Traduzida em: 01/05/2009

Autora: Rebecka

Capítulo Um

Cinco anos desde a última vez em que eu tinha visto o rosto estúpido e risonho dele. Cinco anos desde que eu tinha tocado suas mãos ásperas. Cinco anos desde que nós havíamos estado no mesmo cômodo. Cinco anos desde que meus sonhos tinham se tornado realidade e, então, viraram completos pesadelos. Cinco longos anos, mas eu ainda estava estável. Eu tinha sobrevivido a Pierre Bouvier e eu ia ficar bem.

Ou isso era o que eu vinha dizendo a mim mesmo, desde que Chuck tinha praticamente me arrastado para o apartamento que ele dividia com Pierre. Ele me prometeu que Pierre não voltaria do trabalho, enquanto eu estivesse lá, o que nos dava bastante tempo para trabalhar no projeto dele.

Eu tinha passado todos os dias no apartamento e casa de Chuck por quase três semanas, sem ser descoberto. Eu estava quase certo de que passaria pela provação sem ele saber que eu tinha estado em sua casa, inspecionado sua vida comum e criticado seus hábitos alimentares. O fato de que ele queria me ver nem sequer importava. Eu tinha deixado-o no meu passado, cinco anos atrás, e não havia motivo em sequer tentar trazer nossa amizade de volta.

O único motivo pelo qual eu estava ajudando Chuck era por que ele tinha transando com alguma garota, e ela estava grávida e dando a luz ao bebê dele em algumas semanas. O problema era que ela não queria ficar com a criança ou continuar com Chuck. Ele ia ser um pai solteiro de um recém nascido, sem nenhum lugar para colocá-lo. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria apensa me afastado no dia em que ele ligou.

-David, por favor! Eu preciso da ajuda de alguém... Eu não consigo fazer isso sozinho. Eu não tenho idéia nem de por onde começar com um bebê!

-Chuck, olha... Eu gostaria de ajudar, mas eu apenas... Eu sequer estou em Montreal.

-Não está?

-Não. Eu me mudei para Nova York há muito tempo...

-Mas... David, por favor! Você é o único esperto o bastante para me ajudar, e Pierre não sabe o que fazer também... Nenhum de nós sabe.

-Arrume uma namorada.

-Yeah, ótima idéia. Arrumar uma namorada há apenas alguns dias do meu filho nascer!

-Eu apenas não quero estar na mesma casa que Pierre, okay? Eu ainda não estou pronto para isso.

-Apenas venha. Por mim. Por favor. Os outros caras vão estar aqui simultaneamente. Mas eu vou ajeitar para que você nunca, nunca encontre com Pierre. Okay? Por favor!

Eu tinha concordado, obviamente, por que, um, eu não tinha nada melhor para fazer e, dois, eu realmente, realmente sentia saudades dos meus amigos. Nova York é ótima, não me entenda mal... Mas algo sobre meus melhores amigos não estarem comigo apenas fez com que tudo parecesse muito diferente.

Chuck tinha comprado uma casa em algum lugar, há alguns quilômetros da porcaria de apartamento que ele e Pierre dividiam. Era uma casa legal, com três quartos e dois banheiros. O tipo de casa que pessoas normais moravam, não ex-famosos que nem sequer eram lembrados. Era em uma vizinhança legal, no lado bom da cidade, o lugar que Chuck sempre quis comprar, mas nunca teve tempo. Eu estava certo de que sua criança iria gostar do lugar quase tanto quanto eu gostei.

A pior parte era empacotar todas as porcarias de Chuck e levá-las quase quatro quilômetros pela rua, vendo a distância do telhado do apartamento em um bom dia. Ele tinha um monte de porcarias, me deixe ser o primeiro a dizer. Roupas, sapatos, baquetas aleatórias, baterias aleatórias, pratos, pedestal, microfone, guitarras, teclados, um estúdio de música trancado em seu armário, mais roupas, mais sapatos, mais coisas de música e minha lista continuava.

Chuck pegava o caminhão de Pierre emprestado todas as quartas-feiras para trazer todos os seus itens de bebê de locais aleatórios onde ele os havia guardado. Seu filho era uma criança sortuda, eu já tinha decidido. Ela tinha tudo o que alguém poderia querer, ou ao menos eu achei que tudo fosse muito legal. Chuck tinha, no mínimo, umas mil cópias de "Como Ser Um Bom Pai" e "Paternidade Solteira". Eu me sentia mal pelo cara.

O quarto do bebê era pintado de verde, com bastante amarelo e azul. Eu achei que parecia bom, mas Chuck estava preocupado que alguém poderia pensar que ele estava tentando ter um filho gay. Eu argumentei que um bilhão de bebês eram normais e todos eles tinham quartos verdes com amarelo e azul. Chuck jurou que ele não se importaria se seu filho fosse gay. Eu apenas encolhi os ombros. O que ele dissesse.

-Hey, David… - Chuck me chamou do quarto do bebê.

-Sim?

-Quanto tempo você pode ficar?

-Provavelmente até que você queira que eu vá embora, por quê?

-Bem... Eu apenas não queria ficar sozinho com o bebê. Eu estava esperando que você ficasse por mais algumas semanas.

-Claro. O que você quiser. – eu concordei. Eu não tinha nenhum outro lugar para estar e a única responsabilidade que eu tinha era um peixinho, mas meu amigo de Nova York estava tomando conta dele, e eu não tinha preocupações.

-Ótimo! Eu estou tão feliz!

