Fandom: Heroes
Título: Estrada para o Fim do Mundo
Autora: Scarlet Girl
Classificação: M.
Gênero: Drama
Ship: Gabriel Gray/Sylar X Mohinder Suresh (Mylar); Mohinder Suresh X Elle Bishop; menções a Gabriel Gray/Sylar X Maya Herrera, Peter Petrelli X Claire Bennet (Paire) e Mohinder Suresh X Eden McCain; insinuações de Adam Monroe X Elle Bishop (Adelle).
Spoilers: Até 2X11, Powerless.
Sumário: Então, Sylar sorri, flexionando as mãos que, você vê agora, estão sujas de sangue. Você estremece porque sabe que vocês são os únicos que restaram.
Capítulo: 1.
Disclaimer:Heroes não me pertence. Se fosse meu… Bem, ia ter rios de lágrimas a mais.
Avisos: SLASH, ou seja, homem X homem; e muito, muito drama relacionado ao vírus Shanti.

N/A: Minha primeira longa! Melhor dizendo, não-tão-curta: Estrada para o Fim do Mundo tem só quatro capítulos, mas quatro capítulos que eu espero que valham a pena.

O sistema dos ships é assim: no primeiro capítulo, cito todos os ships que irão aparecer na história; então, conforme a história avança, cito apenas o principal e os que aparecem no capítulo, OK? Então, leia ali em cima; se não gostar de algum ship, já sabe: passo atrás! XD

Quando o ship está lá, sem nada a acrescentar, ele efetivamente acontece; quando é "menções a", ele é citado, mas geralmente aconteceu no passado da fic ou coisa assim, e não ocorre no presente da fic; quando é "insinuações de", é só insinuado, mas nada efetivo, como um "eu te amo", ou beijo, acontece.

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Estrada para o Fim do Mundo

Capítulo 1: The Outbreak

No dia em que tudo começa, no dia que você jamais esquecerá, você leva Maya ao seu quarto e lhe dá um sedativo, para que ela não chore. Depois, você acomoda Elle e Molly na cozinha, e serve um pouco de sorvete, porque vocês passaram muita coisa.

É quando Matt liga de Odessa, e você corre para atender porque não sabe onde ele se meteu nos últimos dias.

"O vírus foi liberado", ele disse.

"O vírus Shanti?", você pergunta, sem conseguir entender porque a voz de Matt estava tão séria. "Olha, não há nada com que se preocupar. O vírus não se espalha pelo ar, tem que ser injetado, e—"

"Não, Mohinder, não", Matt te corta sem qualquer cerimônia. "Esse vírus é sério. Espalha para a população comum. Nathan está na UTI, com febre de quarenta graus, e, por Deus, ele nem encostou no vidro. Peter está—"

"Peter?"

"É, Peter, ele voltou, e voltou na hora errada, justo quando eu e Nathan íamos destruir o frasco com o vírus letal. Veio ele e mais um cara chamado Alguma-Coisa-Monroe, e o cara conseguiu liberar o vírus. O fato é que Peter está desesperado, ele diz que esse vírus vai matar 93 da população mundial."

93 por cento. Uma sensação gelada corre por sua espinha, e você espera que não seja verdade. Você torce para que Peter esteja enganado.

Mas Matt não lhe dá muito tempo para hesitar:

"Eu estou ligando agora porque acho que é melhor que você pegue Molly e vá para o aeroporto mais próximo. Volte para a Índia."

"Matt, as coisas estão meio complicadas aqui."

"Mais complicadas do que um vírus?"

"Sylar resolveu fazer uma visita de cortesia."

"O quê?!"

"Está tudo bem. Ele estava com o mesmo tipo de vírus da Niki, queria a cura, mas a Elle, a filha do Bob, chegou em tempo de nos salvar. Ele conseguiu levar com ele um pouco do sangue da Claire que o Bob tirou esses dias—"

"Sangue da Claire?"

"É uma longa história. O fato é que Sylar está de volta, provavelmente tão poderoso quanto antes, e estou aqui com uma imigrante ilegal em estado de choque."

Matt suspirou no outro lado da linha.

"Vamos ter que esquecer Sylar agora. Se ele ficar por aí, vai acabar morrendo de qualquer jeito."

