INTENÇÕES DE UMA DEUSA - Capítulo 1
Era a primeira vez que punha os pés naquele lugar, mas já havia perdido a conta de quantas vezes estivera ali em seus sonhos. Ele pertencia a aquele lugar, sempre soube disso. Louis Kamus III era um jovem de longos cabelos azuis-escuros. Os olhos tinham a mesma cor dos cabelos, talvez um tom mais claro, chamavam a atenção pela frieza que reproduziam. Rico, herdeiro de uma das maiores fortunas da Europa. Porém, seu único desejo era ser cavaleiro. Após 6 anos de árduo treinamento na Sibéria, ele finalmente estava no Santuário de Athena.
Todos os jovens aspirantes a cavaleiro de ouro estavam reunidos na arena central do Santuário. Eram 15 rapazes, com as idades entre 13 e 16 anos, sendo 3 candidatos para cada casa que ainda estava desocupada (Áries, Touro, Virgem, Escorpião e Aquário). Os jovens estavam esperando a orientação do mestre do Santuário: Shion. Ele daria explicações sobre como seriam os 2 anos e meio de treinamento, até o dia da entrega das armaduras aos merecedores.
- Hei você! É novo por aqui, não é? – Louis olhou para o lado e viu que um jovem que deveria ter a sua idade, cabelos azuis da cor do céu, falava com ele.
- Sou – Disse com um tom seco, não estava a fim de papo.
- É, nunca o vi antes. O meu nome é Miro, estou concorrendo à armadura de Escorpião. E você?
- Kamus, Aquário - Resolveu apresentar-se pelo sobrenome, isso manteria as pessoas longe de sua intimidade.
- É um homem de poucas palavras, Kamus – disse Miro, rindo do jeito sério do sério do aquariano. – Mas é adequando para o grupo. Venha quero que conheça algumas pessoas.
Kamus seguiu o escorpiano meio a contra gosto, mas sabia que era melhor começar a se relacionar com as pessoas com as quais iria conviver por, pelo menos, os próximos dois anos e meio. O grupo ao qual Miro se referia era, no mínimo, eclético, quando se avaliava a aparência de cada membro.
- Este é Mú, candidato praticamente dono da armadura de Áries. Sabe como é, ele é o querido discípulo do grande Shion, o mestre do Santuário. O caso dele é marmelada!
- Não diga essas coisas Miro, só serei sagrado cavaleiro, se for realmente digno – Repreendeu o rapaz que parecia ter bolinhas no lugar das sobrancelhas, os cabelos lilases iam até um pouco abaixo dos ombros.
- Hum hum, sei – Miro ria do constrangimento de Mú – O gigantão aqui é o "Deba", na verdade, Aldebaram, armadura de Touro.
- Oi – cumprimentou, risonho, o jovem que, com 15 anos, já tinha quase dois metros de altura.
- E por último, o "nosso Shaka" – Kamus sentiu a irônica demonstração de respeito de Miro pelo último jovem, que era magricela e loiro – a "virgem", quero dizer candidato à armadura de Virgem. Abra os olhos Shaka, não seja mal educado.
- Dispenso suas brincadeiras infames, Miriano – disse o virginiano, e acenando com a cabeça cumprimentou o novato – É um prazer recebe-lo no grupo...
- Kamus, meu nome é Kamus.
Os rapazes ficaram conversando. A idéia era fortalecer os membros do grupo para que as armaduras ficassem entre eles. Apesar da relutância inicial, Kamus achou a idéia até interessante.
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Ele corria a toda velocidade pela floresta, chagava a bater nas árvores. Estava muito atrasado, queria chegar à arena antes que o mestre começasse a falar. Quando chegou aos portões, foi barrado por um grupo de guardas.
- Sabe que quem não está disputando armadura não pode entrar na arena hoje. Dê o fora, moleque! – disse um dos guardas.
- Saiam da minha frente, eu não vou demorar e não quero ter que usar a força. Vocês sairiam perdendo – Retrucou um rapaz de cabelos castanho médio com corte surfista e olhos cor de mel.
Os guardas não eram idiotas, o garoto tinha um cosmo poderoso e se não fosse o fato de Sagitário já ter cavaleiro – ainda que este estivesse morto – com certeza seria um forte candidato para ocupar a casa. Resolveram que era melhor fazer vista grossa e deixar o garoto entrar, do contrário seriam "atropelados".
Não foi difícil para o jovem encontrar àqueles que procurava, a arena estava anormalmente vazia e a altura de Aldebaram se destacava entre os demais bem como os discretos cabelos de Mú.
- E então, já completaram o quinteto fantástico? Qual dos 3 trouxas de Aquário vocês escolheram? – Disse aproximado-se do grupo que estava reunido num lugar mais afastado.
- A língua não para a boca, né Antony? Vai assustar o rapaz, já chega xingando. Onde estão seus modos? – respondeu, Miro.
- Só mesmo um trouxa para concordar em se unir a vocês – disse Antony.
- E é justamente por essa razão que você está sempre em nossa companhia - Mú falou sarcasticamente.
- Isso é claro – Antony ria da resposta, por sinal, mais que apropriada de Mú.
- Ok, Ok, bem Antony conheça Kamus, futuro Aquário – Apresentou Aldebaram.
