensamentos de lado, fazer as preocupações irem embora.

Estava cansada. Sozinha.

"Eu estava preocupado com você" ele disse, por fim.

Brennan então voltou a encostar-se à parede, os olhos perdidos em algum lugar da sala.

"Antes de hoje, eu teria dito que você nunca teria razão para se preocupar a meu respeito. Acho que não posso mais dizer isso, não é?"

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O coração de Booth se apertou diante do tom de auto-recriminação vindo dela.

Ele se reaproximou, tomando as mãos dela nas suas. "Eu estava preocupado com você. Acho que é compreensível, levando-se em conta tudo o que passamos nas últimas horas."

Ela não se moveu. Continuou encarando a distância, a expressão vazia.

"Queria não sentir receio. Nem ter dúvidas ou motivos para me preocupar. Queria me sentir cem por cento segura do que fazemos. Mas não sou como você, Booth."

"Eu não me sinto cem por cento seguro, Bones. Também sinto medo, também tenho dúvidas" ele falou, o tom de voz baixo e calmo. "Mas o que me move, o que me faz continuar, é a certeza que você me deu."

Brennan ergueu os olhos para ele.

"A certeza de que juntos, nós lutamos para transformar o mundo num lugar melhor."

Ela sentiu as palavras dele tocarem seu coração.

"E é porque tenho você ao meu lado que minhas dúvidas e temores ficam distantes, e eu sei que posso. Porque você vai estar aqui para mim... e eu para você" ele sorriu, levemente. "A nossa pareceria, Bones, é o que me mantém firme e seguro. Se não fosse por você, provavelmente eu já teria desistido."

Aquilo era uma surpresa para ela. Booth sempre havia sido tão dedicado ao que fazia, apaixonado até. Ela não conseguia acreditar que ele pudesse ter abandonado sua carreira no FBI se não fosse por ela.

"Eu gosto do que faço. E acredito no meu trabalho" ele continuou, como se houvesse lido sua dúvida. "Mas se eu não tivesse você, Bones... se não contasse com você ao meu lado para me manter íntegro, firme no caminho, provavelmente eu já teria cedido na primeira oportunidade em que a falta de fé tivesse se abatido sobre mim. E eu não falo apenas da minha fé em Deus, mas da minha fé nas pessoas. E no mundo."

Ela observou Booth, o coração batendo com força contra seu peito enquanto ele prosseguia.

"Sem você ao meu lado, Bones... eu teria provavelmente abandonado tudo antes de chegar aqui. Se não tivesse encontrado você a tempo, debaixo daquela terra toda..." ele hesitou por um minuto, visivelmente abalado ante a lembrança de quando ela havia sido enterrada viva. "Se você não tivesse saído dali com vida, Bones, eu não estaria aqui hoje. Teria abandonado tudo ali... minha carreira não teria mais sentido para mim, minha crença de que o bem sempre sobrepuja o mal."

Brennan não soube o que dizer. Via a sinceridade absoluta das palavras dele, sentia isso nos olhos dele, que a encaravam sem um segundo hesitação.

"Mas nós sobrevivemos, Bones. Eu te salvei, você me salvou" ele murmurou.

"Nós nos salvamos" ela concluiu, com lágrimas nos olhos.

"E é por isso que eu nunca desisti. Porque eu sabia... eu sei... que você sempre vai estar comigo quando eu precisar. Assim como eu sempre... sempre... vou estar aqui para você."

"Você é o único com quem me sinto realmente segura" ela se ouviu dizer as palavras.

Brennan já não lutava contra a onda de emoção que a consumia. Precisava dele. Precisava de Booth para se manter firme. E por essa razão estava ali. Por essa razão havia rumado para o apartamento dele. Porque no fundo sabia que ele a ajudaria a tomar a decisão certa. Ele a puxaria de volta de seus pesadelos, ele a traria à tona com ele. E juntos, os dois poderiam voltar a respirar.

Ele olhou para ela e apertou-lhe levemente a mão, trazendo-a para junto dele.

"Não consegue ver o óbvio? Nós precisamos um do outro, Bones..." ele sussurrou, as palavras parecendo tiradas do mais profundo de seu ser. "O que eu faria sem você?"

