[Março] E por favor, não vá embora
Título: E por favor, não vá embora
Autor: Kuny
Gênero: Hurt / Comfort / Friendship
Classificação: Livre
Shipper: Yuuki e Zero
Universo: Vampire Knight
Sinopse: Ela sempre soube que iria perdê-lo.
Spoilers: Capítulo 46 do mangá, e fim de Guilty.
N.A: Momoyama-san, citada na fic, é uma personagem que aparece num extra do mangá. Só uma senhora que é babá/empregada/governanta/qualquercoisaassim, contratada pelo diretor.
"Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba"
E por favor, não vá embora
Quem não aprecia a vida não merece viver.
Mas aquela já não era mais a vida dele. Era o sangue de Yuuki correndo em suas veias – era a vida dela.
Era ela quem o fazia viver, embora estivesse fadada a perdê-lo.
"Vocês dois terão o tempo que quiserem para dizer adeus"
...Yuuki sempre soube disso. Foram três vezes, agora. Três quase-despedidas em quatro anos. E uma única certeza, em todas elas.
*
Tinha onze anos.
Ela mal despertara de seu pesadelo habitual, e vieram as batidas na porta, apressadas. Era o diretor, provavelmente. Yuuki olhou para o relógio. Quase meia-noite.
Ao abrir a porta, um sopro de neve esbofeteou-lhe, como se quissesse despertá-la direito, prepará-la. Não precisou – não dera tempo -, e a visão foi mais que suficiente para sacudí-la.
Um garoto, manchado de sangue. E em algum lugar, a voz do diretor ecoava.
"Yuuki! Desculpe por chegar tarde..."
Ela tremeu. Culpa do frio, disse para si mesma; está muito gelado.
"...Este é Zero Kiryuu. Seus pais foram assassinados por vampiros maus. De agora em diante, eu vou cuidar dele."
Levou algum tempo até saber exatamente o que fazer. O garoto parecia tão quebradiço, tão frágil, que ela chegou a ter receio de machucá-lo, se o tocasse. Mas o fez, quando não viu outra opção. Tocou-o, e assustou-se com a temperatura do menino; ele estava tão frio e pálido que Yuuki chegou a pensar que ele poderia ser um boneco de neve.
Vermelho.
Ele não se movia. Congelado, e não estava ali. A preocupação engasgou-se em algum lugar pelo corredor da garganta dela. Um arrepio arrebatou-a.
Yuuki teve medo.
Não do garoto, mas de seus olhos. Ela teve medo da imagem que estava cravada neles.
Não demorou muito para descobrir o que seria. Mais exatamente, ouvir – os gritos.
Ela correu até o quarto ao lado, agitada, e encontrou Zero gritando, mergulhado em meio à escuridão do quarto e de seu pesadelo. Havia algo de metálico em sua voz. Muito sólido, cortante, lâmina; e machucava – desespero.
Ela tomou-lhe a mão, e sussurrava a ele que estava tudo bem, como se rezasse. De alguma forma, doía a ela vê-lo sofrer daquele jeito.
Faça parar, ela pensou. Faça parar.
Ele suava. Inacreditavelmente muito gelado, a despeito dos cobertores que se esforçavam para aquecê-lo.
Yuuki não soltou sua mão uma vez sequer, durante a madrugada inteira.
Depois daquela noite, sucederam-se outras. O escuro sem lembranças dela pela assustadora realidade dos pesadelos de Zero. Para Yuuki, havia menos tempo para dormir, e, portanto, menos sonhos ruins, ao menos em quantidade. O que não significava que eles não estivessem à espreita; sempre estavam. Entretanto, ela já não se importava mais.
A vígilia custou-lhe duas pequenas marcas negras abaixo do olhos. Um preço irrisório, porque quando ela via a expressão suave nas linhas do rosto dele, sentia que valia a pena. E sem saber, ela sorria - ela o protegeria.
Zero acordou surpreso quando, um dia, despertou tranquilamente. Yuuki estava ao seu lado, como sempre; mas os olhos eram perplexos, brilhavam. E antes que ele perguntasse algo, ela o fez primeiro:
"Você teve algum pesadelo hoje?"
Ainda deitado, Zero tentou se lembrar de alguma coisa; sabia apenas que tivera um sono calmo. Começou, porém, a achar que sim, tivera um pesadelo, porque sentiu algo molhado em seu rosto. Salgado. Suor, pensou. Talvez, talvez não se livrasse nunca dos pesadelos.
Foi quando Yuuki o abraçou. Ela estava sorrindo e chorando, e as lágrimas percorriam o seu rosto, calorosas.
Ele podia ter sonhos novamente.
E ainda sem entender, sem se dar conta, ele também a abraçou.
Mais tarde, naquela mesma noite, quando ele já dormia, Yuuki entrou em seu quarto. Sentou-se ao lado de sua cama. Ela apoiou a cabeça nos braços, debruçados sobre o colchão, e observou o rosto tranqüilo de Zero. E sorriu. Um pouco cansada, mas o peito leve para respirar feliz.
Yuuki não teve mais pesadelos.
"Durma bem, Zero."
Contudo, eles apenas esperavam.
Aquela paz durou por algum tempo, apesar dos ocasionais pesadelos de Zero, e das brigas entre eles. Ficara tudo bem; até que, poucas semanas depois, Momoyama-san mandou-a ao escritório do diretor, a fim de chamar a ele e Zero para o almoço. Os dedos de Yuuki estavam prestes à bater na porta, quando ouviu a voz dele.
