1 – Hunter ( 30 Seconds To Mars )
Corpos sem vida contrastavam com os belos arbustos floridos. Uma pessoa sorria diante a tudo aquilo. "Um verdadeiro banquete para meus olhos...", pensara ao decepar mais um ninja que tentava tirar-lhe a vida.
Girando os calcanhares com suavidade, acertara um chute certeiro em um homem que corria em sua direção, apontando algumas kunais envenenadas. O corpo dele voara por metros, até que se chocara com uma pedra pontiaguda e, praticamente, partira-se em dois.
-O que quer? -disse a única mulher entre os soldados.
-O seu amiguinho. -rira e cortara a cabeça de mais um homem. -Quero que ele venha a mim.
-x-
Limpara a última mancha de sangue que havia em sua espada e levantou-se dos corpos que estava sentada, fitando ao longe, os olhos pedintes de uma ruiva.
-Deixarei que viva. -disse ao agachar-se ao lado dela. -Agora vá... Mas diga que eu estou aqui. -quando a mulher tornou a piscar, já não se via nada ali, além dos corpos.
-x-
Arrumando o capuz pela enésima vez, amaldiçoara aos quatro ventos, o ser que fazia aquele jutsu descabido. "Tentar rastrear-me através de uma chuva? Que patético.", pensou enquanto cruzara os portões de uma vila qualquer e logo avistara um pequeno restaurante.
-O que deseja? -uma garota magra e alta chegou ao seu lado, sorrindo. Atrás dela, podia ver seu reflexo no espelho. "Nunca pensei que precisaria usar esse tipo de jutsu... Mas não ficou tão ruim.". Analisara os longos fios dourados e olhos castanhos. Grandes e chamativos. -Posso guardar sua capa, senhorita?
-Claro! -estranhou o tom de sua voz, mas ignorou. Entregando o longo tecido, pode observar as roupas que pegara em uma casa ao longo do caminho. Usava calças em tom cinza e uma blusa branca. Os sapatos já não existia, porém só percebera isso quando pisara no chão quente e sentira os pés doloridos devido a caminhada. A jovem apontou para uma cadeira ao fundo do estabelecimento e assim deixou o corpo ser levado para lá. As cadeiras trouxeram-lhe um leve conforto para as penas e costas. Retirou a pequena bolsa que usava e a apoiara no calcanhar, apenas tirando dali, alguma quantidade de dinheiro.
-Já sabe o que vai querer? -novamente sorrindo, a jovem erguera um pequeno bloco e a caneta, esperando o pedido.
-Algo quente, por favor. -disse com os olhos fechados e apenas ouviu os passos se afastarem. O lugar silencioso, trouxera-lhe um momento de tranquilidade, coisa que não tinha a dias. Fizera uma retrospectiva de todos os seus passos e calculara distâncias apenas para verificar-se que estava na vila certa. Abrira os olhos assim que um aroma delicioso entrou por suas narinas, junto com a fumaça quente, que fazia com que fechasse os olhos. Era delicioso! E a quanto tempo não sentia isso? Um mês? Um ano? Bem, não sabia responder as próprias perguntas, mas queria aproveitar a cada momento. Esticou os dedos sobre a fumaça e deixou-se levar pela temperatura agrádavel, que aquecia-lhe ainda mais.
-Deseja beber algo? -perguntou a jovem. Ao abrir os olhos, deparou-se com uma grande tigela de lamém e vários pedaços de carne boiando no líquido quente.
-Uma dose de saquê e nada mais. -disse rapidamente, enquanto tomava os hashis e levava o alimento até os lábios.
-x-
Ao pegar sua capa, pôs-se a andar pelas pequenas ruas do vilarejo. Se não se enganara, a casa de velhos amigos ficava um pouco mais ao longo daquelas praças empossadas. Caminhava lentamente, desta vez aproveitando a brisa gelada e as últimas gotas.
Naquela época do ano era outono e pode ver folhas alaranjadas, amassadas e queimadas, ao longo do caminho. Virando a última rua, deparou-se com a velha, porém conservada, casa de seus amigos. Era de um estilo antigo, com telhados terracota, paredes amarelas, janelas e portas de madeira, um portão de grades e um pequeno, e belo, jardim. Parando abaixo da cobertura do portão enferrujado, tocou a campainha.
-Quem é? -a figura masculina apareceu, com o rosto crispado e voz alterada. Caminhava com passos pesados até o portão, onde pode ver uma jovem loira. Disfarçadamente, sacou a kunai de sua calça e fitou-a. -Quem é você?
-Deixe-me entrar, Hyuuga. Está frio aqui. -disse enquanto entregava algo para o moreno. Este, por sua vez, esticou o pequeno papel – uma velha fotografia rasgada – e abriu o portão.
-Siga-me. -assim entraram na casa. O Hyuuga colocara sua kunai sobre uma mesinha de canto e pegara a capa, pendurando ao lado da porta. -Ela está na cozinha.
