CAPÍTULO 1 - Reencontro

A terça-feira amanheceu ensolarada na cidade Princeton. A Dra. Allison Cameron acordou assustada, o sol forte dava a impressão de já ser muito tarde. Olhou para o relógio ao lado da cama, ainda eram 7h15, ela só tinha planos de levantar às 8. Tentou dormir novamente, mas não conseguiu, estava totalmente desperta e ansiosa pela entrevista de logo mais. Resolveu levantar e tomar um banho demorado pra tentar relaxar.

Depois do banho, Cameron vestiu uma calça de tecido preta e uma camisa branca. Escolheu um par de sapatos elegantes e confortáveis, secou os cabelos e fez uma maquiagem discreta. Olhou-se no espelho, precisava estar impecável, aquele talvez fosse o dia mais importante da sua vida. Não conseguiu comer nada, olhou no relógio, já eram 8h30, pegou um casaco, a bolsa, o celular, as chaves do carro e saiu.

No caminho para o Princeton Plainsboro Hospital, foi ouvindo uma música calma. Precisava parecer tranqüila e segura, ela finalmente havia conseguido uma entrevista com o Dr. Gregory House e trabalhar na equipe de diagnósticos do Princeton era tudo o que ela sempre sonhou, essa talvez fosse a sua única chance.

Ao chegar ao amplo estacionamento do Hospital, depois de estacionar em uma vaga de visitantes, seguiu para a entrada principal e dirigiu-se a uma das secretárias:

- Bom dia. Eu sou a Dra. Allison Cameron, gostaria de falar com o Dr. Gregory House.

- Ele está na Clínica. Pegue o elevador, fica no segundo andar. – respondeu a secretária. – Coitada, é a milésima garota que ele vai mandar pra casa essa semana. – disse pra si mesma assim que Cameron virou as costas.

Assim que chegou à recepção da clínica, a secretária já a cumprimentou:

- Bom dia, você deve ser a Dra. Cameron, o Dr. House espera por você no Consultório 1.

Cameron achou estranho que ele fosse entrevistá-la no consultório da clínica, mas já tinha ouvido falar que o Dr. House não era nada convencional. Chegou à porta indicada pela secretária, respirou fundo e bateu.

- Entra.

Cameron entrou. O Dr. House estava deitado numa maca jogando algo parecido com um game boy e havia uma mulher jovem sentada em uma cadeira. Sem desviar os olhos do jogo o Dr. House diz:

- Dra. Cameron, eu esperava por você. Chegou bem na hora. Esta jovem está sentindo náuseas, enjôos, faz xixi o tempo inteiro, anda chorando até vendo propaganda de margarina, seus seios estão grandes e doloridos e diz que engordou no último mês. Eu tenho algumas hipóteses, mas preciso de uma segunda opinião. O que você acha?

- Ela está grávida. – respondeu Cameron, sem acreditar naquela situação.

- Hum... Como é que eu não pensei nisso antes. Eu fiquei preso no fato do marido dela ser estéril. – respondeu House levantando-se da maca e abrindo a porta para paciente. – Ok. Você pode ir agora. A obstetrícia fica no último andar. Mas se você preferir eu tenho uns telefones meio clandestinos. E conheço bons advogados também.

House vira-se para Cameron:

- Parabéns doutora. Bom diagnóstico. Nossa, não tinha observado como você é bonita.

Claro. Ele não tinha olhado pra mim ainda. Pensou Cameron.

- Obrigada. Devo admitir que não foi muito complicado.

- É. A maioria dos casos são simples assim, qualquer pessoa que tenha dois neurônios que possam estabelecer uma sinapse consegue diagnosticar. Você quis ser médica por isso? Uma mulher bonita como você poderia ter sucesso em qualquer outra coisa.

- Não. Na verdade eu não era alta o suficiente pra ser modelo.

- É um bom argumento pra fugir da verdadeira resposta. Está contratada.

Cameron abriu a boca, mas não conseguia falar nada. Ele só podia tá de brincadeira com ela. Aquilo definitivamente não era uma entrevista de emprego.

- É só isso? – perguntou Cameron.

- É. Eu tava pensando em te convidar pra jantar, mas acho que não vai ser uma boa idéia, considerando que agora eu sou o seu chefe. Você deve estar aqui amanha às 9.

Cameron saiu da sala ainda sem acreditar naquilo. Ela estava na equipe do Dr. House!!! Mal podia se conter de tanta felicidade. Já estava chegando ao elevador quando ouviu uma voz familiar vinda do final do corredor.

- Alisson?

Virou-se e viu um homem alto, forte, cabelos loiros e um belo par de olhos azuis vindo em sua direção.

- Não vai dizer que não se lembra de mim. – perguntou ele abrindo um belo sorriso.

- Robert? Não acredito que é você! – ela respondeu dando um abraço nele.

- Quanto tempo Allison. Não nos vemos desde...

- Desde a sua festa de formatura. – completou ela sem deixá-lo terminar a frase.

- É. Faz tempo né?! – Dr. Robert Chase enrubesceu. – Você está tão...

- Diferente?! – perguntou Cameron.

- Eu ia dizer bonita. Mas está diferente também.

Os dois riram. Chase mudou de assunto:

- O que você faz aqui?

- Você não vai acreditar. Acabei de ser contratada para trabalhar na equipe do Dr. House.

