º°º ... º°º
"Eu nunca fui uma pessoa bonita...".
"Eu sempre tive medo do que as pessoas iriam pensar sobre mim... sobre a minha aparência...".
"Quando se tem 16 anos, as 'coisas' ao seu redor parecem ficar estranhas... confusas... distorcidas".
"Acho que estou perdido".
º°ºBeauty Fake º°º
Segunda-feira, 17 de setembro de 2007.
07:11h
Um quarto simples de cor clara, com móveis que qualquer adolescente teria, e uma decoração típica para aquela idade: fotos de ídolos, retratos de parentes e amigos queridos em meio a objetos de grande estima.
Em frente a um grande espelho, límpido como a água, um pequeno jovem de cabelos dourados e pele extremamente clara abotoava os últimos botões de sua camisa branca de algodão. Tarefa executada, então era o momento de dá o nó na gravata de seda com listras azuis e vermelhas, e adornada com um pequeno bordado no formato do símbolo da escola. Vendo-se vestido diante do espelho, tendo com as mãos tirar os leves amarrotados que a camisa apresentava, ele tentava com ajuda do pente alinhar a franja sobre a testa. Missão cumprida, ele colocou o material de estudo dentro da mochila. Colocou a mesma sobre o ombro tendo o cuidado de fixá-la sobre o membro e com a outra mão que estava livre, agarrou o paletó que completava o fardamento.
Ele saiu caminhando vagarosamente do quarto em direção à cozinha. No recinto, sua atividade era a mesma que fazia todos os dias antes de ir à escola: preparar o seu almoço. Uma dieta rígida que não podia ser maculada era a sua rotina. Uma preocupação quase que cega, doentia, alimentada pelo medo que sentir, novamente, o que aconteceu há 11 anos. Isso era o pesadelo que ele vivia, ao invés de sonhando, era acordado e brigava deslealmente com a realidade.
Iria: Quatre?... Você irá se atrasar para ir à escola!
Quatre: É só eu terminar de arrumar a minha marmita!
Iria, irmã mais velha de Quatre, caminhou até a bancada de mármore enfeitada com alguns eletrodomésticos e adornos, e que também servia, às vezes, de mesa para as refeições mesmo com a existência de uma destinada para a função. Ela se apoiou sobre o local para tentar dialogar com o irmão mais novo.
Iria: Preocupado com a alimentação de novo? – ela sorria docemente para ele.
Quatre: Eu não posso me descuidar... se não engordo e...
Iria: E nada de ruim irá acontecer com você! – Iria saiu da posição que estava, colocou as mãos macias sobre os ombros do garoto na tentativa de acalmá-lo – Vamos! Você tem que relaxar mais com você mesmo.
Quatre sorriu timidamente para a irmã e continuou arrumando a sua pequena marmita com a alimentação indicada pela nutricionista que ele seguia à risca já fazia alguns anos. Nada de açúcares artificiais, gorduras ou sal e carnes em excesso; muitas fibras, líquidos que não contenham lactose, frutas, legumes e verduras diversas.
º°º ... º°º
07:17h
"Não é tão fácil assim..."
"Eu me sinto como um cristal que tem que ser protegido. E isso, esse cuidado, vem desde que eu tinha quatro anos...".
A campainha soa. Três toques seguidos que parecem anunciar a chegada do visitante ao imóvel dos irmãos. A irmã vendo a concentração do irmão mais novo preocupado em organizar os alimentos de forma harmônica, ela se ofereceu para ir ver quem era. Perguntou por precaução, mesmo sabendo que naquele horário somente um velho amigo da família iria visitá-los.
Iria: Bom dia Duo!
Duo: Bom dia "maninha"! Cadê o pequeno príncipe? – o jovem de cabelos avermelhados, longos, presos em forma de uma traça. Ele estava alegre, com o sorriso amplo e brilhante no rosto, o que era uma marca pessoal. Sem pedir licença, e já habituado com o local ele foi entrando a procura do amigo. Quando o encontrou, Quatre logo tratou de cumprimentá-lo.
Quatre: Oi Duo! Bom dia... Estou só terminando de guardar o meu lanche e a gente já vai!
Duo: "Tchudo bien", sem pressa.
Quatre: Por quê? – o garoto loiro olhou intrigado para o amigo.
Duo: Você já vai entender... – ele sorriu amplamente denunciando que a sua alegria tinha um motivo especial hoje.
