Era cósmica 77.

O Clima primaveril de Orb contrastava com o estado de ânimo dos participantes da cerimônia que se seguiria. Uma cerimônia que fora planejada durante meses e aguardada com igual intensidade; afinal não é todo dia que a Representante de Orb vêm a publico para entregar uma nova frota de navios para a nação. Construídos em uma parceria com a Facção Clyne, a nova frota parecia reluzir o novo espírito que atraia o mundo para baixo da guarida da Facção. Todos juntos em uma nova ordem social.

- Bom dia a todos – começou seu discurso, a Representante – eu espero que perdoem minhas vestes, mas como todos sabem, eu tenho um casamento em alguns minutos – ela reluzia em um brilhante vestido – e, além do mais, essa não é uma comemoração minha. Hoje é uma comemoração de Orb. De todos os cidadãos que acreditam nos ideais de uma paz duradoura. Assim como aqueles que se dispuseram a defendê-las com a vida, se necessário: vocês – disse apontando para o grupo de cadetes que também se formavam – Nossas frotas foram bastante atingidas durante a última guerra. Mas elas cumpriram fielmente sua função de nos defender de invasões externas. À todos que morreram em batalha, como à todos que sobreviveram e estão conosco para novamente defender a nação, meus cumprimentos. E à vocês, que começarão suas funções militares em breve, um lembrete: uma nação não só feita de idéias e ideais... ela é feita de pessoas. Como eu. Como vocês. É por isso que vocês lutarão enquanto eu estiver viva. Para proteger seus pais, irmãos, filhos, amigos, vizinhos, estranhos; não importa. Mas apenas para proteger. Manteremos nossa posição neutra que Uzumi deu a vida para preservar, mas não seremos complacentes com invasões ao nosso território. E se o poder para proteger é necessário, eu lhes entrego a nova frota naval de Orb! Obrigada!

Em seguida, a princesa desceu do palco e foi batizar o primeiro dos 17 porta-aviões que seriam entregues. Com uma garrafa de champanhe partida o U.S.S. Legacy foi aberto para os festejos dos cadetes, marinheiros e suas famílias. A partir daí, uma rápida recepção foi iniciada para os participantes. A princesa, contudo, já partira para o próximo compromisso. O adeus de uma parte de sua história e o começo de outra. A limusine chegou rapidamente na capela designada onde aconteceria a outra cerimônia. Seu irmão a esperava ansiosamente, como cabia à ele em seu papel. Normalmente, seria dele também o papel de discursar na solenidade, mas coube á loira dessa vez, pela escala pessoal dos dois. Além do mais, caso houvesse problemas, ele poderia segurar a solenidade.

- Porquê você não pode chegar uma única vez no horário? – exasperou seu irmão.

- Ora, largue de ser rabugento, Kira – protestou a loira – não é como se, nessas cerimônias, a coisa começasse no horário.

- É... mas se espera esse comportamento da noiva... não da madrinha – riu o coordinator.

- Não me lembra disso – sussurrou a garota, enquanto entrava na igreja e assumia seu lugar como madrinha. Ser madrinha do casamento de Atthrum e Meyrin foi uma pena que ela própria se impôs.

Amara-o com paixão que até aqueles dias, não desconfiava que tinha. E fora retribuído por ele, com igual intensidade. Com sua força, ergueram Orb dos escombros da primeira guerra, mas o desejo dele por força para protegê-la levou-os para caminhos inevitáveis e a relação deles desviou-se demais para tomar o curso como se não tivesse sido alterado anteriormente. Até que um dia teve que deixá-lo ser livre, pois seu espaço tinha sido ocupado por alguém que esteve com ele quando mais precisou. Contudo, ao receber a notícia da união dos dois, ficou feliz por ambos e, embora uma parte sua gritasse 'seqüestre-o dela', ela jamais gritara 'seqüestre Atthrum Zalla para você'. Sabia que era apenas o instinto competitivo dela falando e por ela, continuaria falando indefinidamente, se dependesse dela.

Olhou para os convidados e reconheceu várias caras comuns do relacionamento deles: Mwu sussurrava algumas coisas no ouvido de sua esposa, que corava fortemente em protesto aos argumentos de seu marido; Mirialia, nos braços de Dearkka, que arreliava Yzak enquanto a cerimônia não começava, atraindo os sorrisos das pessoas em volta, em especial de Shiho, esposa de Joule, que sempre se divertira com a falta de senso de humor de seu marido e o excesso de Ellsman.