- Jura? Eu trabalho com ele! Não acredito que vamos trabalhar juntos. – Chase disse isso e começou a rir.

- Ei, do que você está rindo?

- O House não existe. Ele nos avisou ontem que ia contratar uma garota bonita pra completar a equipe. Achamos que era brincadeira.

- Eu não posso acreditar nisso. Aposto que ele nem leu meu currículo. – Cameron estava indignada.

- Ah não. Eu te garanto que leu. House jamais contrataria alguém incompetente só pra "enfeitar" a sala de diagnósticos.

- Hum... Não sei não viu... – respondeu ela visivelmente contrariada.

- Hey... Pára! Você conseguiu o melhor emprego que um médico pode querer, não dá pra ficar feliz?

House chegou antes que Cameron pudesse responder.

- Olha só. Vejo que os meus dois pupilos já se conhecem. E pelo brilho nos belos olhos azuis da Dra. Cameron eu posso jurar que foram mais do que "coleguinhas de classe".

Cameron e Chase se entreolharam. Dessa vez Chase ficou vermelho com um pimentão. House deu uma gargalhada e comentou:

- Ainda bem que eu não te convidei pra jantar Cameron. Olha só em que situação você ia me colocar.

- Nós freqüentamos a mesma faculdade na mesma época Dr. House. Mas não éramos nem "coleguinhas de classe". Eu fazia o terceiro ano quando Chase se formou.

- House! – chamou uma voz feminina da porta do consultório 1. – Preciso que você venha aqui imediatamente.

- Preciso ir crianças. "Mamãe" está me chamando! – House fez uma careta. - Dr. Chase, já se passaram 15 minutos do seu almoço. Dra. Cameron, não vai se exceder relembrando o passado hoje à noite e se atrasar amanhã ok?!

Os dois riram e Chase virou-se para Cameron:

- Almoça comigo? Tem um ótimo restaurante a duas quadras daqui.

- Claro. Vamos logo então porque eu estou morta de fome.

Os dois saíram do prédio e foram conversando animadamente até o restaurante.

- Robert, quem mais está na equipe do House?

- É só o House, que é especialista em infectologia e nefrologia, o Dr. Eric Foreman, um dos melhores neurologistas do estado, eu e agora você.

- Interessante. Você fez mesmo medicina intensiva? Ou mudou de idéia?

- Fiz. Eu sempre quis isso né?! Eu fui fazer minha residência na Austrália, consegui ótimos estágios lá, mas resolvi voltar assim que soube da nova equipe do House. E você? Pelo jeito não virou pediatra... – perguntou Chase rindo.

Cameron caiu na gargalhada:

- Não, eu fiz Imunologia, acabei de terminar a residência. Você achava mesmo que eu faria pediatria? Eu adoro crianças, mas elas seriam muito mais interessantes se fossem ao médico sem as suas mães.

Chase riu e Cameron observou o quanto ele continuava lindo. Estava mais velho, algumas rugas começavam a aparecer, mas ele ainda tinha o mesmo sorriso de 6 anos atrás. Ela se lembrou do quanto amava aquele sorriso.

- Só mais uma pergunta e juro que paro o interrogatório. – continuou Cameron. – Quem é aquela mulher que o House chamou de "mamãe"?

- É a Dra. Lisa Cuddy. Ela é endocrinologista e diretora do Hospital. – respondeu Chase. - É o único ser humano no universo que ainda detém algum controle sobre o House.

- Deve ser uma mulher poderosa.

- Ela é.

Chegaram ao restaurante. O local estava lotado, Cameron não conseguia ver nenhuma mesa vazia. Chase continuou andando até uma mesa no fundo do restaurante onde estava sentada uma bela jovem. Ao chegarem à mesa, Chase deu um selinho na garota e pediu desculpas:

- Amor, desculpa o atraso. É que eu encontrei uma velha amiga da faculdade no Hospital.

- Não tem problema amor. – sorriu ela. – Mas você não vai me apresentar a sua amiga?

- Ah, claro. Lucy, esta é a Dra. Allison Cameron. Allison, esta é Lucy Green, minha noiva.

A respiração de Cameron quase parou quando ouviu aquela palavra. Noiva? Ele estava noivo? Que droga! Respirou fundo e tentou manter a naturalidade:

- Prazer em conhecê-la, Lucy. Espero que não se importe que o Robert tenha me convidado pro almoço.

- Prazer em conhecê-la também, Allison. Eu não me importo nem um pouco, eu adoro conhecer os amigos do Robert. E ele vive reclamando que não conhece muita gente em Princeton.

Cameron apenas sorriu e pegou o cardápio. Tudo o que ela queria era sair dali o mais rápido possível. Perdeu a fome e esqueceu toda a felicidade de ter conseguido o emprego. O único sentimento existente era exatamente o mesmo de 6 anos atrás... E ela sabia que não poderia suportar isso de novo.

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia?

Quantos você já não encontra mais?

Faça uma lista dos sonhos que tinha

Quantos você desistiu de sonhar?

Quantos amores jurados pra sempre

Quantos você conseguiu preservar?

Onde você ainda se reconhece

Na foto passada ou no espelho de agora?

Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava?

Quantos você conseguiu entender?

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava

Quantas você teve que cometer?

Quantos defeitos sanados com o tempo

Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava

Hoje assobia pra sobreviver?

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você?

Nota:

Música final: A Lista – Oswaldo Montenegro