Capítulo Um
A mulher girou sob os focos de luz. O brilhante cabelo ruivo formou um remoinho ao seu redor ao mesmo tempo que uma série de expressões se reflectiam no seu impressionante rosto.
— Isso, Ginny. Agora franze um pouco os lábios. São os lábios que queremos vender — disse Colin Creevey, que seguia os movimentos da jovem no mesmo ritmo que abria e fechava o obturador da sua câmara — Fantástico — exclamou levantando-se do chão - Já basta por hoje.
Ginny Weasley relaxou um pouco.
— Menos mal. Estava esgotada. Agora, vou para casa tomar um bom banho quente.
— Pensa só nos milhões de lápis aumentadores de lábios que o teu rosto vai vender, céus.
Colin apagou as luzes. A sua atenção já começava a se diluir.
— Fantástico.
— Mmm. Sim é — respondeu ele, de modo ausente —. Amanhã temos a sessão de fotos para o champô, por isso assegura-te de que tens o cabelo no perfeito estado que se encontra habitualmente. Quase me esqueci - acrescentou. Então, deu a volta para olhá-la directamente — Tenho uma reunião de negócios de manhã. Terei que procurar alguém para me substituir.
Ginny sorriu com afectuosa indulgência. Estava há três anos trabalhando como Modelo e Colin era o seu fotógrafo favorito. Trabalhavam bem juntos e, como fotógrafo, ele era excepcional. Tinha um talento natural para os ângulos, detalhes e para captar o ambiente mais adequado para uma fotografia. Entretanto, era muito desorganizado e distraído sobre tudo o que não tivesse a ver com seu adorado equipamento.
— De que reunião se trata? -perguntou Ginny com paciência, sabendo muito bem que Colin confundia assuntos mundanos como as horas e os lugares quando estes não tinham a ver directamente com sua câmara.
—Oh, eu não lhe disse sobre a reunião? — perguntou ele. Ginny negou com a cabeça e esperou que ele continuasse —. Tenho que ver Draco Malfoy às dez em ponto.
— Draco Malfoy? — replicou Ginny, completamente atónita —. Não sabia que o dono da revista WitchMode se reunia com simples mortais. Acreditava que só o fazia com membros da realeza e com as deusas da moda.
—Bom, pois a este plebeu concedeu uma audiência — respondeu Colin muito secamente —. De facto, a secretária do senhor Malfoy entrou em contacto comigo e organizou tudo. Disse-me que ele quer falar sobre um projecto ou algo assim.
—Boa sorte. Pois sei que Draco Malfoy é um homem que não se pode ignorar. Duro como o aço e acostumado a sair-se bem em tudo.
—Não estaria onde está hoje se fosse inocente como um menino — disse Colin defendendo o ausente senhor Malfoy — Talvez a sua mãe conseguisse uma fortuna ao inaugurar WitchMode, mas Draco Malfoy aumentou a sua duas vezes ao expandir e desenvolver outras revistas. É um homem de negócios com muito êxito e um bom fotógrafo. Não se importa de sujar as mãos.
—Tu sentes simpatia por qualquer um que saiba distinguir uma reflex de uma bridge - disse-lhe Ginny com um sorriso —, mas essa classe de homem não tem nenhum atractivo para mim. Estou certa que levaria um susto de morte se o visse.
—Nada te assusta, Ginny — afirmou Colin enquanto observava como a alta e esguia mulher recolhia suas coisas e se dirigia para a porta —. Mandarei alguém para tirar as fotografias aqui às nove e meia da amanhã.
Já fora do estúdio, Ginny tomou um táxi, depois de três anos em Nova Iorque, acostumou-se completamente a aquele gesto. Quase tinha deixado de pensar em si mesma como Ginny Weasley procedente de uma pequena aldeia nos arredores de Londres para sentir-se em casa na turbulenta cidade de Nova Iorque.
Tinha vinte e um anos quando tomou a decisão de vir para Nova Iorque para tornar-se conhecida no mundo da moda. Deixar de ser apenas uma menina inocente para se transformar em Modelo na cidade que nunca dorme. Tinha sido difícil e em ocasiões, aterrador, mas Ginny negou-se a se sentir aterrorizada pela dinâmica e entristecedora cidade e, com determinação, tinha percorrido todas as agências com seu book.