Martin DaCosta e seu inseparável capitão, Andrew Battlefield espiavam as mulheres solteiras da igreja para investidas durante a festa. Pousou demoradamente os olhos em Lacus Clyne, sua ex-cunhada. Como ela e Atthrum, no final foram os sonhos de uma vida feliz e de paz que acabaram afastando Kira e Lacus. Cada vez mais afastados em busca do sonho comum, ele foi lutar pela Facção Clyne e ela foi assumir o legado do pai no Conselho Supremo. E quanto mais eles se aproximavam da meta, mais se afastavam deles mesmos. No final, eram quase estranhos. O amor era a mais difícil interação entre os corações das pessoas pensou Cagalli.

Passeou a vista por todas as pessoas até encontrar com uma imagem no mínimo curiosa: uma única pessoa assistia em pé a cerimônia; sim, ele chamava a atenção dos outros, mas apenas ela pôde ver que ele gentilmente cedeu seu lugar à uma velha senhora, que a todo o momento o agradecia.

Olhando a cena, a loira lembrou-se de uma velha lenda grega, na qual um velho comerciante cansado chegara para assistir uma assembléia das 13 tribos que formavam a Grécia. Por ter chegado atrasado, não encontrava lugar para sentar, então disse: "- Vocês atenienses, donos da razão e do saber, da sensibilidade e da arte, poderiam dar lugar para este velho?" - E ninguém da parte designada aos atenienses se levantou. Seguindo para o lugar designado pelos troianos, o velho seguiu: "- Vocês troianos, donos do tino e da capacidade, poderiam dar lugar para este velho comerciante?" - Ninguém levantou novamente. Dirigindo-se ao canto dos espartanos, o velho disse: "- Vocês espartanos donos da justiça e que são justos, poderiam dar lugar para um velho sentar?" - e todos se levantaram. Era assim que ela definia Shinn Asuka. Alguém que punha o coração no que acreditava, mesmo que estivesse errado, mas a maturidade e a temperança fizeram maravilhas pelo jovem e o tempo na Facção Clyne fez com que ele se desse bem com Kira e Atthrum. O que os levava ao ponto de partida. E à noiva, que adentrava o salão da igreja nesse momento.

A festa de casamento foi tão grandiosa quanto a cerimônia, na qual os noivos fizeram por merecer tamanhos cumprimentos de seus amigos, admiradores e colegas de trabalho de ambos. Lacus estava com a garganta seca, desejando urgentemente uma bebida e por isso, aproximou-se do bar.

- Um suco verde – pediu ao garçom. Pouco depois, um jovem chegava ao balcão.

- Cerveja! A mais gelada que tiver – pediu com humor. Sem perceber, a jovem teve sua atenção atraída para o homem e pelo tom de voz ou algo que não soube explicar, acreditou conhecer o homem e decidiu tirar a prova.

- Shinn? – perguntou, chamando a atenção do jovem.

- Lacus-sama... ou devo chamá-la de presidente Clyne? – gracejou.

- Por favor Shinn, é só Lacus. Nem me lembre daquele pesadelo administrativo – sorriu – quem diria que aquele piloto raivoso ficaria tão bem em um terno?

- Obrigado. E quem diria que aquela política de aparência frágil ficaria tão bonita em um vestido diáfano?

- Uau! Devo me sentir lisonjeada duplamente: até agora nenhum homem sabe que isto é um vestido diáfano. Como vai você?

- Eu vou muito bem, na medida do possível. E você?

- Vou pensando no que fazer do futuro. Posso fazer uma pergunta? Mas já aviso que será indiscreta – sorriu a garota.

- Essas são normalmente as melhores. Manda aí!

- Eu tinha ouvido falar que seria você o padrinho de Meyrin, junto com Lunamaria, mas houve uma mudança de ultima hora. Você esteve no casamento, certo? O que aconteceu?

- Na verdade você deve ter ouvido que o noivo de Luna seria o padrinho de Meyrin. Depois que Luna e eu terminamos, Meyrin fez com que Atthrum me desconvidasse para poder convidar o novo noivo de Luna. Ele morreu de vergonha, mas como o casamento é deles, eu não me constrangi muito com isso.

