Autor: Lee Magrock Danoninho

Título: Dia do Cão
Classificação: PG-13
Personagens: Harry Potter, Severus Snape e Sirius Black
Disclaimer: Essa história é baseada nos personagens e situações criadas e pertencidas a J.K. Rowling, várias editoras e Warner Bros. Não há nenhum lucro, nem violação de direitos autorais ou marca registrada.
Avisos: Participação especial do Diabo e de alguma tecnologia Muggle. Fic Slash, ou seja, relacionamento entre meninos. Se não gosta, voltar é arriba! Boa leitura!

Dia do Cão

O Diabo, que era um ser dos mais bem-criados no Universo, sempre muito polido e conhecedor da etiqueta, convidou - e a carta-convite, entregue pelo morcego Azulís, derreteu-se (da lava infernal), depois de lida - o ilustríssimo senhor Prof. Severus Snape (ou Sevie para os mais íntimos), a ter com ele, durante um chá fumegante (e que a língua agüente), e uns bolinhos de carne-de-gente (para não comentarmos canabalismo, podemos dizer que eles nem poderiam ser considerados pessoas), uma curta, porém proveitosa, entrevista. Severus, também educado, aceitou, cordato, o convite, não sem antes avisar ao arauto-dos-infernos que ele dispensava os bolinhos.

Harry Potter - os óculos redondos fora de moda, e um péssimo gosto para namorados - não entendeu o porquê daquele agrado desnecessário. Afinal, seu homem estava no auge da juventude, e, pelo que sabia o menino-de-Sevie, o grande peso de ouro da ruindade, ele já havia mandado pros quintos alguns anos antes. "E ele não ainda não está contente?!".

Falou com Ron, desabafando suas desconfianças. Severus era um pedaço de mau caminho "e não foi Marck Evans que disse que ele seria capaz de seduzir as pedras de Hogwarts se assim desejasse?".

Ron não quis ser sincero quando disse que "ele não seduziria as pedras, mas o Diabo é facinho facinho, afinal"... bem, ele não pôde acabar a frase, Harry teve um chilique.

Entretanto, nenhum dos ataques histéricos que se seguiram – e chantagens emocionais que incluíam greve de sexo e o uso do caldeirão preferido de Severus para estourar pipoca para os Weasleys – desviaram o rígido professor de poções de seu compromisso com o Demo. A pulga que lhe pulava atrás da orelha era motivo o suficiente para que fizesse questão de estar lá, no purgatório (uma extensão light do limbo), como havia confirmado, na data especificada.

Lá chegando, Severus espantou–se com a Avareza, uma moça de finos traços, mãos delicadas, cabelos aloirados e dentes afiados. Cobrou dois galeões para atravessá-lo do Lamaçal das Almas Perturbadas (onde o Mestre de Poções teve a impressão de ver Bellatrix Lestrange num combate por um osso descarnado com o Fofo, ex-cachorrinho de Hagrid), para a entrada do purgatório.

Mesmo explicando sua condição de convidado, a moça foi irredutível, e no meio do trajeto lhe cobrou mais um galeão por sua "insuportável companhia. E paga agora, se não pode ficar por aqui, professor!", e os olhos grises da Avareza brilharam ao receber a moeda, que infelizmente, na volta, caiu no poço e acabou-se o mundo (da Avareza, que no caso, pulou no poço para pegar a moeda).

Logo na entrada, que parecia pronta para desabar assim que ele entrasse, Severus – que nunca foi muito sensitivo – teve um terrível pressentimento. Não apto para decifrar o que lhe perpassou a mente (por falta de hábito e por uma certa coceira insistente em seus oleosos cabelos), não demorou a entrar no recinto. E lá estava, pomposo e cavernoso (e com um chapéu de palha totalmente over), seu honroso, espinhoso e tinhoso anfitrião, sentado à mesa púrpura, bebericando – com o dedinho mindinho levantado – seu martíni rosé.

Apesar da coceira que lhe importunava as madeixas, o ex-comensal manteve-se estático até que o Diabo viesse até ele.

- Severus Snape, que júbilo enfim vê-lo em meus domínios! Deixe-me apresentar, como manda a boa educação: Lucífer Artemísio Belzebu III, ao seu dispor.

Severus, depois de também se apresentar à Lu (como ele pediu que fosse chamado), ponderou se todos, inclusive seres mitológicos e divinos (no caso do outro, demoníacos), tinham um nome do meio idiota, e que não combinava com eles.

- Pois então, Prince... Posso lhe chamar assim, suponho? - E não esperou a negativa.- Agora que já está assentado e servido – O chá fumegante ignorado por Snape, chiando na xícara – vou lhe dizer exatamente porque o convidei...

