Oi, meninas!

Não desisti de Fight For Me, mas é muito difícil continuar uma fanfic OQ que não seja AU neste momento. Eu vou terminar, prometo...mas, não sei quando (não me odeiem, please! hehehehe).

Enquanto isso, tive a ideia de uma fic mais leve e engraçada e totalmente AU. É mais fácil para vocês lerem e para mim escrever também.

Espero que gostem. (;

Irei desenvolver os personagens no decorrer dos capítulos, ok? No cap 1 dou apenas uma introdução de como eles são.

Não importa o quanto OQ foi negligenciado e está acabado, pelo menos fiz amizades maravilhosas nesse processo e isto é o mais importante de tudo! "Iludidas OQ", amo vocês...Lê (sua vaca desgarrada, te amo tb) e essa história é pela amizade que criamos por OQ, mas que há tempos é bem mais que isso!

Não sei com que frequência postarei as atualizações, mas tentarei att uma vez por semana.

O cap não está revisado, então sorry...

Se gostarem, comentem porque não tenho a mínima ideia de que merda eu escrevi! ahahahahaha

Bjuuuuuu


Capítulo 1

Alguém estava me seguindo, eu tinha certeza disto. Eu não podia ver sua face ou o a sombra de seu corpo, nunca pude. Porém, em alguns momentos eu podia sentir uma forte presença ao meu redor. Há um ano, desde que meu trabalho como advogada para um grande fazendeiro do país exigiu, tive que me mudar de Nova York para uma pequena e charmosa cidade do interior do Texas. No início foi difícil, a transição foi muito complicada, já que eu nunca tivera a experiência de conviver em um lugar onde todos se conheciam, até demais pro meu gosto. Mas, também tinha seu lado bom: eu nunca tive amizades como agora e sabia que eram verdadeiras. Eu sentia que aquelas pessoas eram genuínas e acolhedoras, e pela primeira vez desde que meu pai morreu e minha mãe estava em coma vegetativo em um hospital, eu me sentia em casa.

A única coisa que me incomodava era o tal perseguidor, que eu amigavelmente chamava de "O Estranho". Eu comecei com essa mania de perseguição desde que sofri um acidente de carro. Mesmo quando ainda morava em Nova Iorque, eu pressentia que às vezes alguém andava atrás de mim, no mesmo ritmo, se esquivando por entre as sombras e becos quando eu olhava para trás. Quando me mudei para cá, essa sensação ficou ainda mais forte. Talvez tudo fosse fruto de minha imaginação, já que agora eu estava sozinha no mundo e tinha que cuidar de minha mãe, além de trabalhar duro e insistentemente para provar para mim mesma e para meus pais que eu poderia ser alguém na vida.

Mas, e se a tal pessoa existisse? E se ela fosse real? Nesse caso, seria meu perseguidor mesmo um homem? Seria uma mulher? Ou apenas um curioso por conhecer uma forasteira, já que a pequena cidade recebia poucos visitantes? E se ele fosse um fanático obcecado que estava à espreita por um momento perfeito para me atacar? Apenas esse pensamento fez um gelado arrepio percorrer todo meu corpo e eu balancei a cabeça em negação. Se essa pessoa tivesse mesmo tal intenção, já teria agido antes, não teria? Eu já havia notificado o xerife da cidade a respeito de minha desconfiança (ou obsessão) e ele disse que ficaria atento a situação, mas garantiu que os moradores da cidade sempre foram de boa índole e nunca causaram sérios problemas.

Talvez eu estivesse ficando mesmo louca e ninguém estivesse me perseguindo ou me observando. Mas, eu podia sentir, apesar de não saber explicar esse sentimento. Eu dei a última olhada ao redor, na tentativa de manter contato visual com ele e me despedir por hoje. Queria garantir que eu havia chegado sã e salva em minha casa. Sim, eu realmente estava ficando maluca! Por que quem, em sã consciência, tem o súbito desejo de dizer adeus ou boa noite a uma pessoa - se é que essa pessoa não é apenas fruto de minha imaginação - que me persegue sorrateiramente pelas ruas?

Eu ri de mim mesma. Apesar de um sentimento de proteção que o tal perseguidor me proporcionava, aquilo estava beirando a loucura. Ainda assim, sussurrei um boa noite antes de colocar as chaves na fechadura e abrir a porta de minha residência. Como de costume, rolei os olhos ao encontrar minha velha amiga, com a qual eu dividia meus sentimentos, privacidade e frustrações desde os tempos de faculdade, se esfregando com seu namorado no sofá.

"Oi, Regina!" Disse Tinker desajeitadamente, empurrando seu namorado para o lado e com as bochechas fervendo, ao reparar que eu estava parada no batente da porta da sala e rindo da situação.

"Já disse pra vocês transarem no quarto." Eu disse, um pouco mais ríspido do que pretendia. Em partes, porque eu gostaria de ser deliciosamente abusada por um homem agora, já que há anos não me envolvia amorosamente com alguém. Na verdade, eu nunca tive um relacionamento sério, eram apenas algumas trepadas na época de faculdade e outros encontros casuais com alguns homens que encontrei ao acaso em uma noitada ou outra em Nova Iorque. Mas, desde então, eu estava na seca. Talvez a abstinência fosse a causa de eu estar perdendo minha sanidade e criando perseguidores imaginários.

Mas, e se meu perseguidor fosse gostoso? Pelo amor de Deus! O cara poderia ser um assassino, um psicopata e eu estava realmente pensando em trepar com ele? Eu estava realmente precisando de um pau.

