Lethe
Ele provou do gosto amargo do esquecimento.
Por várias vezes ele soube que ela desejava nunca tê-lo conhecido, e que, se bem pudesse, gostaria de nunca mais vê-lo na vida. Se bem pudesse, adoraria esquecê-lo completamente.
Ela costumava se queixar dele em prantos, nos braços quentes e macios de Lily Evans, quando não nos longos e desajeitados de James Potter. Quando isso acontecia, por mais que seu amigo não quisesse opinar sobre essas brigas corriqueiras, quiçá tomar partido de um deles, Sirius sabia que James não estava do seu lado.
E a rotina era a mesma: eles brigavam, nunca por alguma razão palpável, ou compreensível, ela chorava que nunca mais queria vê-lo e ele jurava a si próprio que nunca mais a dirigiria a palavra.
Dessa forma passavam dois ou três dias intermináveis e, nunca sabendo explicar ao certo o porquê, voltavam a se falar, cautelosamente. Nunca discutiram crenças, gostos pessoais ou família, não profundamente. E decerto não precisavam.
Também não é que eles tenham sido feitos um para o outro, ou que essa seja uma história de amor. Afinal, não é. Pode ser, talvez, uma história sobre amor, se ainda eles tivessem sabido o que é isso.
Além do mais, Sirius não saberia contá-la e Marlene estava morta.
Sirius se lembra que ela era de uma família de bruxos respeitadíssima, os Mckinnon, e que era prima de James, e que sua mãe a adorava, e que ela era linda.
Se lembra que ela jogava Quadribol. Artilheira, se ele se lembra bem.
Era ela da Grifinória, amiga de Lily Evans e tinha os cabelos escuros mais lindos que ele já tinha visto.
Falava pouco ou muito, nunca em um meio termo. Era temperamental, mas sabia ser uma dama gelada. Era péssima em xadrez de bruxo e foi ao Baile de Primavera de 1975, talvez, com o Edgar Bones.
Ela também não conseguia segurar o riso, sempre que ele contava uma anedota qualquer, ou imitava algum professor. Ela roía as unhas e tinha lábios fartos. Olhos verdes... ou azuis? E era irlandesa. Certamente era irlandesa. Tinha um grande labrador preto e seu Patrono era uma águia.
Ele não consegue se lembrar qual era sua temperatura, ao sentir o papel fotográfico em suas mãos. E não consegue se lembrar o porquê de ela estar tão distante na figura móvel. Tão distante até da Lily e do James.
O engraçado é que não deva ter sido essa uma memória boa, algo que um Dementador pudesse querer. Senão ela estaria ao seu lado, e não o reverso. Seu esquecimento não era culpa única dos Dementadores. Ele queria mesmo esquecer.
Ele se lembra que um dia desses ele era seu amigo. E ela era amiga dele. Pouco se lembra do que passaram juntos; do cheiro do seu perfume caro e do licor de menta; da maciez dos seus cabelos e de como seus olhos ornavam bem com seus dentes. Ele sabe que está lá, mas não lembra.
Remus o observa a distância, e sabe o que ele pensa. O melhor é deixá-lo, por hora; em pouco o jantar ficará pronto e o sufoco se alivia um pouco mais, com o gosto do pudim enviado por Molly Weasley.
Mas, todas as noites, Sirius se lembrava dela e de todos os seus arrependimentos, e ele aperta por dentro, e se lembra.
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NA: Como eu posso escrever assim tão mal? A ideia vem toda linda na minha cabeça e pá: quando tento colocar isso em palavras, tudo me foge! Falta de inspiração, talvez? Enfim, resolvi postar, pois, pode ser que vocês sejam menos duros com essa fiction do que eu própria.
NA²: O Rio Lethe, ou Lete, é o rio do esquecimento, para alguns povos, dentre eles, os gregos antigos. É, Gabitcheen é cultura.
