Primeiro Contato
Esperar. Uma das coisas que eu mais odeio na vida. Pra ser sincera acho que a mais odeio. Você não? Principalmente quando se trata de esperar a decisão de alguém sobre o que vai acontecer com o resto da sua vida. No caso a minha vida.
Eu tô aqui sentada, sem ter o que fazer, sem ter com quem falar e essa espera angustiante só me faz retornar a antigos vícios que a muito eu tinha deixado e se você olhar para as minhas mãos agora, para as minha unhas, saberá do que estou falando. "Será que isso ainda vai demorar muito?" –penso a todo momento e por vezes acabo lembrando de como cheguei aqui.
Ah! Me desculpem a falta de educação. Meu nome é Rin. Nakigawa Rin. Tenho 28 anos. E vocês devem estar se perguntando onde e estou neste momento né? Pois bem eu estou numa sala isolada no Tribunal de Justiça, vigiada por dois policiais que são o dobro do meu tamanho (como se isso importasse alguma coisa pra mim) enquanto aguardo a minha sentença. É! Minha sentença. Não! Não se espantem, é isso mesmo. Oh! Me desculpem novamente, eu esqueci de mencionar o que faço, ou melhor fazia. Sou uma assassina. Uma matadora de aluguel, mercenária ou seja lá como queiram me chamar.
Engana-se quem pensa que sou uma pessoa amargurada, traumatizada, em busca de vingança por alguma coisa que aconteceu a tempos atrás. Nada disso. Não tive nenhum trauma de infância nem nenhuma dessas baboseiras que os psicólogos adoram especular. É lógico que ser assassina não era meu sonho de infância, mas enfim, aconteceu. Não vem ao caso dizer como, mas aconteceu. Ganhei muito dinheiro com isso e sou muito respeitada no meio em que trabalho, e pra mim é apenas isso, um trabalho. Que posso fazer, eu sou boa no que faço, ou melhor, fazia, já que agora eu estou prestes a ser "engaiolada". Mas não importa, já estava cansada dessa vida mesmo, não pretendia passar minha vida toda tirando a vida de outros, mesmo que merecessem.
Não pensem que eu sou apenas ( ou era) uma assassina mercenária sem coração. Eu sempre escolhi muito bem meus trabalhos. Meus alvos nunca eram pessoas inocentes. A maioria das vezes algum criminoso do alto escalão, políticos corruptos e etc. Em toda minha vida de pecados eu só fiz uma exceção. E é por causa dela que eu estou aqui.
Meu alvo era Sesshoumaru Taisho. Homem branco, 1,98m de altura, 89 kg, cabelos cinza e olhos de um raro dourado. A primeira impressão que se tem ao ler a descrição dele é que se trata de um ser por demais estranho, ledo engano. Sesshoumaru era promotor de justiça e o homem que me contratou para matá-lo era um importante político que estava sendo investigado em sigilo por ele por lavagem de dinheiro dentre outros crimes. No início eu recusei, era contra meus princípios matar alguém que não tivesse cometido algum tipo de crime. Mas todo mundo tem um preço né, e o meu era a quantia exata de 20 milhões de dólares (com essa quantia mais o dinheiro que eu já tinha ganho poderia me aposentar) e o meu contratante aceitou sem pestanejar, o que me levou a pensar que esse tal político era realmente culpado, do contrário não teria como ou por que me pagar essa quantia. Mas o simples fato de ele estar me contratando já era prova suficiente.
Como eu disse anteriormente era para ser mais um serviços simples, sem complicações limpo e rápido, e como meu contratante pediu, o mais discreto possível e era o que eu pretendia fazer. No dia seguinte ao meu contrato me hospedei em um hotel próximo ao Tribunal de Justiça para facilitar a tarefa de vigiar Sesshoumaru e aprender sua rotina, seus costumes. Não usei nome falso, não tinha necessidade, afinal quem desconfiaria de uma jovem decoradora e estudante de arte. Mais tarde eu agradeceria a Kami por ter feito isso. Ele não era hum homem muito difícil de seguir, não costumava mudar seu itinerário, nem ter grandes alterações em sua rotina, o que simplificava bastante meu trabalho, mas tinha hábitos que eu achava estranho para um homem na sua posição, como por exemplo ir e voltar do trabalho de metrô. Imagina, um homem com o dinheiro que ele tem, e não se engane, ele tem muito, andando pra cima e pra baixo de metrô, lotado, quente, sem o mínimo conforto quando poderia estar desfrutando do carro mais luxuoso que o dinheiro pode comprar. Tem doido pra tudo né mesmo? Depois de uma semana de observação decidi que era hora de agir.
Já tava tudo arquitetado, eu o seguiria , o mataria e faria parecer um assalto. Parece meio tosco não é, mas geralmente funciona e não deixa grandes suspeitas sobre ninguém, afinal quem não corre o risco de ser assaltado hoje em dia?
O dia escolhido por mim pra por em prática o meu plano foi uma quarta-feira. Como já conhecia os horários dele, peguei o metrô no horário que ele costumava pegar, só que uma estação antes. Incrivelmente o metrô não estava tão cheio aquele dia. Sentei-me e aguardei. O trem já estava parando na estação dele e como eu tinha previsto lá estava ele, de pé esperando o trem. Eu só não contava com uma coisa. Ela não estava sozinho. Junto a ele encontrava-se uma mulher que aparentava ter uns cinqüenta anos, mas conservava traços muito belos. Eles entraram no trem e vieram em minha direção e a mulher sentou-se ao meu lado no único assento vago. Eu pensava no que fazer, se eles descessem em estações diferentes o plano continuava como antes, mas se eles seguissem pelo mesmo caminho talvez eu tivesse que adiá-lo um pouco, não queria ter que envolver nisso ninguém além do estritamente necessário. Enquanto eu pensava no que fazer eles começaram uma conversa um tanto curiosa...