- Oh, sinto muito. Desculpe ter tocado em um assunto delicado – desculpou-se.

- Não é para tanto, Lacus-sama. É só uma história chata de pessoas que não pensam como pensavam antigamente – diz, tranqüilo.

- Se importa de falar sobre isso? Digo, porque não parece em nada com a pessoa que você era, ser tão... maduro.

- Não, não me importo, mas acho que não deveríamos conversar sobre isso aqui... quer tomar um ar na sacada? – perguntou prontamente.

- Eu adoraria – disse Lacus, oferecendo a bebida para que o jovem a atravessasse pelo salão cheio de gente. Quando chegaram à sacada, a curiosidade da jovem estava a mil.

- Tudo começou durante uma das missões da Facção, onde eu, Kira e muitos outros, tivemos que lidar com um grupo rebelde que acreditava na doutrina Zalla. Lunamaria havia ficado em casa e, segundo ela, foi numa exposição que o conheceu. Ele é um tipo de artesão, desses que tem um estúdio em casa e trabalha com sucata de Móbile Suit. Como ela fez questão de frisar, ele era alguém que fazia algo bonito com a guerra, enquanto eu só fazia guerra... alguém cujas mãos não estavam manchadas, entende? – pergunta, recebendo uma anuência com a cabeça – O fato é que ela me deixou enquanto eu estava na missão. Lógico que não aceitei isso muito bem e tive um pequeno probleminha de pilotagem com o Destiny. Meu esquadrão topou com uma esquadra de 40 Móbile Suits e como ele era composto na maioria de cadetes, eu ordenei a retirada e decidi cobri-los com o Destiny. Fui sozinho contra os 40 e consegui contê-los, enquanto Kira e os outros debelavam a rebelião. Fui julgado pelas minhas decisões sobre a retirada e, com o Destiny semi-destruido, não vi motivo para continuar na Facção Clyne. A moral da história é que eu posso mover céus e terras e odiá-la, mas isso seria perda de tempo e só me colocaria em risco.

- Nossa, Shinn... isso é tão... não Shinn – disse com um sorriso triste – gostaria de ter sua maturidade nesse momento.

- Então os boatos são verdadeiros? Você e Kira...?

- Sim, estamos separados – disse, se abraçando – honestamente, eu não sei o que fazer. Não sobrou muito de mim, sem Kira.

- Não concordo. Você pode não estar vendo agora, mas você já era uma pessoa antes de Kira e se tornou uma pessoa com Kira. Ele não é você na totalidade, mas você não pode viver através dele.

Uma lágrima rebelde rola pelo rosto da garota, enquanto Shinn a apara.

- Não era minha intenção fazê-la chorar.

- Você não é culpado por isso... é só que minha vida não é mais tão simples... não tenho nada... meu pai deu a vida por seus ideais e eu nem pude chorar a morte dele... – desmoronou, enquanto tombou no abraço do jovem. Em outros dias, não teria feito isso, mas sabia que o jovem também perdera os pais na guerra e esperava que ele pudesse dar algumas respostas – Shinn, você perdeu sua família também... pode me ajudar como lidar com essa dor?

- Infelizmente, Lacus, você lida com essa dor. Você conviveu com seu pai e tome o tempo que tomar, você aprenderá que precisava passar por isso do jeito que tinha de passar para aceitar que parte dele viverá sempre em você.

- Eu coloquei os sonhos de meu pai, de Kira como certos, como justos, como éticos. Eu acreditei que levando os sonhos de meu pai adiante e fazendo o possível para que eles se tornassem realidade, eu poderia ser feliz mas, isso só fez com que Kira e eu nos tornássemos distantes, quase como estranhos – choramingou a garota.

- E antes disso? Antes de tornar-se Lacus Clyne, a menina fortaleza? - disse, arrancando um sorriso da garota – o quê você gostava de fazer?

- Antes disso, eu amava cantar... passar para outras pessoas o meu sentimento... mas isso foi há tanto tempo...

- Porque você não volta a cantar? Digo, você ainda pode construir uma carreira.

- Não seria a mesma coisa. As pessoas viriam para ver Lacus Clyne, a ex-estadista que canta e não ver Lacus, a cantora.

