Silêncio. Paz. Uma noite com temperatura agradável. E uma bela mulher ao seu lado. O que mais um homem poderia querer?

Eu gostaria de ter essas coisas. Sentir-me-ia um homem feliz.

Mas tudo o que eu tenho agora é uma cama num motel vagabundo, numa noite quente como se fosse o inferno, e o que eu tenho ao meu lado não é uma bela mulher, e sim um homem roncando como um porco.

Quem diria, hein? De inimigos quase mortais, a amantes secretos. Éramos dois caras que disputavam o amor da mesma garota, agora somos dois caras que saem de casa escondidos de madrugada, para se agarrar em qualquer lugar disponível.

Nós não nos amamos, eu acho. Apenas descontamos a frustração de ter tomado tantos foras. Um desconta no rabo do outro. Hahahahaha.

Enquanto nossos amigos estão por perto, somos apenas Pégaso e Unicórnio, dois dos mais fortes cavaleiros de bronze, homens que dariam a vida por Athena sem pestanejar. Homens que não se gostam, e que só convivem um com o outro por causa de Athena...

Quando estamos sozinhos... Quem diria que esse maldito Jabu seria tão gostoso.

O jeito que nós nos beijamos, o jeito que ele me pega com seus braços fortes e musculosos... ui!

Não sou gay. Ele também não. Nós repetimos isso toda manhã ao acordarmos, depois de uma longa noite de sexo selvagem.

Ele continua roncando. Maldito desgraçado! Ele disse que vai embora amanhã. Vai voltar à Argélia pra treinar. Treinar pra ficar mais forte pra proteger sua deusa... E eu vou ficar aqui, defendendo a fama de "cavaleiro mais leal".

É difícil admitir, mas eu vou sentir a falta dele. Das nossas brigas, dos nossos beijos, dos roncos... De tudo.

-Talvez eu esteja enganado. Talvez eu te ame mesmo.

-O que foi que você disse, Seiya?

Merda. Ele tava acordado. Eu devia ter desconfiado...

E lá vem ele de novo, com aquele sorriso idiota, e ele vai me comer de novo, porque mesmo que eu grite que é minha vez de ser o ativo, eu não vou resistir quando ele começar a tirar minha roupa...

Eu vou sentir a falta dele. E sei que ele vai sentir a minha. Mas quando terminarmos essa trepada, e ele levantar pra ir embora, vai ser tudo igual ao que era antes. Dois homens que apenas se suportam em honra a sua deusa.

É, era pra ser assim. Mas não foi...

Ele me abraçou na porta do motel. E começou a chorar. E disse que ia sentir minha falta. E disse que me amava também. E eu disse pra ele parar porque as pessoas iriam pensar que nós éramos dois viadinhos. E ele parou. E riu da minha cara. E disse que o único viadinho ali era eu, porque era eu quem dava. E eu disse que viado não é só quem dá, é quem come também. E nós rimos bastante. E eu peguei as mãos dele, e o beijei. Não sei porquê, nunca tinha feito isso. Nossas despedidas sempre haviam sido discretas. Mas ele me puxou pela cintura, e eu praticamente me pendurei no pescoço dele. E o dono do motel mandou a gente parar de viadagem. E quando nos separamos, ele sorriu. E eu sorri. E eu percebi que iria ficar tudo bem.

-Não fica de frescura, eu vou voltar logo.

-Ah, vai se foder, seu viadinho!

-Vê se não distribui essa sua bunda gulosa por aí, você sabe que ela é só minha...

-Não se preocupe, ela agora é só de você...

E ele foi embora rindo. E eu também fui embora rindo. Vai ficar tudo bem. Ele vai voltar algum dia. E dessa vez, eu sei que ele vai voltar por mim, porque ele não vai conseguir ficar em paz longe do meu corpo forte e atraente...

Eu sei que ele não vai conseguir viver sem mim.

E que eu também não irei conseguir viver sem ele.

Não era assim que eu tinha imaginado essa história.