"Nós não estávamos transando, Gina...ainda!" Killian piscou, com seu habitual ego inflado.

"Me poupe de sua ironia, Killian. E, por favor, eu já pedi pra não me chamar de Gina."

"Por que, Gina?" Ele continuou provocando.

"Ah, cala a boca!" Fiz o famoso gesto com o dedo médio e caminhei até meu quarto. Eu estava exausta depois de um dia duro de trabalho e mais de uma hora na academia. Pensei em comer algo antes de dormir, mas por agora, só precisava tomar um banho, encher a cara de vinho barato, talvez usar meu amigo de plástico para aliviar a tensão e depois dormir como uma pedra.

"Amiga, você precisa transar!" Tinker invadiu o quarto antes mesmo que eu começasse a tirar meus sapatos.

"E você precisa parar!" Eu a encarei com um olhar fuzilante e sentei-me em minha cama, esticando minhas costas e respirando fundo.

"Vá à merda! Você está com ciúmes." Tinker riu e se sentou ao meu lado.

"Talvez eu esteja." Admiti, começando a tirar minhas roupas suadas de academia.

"Regina..." Tinker disse com aquele olhar que eu conhecia muito bem. Aliás, eu poderia ler minha melhor amiga como a palma de minha mão. Nós duas nos conhecíamos desde o início da faculdade. Enquanto eu era caloura de Direito, Tinker estudava literatura. Nossa amizade foi algo espontâneo e instantâneo e até hoje eu me surpreendo por isso, já que nossas personalidades sempre foram extremamente diferentes. Eu sempre fui uma pessoa reservada, pois apesar de humildes, meus pais haviam me criado para ser uma dama. Enquanto Tinker era aquela menina maluca que fumava maconha na época da faculdade e dormia com um cara diferente a cada noite. Talvez nós fôssemos os opostos perfeitos e por isso eu a considerava como uma irmã. Além disso, eu nunca me esqueceria do apoio incondicional que ela me ofertou diante da morte trágica de meu pai em um acidente de carro e da situação vegetativa de minha mãe. Eu e minha mãe por pouco, e graças a ajuda de uma boa alma, conseguimos escapar com vida. Infelizmente, o mesmo não poderia ser aplicado ao meu pai, que morreu instantaneamente no local. Depois de graduadas, nós não perderam contato, mesmo com a intensa correria da cidade grande. Após alguns anos, Tinker resolveu voltar para sua terra natal e coincidentemente, eu tive que me mudar para esta mesma cidade há um ano. Desde então, nós, assim como na época de faculdade, dividíamos a mesma casa.

"O que você quer dessa vez?" Questionei, já sabendo que minha amiga me colocaria em uma fria, como sempre.

"Nada de mais..." Tinker olhou para as mãos e se encolheu, e eu sabia que ela só assumia essa postura quando muita merda vinha em seguida.

"Fale de uma vez. Preciso tomar banho, ficar bêbada e gozar!" Disparei e continuei a tirar minhas roupas.

"Uau, você realmente precisa de um pau! Eu já te disse que conheço uns caras muito gostosos por aqui e..." Tinker começou, mas eu a imediatamente interrompi.

"Já disse que estou bem com meu amiguinho." Olhei sobre meus ombros enquanto caminhava em direção ao seu banheiro, tirando meu top de ginástica ao mesmo tempo.

"Não é a mesma coisa, Regina." Minha amiga retrucou.

"Tanto faz! O que é dessa vez, Tinker?" Eu perguntei, enquanto ligava o chuveiro e suspirava aliviada ao sentir a água quente batendo em meu corpo.

"Você é minha amiga, não é?" Tinker disse, sentando-se confortavelmente no vaso sanitário, mas ainda não olhando em minha direção. Fechei a porta do box e só murmurei um "hum" como resposta.

"Então...eu te amo muito. Você sabe disso, né?" Ela questionou e novamente o meu "hum" ecoou pelo banheiro, encorajando-a a continuar.

"Lembra que eu te disse que nesse fim de semana é o casamento do meu tio?"

"Hum." Eu mal a escutava, mas concordava com ela, pois queria desfrutar daquele raro momento de paz. Se é que poderia chamar aquilo de pacífico, já que eu sabia que alguma bomba seria disparada pela boca de minha amiga.

"E você lembra que eu te disse do encontro literário que eu estava doida pra fazer?"

"Hum." Mais uma vez eu concordei enquanto ensaboava meus longos cabelos pretos.

"É que os dois eventos coincidiram de ser no mesmo fim de semana."

"Hum...e..." Do outro lado do box eu arqueei uma de minhas sobrancelhas.

"E eu preciso estar nos dois lugares ao mesmo tempo! Eu sou madrinha do casamento, Regina." Tinker subiu seu tom de voz, indicando um certo desespero.

"Não acho que isso seja humanamente possível." Eu ironicamente respondi, curiosa em saber o plano da minha amiga, mas com certo receio, pois sabia que o desfecho dessa história não seria nem um pouco bom pra mim.

"É possível...se você me ajudar, é claro." Tinker insinuou e eu engoli seco.

"Como assim?" Perguntei, fechando os olhos e quase tapando meus ouvidos com as mãos para não escutar a resposta.

"Preciso que você vá ao casamento com meu irmão no meu lugar." Minha melhor amiga disparou de uma vez e eu congelei. Ela não poderia estar propondo isso, poderia? Ela mesma dizia que seu irmão era a pessoa mais estranha da face da terra e agora estava me empurrando a um casamento cheio de desconhecidos e como acompanhante dele? De jeito nenhum!

