"Só porque você quer"
por St. Luana
Que dia solitário
E é meu
O dia mais solitário da minha vida
Que dia solitário
Deveria ser banido
É o dia que eu não consigo agüentar
O dia mais solitário da minha vida...
Que dia solitário
Não deveria existir
É o dia que eu nunca sentirei falta
E se você for
Eu queri ir com você
E se você morrer
Eu quero morrer com você
Pegar na sua mão e ir embora
O dia mais solitário da minha vida
Que dia solitário
E é meu
Fico feliz por ter sobrevivido à dias assim...
Lonely Day – System of a Down
A tarde estava fria e chuvosa, legítimas tardes para ficar deitado em sua cama com um cobertor bem grosso, e se pudesse, tomando um fumegante chocolate quente. Talvez olhando uma comédia pastelão ou então um romance para se debulhar em lágrimas e ficar se imaginando dentro de uma história de amor.
Histórias de amor...tão bonitas em filmes...e eram ainda mais apreciadas quando o teor dramático fosse elevado à patamares inatingíveis aos meros humanos. Histórias lindas que sempre terminam com a morte de um dos apaixonados, no melhor estilo Romeu e Julieta.
Se nem nos filmes os finais eram felizes, o que esperar para ele, um pobre mortal?
Resolveu que não se deitaria coisa nenhuma...e o chocolate talvez ficasse para mais tarde. Apesar do tempo não estar nada agradável, decidiu que não ficaria trancando dentro de casa, se lamentando por coisas banais- sim, histórias de amor eram coisas banais para ele – e inerte sobre uma cama como um velho. Até porque, ele não era velho, era maduro...
Saiu de seu quarto batendo a porta com um pouco mais de força que o necessário. Pegou as chaves de seu carro e foi em direção a garagem, porém, no meio do caminho pisou em cima de algo e por pouco não estatelou a cara no chão.
- Maldito gato infernal... - esbravejou, quando percebeu em que tinha pisado... - Jeremias, da próxima vez eu te coloco numa panela, te fervo e te jogo para os ratos comerem!!!- agora ele já estava berrando para o pobre gato de propriedade de uma senhora, que por sinal era sua vizinha.
O gato, apavorado, saiu correndo em direção a casa de sua dona enquanto o homem, ainda com sua irritação pelas alturas, adentrava seu automóvel e dirigia rumo à estrada.
Quando deu por si, se perguntou aonde iria..fazer o que numa tarde como esta? Foi com grande relutância que passou a observar mais atentamente pelos lugares onde passava, até que viu uma cena que o fez ficar ainda mais irado.
A cena tão perturbadora não se passava de um casal, jovens enamorados, que se beijavam sob um guarda-chuva negro, simplesmente como se o mundo não existisse, como se não estivesse caindo uma tempestade das piores que já recordava.
Ah! Alguma coisa mexeu dentro dele, um embrulho em seu estômago, que provocou uma carranca...de uns dias para cá, não podia ver cenas românticas, pois se as visse, ficava mais ácido que mil limões juntos... Limões juntos... Maldita comparação...parecia que em sua mente tudo dava voltas e mais voltas, sempre chegando ao mesmo lugar: ele era um homem sozinho, sem ninguém para abraçar, beijar, fazer carinho... e agora, perto de seus trinta anos (sim! Trinta anos e ele já não se achava mais "tão jovem"assim), começou a se dar conta de como era ruim ser completamente só...
Não que ele nunca tinha ficado com alguém...mas esse era o problema...ficado.
Se acostumou a ser um homem independente desde muito cedo e por isso, nunca quis se "apegar" a alguém. Propostas não faltaram...as mulheres praticamente se jogavam aos seus pés por onde passava. Seu porte altivo e sua áurea de mistério chamavam a atenção onde quer que fosse.
Seu relacionamento mais duradouro foi com uma antiga vizinha, uns cinco anos mais nova que ele, porém não deu certo.
Ela era mais grudenta que um chiclete barato, e ele não estava acostumado a ter que dar satisfações sobre onde iria e a que horas voltaria. Se sentia preso, sufocado, como se tivessem cadeado seu pescoço e escondido a chave...
E ela morando perto de sua casa, as coisas só pioravam. Não duvidava nada que ela tinha comprado um binóculo para podê-lo ver de longe, com certeza, para saber se estava arrumado "demais" para dar apenas uma volta...
Quando ele falou que queria terminar o relacionamento, ela literalmente se jogou a seus pés, chorando, implorando que não a deixasse pois ela o amava. Ele estava irredutível, mil vezes sozinho do que estar aprisionado por grades invisíveis, porém bem reais.
Durante trinta minutos ela ainda o tentou ludibriar, prometendo mil e uma coisas, que o deixaria mais livre e não cobraria tanto dele. Ele ficou pensando por alguns minutos se valeria a pena passar por aquilo tudo de novo. Olhou para a sua até então namorada...o sexo era muito bom, a química perfeita, seu corpo mais perfeito ainda...
-Não, eu já decidi. - falou em um tom sério e grave, para dar mais credibilidade ás suas palavras, e ver se de uma vez por todas aquela mulher aceitava receber o fora que ele deu.
A mulher se transformou em uma completa desvairada, gritando impropérios e chorando compulsivamente, tanto que ele chegou a imaginar se ela não acabaria com o reservatório destas substâncias salinas.