"É tão sério, Matt?"

Algum barulho do outro lado da linha; interferência e alguns gritos, e então o som pesado de uma respiração.

"Matt?"

"Uma enfermeira", ele ofegou. "Acabou de cair, aqui, do meu lado."

"Cair? Cair do quê?"

"Desmaiou." Passos. Gritos. "Acho que foi o vírus."

"Mas como—"

"Mohinder, por favor, me escuta. Pega a Molly, pega até a garota imigrante e a filha do Bob, se você faz questão, e vai embora, para o mais longe que puder. Para a Índia, para o Japão, para qualquer lugar. Isso não vai demorar a chegar até Nova York, e—"

"E você, Matt?"

Outro suspiro.

"Eu estava lá quando o frasco com o vírus quebrou, não estava? E estava lá com Nathan quando ele desmaiou, e estou nesse hospital, agora. Acho que é meio que… uma questão de tempo."

Novamente a sensação gelada correu pela sua espinha, agora misturada com um tipo de desamparo.

"Matt, eu não posso—"

"Por favor, Mohinder. Eu… eu não quero que você e a Molly… se machuquem. Por favor."

Agora é você quem suspira.

"Vou desligar. Peter está me chamando. Por favor, Mohinder, faz o que eu disse."

"O—OK. Eu vou tentar."

"Boa sorte." É a última vez que você escuta a voz de Matt.

Quando você desliga o celular, você não consegue evitar espiar Molly e Elle com o canto do olho, e pensar em como vai fazer para tirar uma imigrante ilegal do país.

Você ainda não sabe que coisas muito piores virão. Ninguém sabia naquela época.

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No final, você consegue. Com uma ajudinha de Elle (que, de início, não entende porque vocês têm que partir, mas arregala os olhos quando você fala no vírus), vocês arrumam um passaporte falso para Maya e a convencem a acompanhá-los. Molly não fala nada sobre Matt. Você também não sabe o que dizer.

O dia em que vocês deixam os Estados Unidos é o dia em que o primeiro surto realmente começa.

Depois da morte de Nathan, o hospital inteiro foi interditado: os médicos e enfermeiros que estavam de serviço naquele dia caíram doentes, e Matt morreu não muito depois. (Peter ligou para te contar, e você chorou por muito tempo, com uma das mãos de Elle firme em seus ombros).

Infelizmente, porém, já era tarde demais para conter a epidemia.

Cem casos foram registrados em Odessa numa tarde, seguidos de trinta nas cidades próximas e cinqüenta em Midland. Em dois dias, há o primeiro caso registrado em Austin. No decorrer da semana, vinte por cento da população do Texas sofre do vírus, e setenta por cento desses encontram sua morte nos três dias seguintes. Os outros trinta por cento duram uma semana, no máximo.

A essa altura, o Texas inteiro declara estado de calamidade pública, e o governo corre para fechar as fronteiras: ninguém entra, ninguém sai e todos morrem. São abertos laboratórios para estudar o vírus, e o desespero toma conta da população geral, até que alguém que entende alguma coisa resolve aparecer.

Bob Bishop faz um discurso em público, bem seguro em Nova York, e explica que sua Companhia esteve estudando o vírus por algum tempo, desde o primeiro caso conhecido, Shanti. Ele explica que o vírus sofreu variações rápido demais (como se eles não tivessem produzido as variações) e uma variação mortal se espalhou. Não há cura conhecida, segundo ele.

Mas qualquer discurso é inútil quando o segundo surto começa.

O segundo surto inicia-se num aeroporto de Oklahoma. Com o vírus, o preço de uma corrida ilegal do Texas até o estado mais próximo custa uma fortuna; ainda assim, as pessoas atravessam a toda hora.

Era uma questão de tempo até que alguém passasse levando o vírus.

O primeiro caso registrado em Oklahoma é carregado de preocupação, e as autoridades discutem cercar o outro estado também quando, num dia de muita chuva, um rapaz desmaia num aeroporto em Oklahoma City.

É o fim.