- Então por quê não começa de novo, com um outro nome? – perguntou Shinn.

- Porque aí não seria eu. Seria outra pessoa.

- No tempo que Zalla passou como Alex Dino, não o tornou menos Atthrum Zalla. Da mesma forma que você pode adotar uma nova identidade e começar de novo a cantar... não aqui ou em PLANT, mas em alguma parte do mundo onde você não tem um rosto conhecido. Você precisa ver o mundo que ajudou a proteger. Essa experiência pode abrir seus olhos. Tire uns meses para você e viaje um pouco. Pode fazer bem a você.

Ambos ficaram um pouco em silencio, apenas vendo as estrelas.

- Eu sou uma egoísta, mesmo... só falei de mim – sorriu para o jovem – e você, Shinn? O quê fará da sua vida?

- Vou fazer o mesmo que todo guerreiro em tempos de paz faz: desaparecer. Talvez me estabeleça em algum lugar e leve uma vida comum. Até que a morte ou a velhice venha tomar meu corpo – sorri triste.

- Isso é muito triste... tente por um pouco de alegria em sua vida. Ficará em Onogoro?

- Honestamente, nem me imagino morando aqui atualmente.

- Interrompemos alguma coisa? – diz Cagalli, acompanhada de Atthrum.

- Não... só conversávamos sobre o tempo – disse Shinn.

- Shinn, eu gostaria de... – começou seu amigo, mas foi impedido pelo coordinator.

- Está tudo bem, Atthrum. Tão amigos como sempre. De você e de Meyrin – disse enquanto abraçava o noivo.

- Lacus... eu... – começou Cagalli.

- Ara, ara... Cagalli-chan... parece que você perdeu a língua – arreliou a jovem.

- É só que você... e meu irmão... não é justo! – choramingou a loira.

- Nem sempre é, Cagalli. Mas as coisas são assim complicadas. Nem tudo é justo – disse, olhando para os homens abraçados.

No dia seguinte, a jovem Clyne levantou-se e resolveu caminhar um pouco. Passou pela praia onde criou o orfanato, pelas ruas de Onogoro, onde viu crianças brincando em um parque. Elas eram tão inocentes, não tinham a menor noção das coisas que viriam depois, quando crescessem, agora tudo que importava era o aqui e o agora. Shinn tinha razão, ela pensou, "eu só vivi como uma extensão dos outros, meu pai, Kira, Caridad, Atthrum, Murrue Padre Malchio, as crianças". Chegara a hora de fazer algo para si mesma. Saiu de lá e foi direto para a casa de Andrew Battlefield.

- Lacus, que surpresa. Entre, me acompanha para o chá? – perguntou o homem.

- Claro! – respondeu a garota.

A conversa durante o chá permaneceu amena, principalmente sobre fatos do casamento no dia anterior. A verdade é que o velho amigo de seu pai tinha se tornado uma figura de extrema importância para a jovem. Ela tinha certeza que o que quer que pedisse para ele, Andrew Battlefield cumpriria sem pestanejar.

- Embora eu adore sua visita, minha cara, está claro que você veio aqui por algum motivo.

- Sim, Battlefield-san. Gostaria que você me conseguisse uma nova identidade – disse séria.

Aquilo pegou de surpresa o homem. Não que fosse alguma coisa difícil com seus contatos, mas isso era profundamente inesperado de Lacus.

- Se importa de me dizer por quê?

- Eu estou esgotada. Preciso me livrar do peso de ser Lacus Clyne. Preciso viver... reconstruir minha vida depois de Kira. Eu quero voltar a cantar. Não como Lacus Clyne, apenas como uma cantora, que passa sua emoção para a platéia.

A jovem passou pela sabatina do olhar do homem. Ele pôde analisar a decisão do rosto da garota que viu crescer, entre as missões de Z.A.F.T. como Tigre do Deserto. A filha de Siegel merecia ser feliz. Ela, Kira e os outros garotos deram o sangue para que a paz fosse duradoura e se eles não conseguiram se acertar, ele daria a ela uma nova oportunidade.

- Tudo bem, querida. Vou pedir para DaCosta fazer os documentos para você. Você tem preferência por um nome?

- Sim – respondeu a mulher – Meer Campbel.