Kamus saiu de trás de Deba e ficou de frete para Antony. "O que é isso, não pode ser eu... eu to com as pernas bambas. Ai meu Zeus, ele é lindo. É simplesmente o homem mais lindo que eu já vi. Ah, por favor isso não pode estar acontecendo, não comigo." Foram os pensamentos que Antony teve assim que pôs olhos no candidato a cavaleiro. Jamais alguém fizera com que pensasse assim, até mesmo por que ele só tinha 12 anos e coisas como amor e atração física eram raras em sua mente. Ficou completamente sem reação com os olhos vidrados no rapaz que, apesar de aparentar a mesma idade de Miro, apresentava uma postura muito mais madura e máscula.
Percebendo o silêncio que se instalou e as interpretações que disso poderiam vir, Shaka resolveu agir:
- Não fique ai parado feito idiota, Ann. Sei que você é assim, mas se incomodaria de ser normal ao menos por um dia e cumprimentar o rapaz.
Os dois deram-se as mãos. O toque da mão de Kamus na sua fez com que Antony sentisse o estomago afundar na barriga causando uma sensação de agonia que não o deixava falar.
- Prazer – Disse com frieza o aquariano tirando sua mão da do jovem. De todos os rapazes que conhecera aquele dia, este era, sem dúvida, o mais estranho e o que menos lhe agradou. O jeito com que aquele rapazinho olhou, definitivamente o deixou desagradado.
- É... é... é, bom é... um prazer também – O jovem gaguejou respondendo ao cumprimento – Tenho que ir, se o mestre me ver aqui, vai dar problema – Isso ele falou com firmeza parecendo ter saído do transe com o olhar gélido que Kamus lhe lançou.
Saiu da arena com a mesma velocidade que usara para chagar, mas desta vez algumas lágrimas fizeram parte da corrida.
- Voz delicada, heim? - Disse Kamus com um sorriso de gozação que contradizia a frieza até agora demonstrada.
- Não seja tão maldoso, o menino só tem 12 anos, ainda esta trocando a voz – defendeu Mú.
"Mas do jeito que ele me olhou parece que apesar da indefinição da voz ele já tem outras coisas bem definidas na vida dele". Pensou o aquariano se arrepiando com a idéia de ter que suportar as investidas daquele moleque. Ele era muito amigo do resto do grupo e acabaria tendo que vê-lo com frequência. Kamus detestou a idéia, mas a vontade de fazer um bom treinamento era maior.
Shaka pegou Miro pelo braço levando-o para um canto:
- Não gostei nada da reação dela.O garoto novo é um problema. Ao que parece ela gostou muito dele, se é que me entende... Assim que acabarmos aqui vá falar com ela. Esse tal de Kamus não é nada bobo e vai acabar descobrindo. E ele aparenta não ter muito gosto em burlar regras, se descobrir, vai falar.
Miro balançou a cabeça concordando com Shaka. Kamus não inspirava nenhuma confiança com aquele jeito misterioso. Seria muito perigoso se ele descobrisse o segredo mais bem guardado do Santuário.
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- Sabia que estas casas têm eco? Pude ouvir seus soluços das escadarias. Apareça! Temos que conversar... – Disse uma voz em masculina que ela conhecia muito bem.
- Vai embora Miriano, não estou a fim de conversar, principalmente sobre o jeito idiota como eu agi – respondeu uma voz chorosa.
- Correr para o colo do papai não vai resolver.
- Meu pai não esta aqui, sabe disso, não estou correndo par o colo de ninguém!
- Sempre vem para Sagitário quando está triste. Acha que o espírito dele vai confortá-la? Sabe que não tem permissão de andar pelas doze casas.
- Você também não tem, ainda não é cavaleiro de ouro – Disse o jovem, que até agora conhecíamos como Antony, saindo de trás de uma pilastra limpando as lágrimas e já esboçando um sorriso. Miro foi até ele e o abraçou com ternura.
- Oh minha irmãzinha de criação e de coração! Não gosto de te ver triste, Annely.
- Eu sei, desculpa. Eu não sei o que me deu, ele mexeu comigo.
- Any, isso é natural. Na sua idade é comum começar a sentir certa atração pelo sexo oposto. Só não imaginava que você tinha esse tremendo mau gosto – Miro sorria enquanto passava a mão pelos cabelos da jovem que mantinha o ar infantil da pré-adolescência – Seu primeiro amor. Ah, Annely isso é tão bonitinho!
- Seu bobo!
- É uma pena! Acho que o lance dele é mulher – Gargalhou com o próprio comentário.
- Miriiiaaanooooo! Eu sou uma mulher, caso não se lembre.
- Eu sei em disso Any,e sempre te tratei como uma menina. Mas ele não sabe, e nem vai saber, trate de se controlar e esquece o carinha. Any, daqui a pouco mais dedois anos você vai para aquele internato, como seu tio Aioria prometeu, e lá você vai poder ser a menina linda que você é, mas aqui não! Não jogue no lixo todos os esforços dos últimos doze anos. Fizemos de tudo para protegê-la e você vai por tudo a perder por uma paxonite!
- Não, isso que aconteceu hoje não vai acontecer mais. Prometo!
Eles novamente se abraçaram. Passaram o resto do dia juntos, como sempre fizeram deste de crianças. Consideravam-se irmãos: o menino aspirante a cavaleiro e a menina, o fruto do proibido e criada como um menino.
