Autora: Ashling

Casais: 1x2, 3x4 entre outros....

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Capítulo 1 – Distrações.

Heero POV

O transito estava congestionado como sempre, e mais uma vez eu me atrasaria para o trabalho.

Já podia ouvir Treize gritando em meus ouvidos, chamando-me de preguiçoso e inútil, as pessoas paradas, olhavam com extrema curiosidade. Com certeza quando eu saísse de lá, Wufei chegaria em mim e faria piadinhas de mal gosto como sempre.

Voltei a olhar pela janela do táxi e suspirei, estávamos à meia hora parados, chegaria mais rápido se fosse a pé, peguei minha carteira e joguei uma nota de dez dólares no banco da frente.

– Fique com o troco – disse ao taxista antes de deixar o táxi.

Corri em ziguezague pelos carros parados, chegando a calçada desacelerei um pouco e caminhei calmo enquanto olhava as vitrines das lojas, de que adiantava correr?Eu ia ser censurado de qualquer jeito.

Detive-me em frente a um beco, o lugar era estreito e úmido, as paredes completamente pichadas.

Estreitando os olhos pude ver no fim do beco a Farmácia de Sebastian, olhei ao redor e um pensamento martelou minha cabeça. Vou cumprimentá-la ou não?

– Hum, acho melhor não abusar. – murmurei a mim mesmo.

Um gemido me impediu de continuar, voltei os olhos para o beco escuro e uma movimentação me chamou a atenção, dei um passo para frente, hesitante.

– Hei!Tem alguém ai?

– Aaaaiiii.

Paralisei no lugar ao ver um pé aparecer detrás de uma grande lata verde de lixo, uma dúvida cruel pairou no ar, eu devia averiguar?Mas e se fosse um assaltante fingindo?Mas... E se fosse alguém ferido?!

Engoli o medo e caminhei trêmulo para dentro do beco, encostei-me a parede do lado oposto ao da lata de lixo, senti meu terno preto molhar e colar em minhas costas, mas isso pouco me importava agora.

Fui caminhando – ainda colado à parede – para perto da lata de lixo, o pé se mexeu para o lado e um gemido ressoou em meus ouvidos, congelei e esperei o pé ficar imóvel para poder prosseguir, dei mais alguns passos e meus olhos arregalaram-se ao reconhecer uma pessoa recostada à parede, os braços magros repousavam em seu colo, uma das pernas estava esticada e a outra dobrada de lado, a cabeça caída repousando no próprio ombro.

Desencostei-me da parede e dei dois passos bambos em direção a ela, cai de joelhos e senti minhas calças encharcarem, eu havia caído em uma poça de água, mas isso era o de menos.

Vi que ela estava nua e no mesmo instante pude ver que era um garoto, desviei os olhos, envergonhado.

– Vo... Você está bem? – balbuciei.

OK, sei que foi uma pergunta estúpida, como um garoto nu e que aparentava estar ferido poderia estar bem?!

Olhei para seu rosto, os olhos dele estavam semi-abertos, algumas mexas de seu longo cabelo grudavam em seu rosto, peguei uma mexa marrom com a ponta dos dedos e a ajeitei atrás de sua orelha.

– Me.... Ajuda... – ele sussurrou com a voz rouca.

Quando ele disse aquilo, houve um estalo em minha mente e eu me xinguei mentalmente.

– Ah!Sim!Vou levá-lo agora mesmo a um hospital!

Observei o corpo frágil e minhas mãos tremeram, com medo de feri-lo mais ainda, eu sentia que ao menor toque ele se quebraria.

– Me.... Ajuda.... – ele sussurrou suplicante.

– Vai doer um pouco, OK?

Ele balançou a cabeça levemente, estiquei sua outra perna e as levantei colocando um de meus braços abaixo de seus joelhos, com o outro o desencostei da parede e circundei suas costas, ele grunhia e gemia, deixando-me ainda mais nervoso.

Quando fiquei de pé pude ver o quão leve ele era, e quando o fiz me perguntei. Por quanto tempo será que ele esteve aqui? Quanto tempo ele ficou sem água e sem comida?Dei alguns passos hesitantes para fora do beco, senti seu corpo se contrair em meus braços, mas à medida que caminhava ele foi relaxando.