"Eu estou aqui, Booth. Não pretendo ir a lugar algum" ela murmurou suavemente, afastando-se lentamente do peito dele para encará-lo melhor.

Sentiu-se perdida diante do olhar dele. Booth então tocou levemente seu rosto com uma das mãos e sorriu. "Eu também estou aqui, Bones. E mesmo que me peça, eu nunca irei embora."

De repente seus olhos arderam. Brennan se sentia bem. Todo seu ser se enchendo do calor que a simples presença dele provocava. Então, sentiu as mãos dele em seu rosto, acariciando-lhe a face. Manteve-se imóvel durante um minuto, apenas experimentando as suaves sensações que aquele simples toque produzia em sua pele.

Ela o sentiu tão próximo que, não mais que de repente, tornou-se consciente da intimidade da situação em que se encontravam, da própria sensibilidade ao calor do corpo dele, e começou a pensar se o único motivo pelo qual se sentia zonza era o intenso cansaço emocional.

Com as sensações que estivera experimentando desde o início daquele julgamento, talvez a decisão de abraçá-lo e extrair um pouco de conforto do contato não tivesse sido apenas uma simples decisão 'fraternal'.

Talvez fosse uma decisão tentadora demais - perigosa demais - tê-lo tão perto de si.

Então ela se repreendeu mentalmente. Não havia nada de errado com aquela decisão. Estava apenas cansada e não estava conseguindo pensar direito.

Mas então ela sentiu as mãos dele deslizarem, indo parar atrás de seu pescoço. Ela o fitou nos olhos, o que a deixou ainda mais atordoada. O brilho e a intensidade que viu neles foram suficientes para torná-la desamparadamente fraca.

Ele era lindo. E tão... alcançável.

Ela sentiu o rosto dele aproximar-se mais, todo seu corpo eletrizado, antecipando o inevitável. Sentiu o hálito quente de Booth quando ele partiu levemente os lábios. Seu coração disparou de uma forma tão violenta que ela estava certa de que ele podia ouvi-lo.

Oh, aquilo era perigoso. Deliciosamente perigoso.

Por mais que soubesse que deviam evitar aquele tipo de situação, Temperance sempre apreciava esses momentos de absurda proximidade entre eles. Mas nunca antes se sentira tão fraca e trêmula diante de Booth. Quando o rosto dele fechou a distância entre seus corpos, ela não pôde mais impedir que seus próprios lábios se abrissem, deixando escapar um longo suspiro.

Ele permaneceu ali por uns breves segundos, fazendo-a crer que iria enlouquecer.

Então, de repente ela o sentiu mover-se, seus olhos acompanhando cada passo, até que finalmente seus lábios se tocaram, tão levemente que ela nem mesmo sabia dizer se era verdade.

Brennan sentiu os olhos se fecharem, inebriada pelo momento que parecia tão eterno. Seus lábios estavam apenas encostados, mas a sensação era tão arrebatadora que ela pensava não ser capaz de suportar o mais leve aprofundamento. E tudo se tornou incrível.

Era impossível abrir os olhos. Era desnecessário respirar. Apenas agora Temperance Brennan sabia o que era viver plenamente. O mundo a seu redor não existia. Nada mais importava. Apenas as sensações. E ela se deixou sentir.

Pela primeira vez se permitiu entregar-se inteiramente às sensações.

Sem as amarras da razão.

Sem medos.

Estava livre.

Pela primeira vez em sua vida estava totalmente livre, onde sempre queria estar. Nos braços de Booth.

E a sensação, mais uma vez, era magnífica. Não conseguia pensar em nada, não conseguia se concentrar em nada além do simples e mais leve toque dos lábios de Seeley Booth contra os seus.

Apesar de não passar de um gesto descuidado de carinho, ela sentia os efeitos percorrerem todo seu corpo. Por instantes ela perdeu a noção de tudo. Sabia apenas que ela era Temperance, em pé no apartamento de Booth, buscando conforto e sua fé que minutos atrás parecia perdida.

E sentia-se feliz por ter conseguido encontrá-la.