"Nem morta!" Eu desliguei o chuveiro e abri a porta do box, toda encharcada e com a cara mais furiosa que pude fazer.

"Regina...o Robin não pode entrar no altar sozinho e..." Tinhker se levantou do vaso sanitário e veio em minha direção, tentando alcançar minhas mãos e, claro, fazer o que ela fazia de melhor: tentar me persuadir com aquela típica cara de piedade.

"Você deve estar brincando!" Eu disparei ao encará-la e ver que era aquilo mesmo que ela estava propondo. Meu Deus, estou fodida! Vou ter que acabar indo à esse maldito casamento com o irmão estranho, porque nunca conseguiria dizer não à ela. Não consegui negar nem quando ela me pediu pra acompanha-la em uma festa do cabide na faculdade. Ainda conseguia me lembrar da frustração que senti quando os policiais invadiram e acabaram com a festa. Ficamos tão atordoadas que saímos peladas e bêbadas correndo pelos corredores dos dormitórios da faculdade e acabei por tropeçar em um dos degraus, cai de boca no chão e quase quebrei todos os dentes da boca.

"Seu irmão me odeia!" Tentei argumentar, mas já sabia que seria inútil. Acho que quem deveria ser a advogada aqui era ela. Tinker tinha essa capacidade de convencimento e manipulação que todo bom advogado deveria ter, menos eu.

"Ele não te odeia, ele só odeia as pessoas em geral." Ela tentou amenizar a situação, mas eu ainda me lembrava de todas as vezes que ela falara de seu irmão. Eu conseguia me lembrar de todos os palavrões que ela usara para descrevê-lo e de como ela ficava depois de se encontrar com ele.

"Não vejo nenhuma diferença." Eu balancei a cabeça em negação. O cara mal me olhava quando me encontrava, sempre com a cabeça baixa e nem ao menos um cumprimento ele sequer me dirigiu alguma vez. Eu nem sequer sabia descrever seu rosto ou qual a cor de seus olhos, porque ele nunca teve a audácia de me olhar nos olhos. Tinker dizia que ele tinha um motivo para ser assim, que ele tinha desenvolvido algum tipo de transtorno depois que seus pais morreram, mas que nem mesmo ela sabia como explicar direito. Além disso, ele era um caipira. De todas as vezes que eu tive o raro prazer de cruzar com ele, era sempre a mesma visão que invadia meus olhos: muito xadrez, botas de boiadeiro e chapéu. Pelo amor de Deus! Tudo bem que o cara era um fazendeiro, milionário por sinal, mas ele precisava usar chapéu até quando ia para Nova Iorque?

"No fundo ele é uma boa pessoa." Tinker suspirou e eu acreditava nela. Eu sabia que seu irmão era a pessoa mais importante de sua vida. Tinha consciência de que os dois tinham perdido o pai muito jovens e que sua mãe tinha sido obrigada a se casar novamente por causa de uma idiota tradição. Eu sabia também que o tal caipira, como irmão mais velho, teve que assumir todas as responsabilidades depois que o padrasto e a mãe morreram, inclusive cuidar da irmã mais nova. Apesar de seu jeito difícil, esquisito, caipira e temperamental, eu admirava o irmão de minha amiga. Com apenas 16 anos, ele teve o fardo de cuidar de todos os negócios da família e tomar conta de sua irmã de apenas 7 anos, que chorava pela perda da mãe diariamente. Ele deu conta, e não só criou uma bela jovem, mas também multiplicou os milhões de dólares da fortuna de sua família. O problema é que durante esse processo, ele se transformou em um solteirão chato e problemático que odiava pessoas, que não podia ser tocado por elas e que agora, eu teria que acompanhar em um casamento de família.

"Só se for bem lá no fundo." Eu peguei a toalha e comecei a me secar, tentando não encarar os olhos pidões de minha amiga que me encaravam.

"Regina..." Minha amiga disse num tom de voz que eu conhecia muito bem, mas fingi que pouco me afetava. Não ousei olhar em seus olhos, pois tinha certeza que eles estavam marejados. Ela tinha esse poder. Na verdade, retiro o que eu disse: ela não deveria ser advogada, mas sim uma atriz! Com certeza estaria desfilando na calçada da fama por conta de suas interpretações dramáticas de alto nível.

"Tinker, presta atenção..." Eu tentei argumentar. Sabia que perderia a guerra, mas não perderia sem lutar. Se tem uma coisa que eu sempre fiz, foi lutar e não aceitar as coisas do jeito que elas eram impostas à mim. Nasci em uma família muito pobre e endividava, mas sempre corri atrás dos meus sonhos. Meus pais nunca tiveram um centavo no bolso, me lembro da minha mãe fazendo almoço e me oferecendo o único ovo do dia como mistura, enquanto meus pais comiam somente arroz e feijão. Porém, eles sempre me ensinaram a não desistir facilmente dos meus objetivos, e eu não desisti. Consegui um financiamento (que eu ainda pago mensalmente) e me formei em Direito em uma das melhores faculdades do país...só gostaria que eles estivessem presentes no dia da minha formatura. Depois disso, ainda consegui terminar meu mestrado. Tenho certeza que eles ficariam muito orgulhosos de sua única filha. Mas, as coisas não são do jeito que a gente imagina ou deseja. Meu pai morreu em um trágico acidente de carro e há 4 anos minha mãe está internada em estado vegetativo. É claro que eu não poderia pagar por suas despesas médicas, mas eu também não poderia aceitar que desligassem os aparelhos e a matassem. Foi o período mais difícil da minha vida. Felizmente, a boa alma que nos resgatou dos escombros do acidente, assumiu todas as despesas médicas e estava pagando por elas desde então. Eu queria encontrar essa pessoa e agradecê-la por ter salvo a minha vida e por ainda estar salvando a de minha mãe, mas o hospital disse que tudo foi feito de forma anônima e que deveria permanecer dessa forma até o fim, já que era a condição principal para tal ato solidário. Então, eu nunca argumentei, pois a vida de minha mãe era mais preciosa e importante que qualquer curiosidade que pairasse em minha mente.