Várias pessoas me pararam a caminho do hospital, perguntando-me o que havia acontecido a ele, eu fazia um breve resumo de como o havia encontrado, mas isso não parecia contentar as pessoas.

– Qual o nome dele? – uma perguntou.

– Pra onde vai levá-lo? – outra perguntou.

– Sabe quem fez isto com ele? – outra perguntou.

Quando as portas automáticas do hospital fecharam-se atrás de mim, suspirei aliviado.

No balcão, a recepcionista encarava o garoto em meus braços incrédula.

– O que houve com ele? – ela perguntou quando parei a frente do balcão.

Outra vez não!

– Preciso de um médico! – disse entre – dentes.

– Ah! – ela se sobressaltou e pegou o telefone, discando – Vou chamar um.....

– Não precisa! – uma voz a interrompeu, ela olhou por sobre meu ombro e sorriu, desligando o telefone.

– Oi, Quatre! – cumprimentou toda sorrisos.

– Há quanto tempo, Heero!

Olhei para trás a contra gosto e mirei o homem baixo e loiro que me encarava, ele piscou duas vezes os belos olhos azuis e sorriu simpático.

– Nossa!O tempo fez um bem danado a você!

Sorri apreensivo, os anos passaram e mesmo assim eu continuava agindo feito um idiota sempre que encontrava com Quatre, eu me culpava pelo que aconteceu conosco, por isso tinha medo que quando o reencontra-se ele me joga-se na cara o quão cruel eu fui, e sinceramente... Eu não estava nem um pouco preparado para a verdade.

– Pode me ajudar? – indiquei o garoto – agora desmaiado – em meus braços.

– Nossa!Claro que sim!Siga-me!Até depois, Vanessa! – ele abanou para a recepcionista que o encarou abobalhada e abanou tímida para ele.

– O que houve com ele? – Quatre me perguntou enquanto caminhávamos pelo extenso corredor completamente branco.

– Não sei ao certo, eu estava indo trabalhar quando o encontrei em um beco. – respondi, olhando com preocupação o rosto magro do garoto em meus braços.

– Ponha-o nessa maca – Quatre pegou uma maca vazia encostada na parede, eu o coloquei com extremo cuidado na maca e afaguei sua cabeça.

– Vai ficar tudo bem agora – sussurrei como se ele pudesse me ouvir.

– Bom, já pode ir pro trabalho, Heero, pode deixar que vou cuidar dele – disse enquanto conduzia a maca pelo corredor, eu o segui de perto.

– Não posso ficar aqui?

– Fazer o que aqui, Heero?Vou levá-lo pra UTI, ele não parece nada bem!Ele vai ficar algumas horas lá. Por que não volta amanhã de tarde para vê-lo?

– Está bem, cuide bem dele! - sussurrei, parando no meio do corredor e deixando Quatre seguir sozinho.

Antes que me vira-se, ele parou e olhou para trás e disse sorrindo:

– Foi bom reencontrá-lo, Heero!Vamos conversar amanhã, certo?

Senti um calafrio quando a palavra "conversar" deixou seus lábios. Será que meu pior pesadelo iria se concretizar?

– Ah?!Certo! – respondi trêmulo.

Quando sai do hospital, a chuva já castigava a cidade, caminhei pelas ruas sem saber bem o que fazer e quando dei por mim, estava em frente ao beco onde estive com o garoto há poucas horas.

A luz no fim do beco me chamou a atenção, vi o letreiro Farmácia de Sebastian piscando, como se me chamasse.

Bom, eu realmente não estava em condições de ir trabalhar e em casa não tinha nada pra fazer. Entrei no beco e hesitei quando passei pela lata de lixo, olhei para onde havia achado o garoto jogado e gemi,havia uma pequena poça de sangue seco, virei o rosto e continuei caminhando, quando sai do beco, atravessei a rua e entrei na farmácia.