-Até quando você vai ficar com essa cara emburrada Sesshoumaru? – falou a mulher em tom de repreensão.
-Até o dia em que você parar de se meter na minha vida Izayoi. – ele rebateu parecendo muito aborrecido.
-Não me meto na sua vida. Apenas dou minha opinião. Não posso fazer nada se você não concorda com ela.
-Falar o que você falou pra Kagura não é exatamente dar a sua opinião.
-Você sabe o que penso daquela mulher. Ela é fria, seca, sem emoção, parece um jarro vazio. Não adianta você me dizer o quanto ela é inteligente, eu não gosto dela. Já disse que acho que ela não serve para você.
-É. Você deixou isso bem claro pra ela também hoje. Você tem que parar com isso. Não vou deixar que se meta na minha vida como na de Inuyasha.
-Seu irmão...
-Meio irmão.
-Que seja. Ele faz escolhas muito melhores que você. Sempre gostei de Kagome. Desde o início.
-Claro que gosta. Ela é IGUAL a você.
Sabe, eu sei que é falta de educação ficar ouvindo a conversa dos outros, mas não posso negar que estava me divertindo. Imaginem vocês o grande promotor de justiça Sesshoumaru Taisho tendo que agüentar sermão de alguém por causa de seus relacionamentos amorosos. Cômico.
-Muito melhor que a tal Kagura. Até o nome é horroroso. Parece uma coisa feia.
-Chega Izayoi. –disse suspirando cansado
-Sabe, eu realmente acho que você deveria encontra uma boa moça, construir família. Tomar jeito sabe. O tempo passa, você já está com 33 anos, daqui a pouco ta velho Sesshoumaro.
-O QUÊ? – ele disse com certeza um pouco mais alto do que pretendia.
Nesse momento eu não consegui controlar um pequeno riso. O que chamou a atenção dos dois para a minha pessoa e não sei por que razão isso me deixou extremamente constrangida. Talvez tenha sido o olhar mortal que Sesshoumaro me lançou por ousar ouvir a conversa e rir dele, talvez tenha sido o olhar profundamente analítico da mulher que o acompanhava.
-Go- Gomen nasai – me desculpei -e-eu não.. não tinha... ah Kami! Gomen –gaguejei já corando e abaixando a cabeça. Afinal o que é que estava acontecendo comigo? A mulher me analisou mais alguns segundos e depois para a minha surpresa abriu o sorriso mais simpático que eu já tinha visto.
-Não se preocupe. Você não fez nada demais. Afinal nós estamos no metrô, não poderíamos querer que essa conversa fosse sigilosa não é mesmo?
-H-Hai – concordei meio indecisa.
-Me chamo Izayoi Taisho e esse é meu filho Sesshoumaru Taisho. Como se chama?
-Hã? Ah... Rin. Nakigawa Rin. – mas por que diabos eu tinha dito meu nome verdadeiro?
-Hum. Que lindo nome. Muito prazer Rin. Você é daqui mesmo de Tókio?
-N-Não. Na verdade eu sou de Osaka. Vim pra Tókio pra estudar e para trabalhar. –"merda"
-Entendo. E o que você faz? Em que estuda? – nossa que interrogatório
-Bem. Eu sou decoradora e estudo Artes.
-Nossa olha que coincidência. Ontem mesmo eu estava comentando com meu marido que gostaria de mudar um pouco nossa casa. Fazer uma pequena reforma, estávamos mesmo a procura de uma pessoa para o serviço.
-Ah .. sim é muita coincidência -falei sem graça.
-Você poderia nos fazer uma visita. Dar uma olhada na casa, ver o que se pode fazer. Sem compromisso, claro.
- Eu não sei se...
-Quem sabe no sábado. Nós pagamos pela visita. O que você acha Sesshoumaru? – Olhei para o homem que permanecera calado até o momento e o vi arquear uma única sombrancelha e suspirar pesadamente.
-Faça como quiser Izayoi. – falou num tom seco, o que me deixou ainda mais desconfortável
-Ah.. Não ligue pra ele. Sesshoumaru é promotor de justiça, então acha essas coisa supérfluas. –não sei por que, mas o pensamento que ele me achava supérflua me incomodou. Olhei para ele novamente e me deparei com um olhos dourados a me encarar intensamente.
-Então estamos combinados? – continuou
-Bem... – eu ia recusar, mas ela não me deixou continuar
-Ótimo. Então nos vemos sábado ás 15:00 H. Aqui está o endereço e telefone. – olhei para Sesshoumaru, como se pedisse ajuda para me livrar da situação, mas o que encontrei foi um quase meio sorriso de deboche como se ele dissesse "-viu? Quem mandou rir de mim?" -
-Bom, até sábado então. –disse a mulher e se encaminhou para a porta do metrô, a estação onde ele descia havia chegado e eu nem me dei conta, eles saíram de trem, me deixando pra trás completamente desnorteada. Antes que o trem recomeçasse a andar olhei pela janela e pude vislumbrar momentaneamente um par de olhos dourados a me encarar e senti meus planos desmoronarem sobre a minha cabeça. Eu não sabia, mas a partir dali eu estava ferrada.