Durante o primeiro ano, os trabalhos tinham sido muito escassos, mas tinha aguentado. Não queria render-se para ter que retornar para casa completamente derrotada. Lentamente, foi construindo uma reputação e, pouco a pouco, a tinham requerido com mais frequência. Quando começou a trabalhar com Colin recebeu o empurrão nas costas necessário para lançar a sua carreira. Na actualidade, o seu rosto aparecia quase constantemente nas capas. A sua vida desenvolvia-se tal e como ela tinha desejado. O facto de se tornar uma Top Model tinha propiciado a ela viver num terceiro andar sem elevador num confortável e elegante apartamento perto do Central Park.
Para Ginny, ser Modelo não era uma paixão e sim um trabalho. Não tinha ido para Nova Iorque em busca de um sonho de fama e glamour, e sim com a resolução de ter êxito e de ganhar a vida. O sucesso na trajectória profissional era inevitável, pois possuía graciosidade e aprumo naturais, além de um físico esplêndido. Seu cabelo
ruivo como o fogo e suas sardas pálidas davam-lhe um ar de bela vulnerabilidade e elegância. Os seus olhos grandes, de longas pestanas e de uma profunda cor de caramelo, constituíam um atractivo. Tinha lábios grossos e bem formados, que esboçavam um belo sorriso a menor provocação. Além da sua esplendorosa beleza contava com uma fotogenia inata que contribuía com seu êxito no mundo da moda. A habilidade para fotografar era algo natural nela e não lhe custava esforço algum.
Depois que lhe diziam o tipo de mulher que devia reflectir, Ginny transformava-se nela imediatamente. Sofisticada, sensual, inocente..., o que precisassem, Ginny era.
Depois de entrar no seu apartamento, tirou os sapatos e afundou os pés no suave carpete de cor marfim. Não tinha nenhum compromisso naquela noite, por isso estava desejando preparar um jantar rápido e passar algumas horas de quietude no seu lar.
Trinta minutos mais tarde, envolta já em uma confortavel camisola azul de algodão, estava na cozinha preparando o festim de uma Modelo: uma sopa e pãezinhos sem sal. Então, a campainha da porta interrompeu aquele jantar tão pouco digno de um gourmet.
—Olá, Luna - disse saudando a sua amiga e sua vizinha do outro lado do corredor com um automático sorriso — Queres jantar comigo?
Luna Lovegood enrugou o nariz com um gesto de desdém.
—Prefiro engordar, que morrer de fome como tu.
—Se me deixo levar pela gula muito frequentemente — afirmou Ginny enquanto golpeava o ventre liso -, teria que te chatear para que encontrasse um emprego nesse escritório no qual trabalhas. Ah sim, como vai o jovem e talentoso advogado?
—Mark nem sequer sabe que estou viva — queixou-se Luna enquanto desabava sobre o sofá - Estou desesperada, Ginny. Acredito que é possível que eu perca a cabeça e que o assalte no estacionamento.
—Para isso seria necessário classe — replicou Ginny — Por que não tentas algo menos dramático, como lhe dar uma rasteira quando ele passar ao lado da tua mesa?
--Pode ser que eu faça isso.
Com um sorriso, Ginny sentou-se também e apoiou os pés sobre a mesinha de centro.
— Lembras-te de Draco Malfoy?
— Quem não lembra? — replicou Luna- Milionário, incrivelmente bonito, misterioso, brilhante homem de negócios e continua livre — acrescentou Luna enquanto contava os atributos com os dedos da mão- Por quê?
—Não estou certa. Colin tem uma reunião com ele amanhã de manhã.
— Cara a cara?
