A Verdade Sobre o Malfoy e a Murta
Adriana Swan

Havia um menino calado na fronteira dos dois mundos.

Ele vinha, era loiro e de olhos cinzas, era um pouco como os outros (um pouco vivo) e um pouco igual a mim, igual fantasma.

Seus olhos claros molhados, não eram fundos, não eram fracos. Eram olhos de quem já viu o meu mundo (de quem morreu e não sabe). Olhos que pediam um pouquinho de misericórdia, mas que não tinham misericórdia alguma. Cinzas. Como tudo o que eu sabia sobre ele, sem cor.

Suas mãos eram trêmulas e incertas. Suas pernas já não tinham mais firmeza. Depois de algumas semanas, já não era mais o mesmo, já não era mais tão vivo (eu tinha esperança que logo ele seria igual a mim e dividiria o banheiro comigo). E logo estava magro, e logo estava pálido, e logo era muito mais fantasma que eu.

Seus lábios eram ressecados e feridos, nem pareciam mais os lábios corados que eu desejava tanto. Não que eu os quisesse menos agora, cada dia mais eles se aproximavam dos meus. Ontem lábios belos, hoje machucados, amanhã iguais aos meus.

E tinha as lágrimas.

Lavavam o rosto dele, manchavam. Enxugava com a manga branca da camisa, engolia o choro. Mentira, chorava mais.

Chorava como um condenado.

Chorava como se estivesse sozinho.

Chorava como um fantasma.

Chorava como eu.

Chorava.

E eu já não chorava mais.

Enquanto ele já não ria.

Na verdade, acho que ele já estava morto e não sabia.