Não agora, mas há um bom tempo atrás, ela descobrira que sua vida não teria o mesmo sentido sem aquele homem a seu lado. Ele se tornara uma parte dela mesma, sem a qual não era imaginável viver. Por mais ilógica e racionalmente incorreta que aquela noção fosse.

As mãos dele afagaram gentilmente uma mecha de seu cabelo, e os dedos acariciaram levemente suas bochechas antes que ele se afastasse.

Brennan permaneceu de olhos fechados, imersa nas sensações. Suspirou.

Sentiu frio.

"Bones..." ele sussurrou.

Ela continuava sem forças para abrir os olhos. Seu mundo estava tão completo que temia ter de encarar o frio real novamente.

Tudo o que queria era sentir.

Então ele sussurrou. "Temperance..."

Ela estremeceu por dentro ao simples som de seu primeiro nome nos lábios dele. Soava tão puro, tão certo.

Tão urgente.

Sentiu as mãos de Booth deslizarem por seu rosto firmemente, mas delicadamente o suficiente para que ela voltasse sua atenção a ele.

"Temperance, olhe para mim."

Ela lentamente abriu os olhos, as pálpebras pesadas. E encontrou os olhos castanhos dele nos seus. O olhar que viu neles era tão intenso que ela sentiu a respiração escapar.

Ele se aproximou docilmente de seu rosto e murmurou, em uma voz ternamente rouca. "Eu te amo, Bones..."

Ela o fitou por um breve momento, fechando os olhos novamente em seguida.

Sua mente deu mil voltas e seu corpo assistiu a uma Temperance Brennan se entregar inteiramente a um puro êxtase emocional. Mais do que nunca, ela compreendeu sua necessidade por Booth. Precisava apenas dele. Todo o resto era uma gratificação adicional, vinda como consequência de um vínculo construído durante anos de confiança.

Confiança que agora derrubava a última das barreiras estabelecida entre eles, para se encontrar inteira, do outro lado. O tempo dos medos, dos receios, havia acabado. E acabavam agora seus temores com relação ao futuro. Não queria... não podia mais se negar ao que tanto ansiava. Ela já estava ligada a ele. Irremediavelmente. E era tarde demais para querer voltar atrás. O que tanto temia, já havia acontecido sem que se desse conta.

E agora somente lhe restava encontrá-lo do outro lado dos destroços daquela barreira invisível.

Ela sentiu um pequeno sorriso brotar em seus lábios. E deixou-o expandir-se.

Um sorriso que guardara para ele. Para esse momento.

Ela umedeceu os lábios. Abriu os olhos.

"Eu te amo, Seeley Booth..." as palavras escaparam de seus lábios em pequenas lufadas que tiveram o poder de paralisá-lo.

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Ele sentiu o corpo estremecer. As palavras dela - aquelas que nunca havia pensado ouvi-la dizer seriamente algum dia - o deixaram atordoado. Isso somado ao fato de que aquela era a primeira vez em muitos anos em que Brennan pronunciava seu primeiro nome.

Sentia-se extremamente feliz, como nunca poderia se lembrar de ter sentido. Ele também a amava, com todo seu ser, com todo seu pensamento. Com toda sua fé e confiança. Seu coração era dela. E tudo o que ele era, também pertencia a ela.

Seus lábios uniram-se novamente, dessa vez para um contato mais profundo.

Ele sentiu quando os lábios dela se abriram para recebê-lo, a língua suave e quente. E ele se permitiu mergulhar no suave e convidativo interior pelo qual passara noites e dias em anos ansiando.

Ela era doce e delicada. Macia e dócil. Entregando-se prontamente a exploração.

Ele sugou, provou, raspou a ansiosa língua de Bones com seus dentes.

Ela se aproximou ainda mais, disposta a aprofundar o contato. Ele deslizou a língua gentilmente pelo lábio inferior dela, traçando-lhe o cheio formato, mordendo-o levemente.

Ela gemeu.

Booth aproximou o corpo e deixou que as mãos puxassem delicadamente o casaco que Brennan ainda usava, fazendo a peça cair ao chão, aos pés dela.

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...Continua...