--Sim. Nós já fizemos algumas fotos para as revistas dele antes, mas não imagino porque o esquivo dono da WitchMode iria querer ver um simples fotógrafo, embora seja o melhor de todos. No mundo da moda, fala-se de Draco com reverência e, se tivermos que acreditar no que diz a imprensa romântica, ele é a resposta às preces de toda a mulher solteira. Pergunto-me como será de verdade, depois destes anos todos... —comentou Ginny franzindo a testa. Aquele pensamento a obcecava — É estranho... Acredito que não conheço ninguém que tenha tratado pessoalmente com ele desde que saiu de Londres. Imagino-o como um deus gigante, tomando as decisões de um monumental conglomerado de empresas no Monte Olimpo do WitchMode, cheio de si, como se fosse o dono do mundo e não de uma empresa.
-Talvez Colin possa te dar todos os detalhes amanhã —sugeriu Luna. Ginny sacudiu a cabeça. A testa franzida converteu-se em um sorriso.
—Colin não se dará conta de nada a menos que o senhor Malfoy esteja a ser visto através de uma lente.
Pouco depois das nove e meia da manhã seguinte, Ginny utilizou a sua chave para entrar no estúdio de Colin. Como tinha preparado o cabelo para o anúncio de champô, este caía em suaves e espessas ondas, com muito volume e muito brilho. Na pequena penteadeira que havia na parte de trás do estúdio, aplicou a maquilhagem com habilidade e às dez para as dez já estava acendendo com certa impaciência as luzes necessárias para as fotos internas. À medida que os minutos foram passando, começou a ter a incómoda suspeita de que Colin tinha se esquecido de procurar um substituto. Eram quase dez quando a porta se abriu.
—Já era hora — disse Ginny, tratando de moderar a sua irritação com um ligeiro sorriso sem sequer reparar bem no homem que acabava de entrar —Chegou tarde.
— Cheguei? — replicou o recém-chegado enfrentando a expressão de irritação de Ginny com as sobrancelhas levantadas.
Naquele instante, ela deu se conta de como era atraente aquele homem. Seu cabelo, da cor dourada, era espesso e crescia por cima da gola da camisa que usava. Esta era de uma cor cinza que reflectia exactamente o dos seus olhos. Tinha os lábios franzidos num ligeiro sorriso. Naquele rosto ligeiramente bronzeado havia algo de vagamente familiar.
—Não trabalhei com você antes, trabalhei? — perguntou Ginny. Viu-se obrigada a levantar um pouco a cabeça dado que aquele homem media mais de um metro e oitenta.
— Por que me pergunta isso? - quis saber ele. O modo como perguntou foi tão subtil que, de repente, Ginny se sentiu incómoda sob aquele penetrante olhar cinza.
—Por nada —murmurou ela. Deu a volta e sentiu o impulso de ajustar o punho da manga- Bom, mãos a obra. Onde está a sua câmara? — acrescentou. Naquele momento, deu-se conta que o homem não trazia equipamento algum — Por acaso vai utilizar a do Colin?
—Suponho que sim — respondeu ele. Não fazia mais que olhá-la, sem realizar gesto algum que indicasse que ia começar o trabalho. A atitude dele estava começando a se tornar irritante.
—Então, mãos à obra. Não quero passar o dia todo aqui. Já estou há meia hora preparada. - ela disse impacientemente.
—Sinto muito. - O homem deu um sorriso divertido. Ginny ficou atónita ao ver a mudança que aquele simples gesto produzia no já atraente rosto. Foi um sorriso lento, cheia de charme, tanto que ocorreu à jovem modelo que ele poderia utilizá-lo como uma arma letal. Afastou-se um pouco dele para tentar recuperar a compostura. Tinha um trabalho para fazer.
—Para que são as fotografias? — perguntou-lhe o homem enquanto examinava as câmaras do Colin.
— Deus! Ele não disse nada? — replicou a ruiva cada vez mais exasperada. Girou de novo para olhá-lo frente a frente e, pela primeira vez, dedicou-lhe um sorriso — Colin é um magnífico fotógrafo, mas é distraído até ao exagero. Não sei nem como se lembra que tem que se levantar todas as manhãs — acrescentou. Então, tomou uma mecha do seu cabelo e deu um dramático giro com a cabeça — Cabelo limpo, brilhante e sexy —explicou, com o tom de voz de um anúncio de televisão— O que vamos vender hoje é champô.