"Toda vez que seu irmão vem te visitar, desde a época da faculdade, eu tenho que sair pra ele entrar. O cara nunca olhou na minha cara, nunca dirigiu sequer uma palavra a mim!" Eu tentei, finalmente, colocar minhas últimas cartas na mesa e sair ilesa da situação. Comecei a enrolar uma toalha em meus cabelos e a vestir o roupão, saindo do banheiro e deixando minha amiga doidinha para trás.

"Ele é assim com todos, já te disse que ele é anti social." Tinker rebateu, me dizendo o óbvio.

"Ele é muito anti social. O cara não gosta nem de ser tocado, Tinker." Liguei meu Ipod com minha seleção preferida de rock, que sempre começava com "Thunderstruck" do AC/DC.

"É só você não tocar nele, poxa!" Ela gesticulou impacientemente com as mãos enquanto acompanhava com os olhos todos os meus movimentos, como uma caçadora incansável atrás de sua presa.

"E você já pensou que quando entrarmos no altar, nós precisaremos estar de braços dados?" Eu ainda não olhava para ela, pois estava tentando não me render. Remexi nas sacolas que tinha trazido do supermercado, peguei a garrafa de vinho, alcancei a taça em meu criado mudo e a enchi até a boca com aquele líquido vermelho e barato. Apesar de estar bem empregada, eu ainda não me dava ao luxo de comprar coisas caras, eu estava guardando o máximo de dinheiro possível para quando minha mãe finalmente acordasse...ela tinha que acordar, eu precisava disso, precisava olhar em seus olhos novamente e compartilhar minhas conquistas com ela.

"Eu converso sobre isso com ele, é apenas um detalhe." Tinker deu de ombros enquanto se sentava em minha cama e eu finalmente a encarei.

"Um detalhe?" Eu ergui minhas sobrancelhas e não consegui mais segurar o riso. Como não tocar em um cara que será meu acompanhante em um casamento poderia ser apenas um detalhe?

"Se ele se sente confortável tocando em mim, vai ter que aprender a se sentir com você também." Ela me apontou um dedo enquanto falava. Eu respirei fundo, sabendo aonde essa conversa iria parar. Eu sabia que acabaria indo ao tal casamento com o irmão estranho dela, mas como advogada, eu teria que argumentar, pelo menos.

"E quanto a mim? Você acha que eu me sentirei confortável?"

"Você supera, amiga. Serão só algumas horas. E se conheço bem a minha família, bebida é o que não faltará na festa. Você pode encher a cara e tudo ficará melhor, você vai ver." Ela deu aquele risadinha me fazendo quase pular em cima dela e agarrar seu pescoço com minhas mãos. Ela estava achando isso engraçado? Filha da mãe! Não era nem um pouco engraçado, era constrangedor. E se o cara surtasse? Eu não saberia lidar com isso. Nunca lidei com pessoas doidas e estranhas. Aliás, tive alguns clientes esquisitos, mas o irmão dela ganhava de todos eles juntos e com vasta vantagem à frente.

"Me desculpe, mas seria uma boa ideia eu ficar bêbada em uma festa de casamento de uma família que não conheço, com um cara obsessivo e grosso ao meu lado que pode explodir do nada se por acaso eu tocar nele?" Eu estava explodindo e quase gritei essas palavras na cara dela. Tinker sabia que quando eu bebia, ficava meio descontrolada. Eu falava sem parar, gesticulava sem nenhuma graça e pior...ficava muito tarada. Adicione isso ao meu estado atual de uma quase nova virgem e com certeza o desfecho não seria dos melhores. Não...o pior era que, até aonde eu pude observar, o irmão dela era gato, muito gato, muito gostoso, muito malhado e agora eu já imaginava aquele baita homem anti social me comendo desesperadamente e puxando meus cabelos enquanto eu gozava como nunca. Puta merda! Eu precisava mesmo trepar, já que estava tendo pensamentos eróticos até com o caipira não-me-toque.

"Tá, então pula a parte da bebida." Tinker riu, com certeza se recordando das vezes que ela me viu bêbada e associou isso aos efeitos do álcool na minha genitália desesperada e solitária ao lado de seu irmão, que até aonde eu sabia, ainda era virgem. Quem é vigem aos 34 anos? Ainda mais um homem gostoso como ele? Ele deveria ter um pau gigante e intacto. Jesus! Agora, eu queria ainda mais dar pra ele! Queria ensiná-lo a como fazer as coisas, queria excitá-lo, queria comê-lo, queria amarrá-lo em um estábulo e desfrutar de cada centímetro de seu pau virgem em minha boca, em minha boceta, em minha...Pare, Regina!

"Por favor, Regina..." Tinker pediu pela última vez, mas eu já estava curiosa em conhecer o cowboy esquisito não-me-toque de pau gigante e virgem.