Quatre apenas sorriu em resposta. Timidamente como sempre fazia, porque ele tinha medo vergonha... Tudo organizado, Quatre cumprimentou a irmã, despedindo-se dela com um beijo em uma das bochechas. Duo repetiu o gesto que já era costume desde a infância. Iria atenciosa com o irmão, tratou de avisá-lo que hoje chegaria tarde, provavelmente de madrugada, iria substituir um companheiro de trabalho na residência do hospital local e provavelmente chegaria tarde, mas iria deixar a refeição dele pronta, mesmo sabendo que o irmão era capaz de sozinho executar essa tarefa.
Os garotos desceram calmamente o lance de escadas. Quatre morava no segundo andar, para evitar o cansaço com as subidas e descidas dos degraus. O amigo, Duo, morava no andar de cima. Quando terminaram de descer, Quatre sentou-se um pouco para esperar o amigo.
Duo: Fica aí um pouquinho. Daqui a pouco a gente vai.
Quatre: Eu não tô entendo.. Será que tá frio?
Duo: Eu não sei... Mas é melhor você vestir o paletó.
º°º ... º°º
07:28h
"Frio...".
"Estava frio também quando aconteceu 'aquilo' há quase 12 anos. Só que já era inverno, e ainda estamos no fim do verão...".
Quatre: Você devia parar com isso! Faz mal à saúde!
Duo: É só unzinho. Depois chupo umas balinhas e ninguém percebe.
O loiro bufou de aborrecimento, mas ele sabia que para o amigo, fumar um cigarro logo cedo, antes de ir para escola, era quase sagrado. Foi um hábito aprendido com um ex-namorado mais velho do que o garoto de trança. Duo sempre se envolvia com homens mais velhos, não senhores ou idosos, mas jovens que já estavam na universidade e, muitos deles, já eram donos do próprio nariz. E mesmo com a recomendação do loiro, duo sabia que aquilo era nocivo não à saúde, mas inconsciente não para sua, mas sim a de Quatre, já que ele estava distante do garoto.
Quatre: Por que a gente tá demorando tanto?
Duo não respondeu. Quer dizer, apenas sorriu para o amigo, tentando confortá-lo com o gesto. Eram duas atitudes opostas: um estava agitado, batendo a ponta dos pés sobre o chão demonstrando todo o seu nervosismo por está esperando o amigo tomar alguma atitude e saírem logo dali para tomar o seu rumo; enquanto o outro tentava apreciar cada segundo do seu solitário pedaço de fumo em baforadas lentas que pareciam querer criar figuras no ar.
Parecia que realmente estava frio. Quatre já estava com o paletó do fardamento, mas ao ver as suas unhas com um tom leve de roxo, resolveu colocar as luvas que costumava usar nesta época do ano. Para cada estação, um tecido diferente, para as quentes era algodão, e para as frias era couro. Quando saiu de casa não tinha certeza da temperatura externa, então resolveu levar as de algodão. O roxo trazia más lembranças para Quatre... Coisas que ele não gostava de lembrar.
Duo: Agora nós podemos ir! Vamos lá "mio puttino"! – ele apagou o que restou de cigarro na parede do condomínio e jogou o resto numa lixeira. Colocou o paletó do fardamento e pôs a mão direita no bolso do mesmo lado da vestimenta.
Quatre: Eu não gosto que você me chame assim! Parece algo pejorativo!
Duo gargalhou alto. Ele se divertia com as expressões de emburrado que o rosto do amigo transparecia, mas sabendo que mesmo passando de uma brincadeira bem intencionada, ele tratou logo de se desculpar.
Duo: Bobo! Só chamo você assim porque você lembra um anjinho, com esses cabelos loiros, olhinhos azuis e pele alva – Duo se divertindo com as próprias palavras, apertou com as bochechas coradas do amigo fruto da maquiagem sutil usada para esconder a palidez que era uma recomendação da dermatologista.
º°º ... º°º
07:34min
"Eu sou baixinho para os padrões norte-americanos".
"Tenho 1,60mt de altura, e o meu cardiologista disse que irei crescer só mais 5cm no máximo".
"Culpa das doenças que me seguem...".
Quatre cruzou os braços representando sua indignação pelo apelido dado, embora ele soubesse que com Duo não adiantava. O amigo gostava de falar algo em italiano, dizia que fazia se lembrar de seus pais que morreram quando ele ainda era pequeno. Mas mesmo sabendo dos sentimentos dele, o loiro ainda estava chateado por provavelmente terem que chegar atrasados. Mas o que o preocupava não era realmente o fato de chegarem atrasados, o verdadeiro motivo era que eles iriam chamar atenção, e para Quatre, já bastava as pessoas à sua volta viverem constantemente sentindo pena dele.
