O livro A Interpretação dos Sonhos é de autoria de Sigmund Freud, e qualquer citação de suas teorias sobre os sonhos pertence unicamente a ele. Os personagens pertencem à J.K. Rowling. Esta fic foi escrita restritamente por diversão e sem fins lucrativos.


Sonhos

1. Desejos

"Sirius"

"Sim?"

"Venha aqui"

"O que é, Remus?"

"Mais perto"

"Ok"

Então ele puxou as vestes do amigo para próximo dele, logo depois deslizando sua mão pelas costas do garoto. 'O que ele está fazendo?' O animago pensava, se deixando levar pela sensação gostosa que tudo isso tinha nele.

"Remus"

"Shh... Tudo bem, Padfoot"

Os lábios quentes do lobisomem tocaram os dele, enquanto sua própria mão acariciava a nuca do loiro. Isso era errado, não era? Tinha que ser. Mas e daí. Era bom. Muito bom.

"Sirius?"

"Hmfhm..."

"Sirius"

"Sim, Remus..." Uma voz sonolenta se propagava pelo ar ao mesmo tempo em que o garoto de cabelos negros abria seus olhos.

"Sirius, você está atrasado pro café"

"MAS O QUE" O animago se sentou na cama quase como de um salto, de olhos arregalados. Olhava para o amigo, já arrumado, que sorria pra ele a seu lado.

"Eu disse que você está atrasado pro café" Ele repetiu. "Por que está suando tanto?"

"Ah, eu... Nada. Foi só um pesadelo"

"Hum. Bem, James e Peter já desceram, e eu fiquei de te acordar"

"Ah, ok. Eu já estou indo" Ele olhou para seu lençol "Hum, por que você não me espera lá embaixo?"

"Tudo bem" Ele saiu do dormitório fechando a porta atrás de si.

"Droga" Sirius xingou assim que o lobisomem deixou o aposento. Foi ao banheiro e entrou rápido embaixo do chuveiro, deixando a água quente escorrer pelo seu corpo, tentando esquecer os pensamentos que agora provocavam um redemoinho em seu cérebro.

Que foi aquilo? Ele pensava. Que tipo de garoto sonha em beijar o melhor amigo? O barulho da água começava a acalmá-lo. Deve ter sido estresse. Muito dever e imaginação. É melhor eu esquecer. É, deixa para lá. Ele pôs suas vestes e desceu em disparada para encontrar os amigos.

A localização dos marotos na mesa da Grifinória não era difícil de se encontrar. Os risos, olhares e principalmente os suspiros das garotas próximas indicavam onde estavam os três populares. E falando em suspiros, estes só aumentavam com a aproximação do moreno de olhos azuis.

"... não falei para não pregar peças em alunos menores?!" Sirius ouviu a voz conhecida da amiga ruiva.

"Foi um a brincadeira inocente, Lil"

"Inocente? Eles estão cobertos de mingau!"

"James levando bronca da Lily está se tornando rotina matinal, não acham?" Peter disse no momento que Sirius sentou-se à mesa com eles, ao lado de Remus.

"Ele não devia zoar os calouros. A Lily está certa."

"Ah Remus, você é bonzinho demais" James disse. Lily bufou ao seu lado.

"Bom dia, Sirius" A garota deu um leve sorriso.

Ele sorriu de volta.

"Teve bons sonhos, Padfoot?"

"Mais ou menos" O animago respondeu, se servindo de um pedaço de bacon com ovos. "Qual a primeira aula de hoje mesmo?"

"Adivinhação" Lupin respondeu-lhe, tomando um gole de suco. "Prometi te ajudar no trabalho sobre acrimancia, não é?"

"É? Ah, é" Ele se lembrou da semana passada. A professora havia marcado um trabalho em duplas sobre a adivinhação pelo fogo para a aula de hoje.

Logo após o café, os cinco amigos se dirigiram para a sala de Adivinhação, se sentando em algumas cadeiras no fundo da sala — para desgosto de Remus e Lily que, diferente dos outros três, gostavam de prestar atenção nas aulas.

"Muito bem, muito bem, quietos todos vocês!"

A professora, uma velha gorda de cabelos castanho-agrisalhados e pele levemente bronzeada, acabara de adentrar a sala. Vestia uma capa verde-esmeralda chamuscada na ponta.

"Hoje vocês iam fazer um trabalho sobre a adivinhação através do fogo", ela voltou a falar "mas devido à alguns acidentes" e mostrou a capa queimada "resolvi passar para o próximo capítulo. Abram os livros"

Todos abriram no capítulo 5, "Interpretação dos Sonhos".

Sirius soltou um gemido de surpresa e irritação que passou despercebido entre os colegas.

Claro, ele pensava. O trabalho tinha de ser sobre sonhos. Claro... Não, espera, o que eu estou dizendo? É só coincidência. Não tem como isso ter algo a ver com o MEU sonho. É uma coincidência, é, só isso... O animago se voltou ao livro.