"Minha família é muito tradicional, essas coisas de casamento são sagradas para eles." Minha amiga adicionou, mas eu já estava totalmente rendida aos meus pensamentos pecaminosos. Será que eu iria ao inferno por isso? E é claro que o tal bicho do mato não faria nada disso comigo. Como ele iria me comer se não gostava que ninguém o tocasse? Como seria o sexo sem toque? Talvez seria como aquele filme do Arnold Schwarzenegger, que agora não me recordo o nome, mas me lembro que as pessoas punham um óculos e imaginavam e sentiam a transa. Ah não! Isso não! Se é pra trepar, então que se trepe bem trepadamente. Será que ele fedia a esterco? Afinal, ele vivia praticamente isolado em uma fazenda e convivia diariamente com bois e cavalos. Será que ele tomava banho ou era fedido? Deus me livre dar para um homem fedido!

"Seu irmão já sabe disso?" Balancei minha cabeça, tentando expulsar meus pensamentos pecaminosos e impróprios e cai na realidade dura e crua: eu estava sendo obrigada a ir a um lugar estranho, com pessoas estranhas, com um cara estranho e que provavelmente poderia ser gay. Puta que pariu! Ele era gay. Só podia ser, porque um homem lindo, malhado, gostoso, milionário e virgem aos 34 anos, só podia ser gay. Se bem que ele tinha essa coisa do toque, ele não gostava de tocar e ser tocado. Mas, e se esse toque fosse só em relação a mulheres? Caralho, me ferrei! Ele era gay, definitivamente gay.

"Você ainda não disse nada pra ele, disse?" Eu sabia que minha amiga estava conjecturando sem ter ao menos informado o estranho gay de suas reais intenções.

"Outro pequeno detalhe. Eu me viro com o Robin." Ela disse enquanto eu já enchia a minha segunda taça de vinho. Minha cabeça estava a mil por hora e eu não conseguia raciocinar adequadamente no atual momento. Porra! Eu seria a acompanhante de um caipira esquisito gay em um casamento da família Buscapé. Quem poderia me culpar?

"Então quer dizer que você vai? Por favor?" Tinker praticamente suplicou, mas eu já havia me decidido a encarar o desafio.

"Só espero que ele não vá fedendo a esterco, de camisa xadrez, com aquele chapéu de boiadeiro ridículo e com as botas cheias de lama." Eu entornei o copo de uma vez e o enchi novamente, já imaginando o quão constrangedor seria o momento em que eu o encontrasse no dia do tal casamento. Com qual roupa eu deveria ir? Eu tinha muitos vestidos de arrasar o quarteirão e sabia que meu corpo era perfeito. Eu malhava muito para isso e a genética havia sido muito generosa comigo da cintura para baixo...se bem que meus peitos, apesar de não muito volumosos, eram adequados à minha altura, eles eram duros e empinados. Então, eu deixaria aquela caipira milionário não-me-toque e arrogante de boca aberta...ou não, já que eu tinha quase certeza que ele não gostava do tipo de meu fruto. Bom, pelo menos eu iria irritá-lo, e isso já fez brotar um sorriso malicioso em meu rosto, por descontar de todas as vezes que ele me viu e nem ao mesmo retribuiu aos meus "bons dias" ou "boas tardes". Esse cowboy estava ferrado!

"Vou dar um jeito nisso também." Minha amiga enfatizou e eu assenti em derrota e também em curiosidade por ter o poder de provocar o irmão dela até aonde eu conseguisse.

"Ele ficará um gato, eu prometo." Ela disse, sorrindo vitoriosamente, mas eu que sairia a vitoriosa, se aquele Shrek gay e musculoso, de pau intacto e gigante tivesse a coragem – ou ousadia – de tocar em mim.


Eu morava em uma bela e grande fazenda ao sul da cidade. Era perfeito: eu estava próximo â minha irmã e meus clientes, mas não tinha o desprazer de conviver com aquelas pessoas ou estar em contato constante com elas. Eu odiava as pessoas, realmente sentia claustrofobia ao estar cercado por elas ou ter que conversar com elas. Não entendia a necessidade que as mesmas sentiam em abrir a boca a todo momento e falar, pior, tocar umas nas outras enquanto desperdiçavam seus tempos com conversas inúteis.

Eu sabia que os moradores da cidade me achavam estranho, e claro que eles tinham motivos para isso, mas eu nunca me incomodei com o que os outros pensavam de mim. Pelo menos eles me respeitavam, em partes porque eu era dono de vários hectares de terra que até já perdi as contas, inclusive de quase toda a cidade, e também porque, apesar do meu jeito incomum, nunca havia arrumado grandes encrencas.

Só dirigia minha caminhonete quatro por quatro até a cidade quando necessário e percebia a maneira como as mulheres olhavam para mim, apesar de eu nunca ter me interessado por nenhuma delas. Só uma mulher, em toda a minha vida, me despertou um desejo idiota de possuí-la e protegê-la, mas nunca tive a coragem de olhar em seus olhos. Eu sabia que ela estava bem e isso era o suficiente. Ela era inalcançável para mim e eu já havia me conformado com a situação. Ela nunca iria me querer, nunca me entenderia, nunca me desejaria, nunca me daria uma chance, também porque ela nem sabia que eu a observa há muito tempo. Então, eu tinha a convicção de que morreria solteiro e virgem, mas não me incomodava com isso, afinal, meus dedos estavam fazendo um bom trabalho em satisfazer minhas necessidades. Para que eu precisava de uma mulher? Só para me dar ordens e reprovar meu comportamento? Eu sabia que era um bicho do mato e mais esquisito que a maioria das pessoas. Além do fato de que eu não gostava de ser tocado, nunca gostei de tal coisa, e isso piorou depois de um certo acontecimento em minha vida. Então, eu viva feliz comigo mesmo, longe de todos os olhos curiosos e julgadores. Eu tomava conta dos meus negócios, de meus milhões de dólares, de minhas fazendas, e batia uma punheta quando meu corpo clamava por um alívio.