Os finalmente saíram do prédio e Duo colocou trás balinhas brancas na boca que vinham em uma caixinha transparente, de acrílico. "Tic-tac". Esse provavelmente era o nome da marca, mas Quatre não sabia ao certo, porque nunca havia provado já que tinha açúcar como parte da fórmula. Quatre seguia Duo e dos de repente pararam em frente a uma moto.
Duo: Agora nós podemos ir!– Duo balançou as chaves do veículo diante dos olhos do amigo - Surpresa para você!
Quatre: Uma scotter?!
Duo: É! Ganhei de presente de aniversário... Eu sei que só em novembro, que ainda faltam dois meses, mas eles me deram por causa das boas notas do ultimo ano. Só que ainda não tinham liberado, aí conversei com a minha tia e ela disse que tudo ok por hoje. Vamos?
Quatre: Sim...
"Duo era o meu amigo mais próximo e mesmo tendo respondido que 'sim', acho que ele notou a minha insegurança, afinal, ele muitas vezes agia de forma impulsiva e infantil...".
"E eu não queria morrer tão jovem...".
º°º ... º°º
07:44 h
O caminho até a escola foi mais rápido do que o de costume, graças ao veículo de duas rodas que apesar da insegurança inicial, Duo dirigia com cuidado e respeitava de forma segura as leis de trânsito, ambos usavam capacete. Duo tinha mandado fazer um especialmente para Quatre, azul do mesmo tom dos olhos do loiro e com o desenho de um par de asas brancas do lado esquerdo do objeto; enquanto que outro era preto como desenho de uma cruz ficada por uma foice e aparentemente por detrás havia a imagem de um par de asas de morcego.
Duo estacionou com cuidado a moto nova, não queria arranhá-la. Guardou os capacetes dentro do compartimento que havia embaixo do banco e travou o veículo. Os dois haviam chegado cedo, quase não se via alunos pelos corredores. Foi bom assim, poderiam saber onde suas salas de aula seriam esse ano. Apesar de serem próximos, eles tinham tanto semelhanças quanto diferenças. Ambos gostavam de gramática e literatura, como também ambos faziam parte do clube de economia doméstica. Entretanto, Quatre gostava de matérias mais voltadas para o lado psicológico e questionador da pessoa, como artes – ele fazia parte da orquestra musical da escola - e de história e francês. Já Duo preferia as que mexiam com o físico, como educação física - e ele fazia parte da equipe de basquete - e matérias mais racionais como cálculo aplicado e física quântica.
Aquele era só o primeiro dia de um ano novo que estava por vim. Eles estariam juntos como inúmeras vezes estiveram, e acompanhados de alguns velhos companheiros de sala: Relena, amiga de infância que morava no mesmo prédio deles, mas depois que o pai virou deputado, teve que se mudar, mas ela fez questão de continuar mantendo contato com os amigos; Dorothy que desde criança era apaixonada por ele; Hilde, prima de Duo e que antes de vim morar nos EUA, passavam as férias com o primo. Infelizmente este ano não estariam presentes nem Wu-Fei, nem Meilan, o casal chinês que Duo adora torturar com as suas brincadeiras bobas, porque o período do intercâmbio havia terminado no mês anterior.
Relena: Bom dia Duo, bom dia Quatre! – a garota cumprimentou sorrindo.
Quatre: Bom dia Srta. Relena.
Duo: E aí gatinha! Bom dia pra você também.
Relena: Você não muda mesmo Duo! – ela riu da brincadeira do amigo e aproveitou para fazer um pedido a Quatre – Quatre, não precisa ser tão formal comigo, afinal somos amigos de infância, me chamar por Relena já está bom.
Quatre: Certo...
Hilde: O professor chegou!
º°º ... º°º
08:06 h
"Zechs Marquise".
"Nosso professor de química e meu segundo amor não correspondido."
"Eu fui rejeitado por ele, de forma gentil".
"Na época ele me disse que estava noivo e, atualmente, está casado com a professora de educação física da nossa escola, a professora Lucrecia Noin".
O belo professor de química dispôs os livros sobre a mesa e escreveu no quadro branco "Zechs Marquise, Físico-química". Além de ensinar química quântica e geral, era professor daquela disciplina. Estudava no último ano do curso de engenharia química da Universidade de Nova Iorque e aproveitava as horas livres para lecionar. Os alunos gostavam dele, era simpático. Dominava e explicava com facilidade o conteúdo de suas aulas. Era admirado por muitos e, também, odiado por muitos.
Zechs: Bom dia classe! – falou sorrindo para os alunos.
Classe: Bom dia!
Zechs: Vocês parecem animados este ano – continuava sorrindo e reparou que Quatre e Duo estavam conversando – Estou vendo novos rostos... e reconhecendo alguns antigos. Bom dia Sr. Maxwell.