"Até os dias de hoje, os sonhos são um mistério para a sociedade. Há quem diga que os centauros sabem com precisão o que são e como surgem, mas estes se recusam a revelar o segredo aos bruxos. Pode se atribuir vários significados aos sonhos, entre eles:
1) Fruto da imaginação comum;

2) Um processo de esquecimento ou desaprendizagem, pelo qual o cérebro se livra de informações desnecessárias ou erradas;

3) Passagens secretas para fatos do passado, presente e futuro;

4) Uma janela para o subconsciente do indivíduo, indicando verdadeiros sentimentos ou vontades, e revelando seus desejos mais escondidos e profundos..." Ele parou de ler aí.

"Janela para o subconsciente... indicando verdadeiros sentimentos ou vontades" Então eu quero beijar o Remus!? "Seus desejos mais escondidos e profundos..." O Moony? Sirius olhou para o lobisomem ao seu lado. Ele estava debruçado sobre sua folha de pergaminho, com os cabelos castanho-claros graciosamente caídos sobre seu rosto. Remus, pensava. Não! Sirius sacudiu a cabeça com força. Tenho que tirar esses pensamentos da minha mente. Ele foi voltando a realidade a tempo de ouvir a professora terminar de explicar a tarefa.

"... e quando terminarem de listar os cinco sonhos mais recentes que tiveram, passem para o colega para que ele os interprete. Vocês têm somente esta aula." Ela deu as costas e os alunos se voltaram a seus pergaminhos.

Ok, vamos ver... Sonho número um: Remus J. Lupin me beijava fervorosamente... Hah. É óbvio que eu não posso escrever isso. Pense, Sirius Black, pense. Sonho número um: hum... Seboso dançando hula-hula no meio do Salão Principal vestido de palhaço. Até que seria engraçado, mas acho que a professora não gostaria muito... Certo, certo, eu preciso de um sonho aceitável... Já sei; estava correndo na floresta proibida, sendo perseguido por algum ser irreconhecível. Vai servir. Número dois; a Grifinória vencendo a Sonserina numa partida de 380 a 120. Ótimo. Número três...

Ele rabiscou mais alguns sonhos imaginários, um envolvendo sapos de chocolate e a lula gigante, e trocou os pergaminhos com o amigo. Notou que ele também mentira sobre seus sonhos. Exceto por um em que um grande animal era ouvido correndo ao longe enquanto a lua brilhava imponente no céu.

O lupino notou o olhar penoso do animago ao seu lado.

"Tudo bem" disse.

Sirius viu que o amigo o encarava.

"Eu costumo ter um ou outro pesadelo antes da lua cheia" Ele falava baixo de modo que só os dois pudessem ouvir. "É o nervosismo, suponho." O lobisomem deu um sorriso meio triste.

O moreno sabia o quanto Remus detestava as terríveis transformações mensais pelas quais era obrigado a passar. Sentiu uma vontade de acariciar seu rosto macio e dizer qualquer coisa que fizesse aquele sorriso tristonho virar um de verdade. Mas não. Isso era errado. Mas e daí. NÃO; tinha que parar com isso.

Sirius terminou o trabalho apressado e saiu da sala. Foi alcançado por James um corredor depois.

"Sirius!"

O canino continuou andando.

"Sirius" James o puxou pelo braço.

"Hã?"

"Cara, o que há com você?"

"Eu estou bem. Por que a pergunta?" Ele disse num ar falsamente despreocupado.

"Não, você não está. Quem está bem não fica perambulando sozinho pelos corredores. Sério, me diz, aconteceu alguma coisa?"

O garoto pensou por um momento.

"Eu estou bem. Sério, tá tudo bem"

"Okay" O de óculos fitou o amigo tentando ver se o que ele falava era verdade. "Mas se precisar de alguma coisa, eu estou aqui"

"Eu sei" Ele sorriu e deu um tapinha nas costas do outro. "Agora vamos para a aula"

A aula seguinte foi Poções. Tudo ocorreu relativamente bem, com exceção de um caldeirão cheio de poção para crescer cabelo que "acidentalmente" caiu em cima do professor — o que rendeu a Sirius e James uma detenção para aquele sábado à noite.

O almoço foi bastante calmo e, mais cedo do que esperava, Sirius se encontrou novamente no Salão Comunal da Grifinória com os amigos, terminando a pilha de deveres diários antes de se recolherem.

"Quem foi Norbert Stupinsky?"

"Jogador dos Elfits"

"Sério?"

"Não." Sirius gargalhou. Peter lhe fez uma cara feia.

"Isso é pra amanhã, Padfoot"

"Eu sei" Ele jogou um pedaço amassado de pergaminho no chão.

"E não era para você estar fazendo também?"

"Nah. O nosso queridoamigo James perdeu uma aposta para mim"

James deu um sorrisinho falso.