Todo meu momento de paz se esvaiu quando escutei o ronco do carro exótico de minha irmã se aproximando de minha fazenda. Eu a amava mais do que qualquer outra coisa nesse mundo...eu tinha me sacrificado por ela, mas não me arrependia por isso. Ela era minha família, minha âncora, meu sangue e eu a protegeria e a agradaria pelo resto de minha vida, apesar de sua vida torta e doida.

Reparei quando ela desceu do carro enquanto eu anotava a quantidade de insumos necessários para a semana, e percebi que ela estava determinada a me convencer de algo. Eu a conhecia demais, e quando ela saia do carro resoluta e pisando firme, eu sabia que alguma merda estava por vir.

"Oi." Ela simplesmente disse e envolveu suas pequenas e delicadas mãos em torno de meu pescoço. Eu não resisti ao impulso de apertá-la forte e girar seu corpo junto ao meu, pois amava escutar sua risada espontânea quando eu fazia isso. Ela era a única pessoa que eu sentia a necessidade de tocar e deixar que me tocasse. Seu toque e calor me confortavam e aliviam toda a minha tensão. Ela era a única pessoa de quem eu precisava e de quem eu sempre iria precisar.

"Não poderei ir ao casamento do tio Greg." Minha irmã disse assim que os pés dela tocaram novamente o chão de terra batida.

"Tudo bem, nós não vamos. Não queria ir mesmo, você que estava me obrigando." Comecei a fechar as portas do armazém onde os insumos da fazenda ficavam armazenados e respirei aliviado ao saber que estaria livre de um maldito e tedioso compromisso social. Minha família era a típica família tradicional de interior e eles não se conformavam com o estilo de vida que eu levava. Eles achavam que eu tinha algum problema por ainda estar solteiro aos 34 anos e sem uma penca de filhos agarrando em minhas pernas. Na verdade, eu tinha vários problemas e o maior deles era a minha incapacidade de me relacionar com outras pessoas. Meu tio Greg tentou me levar várias vezes ao prostíbulo da cidade, e na única vez que fui, sai correndo de lá mais rápido do que o diabo corre de uma cruz. Um bando de mulheres fedendo à talco barato e com lingeries que mais pareciam uma árvore de Natal, vieram correndo ao meu encontro assim que me viram entrar no lugar e me cercaram como peoas de rodeio que tentavam enlaçar um bezerro. Até hoje não me lembro de como escapei, mas assim que senti suas unhas vermelhas de plástico roçando minha pele, estalei os olhos em choque e meu tio Greg me disse depois que eu bati o recorde de velocidade do Papa-Léguas. Desde então, meu tio pensa que não gosto de mulheres, espalhou o boato para a família toda e em todos os eventos de família, tenho que ouvir de mais da metade de meus parentes que mulher é um bicho bom. É uma tortura! Até a minha avó aderiu à campanha para me desengayzar e vive me apresentando várias moças de famílias vizinhas.

"Você vai, você precisa ir!" Minha irmã disse em um tom autoritário e eu comecei a caminhar em direção à casa principal.

"Eu já combinei com a Regina." Ela disparou atrás de mim e meus pés congelaram nos degraus que levavam à varanda.

"Combinou o que? E com quem?" Olhei por cima do meu ombro, serrando meus dentes e quase explodindo por dentro. Eu já imaginava o que minha querida irmãzinha havia aprontado, mas nem em mil anos eu iria a um casamento da minha família esquisita, que estava praticamente me casando com uma porca somente para eu não morrer solteiro, com uma mulher. E pior: com aquela mulher. Eu nem a conhecia, aliás, eu a conhecia, mas a evitava desde o primeiro momento que ousei por os olhos nela. Desde então, evitava qualquer contato físico com aquela mulher. Eu mal conseguia olhar para ela. Não entendia o motivo, mas ela me deixava muito nervoso. Só de vê-la meu sangue fervia, e se ela ficasse muito próxima a mim, era como se eu estivesse a uma distância muito arriscada de uma fogueira.

"Nem fodendo!" Eu exclamei ao ver que minha irmã me encarava seriamente, mas não tinha dito mais nenhuma palavra. Diante de seu olhar fuzilante, eu virei minhas costas a ela e entrei na casa, mas podia escutar seus passos pesados atrás de mim.

"Robin, por favor!" Ela me disse com aquela vozinha que eu conhecia há anos. Minha irmã sempre foi muito inteligente e manipuladora, ela sabia que significava muito para mim, que eu tinha feito muitas coisas por ela e que continuaria fazendo enquanto eu vivesse. Mas, ir a um encontro praticamente às cegas com aquela moça da cidade que usava roupas justas e que podia me tocar a qualquer momento era impensável para mim. Ela era advogada, para piorar. Imagina o quanto ela poderia falar e falar incansavelmente, tentando rebater todos os meus argumentos? Com ela, eu definitivamente seria um caipira inocente sentado no banco dos réus, mas que no fim da noite, acabaria sendo condenado ao corredor da morte.