—Muito bem — respondeu ele.
Então, começou a preparar o equipamento de uma maneira tão profissional que tranquilizou muito Ginny. Ao menos, aquele homem conhecia o seu trabalho.
—Então, onde está Colin? - quis saber o homem, de repente.
— Ele não lhe disse nada? É tão típico dele...
Ginny se colocou sob os focos e começou a dar voltas. Sacudiu a cabeça e criou uma nuvem de um belo cabelo ruivo para que ele pudesse disparar a câmara enquanto se agachava e se movia ao redor dela para captar sua imagem de ângulos diferentes.
—Tinha uma reunião com Draco Malfoy—acrescentou Ginny sem deixar de sorrir— Que Deus o ajude se ele esqueceu. Esse homem é capaz de o comer vivo.
— Draco Malfoy finge-se de modelo e contrata fotógrafos muitas vezes? — perguntou ele, por trás da câmara, com um certo tom jocoso na voz.
—Não sei —respondeu ela enquanto levantava o cabelo por cima da cabeça. Depois de um segundo, deixou-o cair de novo sobre os ombros como uma maravilhosa capa vermelha — Acredito que um homem de negócios sem piedade alguma como o senhor Malfoy terá muito pouca paciência com um fotógrafo distraído ou qualquer outra coisa que não seja perfeita.
— Conhece-o?
—Infelizmente sim mas foi há muito tempo. Não acredito que ainda o reconheça — disse ela, sem ocultar sua alegria — Está muito acima de mim. Ele foi lhe apresentado?
—Não precisamente. - respondeu o louro.
--Ah, mas todos trabalhamos para ele em alguma ocasião, não é verdade? Pergunto-me quantas vezes terá saído o meu rosto numa das suas revistas. Certamente milhões. Entretanto, nunca me encontrei com o imperador.
— O imperador?
--É assim que o chamamos. Além disso, ouvi dizer que ele dirige as suas revistas como se fosse um império.
—Parece que não gosta dele.
—Não —afirmou Ginny encolhendo os ombros — Os imperadores deixam me nervosa. Eu sou apenas uma simples plebeia.
— A sua imagem não é nem simples nem plebeia — replicou ele— Bom, acredito que estas fotografias deverão vender litros de champô — acrescentou. Baixou a câmara e a olhou nos olhos directamente — Acredito que já o temos, Ginny.
A jovem relaxou. Então, tirou o cabelo do rosto e olhou o com curiosidade e desconfiança.
--Conhece-me? Sinto muito, eu não posso dizer o mesmo. Trabalhamos juntos antes?
—O rosto do Ginny Weasley está por toda parte. Eu devo reconhecer os belos rostos, principalmente aqueles que vejo há já muito tempo...
—Bom, parece-me que tem vantagem sobre mim, senhor...
—Malfoy. Draco Malfoy —respondeu ele. Então, disparou a câmara uma vez mais para capturar a expressão atónita que se reflectiu no rosto de Ginny - Agora, já podes fechar a boca, Ginny. Acredito que tenho suficientes fotos — acrescentou, com um amplo sorriso nos lábios. Ela obedeceu imediatamente - O gato comeu a tua língua?
Naquele momento, Ginny reconheceu o pelas fotografias que tinha visto dele nos jornais e nas revistas que ele possuía, é claro que o miúdo magrinho e pálido como um rato tinha crescido e se transformado num belo e poderoso leão. Amaldiçoou-se imediatamente pela atitude estúpida que tinha mostrado ante ele. Demorou alguns segundos para encontrar a voz. Como era possível ela ter sido tão distraída e não ter juntado as peças: o cabelo louro, os olhos cinza, o ar de superioridade...?!
—Deixaste que eu falasse daquele modo — gaguejou, com os olhos brilhantes e as bochechas ruborizadas — Limitaste-te a tirar fotografias que não tinhas direito algum a fazer para deixar que eu continuasse falando como uma idiota.
—Estava simplesmente seguindo ordens -disse ele. O tom sério e a expressão sóbria do seu rosto deram a Ginny mais motivos para sentir-se envergonhada e furiosa consigo mesma.