-Quem está na cozinha? -outra figura apareceu na porta. Uma mulher de pele bronzeada, cabelos longos e um avental rosado. Olhava séria para o homem e a mulher ao seu lado. Num "puft", a verdadeira face da jovem foi revelada. -Sakura! -a Mitsashi correra até a amiga e dera-lhe um abraço apertado. A jovem ficara desconfortável, pois, a muito tempo, não era tão "dada" a demonstrações de emoção.
-Olá, Tenten. -disse com um leve curvar de lábios. Via os olhos da morena brilhantes de felicidade.
-O que deseja? -o Hyuuga disse. Olhava-a de esguelha. -Muitas vilas estão a sua procura.
-Quero abrigo e algumas roupas, apenas isso. E sobre as procuras... Bem, digamos que nenhuma delas teve a sorte de voltar com mais de três integrantes vivos. -sorriu zombeteiramente e virou os olhos para a mulher. -Você me ajudaria?
-Claro! -disse alegremente e em troca recebera um olhar repreensivo do marido. -Neji, não vejo minha amiga a dez anos. Irei ajudá-la.
-Ela é uma Nukenin assassina! -disse abertamente. Sakura fechara os olhos e respirara fundo. O que ele disse era a mais pura verdade, ela não negava.
-Neji, não matarei todos de Konoha, enquanto dormem. Apenas pedi abrigo e roupas. Se minha presença causa-lhe tanto medo, irei embora assim que me pedir... Pois um ninja fraco como você, deve teme a minha presença, certo? -sua fala tão tranquila, fez com que Tenten desse um passo para trás. Aquela ali não era sua amiga... Não aquela de onze anos atrás.
-Pode ficar. -ele apenas saiu da sala, subindo as escadas. A rosada encarou a antiga parceira e sorriu fraco.
-Senti sua falta... -a Hyuuga envolveu os braços finos no corpo da amiga, abraçando-a com força. -Todos sentem sua falta.
-Não quero desenterrar o passado, Tenten. -fechou os olhos e abriu a bolsa, segurando um pequeno pergaminho entre os dedos.
-Tudo bem, não direi nada. Venha para o quarto. -assim subiram as escadas. Sakura olhava para as paredes e visualizava as fotografias penduradas. Alguns rostos conhecidos – porém diferentes – e pessoas desconhecidas. A foto que mais chamara sua tenção, fora a tirada tempos antes de renegar Konoha. Tenten estava sentada no colo do marido, Ino e Sai estavam rindo, Naruto e Hinata beijando-se e Kakashi com um pequeno livro de capa azulada. Até hoje lembrava-se deste dia... Tirara aquela foto com a desculpa de querer alguma lembrança dos amigos enquanto eles saiam em missões... No dia seguinte, fora embora. -Desculpe dizer, mas... Todos sentiram a sua falta. De verdade. -Tenten deixou uma lágrima rolar, enquanto também olhava para a foto. -Até hoje sentem. Ele principalmente.
-Ele precisa crescer. -virou-se para a porta aberta e entrou. -Pela manhã, quero que me leve pela vila.
-Ninguém pode ver você!
-Estarei disfarçada... Aquela jovem, na primeira foto do corredor, é algum familiar seu?
-Uma prima.
-Serei ela pela manhã. Tenha uma boa noite. -virou-se para a porta e a fechou com delicadeza.
Retirou sua roupa suja de terra e grama, jogando dentro da pia do banheiro e pôs fogo nas peças. Assim que toda a fumaça saiu pela portinhola do teto, ligou o chuveiro e enfiou seu corpo debaixo da água fria. As imagens de um passado enterrado, ganhavam nova vida conforme a água corria sobre seus olhos.
A imagem de seu amigo sorrindo-lhe e dizendo que sua amada tinha aceitado seu pedido de namoro. Os abraços ternos. As risadas. As lágrimas... Lagrimas que ela deixara escapar no dia em que deixou sua terra, em busca de um ideal.
As longas caminhadas sozinhas e de como sentia vontade de voltar atrás, rasgar a carta que deixara e fingir que nada havia acontecido... "Apenas passado, Sakura. Passado..."
Saiu do pequeno banheiro enrolada em uma grande toalha e logo avistou o pequeno pergaminho sobre a cama. Sentando-se em posição de lótus, abriu-o, mordeu o dedo e fez rápidos movimentos com as mãos. Ao colocar a mão sobre o pergaminho, finas linhas esverdeadas saíram do papel e enrolaram-se em seu braço, espalhando-se por todo o corpo. "Apenas mais um minuto e me recuperarei... Maldita seja aquelazinha... A próxima vez que eu encontrar aquela quatro-olhos farei a mesma coisa que fez comigo.".
Após analisar suas costas no grande espelho, viu que o grande corte virara um pequeno arranhão. Ainda xingava a mulher ao deitar-se fitando o teto, mas logo depois as imagens foram substituidas por um belo homem: Cabelos e olhos negros, pele pálida, corpo esguio, voz torturante...
"Volte aqui quando deixar de ser uma kunoichi qualquer e, possivelmente, tratarei você melhor."
"Por minha causa?"
"Você ainda têm dezeseis anos e não sabe nada da vida..."