- Você vai usar o nome dela? – se surpreendeu o homem.

- Eu pensei, nisso a noite toda. Nós duas tínhamos os mesmos sonhos e objetivos de fazer a diferença através da música. E ela foi vítima das ambições de Dullindal. Usando meu nome e meu rosto. Se eu tivesse vindo a público antes, a morte dela poderia ser evitada. Isso sem falar que ela tomou uma bala que era para mim. Seria uma forma de homenageá-la e levar a frente nossos sonhos.

- Você sabe que eu te apoiarei, desde que você tenha certeza. Vamos combinar o seguinte: se ainda estiver disposta, eu lhe entregarei sua nova identidade daqui a um mês. Isso lhe dará tempo para se despedir das pessoas.

- Obrigado, Battlefield-san – sorriu Lacus.

Durante esse mês de espera, a jovem passou fazendo reuniões com seus amigos. Muitos acreditaram que a garota voltaria para PLANT e coube à Murrue e Cagalli, a tarefa de dar um aperto na garota:

- Como você está passando, Lacus? - pergunta Cagalli.

- Bem, pelo menos é o que eu acho – sorriu culpada. Amava suas amigas, mas tinha que ser resoluta e deixar essas duas seria a parte mais difícil.

- O que Cagalli-chan está querendo dizer é: porque você está fazendo, neste último mês, visitas a todos, sendo que não o fez, durante meses?

- Ora, não se pode visitar os amigos? – perguntou inocente.

- Em tom de despedida? – protestou a Representante – Lacus, diga-nos o que está havendo?

- Está bem – disse cansada – vou sair de viagem. E não sei quando voltarei.

- Como assim? – surpreendeu-se Murrue – "Não sei quando voltarei"?

- Durante o casamento de Atthrum, eu comecei a conversar com Shinn sobre sua situação com Lunamaria e ele me disse algo que me fez pensar: que eu... que nós nunca nos demos o luxo de realmente apreciar aquilo por que tanto lutamos. E isso me fez pensar que uma longa viajem seja talvez o melhor remédio para mim, nesse momento.

- Lacus, Shinn é um idiota e você está dando credito à um idiota! – enfureceu-se Cagalli – Se não fosse tão estúpido, Lunamaria não o teria largado!

- Você já ouviu o lado dele? – perguntou séria, a futura Campbell – Ou isso é apenas um preconceito falando, Cagalli? Ele me contou sua versão e eu acreditei nele.

- Mas... – começou a loira, mas foi impedida por Murrue.

- Vamos sentir saudade, Cagalli e eu. Tome o tempo que quiser. Mas deixe-nos saber que você está bem, por favor – disse, tomando a mão da garota.

- Murrue... como você pode aprovar uma sandice dessas?

- Não se trata do que eu quero, mas do que Lacus fará... se não posso impedi-la, ao menos vou apoiá-la. Eu conheço esse olhar que ela possuí. Ela já está decidida.

- Obrigada... Cagalli? – estende sua mão para a garota, tomando a dela e trazendo-a para junto das mãos dela e de Murrue – sei que você não está contente com minha decisão, mas não pode ao menos tentar ver a coisa do meu jeito.

Bufando, a loira se rende e abraça sua ex-cunhada. Não queria deixá-la sair por aí como se não tivesse mais nada. Ela tinha elas e isso contava. Mas era sua decisão.

De todas as pessoas que ela procurou para despedir-se, apenas uma ela não encontrou: Shinn Asuka tinha cumprido sua promessa. Disse que sumiria e a última notícia que teve dele foi por Kira Yamato, que disse ao amigo que não entraria em contato antes do próximo ano, mas escreveria assim que achasse um lugar tranqüilo para viver.

- Lacus, eu... sinto muito... – começou o coordinator.

- Não é sua culpa, Kira. Não é minha culpa. Alguns amores são para sempre, outros se transformam com o tempo. Espero que um dia, possamos rir de tudo isso. e que sejamos amigos.

2 anos depois.

Meer Campbell: finalmente vida inteligente na música underground.