—Bom, não tinhas dever algum em obedece-las. Deverias ter me dito antes quem eras — sussurrou ela. Sua voz tremia de indignação. Por sua parte, ele se limitou a encolher os ombros e sorrir.
—Não me perguntaste.
Antes que ela pudesse responder, a porta do estúdio abriu de par em par. Colin entrou, com aspecto desanimado e confuso.
—Senhor Malfoy — disse enquanto se dirigia para ambos — Sinto muito... Pensei que tinha que me reunir consigo no seu escritório -acrescentou enquanto mexia no cabelo com agitação— Quando cheguei lá, disseram-me que iria vir aqui. Não sei como me pude confundir dessa maneira. Sinto muito que tenha ficado esperando.
—Não se preocupe — lhe assegurou Draco com um sorriso — A última hora foi muito interessante.
—Ginny — sussurrou Colin, como se só naquele instante desse conta da presença da jovem- Deus santo... Sabia eu que tinha me esquecido de algo. Teremos que tirar essas fotografias mais tarde.
—Não há necessidade — afirmou Draco enquanto lhe entregava a câmara— Ginny e eu já nos ocupamos delas.
— O Senhor tirou as fotografias? —perguntou Colin, estupfacto.
—Ginny não viu razão alguma para desperdiçar o tempo —respondeu Draco. Então, voltou a sorrir— Estou certo que as fotografias serão adequadas.
—Disso não tenho nenhuma dúvida, senhor Malfoy — respondeu Colin, com certa reverência — Já sei o que o senhor é capaz de fazer com uma câmara.
Ginny sentia um enorme desejo de que o chão se abrisse e a engolisse. Tinha que sair dali rapidamente. Nunca na sua vida havia se sentido tão estúpida, embora reconhecesse que Malfoy tinha sido o culpado. Como tinha podido ser tão descarado a ponto de deixar que acreditasse que era um fotógrafo? Lembrou como o ordenara que começasse e as coisas que lhe havia dito. Fechou os olhos e se lamentou em silêncio. A única coisa que desejava naquele instante era desaparecer e, com um pouco de sorte, não ter mais que voltar a ver Draco Malfoy em toda sua vida.
Começou a recolher suas coisas com rapidez.
—Eu vou embora para que possam falar de negócios. Tenho outra sessão do outro lado da cidade -anunciou. Então, pendurou a bolsa sobre o ombro e respirou profundamente— Adeus, Colin. Foi um prazer revê-lo, senhor Malfoy — acrescentou. Continuando, tratou de dirigir-se para a porta mas Draco a agarrou pela mão e a impediu.
—Adeus, Ginny — disse-lhe. Ela viu-se obrigada a olhá-lo nos olhos. Ao notar a mão dele sobre a sua, sentiu que as forças a abandonavam -. Foi uma manhã muito interessante. Teremos que voltar a repeti-la muito em breve.
«Quando o inferno se congelar», disse-lhe ela com o olhar, sem pronunciar palavra alguma. Então, murmurou algo incoerente e dirigiu se à porta. O som da risada de Draco Malfoy foi a última coisa que escutou antes de partir.
Enquanto se vestia para uma entrevista aquela noite, Ginny tentou, sem êxito, esquecer-se do ocorrido aquela manhã. Sentia a completa certeza de que o seu caminho não voltaria a cruzar nunca com o do Draco Malfoy. Depois de tudo, na realidade tinha sido um estúpido acidente que se conhecessem. Rezou para que fosse certo o velho ditado de que uma maldição nunca cai duas vezes no mesmo lugar, porque ela, definitivamente, havia se sentido como atravessada por uma maldição Cruciatus quando ele revelou o seu nome. Ao recordar aquele momento e o modo que tinha lhe falado, a face se tingiu de uma cor muita parecida ao seu cabelo.
O som de alguém surgindo na sua lareira a tirou de seus pensamentos. Quando se virou, descobriu que a pessoa que a chamava era Colin.
-Olá, Ginny, me alegro de encontrar-te em casa — disse. Sua excitação era quase tangível.