Eu apenas rolei os olhos e continuei a pendurar as roupas de Chuck em cabides e pendurá-los no armário. Esse era para ser o trabalho de Sebastien, mas ele tinha ido devolver o caminhão de Pierre, desde que eu não queria ser deixado sozinho na casa. Jeff estava em algum lugar da sala de estar, argumentando com a televisão. Até mesmo Patrick havia feito uma aparição, mais para me ver do que ajudar Chuck. Eu franzi o cenho levemente para mim mesmo, percebendo que eles tinham sentindo mais minha falta do que eu tinha imaginado.

Eu terminei as roupas de Chuck e me juntei a ele no quarto do bebê. Ele já tinha decidido um nome – Casey, menino ou menina – e eu achei que era apropriado. O nome fora bordado em vários cobertores pela mãe dele, e pelas avós dos dois lados. Casey Comeau seria mimado.

-Quando Natalie vai chegar?

Chuck fez uma careta.

-Duas. Que horas são?

-Duas e meia.

-Eu acho que vou ligar para ela.

Natalie era a quase ex-namorada de Chuck, também a mãe de seu filho. Ela deixara claro que assim que Casey tivesse nascido, ela estava indo embora e nunca ia querer nada com eles dois. Estranhamente, Chuck estava bem com isso. Ele vinha planejando terminar com ela dias antes dela lhe contar as novidades. Ele não tivera coragem de terminar com ela depois disso, entretanto, por isso ele ainda estava com ela.

Enquanto Chuck estava no outro quarto, no telefone, Sebastien retornou com o caminhão de Pierre e me encontrou no quarto do bebê. Ele se sentou na cadeira de balanço e se balançou para frente e para trás algumas vezes, antes de suspirar audivelmente.

-O que foi?

-Nada. Eu apenas senti sua falta, David.

-Yeah, eu acho que eu também senti falta de vocês.

-Por que você não vem pra cá de novo? Eu amaria sair mais vezes.

-Eu vou ficar com o Chuck por um tempo depois que Casey nascer. Eu não tenho nada melhor para fazer.

-Eu quis dizer ficar aqui. Para sempre. Não é a mesma coisa sem você.

Eu encolhi meus ombros. Mesmo que Sebastien não soubesse por que eu tinha ido embora, ele tinha uma idéia de quem isso envolvia.

-V-você já falou com ele? – Sebastien perguntou calmamente.

-Não.

-Você não quer?

-Não. Iria acabar virando uma discussão. E eu não estou pronto para perdoá-lo.

-Eu sei.

-Mas eu sinto falta dele, Seb, eu sinto falta dele como o inferno.

-Isso é uma contradição, mas okay.

Eu rolei meus olhos.

-Eu estou abrindo meu coração e você está corrigindo minha gramática?

-É o que acontece quando você vira um professor de inglês.

-Ew.

-E você? Você voltou a trabalhar?

Eu sorri.

-Por um tempo. Tipo, duas semanas. Eu apenas não consegui me adaptar no mundo real.

-Então, o que você faz?

-Eu não faço nada...

-Mas de onde você tira dinheiro? – ele me perguntou, seus olhos se arregalando.

-Eu ajudei a escrever essa música para o álbum de um amigo e, então, eu toquei o baixo para ela e toda a vez que essa música toca, eu ganho um quarto do valor. Vamos apenas dizer que eu ganho um grande bônus, e essa música toca bastante.

-Wow. Que legal. Então, você ainda está fazendo música?

-Não. Foi só uma vez.

Sebastien assentiu.

-Eu quero tocar... Mas apenas não é o mesmo sem vocês.

Eu suspirei, entendendo completamente. Eu sentia falta deles terrivelmente. Talvez voltar para Montreal não fosse tão ruim. Mas, aí, eu arriscaria que Pierre me visse e isso era algo que eu não conseguiria lidar. Não. Eu voltaria para Nova York. Era assim que tinha que ser.

-Natalie está vindo. – Chuck disse, entrando no quarto novamente.

-Isso é bom.

-Sim. Ela estava no hospital novamente. Alarme falso. Eles ficam dizendo que pode ser qualquer dia, agora.

-Wow... Eu não posso acreditar que você vai ser pai, Chuck! – eu ri.

-É louco... – Jeff disse, entrando logo atrás de Chuck. – Eu ainda não consigo ver o Chuck como o tipo paternal.

-Como está Maya? – eu perguntei.

-Bem. Ela está com quase sete anos agora. Enorme!

-Tipo, gorda?

-Não, idiota. – Jeff disse, batendo levemente no meu braço. – Enorme no sentindo de crescida.

-Brincadeira, brincadeira.

-E você, David? Algum plano para ter filhos? – Sebastien perguntou zombeteiramente.

-Nah, um peixe é o bastante.

-O qual você está negligenciando. – Jeff me lembrou.

-Oh, cale a boca. Eu o deixei com a babá.

Não demorou muito para que nós estivéssemos rindo e contando piadas, sendo divertidos e aproveitando nosso tempo juntos. Eu sabia que tudo chegaria ao fim logo, em um mês ou dois meses, mas tudo voltaria ao normal. Eu apenas queria lembrar deles como eles um dia foram, antes das crianças, antes da banda terminar, antes de tudo. Rir com eles deixou mais fácil lembrar dos bons tempos.

Alguém bateu na porta da frente e Chuck saiu do quarto para atender. Ele voltou dois minutos mais tarde, com o cenho franzido.

-O que foi?

-Uh... Eu sei que isso não vai te deixar feliz… Mas Pierre está aqui.