Beta: Lady_Murder
"Eu disse que iria te matar se você aparecesse na minha frente". Heiwajima Shizuo não estava brincando quando disse aquilo.
Alguma coisa surpreendente sempre acontece em algum lugar.
"Tudo bem, me mate". Orihara Izaya também não estava brincando quando abriu os braços e esperou pelo primeiro golpe.
Alguma coisa sempre acontece quando se menos espera.
A resposta abusada só irritou Shizuo que mandou o correio em cima da Izaya que teve o corpo arrastado e pela rua até terminar de capotar num beco.
Golpes impensados são na verdade calculados. Mas nenhum deles sabia disso.
Izaya tentou levantar, mas a sola do sapato de Shizuo o acertou no ombro o fazendo voltar a deitar. Aquilo doeu, mas ele não queria dar tanto prazer ao outro.
"O que você veio fazer em Ikebukuro dessa vez?" A fumaça fora soprada na direção do informante que continuou com o mesmo sorriso de escárnio de sempre.
"Ora Shizu-chan". Ele ignorou quando o barman afundou com mais força o pé em seu ombro. "Eu só pensei que você deveria cumprir a sua promessa de uma vez".
"O que você quer?" Ele repetiu entre dentes.
"A morte".
Não foi a forma despretensiosa como ele disse isso que incendiou Shizuo, e sim o desejo de morrer refletido nos olhos vermelhos daquele informante que fez com que o barman perdesse toda a calma.
Ele bateu com o pé no ombro de Izaya como se esmagasse um inseto. E com os punhos fechados o acertou tantas vezes que havia sangue em todo o lugar. Em suas roupas, nas mãos, no próprio rosto, nos sapatos, na calça.
Izaya deixou o rosto pender de lado e cuspiu sangue.
"Oe Shizu-chan, se fosse pra me deixar quebrado eu poderia dar um jeito, eu disse que queria a morte, então me faça um favor". Ele sorriu. Mas não tinha idéia de como os dentes estavam sujos de sangue, só sabia que toda vez que tinha que engolir saliva, aquilo doía.
"Izaya... Izaya-kun". Ele gostava, gostava da forma perigosa em que o nome era mencionado por aquele homem. E da sensação que percorria o corpo logo depois. "Desde quando eu lhe faço algum favor? Hãn!"
Shizuo pisou no chão e segurou Izaya pela camisa, o sacudindo algumas vezes. Ele sorriu para não demonstrar a dor no ombro deslocado.
"... não é um favor". Ele disse quando se viu capaz de dizer algo com sentido e num tom de voz provocativo. Ainda que a condição em que se encontrasse fosse patética. "É apenas algo que você disse que faria".
Olhos sérios. Convictos e provocativos.
Shizuo odiava quando se deixava levar. Quando caia na teia daquele ser.
"Então eu não farei". Ele o soltou, mas não sentiu prazer nenhum ao ver a clara expressão de dor no rosto de Izaya quando bateu com a cabeça e as costas no chão. "Por que você não se mata de uma vez?"
Pela primeira vez, uma ação pensada. E uma reação inesperada.
"Shizu-chan...". Shizuo continuou andando. "Shizuo, por favor". Ele parou.
Algo sempre acontece. Alguma coisa inesperada sempre acontece em algum lugar.
Tudo aconteceu de forma rápida. O cigarro que caiu no chão e foi pisoteado. Shizuo agarrou novamente a camisa de Izaya o erguendo e o beijou. Teve gosto de sangue e foi o pior beijo que Izaya já recebera. Doeram todos os músculos do rosto.
"Tem razão, eu vou te matar". O informante arregalou os olhos. "Só não estou a fim de fazer isso agora". O loiro empurrou o corpo do outro de uma forma mais suave, não o fazendo bater com a cabeça novamente. "Pense melhor da próxima vez que vier se arrastando até mim, pode receber o mesmo tratamento ou um muito pior". Ele ajeitou os óculos e saiu dali.
Izaya não riu. Ele gargalhou. Depois de tantos socos e de ainda bater com a cabeça, ele não estava muito mais certo se estava sentindo alguma dor. Heiwajima Shizuo não poderia matá-lo.
Ele havia acabado de promover um peão a algo mais.
Fim.