—Pois foi por pouco, estava a ponto de sair. O que aconteceu?
-Agora não posso lhe dar muitos detalhes. Draco o fará amanhã pela manhã.
Ginny percebeu que para Colin já tinha deixado de ser «senhor Malfoy».
— Do que estás falando, Colin?
—Draco explicara isso amanhã — respondeu— Tens uma entrevista com ele às nove em ponto.
— O que? — perguntou ela, atónita — Colin, do que estás falando?
-É uma oportunidade tremenda para os dois, Ginny. Draco te contará isso tudo amanhã. Já sabes onde é o escritório dele — afirmou. Todos os que trabalhavam no mundinho da moda sabiam onde era o quartel general da WitchMode.
—Eu não quero vê-lo — replicou Ginny. Ao pensar nos olhos cinzas de Malfoy, sentiu que o pânico se apoderava dela — Não sei o que ele te contou, mas fiz um papel ridículo esta manhã. Pensei que ele era o fotógrafo. Na realidade — acrescentou, com renovada irritação —, tu tens parte na culpa porque...
—Não te preocupes com isso agora — interrompeu a Colin— Não importa mais. Só limita-te a estar lá amanhã às nove. Até logo.
—Mas Colin...
Imediatamente parou de falar ao dar-se conta de que não havia razão alguma para prosseguir falando. Colin tinha desaparecido da lareira. Desesperada, pensou que aquilo era muito para um dia só. Como Colin podia esperar que fosse àquela entrevista? Como podia enfrentar Draco Malfoy depois do modo como tinha lhe falado? Decidiu que a humilhação era algo para o qual ela não estava preparada e encolheu os ombros. Certamente, Draco Malfoy só queria outra oportunidade para rir dela pela sua estupidez.
Muito bem, pois não ia poder com Ginny Weasley. Com firme orgulho, disse-se que não se rebaixaria ante ele. Aquela plebeia enfrentaria o imperador e demonstraria que era feita da mesma matéria que ele.
Ginny vestiu-se para sua entrevista daquela manhã com muito cuidado. O vestido branco de fina lã era esplendoroso por sua simplicidade e apoiava-se nas formas que cobria para se tornar atraente. Prendeu o cabelo no alto da cabeça para acrescentar um ar profissional à sua aparência. Aquela manhã, Draco Malfoy não se encontraria frente a uma mulher que gaguejava e se ruborizava com facilidade, e sim com uma fria e segura de si mesma. Colocou um delicado sapato de pele e ficou satisfeita com o efeito que davam a sua imagem. Os saltos altos dos sapatos acrescentavam centímetros a sua altura, por isso não teria que levantar o olhar para ver os olhos cinzas de Malfoy, mas sim os olharia de frente.
Manteve a confiança em si mesmo durante o breve trajecto de táxi, pois não queria sujar o vestido com pó de Floo, e até chegar ao último andar do edifício que Draco Malfoy possuía os seus escritórios. Quando estava no elevador olhou para o relógio e alegrou se ao ver que ia chegar com pontualidade à sua entrevista. Depois do enorme hall da recepção encontrou uma morena muito bonita a quem deu seu nome, depois de uma breve espera, a mulher acompanhou Ginny por um longo corredor até chegar a pesadas portas de carvalho.
Entrou numa sala grande e bem decorada na qual foi recebida por outra mulher muito bonita que se apresentou como June Milhares, a secretária do senhor Malfoy.
—Por favor, entre, senhorita Weasley. O senhor Malfoy está à sua espera —disse a Ginny com um sorriso.
Depois de atravessar uma porta, a ruiva quase não teve tempo de examinar o escritório nem a sua fabulosa decoração. O seu olhar centrou se imediatamente no homem que estava sentado atrás de uma enorme mesa de carvalho, com uma vista panorâmica da cidade nas suas costas.
—Bom dia, Ginny —disse ele levantando-se para aproximar-se dela— Vais entrar ou ficar parada aí?
Ginny se empertigou e respondeu muito friamente.
—Bom dia, senhor Malfoy. É um prazer voltar a vê-lo.