Enquanto transcorria a agradável conversa entre Lúcifer (contente por receber o famoso ex-Comensal) e Severus Snape (levemente nauseado pelo cheiro de enxofre que vinha dos cômodos inferiores), um, não menos famoso, ex-menino-de-ouro, tentava, ainda sem êxito, passar pelo Lamaçal das Almas Perturbadas (no momento, em período fértil, pois se multiplicavam as almas a cada segundo). Como a Avareza se encontrava, no momento, atolada no poço dos desejos, procurando no meio daquele monte de nuques, o seu galeão, não havia ninguém para atravessá-lo para o outro lado.

Tentou sobrevoar o lago/lamaçal, mas o vapor que ele expelia nos ares o impedia de ver a direção que deveria seguir, o que fez com que ele desse de cara com uma montanha, infelizmente, do lado de cá. Experimentou aparatar, mas como nunca havia tido o desprazer de visitar o purgatório, sempre acabava aparatando em algum canil.

Severus – no momento com o queixo caído e uma expressão de estarrecimento na cara – ouvia atento as palavras de Lu:

- ... e não temos feito pouco, veja bem. Instituímos até o Dia do Cão para satisfazê-lo, conquistar algum respeito da sua parte, mas... Oh, Prince, ele é malévolo, ele não tem coração – Lágrimas sinceras escorriam do rosto do Príncipe dos Infernos, o que deixou Severus Snape mais boquiaberto que já estava. - Ele, ele... ele me trata como... um... ser humano qualquer!

O Mestre de poções estava pasmo. De todos os motivos que ele imaginou ser chamado pelo Diabo em pessoa, esse era, de longe, o mais improvável.

- Permita-me perguntar, Senhor Luci...

- Apenas Lu, por favor...

- Certo, Lu – A voz de Severus quase não saiu, repreendendo-o pelo fato de chamar alguém pelo apelido – Você poderia ser mais direto quanto ao que deseja de minha pessoa?

- Bem... gostaria que o levasse de volta à Terra.

- Não pode estar falando sério!

Lucifer bebericou o chá e gritou para que alguém lhe trouxesse os bolinhos. Ao perceber o nariz franzido de Severus, completou:

- São de vagem, não se preocupe. Então, respondendo sua pergunta, se foi uma pergunta, o que não me pareceu , sim, estou falando sério. Muito me custa me separar dele, mas não posso mais perder minha autoridade à frente de meus comandados.

- Pelo que me consta, depois de morrer qualquer bruxo perde sua mágica, como...

- Sim, ele perdeu sua mágica também, apesar de não ter "morrido" nos termos básicos da palavra. Repare, Prince, que não estamos falando de Imperius. Estamos falando de paixão. Afinal... devo admitir que... rispidamente falando... ninguém nunca...não se ofenda com minha sinceridade, mas... ninguém nunca me fudeu como ele! - E caiu no choro outra vez.

Definitivamente, Severus pensou, não precisava ter vindo aqui para ouvir isso.

- Controle-se, Senhor!

- Ah, como posso me controlar! É muito mais dolorido para mim do que poderia supor... Não sei como será sem ele depois de quatro anos de loucuras e fantasias... Mas não posso mais deixar que continue da forma que está. Reparou como o Lago das Almas está cheio?

- Sem dúvida, atentei a esse detalhe. - respondeu Snape, entoando em sua mente um mantra para que aquela conversa terminasse logo.

- Isso está acontecendo por ordem dele. O Lago das Almas serve apenas para mandarmos aqueles que realmente não nos serão úteis no inferno – como suicidas depressivos-compulsivos, e com desarranjo intestinal, que em geral reclamam demais, trabalham pouco e vivem de atestado médico. Mas, desde que ele chegou no Limbo, e que, por ser meu amante, dei-lhe autoridade para decidir o destino de algumas pessoas, ele está mandando quase todos para o lago. É inaceitável: ele olha para pessoa e diz "você tem o nariz grande, vai pro lago.; Você se parece com minha mãe, vai pro lago". Isso sem falar naqueles que já estavam no inferno há anos, como a própria família dele, que administravam a área de pestes e pragas, e que trabalhavam muito bem com esse ramo há seis anos, e que ele achou, por bem de não sei quem, também mandar para o lago. E Bellatrix Lestrange? Ela tinha lugar cativo na área de assassinatos em série, os meus diabinhos aguardavam ansiosos sua chegada, e adivinha só o que aconteceu quando ela chegou?

Severus Snape já sabia a resposta.

- E Voldemort?

- Ah, ele foi direto para o purgatório. Alguma coisa a ver com "desvio no destino cármico" e "traumas uterinos". Deus tem um gosto estranho por serial killers com passado sofrido. Sabe como é o "Pai", não é... sempre tem um carinho especial por seus filhos mais problemáticos. Ah, finalmente, os bolinhos... Foi pegá-los em alguma geleira do Pólo Norte, para descongelar à fogo fátuo? Energúmeno. Some da minha frente!

O diabinho escondeu uma risadinha, e saiu.

- Bolinho de vagem, Prince?

