Uma figura, encoberta por uma longa capa negra, atravessava rapidamente os longos corredores do castelo. Mesmo no escuro, a figura parecia saber para onde se dirigir, como se tivesse feito aquele mesmo caminho varias e varias vezes.

Um ruído de uma porta a abrir-se, vindo do final do corredor, fez com que a figura se misturasse ainda mais com as sombras das paredes. O seu instinto estava correcto, pois um minuto depois uma outra figura passou pelo mesmo corredor de maneira apressada. Vestia também uma capa, mas a luz da varinha, usada para ver um estranho mapa, desvendou o segredo do seu rosto. Um rosto moreno, de grandes olhos verdes e cabelos negros rebeldes. Com um gesto rápido do pulso, o moreno apagou a luz da sua varinha, e guardou o mapa nas vestes, retomando o seu percurso, desconhecendo que era seguido.

Esquerda, direita, para cima e novamente á esquerda. Com passos leves como um gato, a figura encapuzada seguia o moreno incauto, questionando-se aonde ele iria àquela hora. Saindo dos seus pensamentos, viu que a sua presa parada perto duma estatua. Após algumas palavras, que ele não ouviu, a estatua desviou-se, deixando ver uma passagem. O moreno entrou na passagem, e a figura seguiu-o rapidamente, temendo que esta se fechasse, coisa que aconteceu segundos.

A passagem era escura, e ambos tiveram que andar meio curvados, pois eram demasiado altos para ela. O moreno saio da passagem, e após se afastar da saída, permitiu que a figura visse o lugar, que devia se localizar nas caves do castelo, pois a passagem estava em sentido descendente. Era uma estranha sala. Quse vazia, era apenas ocupada por uma cama de dossel, uma mesa e um armario. Pouca coisa para o tamanho da sala. O seu olhar recaiu sobre a mesa que ocupava o centro da sala. Era um mesa grande, feita do que parecia ser carvalho preto, e ocupada apenas com um simples punhal, pequeno e afiado, e uma tira grossa de pano negro.

Uma ideia passou-lhe pela mente, uma ideia inquietante mas que parecia ser a resposta para toda aquela situação. Aquilo era uma sala bizarra e Harry Potter estava nela. Pior, não parecia estar chocado e sim muito á vontade. Viu o moreno despir a capa que usava, revelando que apenas vestia umas calças por baixo. O moreno tinha um corpo bem definido, mas ágil e esguio, como o um bailarino. O seu olhar deteve-se nas cicatrizes nas costas dele, cicatrizes longas, algumas recentes e outras antigas. Raiva cresceu no seu peito, vendo aquelas cicatrizes que estragavam a perfeição daquela pele morena. Foi apenas quando o viu se mexer, que a figura saio dos seus pensamentos, escondendo-se ainda mais nas sombras.

Harry dirigiu-se ao armário, num dos cantos da sala, e tirou de uma prateleira, um objecto que parecia ser um chicote. O cabo tinha o tamanho de dois punhos e era feito de uma matéria desconhecida. De uma ponta saiam varias tiras do que parecia ser couro, tiras finas que fariam golpes aguçados. O moreno deu com aquela espécie de chicote na palma e observou o fino e profundo golpe k surgiu na palma. Debruçando-se sobre a mesa, Harry empinou o seu traseiro. Foi a contragosto que a figura sentiu o sangue aquecer entre as pernas. Aquela estava a ser a mais estranha noite da sua vida. Decidira seguir o moreno para saber onde ele ia toda a noite, descobrir os segredos que aqueles olhos verdes escondiam e em vez disso caíra no mundo da Alice no Pais das Maravilhas. Nada ali fazia sentido, nada era o que parecia.

A figura observou, sem conseguir desviar o olhar, o moreno chicotear as suas costas. Por muito que desconfiasse que era assim que ele ganhara aquelas cicatrizes, ver com os seus próprios olhos era por demais estranho. O moreno usava o chicote com cada vês mais força, uma e outra vês, sem parar. Novas cicatrizes cruzavam agora as suas costas e fios de sangue escorriam ate ao chão. Finalmente os seus movimentos abrandaram, e já sem forças, o moreno deixou-se apoiar na mesa, cansado do esforço. A figura, ainda escondida nas sombras, mal respirava, temendo que o mínimo ruído despertasse o moreno e pusesse fim ao espectáculo e isso não podia acontecer. Agora que vira aquilo, queria ver até onde iria a loucura do moreno. Até onde...

