Ouvi gritos do primeiro patamar. Em meu quarto, sorri, encarando minha própria imagem no espelho. Eu estava elegante, para quem dispensava adornos e maquiagem desde sempre. Olhei o relógio, e ainda faltavam alguns minutos para a festa na casa dos Black, mas não havia mais motivos para deixá-las à beira de um ataque de nervos. Desci até a sala nos passos mais lentos que conseguia. É lógico, eu não estava de saltos. Recusava-me a usá-los, independente da ocasião. No lugar deles, calçava sapatilhas escuras, que combinavam perfeitamente com o vestido negro. Eu até parecia vestida para um velório.
- Estou aqui. - disse sorrindo, ainda parada nas escadas. - Vamos?
– Já era hora, Vance. Desde quando uma pessoinha do seu tamanho leva tanto tempo para se arrumar? Eu fiz uma careta e dei um tapa no ombro de Marlene McKinnon. Ela sorriu e juntas, saímos de casa.
É claro, não iríamos pela rede de flu; estragar horas de trabalho em minha aparência estava fora de cogitação. Graças a Merlin, tínhamos idade o suficiente para aparatar.
- Prontas? – ouvi Lily perguntar. Todas nós assentimos. Fechei os olhos e respirei fundo, quando tudo começou a girar e passei pela habitual espécie de tubo muito apertado. - Emme, está tudo bem?
Pisquei um pouco, na tentativa de que a sensação de tonteira passasse. Estávamos em frente à casa da família de Sirius, ou melhor, onde ela devia estar. James, Remus, Frank e os outros garotos estavam parados, olhando ansiosos para um ponto fixo entre os números 11 e 13. Não entendia bulhufas. Será que aquele era só um ponto de encontro? Posicionamos-nos ao lado de James, que ajeitava a gravata em torno do pescoço. Ele sorriu quando viu minha face confusa.
- Você nunca veio aqui, não é? Fiz que não com a cabeça. - Só estávamos esperando vocês. Peter, vá chamar Six, estamos todos aqui.
O garotinho com cara de rato saltou até a parede e fez alguma coisa que não vi, depois voltou para seu lugar. Ele parecia muito contente por ter sido escolhido para designar tal tarefa.
- Não me sinto muito confortável. - cochichei para Remus, mordendo o lábio inferior. Ele sorriu.
- Fique calma.
De repente, as casas começaram a se afastar, e outra surgiu no meio delas, com o número 12 na fachada. Sirius surgiu na porta e acenou para que entrássemos. Em fila indiana, fomos até a sala, decorada luxuosamente. Se do lado de fora eu me sentia deslocada, ali dentro era pior.
Bellatrix descia as escadas, elegante como ela só, e parecia nem um pouco contente com nossa presença. Six foi até ela, e após alguns segundos de conversa, a garota incrivelmente sorriu - um sorriso um tanto forçado - e indicou alguns lugares enquanto falava.
Lily puxou-me com um de seus braços, enquanto arrastava Marlene no outro.
- Eu quero ir embora. - ela disse nervosa, enquanto colocávamos nossas bolsas em cima do sofá.
- Mas por quê? Acabamos de chegar! - contestou Lene. As duas encararam-se furiosamente, e depois viraram para mim.
- Então Emme, vamos ou ficamos?
- Ah, bem, eu...eu acho que...ah, vamos esperar um pouco. Dorcas ainda nem chegou. E além do mais, estamos com Six, sabem que a casa também é dele.
Lene sorriu vitoriosa, enquanto Lily me lançou um olhar de reprovação. Eu entendia seus motivos. Ela era nascida trouxa, e apesar disso não importar nem um pouco para nós, era algo relevante para os outros Black.
- Desculpe. Mas era tarde demais. A ruiva fora arrastada por uma Marlene extremamente descontraída para a mesa do ponche.
Vendo-me sozinha, caminhei desconfortável até a escada, onde Bellatrix descera instantes antes. Agora Remus estava sentado ali, tão deslocado quanto eu.
– Oi. - eu disse, sorrindo. Ele me encarou enquanto eu me sentava ao seu lado. – É estranho. Parece que foi ontem que estávamos entrando naquele trem.
– Um bando de calouros deslocados. – eu assenti, rindo.
– E agora vamos embora. Você vai sentir falta? – ele meneou a cabeça, concordando.
Olhei de novo para sua expressão cansada. Remus sempre fora como um irmão mais velho pra mim. Ele me ensinava, se preocupava comigo – não que meus pais não fizessem isso, mas na ausência deles, ele era uma espécie de meu responsável. Remus passou uma das mãos sob meu ombro e me puxou para um abraço sem jeito.
– Vai se cuidar quando eu não estiver por perto?
–A pergunta é: você vai se cuidar quando eu não estiver por perto? – ouvi um riso baixo dele. Então, me recostei em seu ombro e fechei os olhos.