De repente, vinte casos são registrados em Los Angeles, nove em Vegas, quarenta em Nova York, e, mais assustador ainda, quinze na Espanha. Os espanhóis são trancados em seu país, mas de nada adianta: dez casos em Portugal, vinte na França, dezessete na Itália. A Europa e os Estados Unidos queimam com o vírus, espalhado pelos países. Pilhas de corpos são queimados no meio da rua.

Não demora para o vírus atravessar o Atlântico, e América do Sul e Caribe são pratos cheios para a doença. Sem muito, as populações de El Salvador e do Haiti são dizimadas. Navios cheios de cadáveres jogam os corpos ao mar. Todos andam com lenços na rua, e os que caem com o vírus são arrastados para morrer longe de casa, longe da civilização, como leprosos.

Você, claro, não viu nada disso a não ser por jornais. Enquanto a população do Texas contraía o vírus, você estabelecia residência na Índia, atraindo comentários por estar com nada menos que três mulheres de uma só vez.

Apesar de a Índia ser o primeiro local em que a deformação genética surgiu, por algum tempo ela fica imune ao vírus, e é só quando o primeiro caso da Ásia é registrado que o governo se dá ao trabalho de proteger as fronteiras.

Vocês vivem felizes.

Maya supera a perda de seu irmão e aprende a controlar melhor sua habilidade letal, e nenhum problema acontece por terem-na trazido consigo. Elle também se torna de convívio mais fácil, e é uma das principais responsáveis pelo bom astral da casa, onde vivem vocês quatro e sua mãe. Molly se sente feliz (ela acorda toda noite por causa de pesadelos, mas não são mais os velhos pesadelos de Maury Parkman; nesses de agora, Matt desaparece em meio a um mar de sangue e dor), e torna a sorrir de novo.

Ela volta todo dia da escola, contando feliz as histórias e as coisas novas que aprende, e Elle também conta as suas aventuras, dos empregos temporários que arruma e das pessoas que conhece. Maya e sua mãe arrumam a casa, murmurando longas canções em hindi e espanhol. Até Nirand, o velho Nirand, que você lembrava com uma nostalgia de outras épocas, aparece de vez em quando para conversar, e é como se a vida pudesse ser como antes.

Aos poucos, enquanto o mundo ao redor se desmorona e morre, vocês se reerguem, se apoiando uns nos outros, e, mesmo que você saiba que aquilo é apenas um sonho que terá um fim, você não consegue evitar sorrir toda vez que vê a família que tem.

O vírus acaba com isso tudo.

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O primeiro caso na Índia acontece na primeira semana de maio de 2007, em Bombaim. Um estrangeiro ilegal é internado às pressas em um hospital com sérios ataques de febre, e morre nos dias seguintes. Os médicos só percebem que o vírus entrou no país quando as enfermeiras que visitavam o doente caem de febre.

O hospital é imediatamente isolado e providências são tomadas, mas um dos policiais que fecha as portas da frente segura a mão de uma moça doente por alguns minutos. Dias depois, o policial cai no meio da rua.

No dia seguinte, trinta casos do vírus são registrados.

Novamente, as autoridades chegam tarde demais, e a doença se espalha pela Índia, saindo de Bombaim e estendendo seus braços letais pelo litoral e pelo interior, vitimando milhares, milhões de pessoas. Allahabad. Calcutá. Agra.

É só uma questão de tempo até que a doença te siga até Chennai.

A data em que o primeiro caso na cidade é registrado ainda pisca na sua mente: 16 de maio de 2007. Na semana seguinte, três hospitais, duas escolas e a Universidade de Chennai são fechadas, e Nirand morre primeiro, na casa dele, e você não vai ao seu enterro porque o governo leva o corpo antes que você possa fazer alguma coisa.

Sua mãe te consola de noite, enquanto você chora sem cessar porque sabe que é uma questão de tempo.

E realmente é uma questão de tempo. Três dias depois, Molly começa a tossir durante o almoço. De tarde, você tenta ajudá-la a fazer a lição, e, no meio de uma conta de álgebra, ela olha para você com desespero no olhar.

Os olhos dela vão te perseguir até a morte.

Ela cai, desfalecida, sobre os cadernos, e de repente você está gritando, gritando o nome dela e tentando reanimá-la, e é nos seus braços que ela repousa quando você a carrega para a cama, a coloca debaixo dos cobertores e tenta fazer baixar a febre que a queima.