E não muito distante dali, Harry ligava pela décima sétima vez à seu amigo Ron, pedindo, dessa vez, para falar com Hermione Granger. Porém, quando Harry terminou de narrar as sua peripécias a fim de chegar ao limbo, Mione foi simples e direta: "se você não confia nele, não devia ter se casado, Harry".

Ignorando por completo o comentário de sua amiga, Harry pede-implora-esperneia para que ela descubra um jeito de atravessar o Lamaçal, antes que o Senhor Supremo do lugar lhe roube o marido.

Mione desliga na sua cara.

Assim, percebendo o complô que faziam para que ele não alcançasse a entrada do purgatório, Harry Potter, o garoto-que-mandou-Voldy-para-a-P.Q.P. resolveu montar no salto e tomar uma medida drástica: ligar para o celular de Severus.

- Você está ciente de que se Black voltar à vida, você só tornará a vê-lo na próxima morte?

- Ah, sim,sim... mas pra mim, que sou tão velho quanto o mundo, o tempo passará muito rápido. Só preciso, agora, organizar a balburdia que ele tornou meu lar e colocar tudo nos eixos. Acabar com esse dia do cão, para ele aprender a latir em outra freguesia...

Severus Snape, distraído com o pensamento de que o inferno mudaria para a sua casa se ele aceitasse levar Sirius Black para lá, apanhou um dos bolinhos e começou a mordiscá-lo. Ele sabia o buraco em que estava se metendo e não acreditava na possibilidade dele ter fundo. Imaginou sua vida sendo dividida entre cuidar de Harry, cuidar de sua casa e tarefas, cuidar da fabricação de suas poções, cuidar dos tarados que se aproximavam de Harry e ainda, cuidar para que Black não lhe matasse durante o sono.

- Prince, entendo se estiver confuso pelo meu pedido. Mas a única pessoa viva em que tenho confiança é você. Você sempre provou ter princípios justos, e espero que seja justo com meu amor - O engasgo de Severus foi audível no purgatório inteiro. - Acalme-se Prince, acalme-se. Espero que reflita bastante sobre o quanto isso é necessário e aceite fazê-lo. Você tem cinco minutos.

O celular de Severus vibrou nesse momento.

- Desculpe-me Senhor Lu, uma ligação de meu marido. Se me dá licença...

- Fica à vontade, vou lá embaixo pegar Sirius e já volto.

Severus ficou pálido.

- Mas...

O demônio já ia rebolando à frente sem dar atenção ao ex-Comensal. Resolveu atender logo seu menino.

- Pronto.

- Sev!

- Harry.

- Onde você está?

- No limbo, conversando com o Senhor Lúcifer, como você bem sabe.

- É! Então você já está íntimo dele, né?

- Do que está falando?

- É! Sei bem o que deve estar acontecendo!

- Não seja ridículo, garoto.

- Eu? Ridículo?! Estou aqui há horas tentando chegar aí e não consigo!

- Você está na entrada?

- Sim! Sim! O que está acontecendo, heim? Quero saber! Preciso saber, Sev! Nosso casamento depende disso!

- E você não poderia esperar que eu chegasse em casa, não é mesmo?

- Sev! Não mude de assunto! O que está acontecendo?

- Certo,Harry, lhe contarei. Assim você poderá me ajudar a decidir esse impasse.

- Como assim? Como assim, Severus? Que você quer dizer com isso? Hem? Hem? Fale agora, você vai me deixar, não é? Hem?

Severus Snape respirou fundo e começou a narrar sua conversa com Lu.

Duas horas de conversas, brigas e discussões seguiram-se à ligação feita. Para o desespero de Severus, aquela ligação fora cobrada como ligação internacional, o que lhe doeria no bolso no próximo mês. Lúcifer, assim que soube da presença de Harry Potter, afilhado de seu "amor", mandou dois diabinhos bem indecentes apanhá-lo do outro lado do Lago.

Harry chegou vermelho e nauseado, agarrando em Severus como se sua vida dependesse disso.

Sirius Black apareceu de mão dadas com o Diabo – Harry estatelou-se no chão ao ver a cena – e não pareceu nem um pouco relutante em ir com seu afilhado e o "Seboso" como chamou Severus cinco vezes seguidas. Lúcifer chorou, Harry chorou mais ainda, e abraçava Sirius e Severus ao mesmo tempo.

No fim, todos, menos Severus Snape, estavam satisfeitíssimos com a decisão de que Sirius Black voltaria com eles, e moraria, por enquanto com seu afilhado e o "Seboso", como ele o chamou mais doze vezes.

Mas, isso já é outra história.

Sabia-se agora que a coceira incessante nos cabelos de Snape tinha nome e sobrenome nobre. Aquele dia fora, realmente, do Cão.

C'est Fini

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Notas: Agradecimentos infinitos à Ivana, beta sempre à postos, que me salvou de uma mancada fenomenal.

Também quero dizer que dedico essa fic à Annianka, minha amiga oculta no AO desse ano, no grupo PSF, do qual faço parte!