Meus olhos vasculharam o local, e sorri ao achar quem estava procurando. Uma garota de cabelos compridos e negros ficava na ponta dos pés e tentava inutilmente alcançar um remédio que se encontrava na ultima prateleira. Aproximei-me por trás dela e peguei o remédio.

– Ah!Obrigada! – ela murmurou e quando viu que era eu gritou eufórica:

– Heero! – jogou-se em meus braços, abraçando-me apertado.

– Oi, Joe! – cumprimentei-a risonho.

Ela me soltou e saltitou.

– Como você está?!Fazia tempo que não vinha me visitar!

Entreguei o remédio a ela.

– Desculpe, ando muito ocupado.

Ela fez uma careta e sorriu travessa.

– Só te desculpo se me levar no cinema amanhã!

– Eu te levo sim no cinema, mas amanhã não que tenho algo urgente pra fazer, que tal sábado?

– Ahhhh, mas vai demorar três dias! – ela se queixou, fazendo biquinho.

– Sabe que dia de semana é difícil pra eu sair!

– Mas e hoje? – ela perguntou esperançosa.

– Hoje estou meio desanimado, aconteceram algumas coisas... Posso marcar pra sábado então?

– Pode. – respondeu derrotada.

– Mas e ai? Como andam as coisas?

Ela voltou a ficar animada, pegou minha mão e me guiou até o balcão, sentando-se em uma cadeira e oferecendo uma para mim, sentei-me e a encarei curioso.

– Eu arrumei um namorado! – gritou alegre.

Um namorado?Com 12 anos ela me arruma um namorado?Nossa... E eu que só beijei quando tinha 17 anos!Como as coisas mudaram!

– Nossa!Que legal, Joe!Mas..... O seu pai sabe disso? – perguntei com a sobrancelha erguida.

Ela me lançou um sorriso amarelo e ficou brincando com uma mexa de seus cabelos, um hábito que fazia quando estava nervosa, eu já sabia a resposta.

– Bom.... Não... Mas amanhã eu vou apresentá-los e tenho certeza que os dois vão se dar bem! – respondeu convicta.

Encarei seus olhos castanho-claros e perguntei o que não queria calar.

– Quantos anos ele tem e onde o conheceu?

– Ele é da minha escola e tem 15 anos!

Meu queixo caiu, mas o que um garoto de 15 anos queria com uma garotinha de 12?!

– Ele é lindo, simpático e inteligente!Também é muito gentil!

– Hum.... Você não acha que... Seu pai vai ficar... Sei lá.. Zangado com isso?

– Claro que não!Todos adoram o Lucius!Por que ele não iria gostar? – ela respondeu pondo as mãos na cintura.

– Bom... Você gosta bastante dele?

– Sim!Eu o amo e ele me ama! – respondeu mais uma fez convicta.

– Bem, vocês dois podem até se gostar, mas não fale a uma pessoa que a ama sem saber o verdadeiro significado do amor, OK, Joe?Quando adolescente eu dei uma bela de uma mancada e até hoje isso me persegui – a imagem de Quatre me veio à mente e sorri tristemente.

Ela cruzou os braços e desviou os olhos, carrancuda.

– Ta bom.

– Ótimo, sabe onde está o Sebastian? – olhei ao redor.

Ela se sobressaltou.

– Você não vai falar pro meu pai sobre o Lucius, vai?!

– Claro que não!Se você disse que vai apresentá-los amanhã. Só quero conversar com ele, faz tempo que não o vejo.

– Ele saiu, mas já..... Droga!

Ergui uma sobrancelha e notei que Joe olhava com nojo para a entrada da farmácia, segui seu olhar e paralisei no banco, hoje realmente não era o meu dia!

Uma loira me encarava admirada, usava uma saia até os joelhos branca e uma blusa rosa com um casaco de leopardo, uma bota alta, uma bolsinha que levava pendurada no ombro e por último um guarda-chuva cor de rosa aberto acima de sua cabeça.

– Heeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeroooooooooo! – sua voz estridente ecoou pela farmácia, assustando alguns clientes.

– Relena! – disse com repulsiva enquanto esta se jogava em meus braços.

Continua....