Três dias depois, o crepúsculo lança suas luzes douradas pela janela, iluminando o rostinho pálido da sua menina, da sua filha, e ela abre os olhos claros por alguns instantes. O céu parece alegrá-la, e ela abre a boca para dizer algo, mas não consegue. Você está ao lado dela, e ela sorri para você, porque confia em você. Uma de suas mãozinhas delicadas sai debaixo da coberta e aperta a sua.

Ela fecha os olhos pela última vez.

Você grita até perder as forças. Você segura o corpo dela como se quisesse que ela o levasse consigo. Você se agarra às cobertas e à maciez dos cabelos dela, e tenta se convencer de que não, ela não morreu, ela só está dormindo, dormindo o sono sem pesadelos que Matt conquistou para ela, e ela vai acordar a qualquer instante, rindo como sempre ri, viva.

Você só solta o corpo dela quando a dor de uma descarga elétrica o faz desmaiar.

Quando você acorda, ela não está mais lá.

Você corre pela casa toda, procurando-a na brisa dos jardins, no branco do luto, nos cadernos cheios de contas jamais terminadas, mas ela não está em lugar algum, e Elle te abraça com força quando você cai de joelhos no chão do quarto dela.

"Ela se foi, Mohinder", Elle murmura em seu ouvido. "Ela se foi, e você tem que ser forte. Por ela."

Por ela.

Por ela é a única coisa que te faz levantar quando você suplica pela morte também.

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Sua mãe morre pouco depois. Ela vai ao mercado com Maya, e desmaia nos braços da mexicana pouco depois. Maya, a iludida Maya, que ainda sonha com Sylar todas as noites, não consegue evitar que a levem. Ela só consegue evitar chorar, e corre, como corria com Alejandro no México, como estava destinada a correr e fugir desde que a primeira lágrima negra escorreu dos seus olhos.

Você não chora. Você acha que não tem mais lágrimas.

Naquela noite, enquanto você tenta conciliar um sono que não vem, Elle aparece no seu quarto.

"Insônia?", ela pergunta.

"Dor", você responde.

Ela caminha até sua cama, e se senta ao seu lado, deixando os dedos correrem pelos cachos negros de seus cabelos. Demora um pouco até você perceber que ela está chorando.

"Elle?"

"Desculpe", ela murmura, limpando as lágrimas que caem pelo seu rosto. "Desculpe, eu… Eu só… estou tão perdida. Eu… sei lá, larguei tudo, vim pra Índia… E, meu Deus, do que estou reclamando, estou viva e bem, e tanta gente já morreu, e…" Ela não pronuncia o nome de Molly, mas você o lê nas safiras brilhantes que repousam em seu rosto. "E… desculpe, eu não deveria… mas…"

E, antes que qualquer um de vocês dois saiba o que está fazendo, vocês se abraçam. O calor dela junto ao seu e os fios loiros debaixo de seus dedos são as únicas coisas que parecem certas em muito tempo, e você a beija com necessidade e angústia.

Naquela noite, vocês transam, e, na manhã seguinte, é como se vocês dividissem um segredo, um segredo que os protege da miséria.

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Só que a miséria trabalha como nunca naquela época.

Chennai é dizimada pelo vírus, e as equipes médicas que cuidam dos doentes não dão mais conta. Sem distinção entre castas, posses, bons e maus, a doença leva todos, e, de repente, mal há pessoas nas ruas que você conheça.

Não é mais um lar. É um cemitério.

Quando Maya é levada pelos policiais, queimando de febre, mas ainda segurando as lágrimas que nunca mais deixaria cair, você e Elle fazem um acordo silencioso.

No dia seguinte, com uns arranjos por parte dela, vocês voltam aos Estados Unidos.

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Música do capítulo: Until The Day I Die -- Story of the Year

Agradecimentos: A Tim Kring, Zachary Quinto, Sendhil Ramamurthy, Kristen Bell, Adair Tishler e, principalmente, a Shanti Suresh, por espalhar o vírus Shanti e a Victoria Pratt, por ter permitido o universo mais apocalíptico de todos os tempos! XD