"I've got soul, but I'm not a soldier"
Gostava de justificar para si mesmo sua inaptidão em lidar com seus alunos dizendo que ver o rosto de Lily Evans em todos os lugares tornava impossível não ser amargo.
Não era verdade e disso sabia bem. Ele via Lily em todos os lugares desde que podia se lembrar. O que não era surpreendentemente parecido com os olhos amendoados ou as maçãs salientes da face dela? Qualquer sarda de outra pessoa parecia demais com as sardas dela. O jeito de andar era o dela. A testa franzida enfeava qualquer rosto exatamente como enfeava o dela.
Mesmo que ela estivesse morta. Mas, tal qual ela sempre estaria, ele também sempre lembraria, fosse onde fosse, visse o que visse, fizesse o que fizesse.
O que explicava o fato de ele ser um terrível professor eram impaciência e problemas mal-resolvidos. Era tão rotineiro quanto não esquecê-la...
Não importava há quanto tempo dava aulas: os maus alunos o faziam lembrar-se de como ele era bom, e os bons o faziam lembrar-se de como ele sussurrava dicas importantes para Lily, entre os dentes, para que ela acertasse a poção.
E parabenizar os alunos estava fora de questão. Quantas vezes não fora responsável pelos elogios eloqüentes de Slughorn ao incrível talento de Lily na fina arte de preparar poções? E ela sorria educadamente, mas comentava, depois da aula, que seria engraçado quando Slughorn descobrisse que ela mal sabia ferver água.
Ele não descobriu, e Severus a matou muito cedo.
Mas como é que ele ia saber? Depois disso a rotina de vê-la e vê-la e vê-la e ela nunca estar lá só se fez piorar e piorar, até que o comum era haver pioras, até que aquela ferida não-cicatrizada virara a sua própria marca negra.
Ele não era um bom professor porque não o podia, pronto. E não fizera nenhuma outra coisa da vida porque Hogwarts era a sua casa. E resignou-se, o que mais podia fazer? Não sairia dali. E não seria bom professor. Só sua hora de ser admitido como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas Dumbledore continuava repetindo: ainda falta algum tempo para você estar pronto para isso.
Mas o tempo chegaria e ele podia esperar. Não tinha esperança de que aquilo o distraísse, porque não distrairia, e de qualquer forma esperança era uma coisa muito boba para se manter.
N/A: Qualquer semelhança entre o Snape e o Heathcliff de Wuthering Heights, de Emily Brontë, é perfeitamente proposital e um sinal de que você leu um bom livro e fez a relação correta. hahaha
"Ampersand" é o nome em inglês do &, o E comercial.