"Não!" Eu tirei minhas botas e me esparramei no meu sofá confortável, ligando minha televisão de última geração e fingindo procurar por algum canal específico. Sim, eu era um matuto do interior, mas tinha meus luxos. Minha casa era impecável, a decoração era moderna e os móveis bem alinhados com o luxuoso ambiente. Por incrível que pareça, eu adorava equipamentos eletrônicos, colecionava vídeo games e home theaters de todos os tipos, minha sala era praticamente um cinema. Em partes, porque somente ali eu poderia ficar a vontade e me divertir sem nenhum tipo de julgamento.

"Olha aqui, você conhece a nossa família, você sabe das tradições e seria um grande desrespeito se nenhum de nós dois fôssemos ao casamento." Tinker sentou ao meu lado depois de erguer meus pés e colocar em seu colo, massageando os mesmos. Já disse que ela era muito esperta e manipuladora?

"Então eu vou sozinho." Disse ao fechar os olhos e relaxar ao sentir os movimentos de suas mãos.

"Você não pode ir sozinho!" Eu pulei do sofá e soltei um "ai" assim que minha irmã beliscou meus pés e suas palavras ecoaram na enorme sala.

"Nós somos padrinhos, lembra?" Ela colocou as mãos na cintura de forma imponente e me encarou com olhar cerrado enquanto eu esfregava meus pés doloridos.

"Eu não conheço a sua amiga e não pretendo conhecer." Eu enfatizei, já cansado daquela discussão. Porém, em todas as discussões os papéis se invertiam: ela parecia ser minha irmã mais velha, e eu, uma criancinha assustada. Ela sempre fora independente e apesar dos inúmeros quartos de minha mansão, ela se recusava em morar comigo e dizia que queria ter sua própria vida. Há tempos ela morava sozinha, ou melhor, com aquela advogada roqueira da cidade grande. Eu, ao meu modo, ainda tentava cuidar de minha irmã, mas aparentemente, ela que cuidava de mim e tomava suas próprias decisões. E me manipulava, é claro.

"Ela disse que não vai tocar em você." Ela disse e eu arregalei os olhos. Como assim ela não vai tocar em mim? Desde quando ela sabe que não gosto de ser tocado? Agora eu odiava minha irmã, porque é claro que ela contava meus segredos mais podres para a amiga dela.

"Ela sabe das minhas manias?" Eu questionei entre os dentes, já sabendo a resposta, mas querendo ver sua reação. Ela cruzou as pernas uma na outra, dançando de um lado para o outro, encarando os próprios pés e entrelaçando impacientemente os seus dedos. Filha da mãe!

"Puta que pariu!" Eu exclamei enquanto a vergonha tomava conta de mim. Uma coisa era as pessoas saberem que eu era esquisito, outra era saberem o quanto eu era esquisito.

"O que mais você contou pra ela?" Quase implorei pela resposta, rezando pra que ela não tivesse tocado no assunto mais delicado de todos. O que a roqueira malhada pensaria de mim? Um cara aos 34 anos virgem e cheio de complexos? Agora que eu não iria mesmo sair com ela. Se antes eu não poderia olhar nos olhos dela, agora eu cavaria um buraco no meio do asfalto e me enterraria dentro, se por acaso cruzasse com ela novamente.

"Não se preocupe, a gente quase nem fala de você e pode ter certeza que não contei da parte da virgindade." Minha irmã respondeu e eu soltei a respiração que nem sabia que estava segurando. Sequei minha testa molhada e sentei novamente no sofá, procurando esvair minha mente de todas as maneiras que a advogada do diabo poderia olhar para mim se soubesse disso. Graças a Deus!

"Ela não sabe que você nunca enfiou seu pau em lugar nenhum...ao menos em mulher nenhuma." Minha irmã completou e começou a rir descontroladamente, mas para mim, aquilo não era nem um pouco engraçado.

"Shiu!" Eu, involuntariamente, pedi silêncio, desesperado pra que minha irmã trocasse de assunto. Mas, aparentemente quando ela começava a falar sobre isso, nem Cristo tinha o poder de fazê-la calar a boca. Além de me manipular, ela também me torturava. Deus, me ajude a lembrar do porquê de amá-la tanto!

"Já disse pra você não falar sobre isso." Disse, olhando ao redor e verificando se algum ser humano estava presente e ouvindo aquela conversa constrangedora.

"E quem escutaria que você ainda tem cabaço? As vacas?" Claro que ela continuaria a tirando sarro da minha situação. Na verdade, não queria nem imaginar o quanto a minha irmã era experiente neste assunto. Eu sabia que ela namorava aquele pescador de sardinhas abusado e eu o detestei desde a primeira vez que botei os olhos nele. Eu queria arrancar as bolas dele e juntar ao esterco, mas Tinker me mataria se eu fizesse algo contra ele. Que homem usa delineador nos olhos? Ele era um pescador emo? E depois, eu que o cara esquisito da cidade.

"Se você fica tão incomodado com esse assunto, por que não trepa com alguém e acaba com esse martírio?" Ela insistiu, como sempre fazia .

"Não é um martírio e eu não estou interessado em comer ninguém." Não menti, porque na verdade, nem se eu quisesse, não saberia como fazer. Não que eu não soubesse como fazer o ato em si, afinal, os vídeos pornôs existem para isso, mas a questão era mais profunda. Como eu transaria com alguém sem tocar nesse alguém e sem que esse alguém me tocasse? Dizem que quando você se sente atraído por uma mulher, as coisas fluem normalmente, mas comigo isso nunca aconteceria. Nunca! Só de imaginar outra pessoa tocando em mim, um arrepio incômodo percorreu minha espinha. Contatos físicos para mim eram terminantemente proibidos e fim de papo.

