Eu me lembro de ter me surpreendido com a temperatura de sua pele. Era de se esperar que de uma pessoa de atitudes frias também fosse fria ao toque. Assim eu pensava até o dia em que nos esbarramos na biblioteca. Sua pele era quente, e sua mão pousava em meu pescoço após algum tempo de diversão na Sala Precisa. Tudo que eu precisava agora estava esquecido. Éramos só Hermione Granger e Draco Malfoy deitados numa cama, ofegantes e felizes.
Então depois de alguns encontros furtivos, caminhadas pela madrugada e olhares de cobiça, nosso relacionamento continuava às escuras. Eu ainda pensava que era porque nossos amigos não concordariam em nos ver juntos, fato qual que até eu me surpreendo. Sempre pensei em Draco como um pirralho metido a principezinho, mas hoje vejo que tudo isso é somente o resultado de uma criação à lá Dursleys, mas tenho a impressão de que consegui fazer com que ele parasse de ser tão mimado. Vejo grandes diferenças nele desde que nosso romance começou, há 8 meses.
O ponta-pé inicial foi aquele toque na biblioteca, mas o que realmente acendeu meu fogo foi uma das poucas coisas que ele me disse, as que estavam ligadas a sentimentos.
- Você é especial!
Harry e Ron continuam insistindo na historia de que eu estou muito aérea ultimamente, mas não me importo. A única forma de não os deixar descobrir com quem me encontro toda semana à noite é pegando o Mapa do Maroto e a capa da invisibilidade de Harry todas as vezes que temos algum encontro marcado. Tive medo que se descobrissem que eu me encontrava com Draco eles parariam de falar comigo, o que é totalmente compreensivo.
Mas houve uma coisa que me pegou de surpresa. Naquele fim de semana de visitas a Hogsmead, eu disse que ficaria na torre da Grifinória todo o dia para terminar algumas das inúmeras lições que eu tinha, agora que estava me preparando para os NIEM's. Ele disse que iria, mas não falou nada sobre estar acompanhado. Então, no meio da tarde, resolvi fazer uma pequena surpresa para ele. Eu não precisava falar com ele em frente a todos, bastava fazer um ligeiro sinal que ele compreenderia o que eu estava querendo, e foi com esse pensamento que sai do castelo em direção ao povoado.
Procurei por ele nos lugares mais comuns, Três Vassouras, Zonko's, mas nada. Então enquanto tomava caminho para a Dedos de Mel, vi a cena que me embrulhou o estomago, escureceu minha vista e fez meus pés formigarem. Draco Malfoy estava aos beijos com outra menina. Não faço idéia de seu nome, nem quero saber, era como se um monstro estivesse nascendo dentro de mim. Anunciei minha presença e chamei-o para um canto com o pretexto de conversar sobre monitoria, e ele nem se quer ficou surpreso ou envergonhado.
- Draco, o que você pensa que está fazendo? – perguntei assim que ficamos a sós num pequeno beco do povoado
- O que você acha? – ele perguntou ironicamente – vem, eu te acompanho até o castelo – ele disse estendendo a mão para mim
- Não me toque seu... sua doninha!
- Isso é o melhor que pode fazer? – ele falou enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.
- Draco, você disse que eu era especial!
- Sim eu disse, Hermione, só não disse que era a única.
Aquelas palavras me marcaram como se fossem fogo, com aquela atrocidade que foram pronunciadas e a frieza que novamente emanava dele. Voltei para o castelo com a visão borrada por causa das lágrimas, e decidi nunca mais pensar naquele que partiu meu coração, mas afinal, eu não podia exigir nada, não é?
Ser especial não faz de mim a única, e eu me conformei com isso.