Balançou a cabeça para os lados, como se quisesse espantar as lembranças, e se endireitou no banco do motorista, continuando sem rumo, apenas sentindo o prazer de dirigir, livre...
Não conseguia aceitar esta necessidade de ter alguém por perto, nunca precisou disto, e não seria agora que ele iria mudar...Será???
Porém, mesmo tendo decidido dentro de si mesmo que não iria ficar "amarrado" a ninguém, pois para ele quem ficava amarrado era cachorro, e de estimação, o sentimento de vazio não saía de jeito nenhum...será que teria que se render e assistir à um filme melodramático no último grau, chorar horrores, se sentir um lixo e se empanturrar de chocolate?
Acelerou o carro e se mandou a procurar um cinema pela cidade. Depois de vários minutos procurando – pois ele não gostava de ir a este tipo de lugar – encontrou um que parecia "habitável". Estacionou o carro e saiu correndo para não se molhar com a chuva que não dava trégua.
Quando estava em frente a entrada do cinema, alguém deu um esbarrão que quase o levou ao chão.
Respirou fundo três vezes tragando o ar e o soltando...seu dia não poderia estar sendo pior...crise emocional... pisada no gato...crise emocional...trombada em alguém que com certeza estava querendo conhecer o céu mais cedo...várias outras crises...
- Você é cego, pirralho? - perguntou ácido para o garoto causador do quase acidente.
- Me desculpe, eu não tive a intenção... - respondeu o tal "garoto", já totalmente enojado com o tom de voz utilizado pelo mais velho.
- Oh! Sério? E se eu tivesse caído e quebrado alguma coisa, hein? Pelo visto, você é que não teria condições de pagar... - respondeu o homem mais sarcástico que pôde, com um risinho debochado nos lábios... nada como um saco de pancadas para aliviar todas as suas frustrações. E pelas roupas do "rapaz", ele não deveria ser muito bem de vida mesmo.
O garoto, que na verdade já estava mais para um homem, e um belo homem (diga-se de passagem), olhou surpreso para a figura daquele ser à sua frente. No mínimo, pensou ele, deveria ter levado um belo de um pé na bunda de alguém e agora estava descontando em cima do primeiro que o cruzava. E por azar ele tinha sido o primeiro. Inferno!!!... A mais ele não ia deixar isso barato, não mesmo...
-É, com certeza eu não teria dinheiro para cobrir as despesas caso o Senhor se quebrasse.- respondeu, vendo que na face do outro já se formava um riso vitorioso. "Quem ri por último, ri melhor!"- pensou...
- Oh! Então você admite que não passa de um pobre coitado e ainda por cima cego, que não tem onde cair morto, e que se provocasse um acidente, não teria nem condições para consertá-lo? - ele não soube o porquê, mas estava adorando poder "esculachar" o garoto – Me pergunto o que está fazendo em um cinema...pedindo esmola, talvez? - cheque -mate... pensou ele.
- Na verdade, eu não teria verbas o suficiente para pagar o hospital...é, porque, numa idade tão avançada como a do Senhor, uma quedinha de nada poderia provocar um estrago muito grande, sabia? Talvez, até não tivesse mais "conserto"...por isso, aconselho ao Senhor, habitar lugares condizentes à sua "geração", quem sabe ir à um parque da terceira idade? - falou no tom mais sério e estilo professoral que encontrou, para logo em seguida dar as contas, não deixando tempo para aquela "coisa" responder algo.
O homem estava estático... Terceira idade? Quem aquele pirralho que nem ao menos pentear os cabelos sabia, achava que era?...estava espumando de raiva, quando achava que tinha dado o golpe de misericórdia naquela "criança", eis que leva uma baldada de água gelada na cabeça...
Depois de alguns segundos fazendo caras e bocas, decidiu escolher algum filme para ver. Já que estava no cinema - que era super condizente com a sua idade, muito obrigado- iria aproveitar.
De preferência, queria ver um filme de terror, com bastante sangue, luta, tiranias, barbáries, torturas... com a ira cravada em sua alma, o que menos precisava agora era ver um romance -dor- de barriga...
Então escolheu um título: " A carnificina da navalha psicopática", Proibido para menores de 18 anos, devido ao conteúdo explicitamente assassino e monstruoso... - "Excelente" - pensou ao escolher o filme.
Pisando duro, entrou na fila para comprar seu ingresso e logo depois foi até a carrocinha de pipoca, onde comprou o maior pote que estava a venda, juntamente com uma lata de refrigerante. Rumou para a sala de cinema onde sentou em um dos assentos da última fila. As luzes se apagaram e dali a alguns minutos o filme se iniciaria.
- Quem sabe um pouquinho de terror melhore o meu astral... - falou para ele mesmo. - Hoje, nada nem ninguém estragará mais o meu dia, senão, não me chamo Severus Snape.
Continua...
N/A: Olá, gostei desta coisa de escrever fics, porém, fico muito mais contente quando vcs., nobres leitores, utilizam um tempinho de seus dias para dar uma lida nas minhas histórias. Esta é a terceira apenas...
Comentários, críticas e sugestões serão muito bem vindas. Beijão e até o próximo capitulo!!!