"Então o meu irmão vai morrer virgem? Nenhuma mulher vai poder abusar desse corpão?" Tinker deu aquele sorriso que eu tanto gostava e não resisti em rir também. Eu era um bicho do mato, mas talvez por isso mesmo, tinha tempo de cuidar do meu corpo. Tinha uma academia particular no fundo de minha casa e passava horas malhando e tentando aliviar meu stress e minhas frustrações. Talvez minhas roupas fossem cafonas, mas eu fazia isso justamente para não chamar a atenção. Eu era alto, tinha cabelos meio claros, olhos profundamente azuis e corpo sarado. Eu tinha espelho em casa e não era cego, mas gostava de entrar e sair despercebido de todos os lugares onde eu era obrigado a ir por causa de meu trabalho ou de minha irmã.

"Tinker...eu estou bem do jeito que estou. Não existe nenhuma possibilidade de trepar com alguém." Eu insisti, tentando pela milésima vez fazer com que minha irmã aceitasse meu jeito de ser.

"Você está indo ao médico?" Do nada, ela questionou e eu sabia que ela não gostaria da resposta, porém nunca consegui mentir para ela. Na verdade, eu era honesto demais, falava verdades demais quando abria a boca e as pessoas, em geral, não estavam acostumadas com isso.

"Não." Tive que dizer a verdade e ver a reação desaprovadora dela estampada em seu rosto.

"Robin..." Ela disse, derrotada. Nunca quis magoá-la, mas tinha coisas que estavam fora de meu alcance e eu simplesmente não poderia controlá-las.

"Eu implorei pra você se tratar, consegui um dos melhores especialistas em transtornos do país para te atender e agora você me diz que não está mais indo às consultas?" Com água nos olhos ela me encarou e eu engoli seco. Sabia que tinha feito merda mais uma vez, mas eu era eu: o cara estranho que fazia merdas.

"Por que, Robin?" Ela indagou e eu, finalmente, levantei do sofá e explodi.

"Porque ele me tocou, caralho! A porra do médico me abraçou!"

"O que você fez?" Minha irmã me olhou com os olhos arregalados.

"Robin?" Ela entortou o pescoço, procurando encarar meus olhos que por enquanto eu estava escondendo de seu olhar fuzilante.

"Acho que eu quebrei o nariz dele, mas não fiquei no consultório pra confirmar." Admiti meu erro e provavelmente, escutaria mais sermões da minha irmã. Certamente teria que procurar um advogado, pois acredito que o tal médico abraçador daria uma queixa contra mim, mas eu estava aguardando pacientemente alguma intimação chegar à fazenda para depois tomar alguma atitude. Bom, eu poderia contratar a advogada safada para me defender de tal acusação...Puta que pariu! Não, não e não! Fora de cogitação! Preferiria ser acusado à contratar os serviços daquela safada. Mas, eu nem sabia se ela era safada ou não, talvez estivesse julgando erroneamente a moça. Porém, toda vez que a via, ela estava com aquelas roupas que mais pareciam terem sido costuradas no próprio corpo e com uns troços de ginástica que grudavam por todas as suas curvas. Que mulher usa isso? Se fosse minha esposa, ela só sairia de casa vestindo burcas e olhe lá. Meu Deus! Eu estou imaginando ter uma esposa? E pior, ter a safada como minha esposa? Eu estou ficando doido! Além de estranho e obsessivo, agora estou doido também. Preciso tirar minha irmã urgentemente daqui!

"Puta que pariu! Inacreditável!" Tinker interrompeu meus pensamentos obscuros e dessa vez eu fui grato por isso.

"Escuta aqui, você vai a este casamento, a Regina vai como sua acompanhante e pelo amor de Deus, se você machucar a minha amiga, eu juro que te mato!" Ela disse, e eu queria tanto que esse assunto acabasse o mais rápido possível, que a este ponto, concordaria com qualquer coisa maluca que minha irmã sugerisse.

"Porra, eu não vou socar o nariz dela, se é isso que você está pensando." Nunca machuquei uma mulher em toda a minha vida e é claro que nunca faria isso. O máximo que faria, se a tal roqueira safada me tocasse, seria sair correndo sem olhar para trás.

"E se ela te tocar?" Tinker perguntou.

"É melhor que ela não faça isso." Sugeri à minha irmã, em provocação.

"Robin, você vai ser gentil e educado. Você vai tratá-la bem e tentar ser o menos tosco possível." Ela apontou o dedo para mim e quase soletrou todas as palavras lentamente. Eu riria da situação, se não estivesse tão incomodado com isso.

"Você me promete?" A filha da mãe mudou de voz de um segundo para o outro e me olhou com aqueles olhos pidões que somente ela poderia fazer.

"Adiantaria alguma coisa se eu não prometesse?" Minha derradeira e patética súplica saiu de meus lábios.

"Não!" Ela disse, e é óbvio que eu já sabia disso.

Amanhã, vou ao casamento de meu tio que pensa que sou gay, com toda a minha família do interior tradicional e doida, acompanhado de uma roqueira da cidade grande que é advogada do diabo e safada, e sabe-se lá Deus qual tipo de pano ela costurará no próprio corpo para vestir e me julgar durante uma tarde toda. Estou fodido, literalmente. E aposto...ela vai me tocar!