"Bem, rapazes," Lily levantou-se. "Eu vou dormir" Ela deu um beijo em seu namorado e subiu para o dormitório das garotas.

"Também já voou..." James disse com um bocejo. "Toma o seu trabalho" e jogou um rolo de pergaminho em Sirius.

"Obrigaaado" Ele deu um grande e irônico sorriso.

"Boa noite" Peter e Remus disseram quase em uníssono.

"Ei, para que serve raiz de Alcamora?" Sirius perguntou logo após James sair.

"Cura queimaduras leves" Ele ouviu o amigo de cabelos claros responder.

"Valeu" Ele sorriu.

Os três marotos permaneceram num silêncio quase total, onde tudo o que se podia ouvir era o som de penas sendo arrastadas por folhas de pergaminho, até que Remus dissesse:
"Terminei." O garoto se espreguiçou. "Ainda falta muito para vocês? "

"Sim" Sirius disse sem tirar os olhos do trabalho.

"Não... Acho que vou dormir também, deixo o resto para depois" Peter se levantou.

"Você não vem, Sirius? "

"Não. Não estou com sono" mentiu.

"Até amanhã então"

Ele ouviu os passos dos amigos se distanciarem e largou os deveres no chão. Estava com sono, mas não sentia muita vontade de ir para a cama. Queria ficar sozinho. Agora que estava tarde, os pensamentos sobre o sonho da noite passada voltavam a incomodá-lo. Mas o sono começou a ser mais forte.

Quem sabe se dormisse, tudo passaria. Se esqueceria daquele sonho. Foi só imaginação mesmo. Era o mais plausível. Na manhã seguinte, tudo seria passado... Ele correu para o dormitório.

"Sirius"

"Remus?"

O aluado sorriu.

"Remus, o que está fazendo aqui?" Os dois estavam deitados um ao lado do outro na cama de Sirius.

"Calma, seu bobo" Ele riu com a cara de espanto do moreno. "Não é o que você está pensando. Me senti um pouco sozinho. Quis ficar perto de você, foi só."

"Ah... certo" Ele percebeu que Remus chegara mais perto, e agora se encontrava deitado sobre seu peito. Antes que pudesse notar ou impedir, estava abraçando-o. Aquele calor. Aquele cheiro. Aquela pele... Aquela pele macia... O mundo não importava mais agora. Ele iria beijá-lo—

"NÃO!!" Sirius acordou na sua cama, no dormitório dos garotos da torre da Grifinória. Ainda usava as roupas do dia anterior e sua respiração nunca esteve tão ofegante.

"QUÊ? QUEM" James acordou desesperado com o grito do amigo. "Que aconteceu? Tá tudo bem?"

"Tudo. Foi só um pesadelo."

"O que tá acontecendo?" Peter esfregava os olhos.

Sirius ficou aliviado de ver que Remus ainda dormia.

"Um pesadelo? Você parece que viu a morte"

"Não foi nada demais"

"Sirius Black" James lhe encarou furioso. Peter voltara a dormir.

"Não foi nada, juro. Eu... sonhei com um dementador. Ele estava tentando me beijar. Sabe como é..."

"Sei" O garoto respondeu, descrente, antes de se dar por vencido e voltar a dormir.

Sirius, por outro lado, não conseguiria pegar no sono novamente. E se sonhasse de novo? E se acordasse gritando novamente e, dessa vez, acordasse Remus? E, mais importante, de onde vinham esses sonhos?

Ele não sabia dizer quanto tempo ficou ali, deitando de olhos abertos no escuro. A um certo ponto, uma claridade começou a tomar conta do cômodo e ele pôde ouvir alguém se levantando. Os passos se aproximaram de sua cama e ele ouviu as cortinas serem levemente puxadas. Fechou os olhos numa fração de segundo e fingiu estar adormecido. O estranho chegou mais perto, sentando-se ao seu lado. Uma vozinha no fundo de sua mente lhe perguntava quem poderia essa pessoa, mas ele sentiu que já sabia a resposta. Os pelos de sua nuca se arrepiaram. Aquele cheiro, aquela pele... tão perto.

No segundo seguinte, tudo desaparecera.

Sirius olhou em volta, perplexo. Mais um sonho. A luminosidade começou a incomodá-lo, e ele fechou os olhos novamente. Foi aí que percebeu que a cortina do dossel estava entreaberta. Deve ter sido o vento, pensou.

Ele se levantou e foi até o banheiro. Fez menção de girar a maçaneta da porta, mas essa se abriu antes.

"Oi" Um Remus só de toalha apareceu na sua frente.

"B-Bom dia" Sirius respondeu de sobressalto.

O de cabelos claros deu um leve sorriso e se dirigiu a sua cama.

Sirius entrou no banheiro e trancou a porta. Tomou um rápido banho frio, trocou de roupa — Remus não estava mais no quarto — e resolveu descer. Ficaria no Salão Principal; não deveria haver muita gente lá a essa hora da manhã.