Avessa às entrevistas, essa cantora do meio alternativo está tornando-se a queridinha dos plugados da nova era. Não se sabe muito dela – e ela faz questão de manter sua vida privada a sete chaves – mas pode-se dizer que suas músicas possuem forte apelo emocional e geralmente falam sobre paz, amores, relacionamentos humanos e perdas, tornando assuntos tão diversos e complexos em fortes canções carregada de mensagens de esperança, sem que isso pareça piegas.

Sua carreira começou no Japão – embora, definitivamente, não seja japonesa nativa – onde cantou em bares e festivais de cultura alternativa. Recusou contrato para gravar por alguns estúdios japoneses, preferindo lançar um álbum por um selo alternativo, o Destiny Records, até então sem expressão na cena musical japonesa, mas que após a entrada de Campbell em suas fileiras, figurou em um dos principais da cena alternativa.

Dona de uma voz impressionante e bela, essa japonesa (?) fez apenas algumas aparições em concertos que apoiavam a dissolução de conflitos étnicos em alguns cantos do globo, porém nunca esquecera sua origem, tocando nos mesmos bares que começara sua carreira, ora como convidada surpresa, ora como visitante informal. Com esse sucesso, ela agora está de malas prontas para conquistar a Europa, com uma série de shows agendados na Alemanha, Itália, Inglaterra e França. Resta saber se ela poderá manter sua mesma atitude em outros cenários alternativos (...).

(trecho da crônica da revista Rolling Stones, sobre novos talentos da cena underground).

A cena musical independente tinha sido a opção escolhida pela garota, para refazer sua vida, especialmente por ser aonde a mensagem chega às pessoas com maior independência do rosto de quem cantava. Isso e sua natural timidez criaram um cenário ideal para suas canções. Martin DaCosta, foi com ela para o Japão e agiu como agente dela por um tempo. A ajuda dele, não foi só no sentido de conseguir as primeiras oportunidades, mas também para ela se aclimatar à nova vida. E após dois meses na nova terra, ela foi, finalmente, deixada à sua própria sorte.

Agora começaria sua nova vida no velho continente, escolhendo como residência, um prédio de 6 apartamentos em Sceaux, uma cidade satélite ao sul de Paris. Ela queria viver essa experiência de vida na Cidade-Luz. Realmente como um jovem que passava por uma experiência igual dissera, 2 anos antes, ver a vida que ajudaram a preservar, tinha sido tão curativo quanto possível e, embora tenha conhecido algumas pessoas que poderia chamar de amigos, ainda tinha em seu coração, as pessoas que deixara em Orb. Cada país tinha um tipo de cultura quanto às mudanças. Como ela alugara um apartamento mobiliado, ela teve que pedir ajuda para a vizinhança. Isso era um jeito informal dela conhecer as pessoas com quem dividiria o espaço comum.

- Meu neto vai ajudá-la mocinha – disse uma senhora de mais ou menos 60 anos – à propósito, meu nome é Luzie Vieira. Meu neto se chama Kevin.

Um garoto de aproximadamente 11 anos apareceu e se dispôs a ajudá-la a chamar seus amigos para carregar seus pertences. Ele bateu em todas as portas, menos no apartamento em que Meer dividiria a parede.

- Ara, ara... este apartamento está para alugar? – perguntou a garota.

- Não... é que ele não está em casa nesse horário. O Às mora sozinho e trabalha a noite. Ou ele está dormindo e não gosta de ser acordado à essa hora da manhã, ou está fazendo compras no mercado e ele chegará e nos ajudará.

- Às? – perguntou a jovem.

- Esse é o apelido que nós demos a ele. Mas o motivo... deixamos que ele escolha contar para você ou não? – disse Kevin.

A mudança estava rápida com 5 pré-adolescentes ajudando a carregar os pertences da jovem mulher. Quando estavam na penúltima leva de com algumas mobílias, um homem chegou com duas sacolas de compras. Ele veio correndo para o elevador, enquanto a cantora segurou as portas do aparelho. Com um pouco de falta de jeito, o homem entrou, mas estava com sua cara coberta pelas compras.

- Obrigado. Poderia apertar o terceiro para mim? – pediu.

- Você deve ser o meu vizinho... sou Meer Campbell – disse enquanto as portas abriam e o jovem colocava suas compras na porta do andar, para ajudar as crianças com as malas da nova vizinha.

- Muito prazer, sou.. – começou o homem.

- Shinn! – sussurrou Lacus.