—Não sejas hipócrita — afirmou ele brandamente, enquanto a conduzia para uma cadeira que havia perto da mesa —.Gostarias de nunca mais me ver.
Ginny não pôde encontrar réplica alguma àquela observação tão certeira, por isso se contentou com um sorriso vago.
—Entretanto — prosseguiu ele, como se ela lhe tivesse dado a razão—, convém muito bem aos meus propósitos que estejas hoje aqui apesar de tua relutância.
— E quais são os seus propósitos, senhor Malfoy? — perguntou ela. A ira que sentia pela arrogância de Malfoy soou sobre o tom de sua voz.
Ele se acomodou na sua cadeira e olhou Ginny da cabeça aos pés. Fez de um modo lento, esperando desconcertá-la. Apesar de tudo, ela permaneceu completamente serena. Por causa da sua profissão, tinham-na estudado daquele modo antes, por isso estava decidida a não permitir que aquele homem soubesse que seu olhar estava lhe acelerando o pulso.
—Meus propósitos, Ginny — disse, olhando-a nos olhos —, são, no momento, estritamente profissionais, embora isso possa mudar a qualquer momento.
Aquela afirmação rachou em mil pedaços a fria couraça de Ginny e lhe provocou um ligeiro rubor nas bochechas. Amaldiçoou-se por isso enquanto tentava manter o olhar firme.
—Santo Deus — comentou Malfoy levantando as sobrancelhas com um certo tom jocoso — Estás a corar. E eu acreditava que as mulheres já não se ruborizassem -acrescentou, sorrindo mais ainda, como se gostasse do facto de que as suas palavras provocassem um rubor ainda mais acentuado nas bochechas da jovem —. Provavelmente és a última de uma espécie em perigo de extinção.
— Poderíamos falar do assunto pelo qual estou aqui, senhor Malfoy? — perguntou ela —. Estou certa de que você é um homem muito ocupado e, embora não acredite, eu também tenho muitos assuntos para resolver.
—É obvio. Lembro-me perfeitamente do «mãos à obra». Tenho um novo projecto para a WitchMode, um projecto muito especial — disse enquanto acendia um cigarro.
Imediatamente ofereceu um a Ginny, que ela recusou com um leve movimento de cabeça—. Estou pensando na idéia há bastante tempo, mas precisava de um fotógrafo adequado e de uma mulher adequada. Acredito que agora encontrei ambos.
—Suponho que me dará mais detalhes, senhor Malfoy. Estou segura de que não está acostumado a entrevistar as Modelos pessoalmente. Isto deve ser algo especial.
—Sim,— afirmou ele —. A idéia desta reportagem é a de uma história fotográfica sobre os diversos rostos de uma mulher — acrescentou. Então, ficou de pé e se apoiou sobre a mesa. Imediatamente, Ginny se viu afectada pela sua potente masculinidade, o poder e a força que emanavam do seu esbelto corpo —. Quero retratar todas as facetas da mulher: a mulher profissional, a mãe, a atleta, a sofisticada, a inocente, a tentadora... Quero dizer, um retrato completo da Eva, a Mulher Eterna.
—Parece fascinante —admitiu Ginny-. Você acha que eu poderia ser adequada para algumas das fotos?
-Sei que és adequada... para todas as fotos.
— Vai utilizar uma única Modelo para todo o projecto? —perguntou ela, muito surpreendida.
—Vou utilizar-te a ti para todo o projecto.
—Seria uma idiota se não estivesse interessada em um projecto como este — disse Ginny com sinceridade —, e não acredito que o seja. Por que eu?
—Vamos, Ginny — comentou ele, com certa impaciência. Então, inclinou-se sobre ela e tocou-lhe o queixo com a mão — Tenho certeza que tens espelho em casa e de que és inteligente o suficientemente para saber que és linda e extremamente fotogénica.
—Há vários Modelos bonitas e fotogénicas em Nova Iorque, senhor Malfoy — insistiu ela—. Você sabe disso melhor que ninguém. Eu gostaria de saber por que está me considerando para seu projecto.
