Traduzida em: 16/01/2009
Autora: Jeninne
O primeiro mês:
A primeira coisa que David disse depois do diagnóstico do médico, depois de quase três semanas de perceptíveis sintomas e com Chuck sentado ao seu lado, no consultório e segurando sua mão, foi: "Eu não posso fazer isso." Ele sentiu Chuck apertar levemente seus dedos e seus olhos se fecharam. A próxima coisa que ele disse, foi: "E Pierre nunca pode saber."
David ouviu um suave estalo vindo de Chuck, um sinal de que seu amigo discordava. E, com certeza, Chuck suplicou: "Isso vai ser meio que difícil de esconder dele."
"Eu estou escrevendo uma receita a você." O médico disse curtamente, David quase estremecendo perante seu implícito tom de desaprovação. "Leve-a até a farmácia e marque outra consulta para daqui três semanas. Os avisos de rotina se aplicam, não se esforce, consulte um nutricionista e pratique um exercício calmo, mas ativo."
"Claro." David murmurou, assim que o médico saiu.
"Então, uh..." Chuck disse, seu dedão deslizando pelas costas da mão de David. "Um bebê?"
"Como isso aconteceu?" David gemeu, se curvando na direção de Chuck.
O baterista ofereceu uma tentativa de sorriso ao amigo. "É uma pergunta retórica?"
Os olhos de David se cerraram. "Nós fomos tão cuidadosos. Como isso aconteceu? Eu não posso fazer isso, Chuck. Eu não posso ser pai. Eu não posso foder com a banda desse jeito."
"Controle de natalidade não é cem por cento seguro. Não é toda aquela abstinência da qual todos falam? Eles não estão errados. Coisas assim apenas acontecem."
David recuou. "Um bebê?" ele sussurrou. Deus, como ele podia estar tendo um bebê? Não havia espaço em sua vida para um bebê. Mais que tudo, não havia estabilidade. Ele e Pierre iam e voltavam o tempo todo. Eles se amavam muito, mas havia vezes que eles não conseguiam ficar no mesmo cômodo. Que tipo de família era essa para pôr um bebê no meio? Ele não era ilusório. Nunca iria haver alguma loira bonita usando pérolas, que teria o jantar pronto todas as noites às seis horas e que vivia numa casa com uma cerca branca, mas ele não estava certo se poderia arrastar um bebê para dentro de um relacionamento que não existia na metade do tempo.
E Pierre estava tão longe da essência de 'pai', pelo menos no momento. Ele era um amigo fenomenal, um bom filho, um irmão melhor ainda e ele realmente ficou mais maduro com o passar dos últimos anos, mas ele não estava pronto. Pierre mal conseguia tomar conta de si mesmo, às vezes. David não podia forçar um bebê a ele, como algum tipo de experimento para ver quanto tempo demoraria para o maior desabar. Um bebê acabaria com Pierre, que, sem dúvidas, faria seu melhor para ser um ótimo pai e, enfim, se submeteria a um ataque do coração ou surtaria por causa de todo o estresse. Não, nenhum deles estava pronto para um bebê, especialmente Pierre.
"Você tem que contar a ele." Chuck disse, dando a David um olhar conhecido. Eles são amigos há muito tempo, David pensou se Chuck era capaz de captar seus pensamentos tão facilmente. "Ele é o pai, certo?" Chuck perguntou cautelosamente.
"É claro que ele é." David falou rispidamente. Ele pousou uma mão sobre sua barriga reta. "Pierre e eu rompemos mais que a Whitney e o Bobby, mas eu não saio dormindo com outras pessoas. Eu não tenho estado com mais ninguém há um bom tempo. O bebê é dele."
"Então, ele tem o direito de saber."
"E então o quê?" David exigiu. "Nós nos casamos e compramos uma casa no subúrbio de Montreal? Nós cancelamos o resto da turnê até que eu ponha essa coisa para fora e aí nós arrastamos a criança conosco? Porra, Chuck, Pierre e eu sequer nos assumimos ainda. O que isso vai fazer com nossos fãs? Nossa gravadora vai nos abandonar completamente." Ele sentiu seus olhos arderem e Chuck ergueu-se num pulo, uma mão correndo por entre as mechas escuras do cabelo do menor.
"Eu não sei o que você vai fazer..." Chuck disse honestamente. "Mas isso é para você e Pierre decidirem."
David apertou a mão de Chuck. "Isso vai destruir a banda. Você sabe disso. Você me odeia?" Porque, de todos eles, Chuck era o que mais amava a banda. Todos eles amavam igualmente música, mas a banda era a vida de Chuck. Ele colocou tudo que tinha e deu tudo de si nessa banda e ela significava tudo.
Os dedos de Chuck se enrolaram ao redor do cabelo de David. "Isso não quer dizer o fim da banda. Muitas pessoas em bandas têm filhos. Então, nós cancelamos o resto da turnê. Quem se importa se nós perdermos metade dos nossos fãs? Se a gravadora nos abandonar, nós começamos a nossa própria – nós temos dinheiro o bastante. Esse não é o fim, David. Esse é o começo de algo bonito e, se você se der tempo o suficiente, você vai ver isso."
David respirou calmamente. "Eu não quero esse bebê." Ele não queria algo que iria foder com sua vida, virar tudo de ponta cabeça e afastar Pierre de si.
Chuck piscou rapidamente. "Você não quer?" ele perguntou, como se não tivesse escutado direito.
"Eu não quero." David confirmou.
"O que..." Chuck perguntou, a boca seca e ansiedade surgindo. "O que você vai fazer?"
"Eu não sei." David disse roucamente, lágrimas escapando de seus olhos para rolar por sua têmpora e cair sobre o papel que cobria a mesa de exame. "Mas jure pra mim que você não vai contar ao Pierre. Jure, Chuck."
"David…" Chuck disse, a hesitação clara em sua voz. "Pierre é meu melhor amigo. Eu não posso esconder algo desse tipo."
Apesar da mão sobre a sua, David puxou Chuck para mais perto. "Jure pra mim, por favor. Deus, Chuck, jure, porra. Eu tenho que descobrir o que fazer. Eu apenas preciso de tempo. Eu preciso de tempo para decidir o que fazer. Jure."
Chuck desviou o olhar, a expressão atordoada. "Okay." Ele disse rapidamente.
David curvou-se em alivio.
"Hey, David..." Chuck disse suavemente, puxando sua mão e se movendo para pegar as coisas de David.
"Sim?"
Os tênis de David em suas mãos, Chuck perguntou. "Você parou para pensar que talvez Pierre queira o bebê?"
David engoliu em seco. "Nem sempre é sobre o que você quer. É sobre o que você precisa. Pierre não precisa dessa criança. Nenhum de nós precisa."