"Não importa o que você diga, diretor... um dia eu irei atrás daquela mulher, e vou matá-la."
Yuuki deixou a mão escorregar pela lateral de seu corpo.
À noite, em seu quarto e sozinha, ela chorou. Por um breve momento, ela pensou que havia conseguido.
Ela quis que ele visse naquela casa o lar que havia perdido. Ela quis que ele visse, neles, a família que havia lhe sido tirada.
Ela chorou. No fundo, sempre soube em que ele estivera pensando, o tempo todo.
Quando conseguiu controlar os soluços, dirigiu-se ao quarto de Zero; como se quissese garantir que ele ainda estava lá. Que ele ficaria.
Ele estava adormecido. Yuuki sentou-se, novamente, ao lado da cama. Fitou o rosto dele, até que suas pálpebras cobrissem por completo os olhos inchados.
Você vai mesmo embora?
A pergunta não feita no silêncio. Os olhos cerrados. A imagem de Zero, ainda em suas pálpebras.
Talvez ela já estivesse apegada demais a ele.
"Não sei porque você faz isso por mim, mas..." O sussurro tornou-se ainda mais baixo. "Obrigado."
Achou que ouvira sua voz. Mas os olhos dela estavam fechados, e ela já estava dormindo.
Talvez tivesse sido apenas um sonho.
*
Teria sangue. Bastava pouco mais de um minuto.
E a cada instante que passava, ele se ia mais um pouco. Bastava o tempo.
Ele encarou-a. Ela não deixou de pensar que o vermelho em seus olhos não era sede, mas culpa - queimando a garganta, a sanidade dele, fazendo os olhos dela arderem também.
Diferente dele, Yuuki não cerrou os olhos. Porque sabia que, se o fizesse, deixaria um rastro salgado em seu rosto.
"Yuuki", ele murmurou, perto de sua pele. A pressão da mão dele sobre seus ombros aumentou. "Me desculpe."
O sussurro dele era a respiração que batia contra seu pescoço. Expiração, inspiração; arfante, hesitante – dor pungente. Um leve tremor; os lábios contra sua pele.
Os dedos dele a puxaram para mais perto, com uma força que poderia deixar marcas em seu cabelo.
Os dedos dele, emaranhados no cabelo dela.
"Ei! Onde você estava? Você está atrasado, sabia?"
A mão dele sobre sua cabeça - geralmente, era assim que ele a cumprimentava, quando chegava para a patrulha. Quase sempre, pouco pontual. E ele lhe respondia, apenas:
"Idiota."
Nisso, Yuuki lhe dava um belo soco no estômago.
Zero se surpreendeu quando, numa noite, ela não disse nada. E também mais tarde, quando a flagrou encarando suas costas, o olhar apertado. Dirigiu-se até ela, e deu-lhe um tapa leve na testa.
"Boba. Você não precisa franzir as sobrancelhas desse jeito."
Mas ela pôde ler as palavras dele:
"Você não precisa se preocupar comigo."
A mão dela fechou-se em suas costas, com também força. Como se pudesse impedí-lo de ir embora, de que decaísse até um Level E – como se pudesse impedí-lo de morrer.
Ela fechou os olhos; uma pontada de dor. E jurou para si mesma que aquele gosto salgado era suor frio, e não uma lágrima. Porque ela tinha que ser forte, por ambos. Para apoiá-lo, para não deixá-lo cair.
E por favor, não vá embora.
*
Tinha acordado, depois de dez anos. Os braços que fecharam-se ao seu redor, os lábios contra o seus, e as mãos que a afastavam, dizendo para Yuuki que ela poderia viver a eternidade – onde as coisas simplesmente não acabassem.
Onde Zero fora apenas seu sonho humano.
E é assim que termina?
De certa forma, ela já sabia - ela sempre soube que iria perdê-lo. Não era uma surpresa. Ela permaneceu impassível, os olhos fixos nas costas dele, Zero partindo.
Então, por que doía tanto?
"Na próxima vez em que eu encontrar você, eu irei matá-la, Yuuki..."
E um algo no coração dela iluminou-se, ao encontrar uma resposta naquelas palavras. Quase a fez sorrir, e dóia. E talvez aquilo fosse fé.
Porque ela acreditava. Porque a vida dela era a dele, então, de alguma forma, ele era sua vida também. Porque aquela era a única maneira de fazê-lo ficar. Viver.
Porque ela não diria adeus, apesar de tudo.
"Se é assim, eu fugirei de você, Zero... então você terá uma razão para viver, enquanto ainda tiver inimigos para perseguir..."
E por favor, não morra.
...Ela não o deixaria ir.
"Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou"
Fim
N.A: Na verdade, essa fic foi escrita bem antes até do espantalho. A fic espantalho seria, acho, um espelho dessa aqui. Uma visão do Zero, outra da Yuuki. E é a última vez que exploro o capítulo 46. haha
-"E por favor, não vá embora" nem é sobre o romance entre esses dois. Acho que é muito mais essa amizade que eles construíram nos quatro anos de convivência. E eu acho bonito mesmo, sabe. Mesmo que a gente se decepcione com a atitude do Zero no final, não tira a beleza dessa amizade.
- E é isso aí. Reviews são bacanas, e eu sou cara de pau. (-q)haha
- Adendo: Trechos de Por Enquanto, do Legião Urbana. ;)