—Não te estou considerando — replicou Draco. Acto contínuo, ficou de pé e meteu as mãos nos bolsos. Ginny notou que estava começando a se irritar e aquele detalhe foi bastante reconfortante para ela, ele não era apenas uma carapaça fria— De facto, não acredito que tenha pensado em nenhuma outra pessoa. Tem uma estranha habilidade para chegar ao coração de uma
fotografia e mostrar exactamente a imagem que se busca. Eu preciso de variabilidade e beleza. Preciso de honestidade numa dúzia de imagens diferentes.
—E, em sua opinião, eu posso fazê-lo.
—Não estarias aqui se eu não estivesse seguro. Eu nunca tomo decisões precipitadas.
Ginny olhou-o atentamente. De facto, estava segura de que Draco Malfoy calculava até o mínimo detalhe tudo o que fazia. Em voz alta, perguntou-lhe:
— Seria Colin o fotógrafo?
—Sim. Evidentemente, há uma grande afinidade entre vocês os dois que se transmite nas fotografias que os dois fazem. São óptimos profissionais, mas juntos poderão fazer um trabalho assombroso.
Aquele comentário fez que a jovem esboçasse um cálido sorriso.
—Não se trata de um louvor, Ginny. É apenas um facto. Dei a Colin todos os detalhes. Os contratos estão já preparados esperando que os assine.
— Os contratos? — repetiu ela, com certa cautela.
—Claro — respondeu ele, sem dar importância alguma à dúvida que ela tinha expressado -. Este projecto vai levar certo tempo. Não tenho intenção alguma de me apressar. Quero os direitos exclusivos do teu belo rosto até que o projecto termine e o resultado esteja na rua.
-Entendo -sussurrou ela. Inconscientemente, começou a morder o lábio inferior.
—Não tens que reagir como se eu tivesse feito uma proposta indecente, Ginny — disse Draco, com voz seca—. Trata-se somente de um acordo de negócios.
— Isso sei perfeitamente, senhor Malfoy — repôs ela num tom desafiante—. Só que nunca assinei um contrato para um projecto a longo prazo.
—Não tenho intenção alguma de permitir que tu me escapes. Os contratos são obrigatórios, para o Colin e para ti. Durante os próximos meses, não quero que se distraiam com outros trabalhos. Economicamente, compensar-vos-ei com acréscimo. Se tiverem alguma queixa nesse sentido, negociaremos. Entretanto, os meus direitos para dispor do teu rosto durante os próximos seis meses serão exclusivos.
Draco ficou em silêncio enquanto observava a ampla variedade de expressões que se reflectiam no rosto do Ginny. Efectivamente, a jovem se sentia muito atraída pelo projecto, embora não pelo homem que o tinha proposto. Seria um trabalho fascinante, mas custar-lhe-ia atar-se a um único cliente durante um período de tempo tão longo. Não podia evitar pensar que assinar um contrato era como perder a sua liberdade. Um contrato a longo prazo equivalia a um compromisso a longo prazo.
Finalmente, desfez-se de toda a sua cautela e dedicou a Draco um dos sorrisos que tinham feito que o seu rosto fosse conhecido por todos os Estados Unidos.
—O meu rosto é seu —disse.
N/A: Primeiro capítulo chegou. Espero que gostem desta fic tanto quanto da outra. Estou muito empolgada com esta porque eu adoro moda mesmo, considerei até seguir estilismo em vez de medicina, porque são duas coisas que não têm nada a ver mas que eu adoro, enfim, acabei seguindo medicina porque é meu sonho de criança e porque gosto mesmo, mas ainda faço assim uns sketchs e tenho sorte de minha mãe ser modista então muitas peças de roupa minhas são de minha autoria, enfim tudo isto para dizer que finalmente me aventurei no mundo da moda como fic, ah claro e não podia deixar de ser mete fotografia, mais uma das minhas grandes paixões. E o livro em que baseei esta fic foi Blithe Images de Nora Roberts, é um livro antigo já, é de 1982 e eu li-o em inglês, era da minha mãe e como ela gosta muito dele, eu acabei lendo e me inspirando. Bem acho que já falei muito. Não esqueçam de comentar e me deixar saber se gostaram. Beijoooooooo*