OoO

Parecia que séculos tinham passado ate ele se voltar a mover. As suas costas doíam horrores, mas ele já se habituara. Foram tantas as vezes que já ali fora, tantas as vezes que derramara o seu sangue, na vã esperança de obter redenção para os seus pecados. Mas isso eram sonhos, já não acreditava nisso. Agora ia ali, apenas para esquecer, esquecer a dor através de outra dor. Mórbido? Talvez...Mas Harry Potter perdera a esperança no amanha, na salvação...perdera a esperança nele próprio. Ele era o herói do mundo bruxo, aquele que sobreviveu, que iria salvar todos das Trevas! Inferno! Que todos eles explodissem, que ele não queria nem saber. Estava farto, tão farto...farto da hipocrisia dos bruxos, tão preocupados com o Lord Negro, mas que não arriscavam. Escondidos, protegidos, queriam que fosse ele a enfrenta-lo. Se ganhasse, teria cumprido a sua função, se não...bem, era apenas o filho de uma sangue de lama, que era de esperar!

Tão cansado, tão farto. Ele sempre tinha feito o que eles queriam, o que Dumbledore queria. Ele queria que treinasse como Snape? Ele o fez. Ele queria que estudasse mais? Ele o fez! Mas do que isso serviu? Para que! Sirius, o padrinho que tanto amara, que lhe iria dar uma casa, amor, uma família, morrera...o que ele fizera? Nada! Remus, seu amigo, o ultimo dos marotos morrera a lutar, a lutar pelo que acreditava, e ele nada fizera. Vira-o deitado, com aquela calma no rosto, que apenas a mais mortal das maldições fazia, e fora incapaz de fazer algo. Mas fora quando Gina, a pequena Gina, aquela que o amara, a sua pequena irmã, caíra numa batalha que não era sua, caíra para o proteger, que tudo se quebrara, que deixara de acreditar, que se deixou apanhar pela dor, que entrara no seu coração e transforma tudo numa terrível e continua piada. Que se fodessem todos, ele já não queria saber.

Como se tivesse o peso do mundo sobre os ombros, deixou-se cair no chão. Era muita dor para um homem só, muita dor... As feridas nas suas costas doíam horrores, mas descobrira que era essa dor que o mantinha são, que o mantinha lúcido, que o impedia de se perder na loucura. Olhou para o pulso direito...pequenas cicatrizes, quase que imperceptíveis, estavam traçadas lá. Tão pequenas, que podiam passar despercebidas, mas para ele não, ele não as esquecia, não podia. Por cada morte que ele não impedira, por cada inocente que não salvara...

Uma mão levantou-se lentamente até ao tampo da mesa, procurando por algo, procurando um descanso... Sentiu os dedos tocarem em algo frio, em algo que lhe era bem conhecido. Trouxe o punhal ao nivel dos seus olhos.

'O meu melhor amigo!

Quase que com referencia, levantou o braço direito, levando o pulso aos lábios, traçando com a língua uma pequena linha.

OoO

Sentiu o sangue aquecer ainda mais. Não olhou para o seu baixo ventre, não precisava de ver para saber o estado em que estava. Sentia raiva de si mesmo por estar assim, só de ver as loucuras do Potter. Se aquele tarado gostava de apanhar, ele não queria saber. Maldita fosse a curiosidade que o levara a segui-lo, maldito fosse ele...

No entanto não partira, não virara costas aquele maldito cenário. Ficara ali, vendo, observando, tentando entender.

Os olhos abriram-se em espanto! Não, aquele doido não iria fazer aquilo, ia! Viu com horror a língua ser substituída pelo aço do punhal e com um movimento rápido, sangue correr, manchando a brancura da pele. O moreno tinha os olhos quase que fechados, parecia dormir, parecia em paz. Quando já tinha puxado da varinha, pronto para ir lá e fechar o corte antes que o outro se esviesse em sangue, viu-o sacar da varinha e lançar um feitiço no corte. O sangue não parou logo de correr, mas ficara em muita menor quantidade.

Mil pensamentos passavam na sua cabeça. Era muita coisa para uma noite só, tinha que processar aquela informação, pensar no próximo passo, pensar muito bem... Lançou-se nas sombras, percorrendo o túnel ate encontrar a saída daquele maldito buraco, deixando para trás um moreno jogado no chão, como um trapo usado. E naquele momento, apenas as paredes presenciaram um brilho calculista no olhar de Draco Malfoy.


N/A: Pessoal não peguem pesado comigo. Essa é minha primeira yaoi, rsrs. Foi feita para ser uma prenda de anos para a minha mana caçula, por isso dedico ela á BelleMalfoy. e queria agradecer á Ptyxxpela ajuda que me deu.