Duo: Olaaaáá professorzinho – Duo abriu mostrou o grande sorriso, depois, sussurrou no ouvido de Quatre, 'Esse cara me irrita!' – Como é que vai a Srta. Noin, quer dizer, Senhora Marquise? – terminou com uma piscadela para o professor.
Zechs: Estamos em uma sala de aula e não em um dos corredores Sr. Maxwell.
Duo bufou enquanto Quatre ficou triste. Seria mais um ano letivo vendo a pessoa, que apesar de tudo o que aconteceu, ele ainda gostava. De acordo com o horário de suas aulas, eles se veriam às segundas e quartas. Mas aulas que ele gostava de verdade seriam às quintas: aulas de música, onde ele podia tocar o seu violino, expressar o que sentia. Ele não estava concentrado naquela aula do professor de quem gostava, pelo contrário, estava distante, pensando que perderia o dia primeiro dia de sua matéria preferida e nem reparou na revisão que estava sendo feita.
"Essa semana eu só verei o professor Zechs por hoje. Ainda bem".
"..."
"Que pena... vou ter que faltar o primeiro dia da aula de música. A Srta. Lili vai ficar chateada..."
º°º ... º°º
13:15 h
Em geral, os horários pela manhã eram fixos, quer dizer, os alunos de uma mesma turma ficavam juntos. Poucas eram as exceções, como casos de alunos estrangeiros que precisavam aprender determinados conteúdos obrigatórios ao currículo da escola, ou casos de alunos avançados, remanejados para turmas mais adiantadas.
Hora do almoço. Era o intervalo principal da escola, embora houvesse pequenos intervalos de dez minutos para que os alunos se deslocassem de uma sala para outra dando tempo de fazerem suas necessidades básicas, como beber água ou ir ao banheiro ou mesmo de namorados se encontrarem para uma leve demonstração de afeto.
Nesse horário os alunos tinham a opção de comerem o que era oferecido do refeitório ou trazerem o próprio lanche d casa. Jamais era permitida a saída dos mesmos para comprar a sua comida em locais próximo do estabelecimento. Regra da escola que se fosse rompida gerava uma séria punição. Não havia determinação de onde poderia ser feita a refeição, portanto que o local estivesse limpo e a comida devidamente colocada em uma das lixeiras disponíveis para seu determinado tipo: metal, vidro, plástico, papel e orgânico. Os amigos não gostavam do ambiente do refeitório, julgavam como barulhento e preferiam as sombras das árvores que ficavam próximas do estacionamento dos professores.
Duo: Você vai levar quanto tempo para fazer os exames? – ele comia uma barra de chocolate e ao seu lado estava uma pequena garrafa pet de refrigerante de cola.
Quatre: Dois dias. É o tempo suficiente para fazê-los – tomou um gole do seu suco de pêssego à base de soja.
Duo: Quer dizer que esse ano... – deu outra mordida no doce– nada de exercícios físicos de novo?
Quatre: Acho que não...
Duo: Sério?! – o jovem de trança sorriu amplamente com a resposta – Você vai poder fazer aula com a gente?
Quatre: Acho que sim – o loiro sorriu timidamente para o amigo enquanto desembrulhava o sanduíche natural que havia preparado logo cedo -, o meu clínico disse que a minha pressão estava ficando estável por causa das caminhadas... e ele acha que as aulas de educação física podem ajudar.
"Eu era obrigado a todo dia medir a minha pressão. Era instável, e sempre acima do normal".
Duo: Você devia fazer alongamento...
"Aulas de alongamento...".
As aulas de educação física eram dividas em estilos: ginástica aeróbica, localizada ou alongamento. Realizadas cada qual em um dia específico que ficava a critério do aluno escolhê-lo. Essas atividades eram destinadas aos que não faziam parte de nenhumas das equipes esportivas da escola, embora até mesmo os que participavam gostassem de freqüentá-las. As aulas de alongamento eram às sextas-feiras. Eram sempre divertidas, movimentadas e todos diziam que faziam bem à mente e aos músculos, principalmente ao coração.
º°º ... º°º
"Se me dissessem ontem que o conselho de Duo mudaria a minha vida, eu não teria acreditado".
"Mas só na sexta-feira eu pude ter a prova disso".
Continua...
Olá! Estou de volta, depois de meses sem colocar nehuma história aqui no fanfiction... É a vida atarefada! Ai, ai... Bem eu trago para vocês uma nova história com o meu casal super fofo e querido Tro e Qua, mas também dessa vez teremos um pouquinho de Hee e Duo. Espero que vpcês gostem e mandem reviews. bjux
