Lily's Diary Entrance Sexta-feira, 16 de Agosto de 1985 – 22:10

Estou no meu quarto a esta hora, mas as minhas amigas estão lá em baixo, com o Potter, o Black e o Remus. Eles vai passar cá a noite, porque amanhã, vou para casa da Marlene, até o começo das aulas. Foi a minha mãe que os convidou para ficarem aqui em casa. A Petty é que não gostou muito da ideia de ter mais aberrações aqui em casa, porque o noivo dela, o estúpido do Dursley também vem cá a casa.

Está quase a chegar o dia 1 de Setembro. É a única coisa em que consigo pensar. E vou voltar para Hogwarts! Só penso nisso, é a única coisa que está na minha cabeça.

Estou em minha casa e adoro os meus pais, em contrapartida, odeio a minha irmã e discutimos sempre. A Petúnia vai casar com um totó qualquer chamado Vernon Dursley. Já pensaram bem nesse nome estúpido? Até o Potter tem melhor nome do que ele!

Ei! Espera aí. O que é que o Potter está a fazer no meu diário??? Como é que eu sequer mencionei o nome dele? Devo estar a ficar doente… ou louca. Ele nunca apareceu nos outros… bem… quase nunca… ok, algumas vezes… não, várias vezes, mas sempre para me queixar.

Sempre a voar de vassoura e a despentear ainda mais o cabelo preto. Sempre com um sorriso estúpido e convencido na boca. Todo o seu corpo gritava: "Ei! Eu sou o Potter e sou muito bom! Olhem para mim! As raparigas caem perdidamente apaixonadas aos meus pés."

Eu devo ser a única rapariga de Hogwarts que não caiu aos pés dele. Nem tenciono fazê-lo…

Bem… mas estou aqui para contar como correu o meu dia na Diagon Alley com as minhas amigas, Miranda e Bia.

Poderia ter sido um dia normal, como todos os outros no mundo ao qual eu pertenço. Uma viagem à vila mágica para comprar o material para a escola. Se o Potter não tivesse aparecido com o grupinho dele: Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew; e com aquele sorrisinho estúpido de: "Eu tenho 32 dentes!" que me irritou muito.

Mudando de assunto, compramos os livros para o quinto ano!!! Estou no quinto. Posso ser nomeada monitora!!! Eu, a menina Evans, a Lily Evans, às vezes arrogante (eu não acabei de dizer isso) e teimosa como uma mula, posso ser monitora! E dar ao Potter todos os castigos que ele merece!!!

Ok! Eu admito. Lily Marie Evans está a falar demais no Potter. Neste caso, a escrever demais nele.

Acho que as meninas fizeram um pouco de propósito. Há quase três anos que o Potter me convida para sair, claro que leva sempre um "não" como resposta. Qual mais poderia ser? Ele passa a vida a dizer que eu sou o grande amor da vida dele, que me ama e que vamos ter muitos "potterzinhos". Mas por acaso eu acredito? Claro que não. Como hei-de acreditar se ele anda sempre com uma rapariga diferente pendurada no braço?

Os meus olhos voaram para a pulseira que repousava no meu pulso direito, enquanto a caneta voava pelo papel do diário. "L,J,P" eram as iniciais que estavam na chapinha de prata que ele mandara fazer. Não consegui recusar este presente, mas repito sempre para mim mesma: "Será o primeiro e o último". Mas já não havia volta a dar.

Tudo isto começou porque o Potter me livrou de uma situação embaraçosa, hoje. Mas, agora, vou contar o que aconteceu na Diagon Alley.

*Flashback*

Eu estava ansiosa para ir para o Leaky Cauldron1 e encontrar-me com a Miranda e com a Bia mas a estúpida da Petúnia estava a azucrinar-me a cabeça.

-Aberração! Onde está o meu pequeno-almoço? – Perguntou, quando eu me dirigia à cozinha. Notei que os olhos dela estavam encobertos por uma nuvem de raiva e desassossego.

-No frigorífico. Vai fazê-lo – retorqui, com uma careta irónica. – E a única aberração aqui nesta casa és tu, Petty!

Ela entreabriu os dentes, como um cão a rosnar, à minha menção ao apelido, supostamente amigável e carinhoso, pelo qual as amigas a tratavam. Ela era assim, a Petty. À frente das amigas era toda sorrisos, atrás eram só caretas e fofocas entre as mesmas. A Petúnia não era, sem dúvida, a líder do grupo e fazia tudo para bajular a betinha nojenta mor.

Virei-lhe as costas e fui para a cozinha, ter com a minha mãe.

-Mamã eu vou à Diagon Alley, tudo bem? – Perguntei, dando-lhe um beijo na face. Ela estava a fazer um bolo de chocolate, a sobremesa da minha despedida e o meu bolo preferido.

-Claro querida. A lareira está pronta?

-Está tudo pronto, mamã. Tudo bem para ti?

-Para mim está tudo bem. Apenas tem cuidado lá. Aquilo é esquisito. Já falaste com a tua irmã hoje? Ela está chateada. Teve uma discussão qualquer com aquele Vernon – confidenciou-me ela. Notei que ela parecia contente. Não gostava nada do namorado da Petúnia, nem eu.

-Pode ser que acabem de vez – disse, com um sorriso um pouco irónico.

-Acho que não – respondeu-me, bastante desapontada. Para ela, era um desgosto enorme, Petúnia não encontrar ninguém melhor que Vernon Dursley!

-Vou embora mamã, a Marlene e a Bia devem estar a chegar.

Dei-lhe outro beijo e saí para a lareira. A pedido especial de Dumbledore a minha lareira estava já registada na rede de Floo Powder.

Atirei uma mão de Pó de Floo, entrei para a lareira e gritei "Leaky Cauldron". Senti um arrepio, um frio na barriga e quando abri os olhos já estava no velho pub que me permitia chegar à Diagon Alley.

Era um sítio escuro onde eu, certamente, não tomaria uma cerveja de manteiga, mas eu estava só de passagem.

-Bom dia, menina Evans! – Exclamou o empregado de balcão.

-Bom dia, Stun. Posso entrar?

-Claro. A menina McKinnon e a menina Spinelli estão à sua espera.

-Obrigada, Stun. Bom dia.

Passei por todo o pub, numa escuridão quase completa, de cabeça baixa e à espera que a cor dos meus cabelos passasse despercebida.

-Ei ruiva! – Gritou alguém. Eu gemi desapontada. Porque é que será que o meu cabelo apanha toda e qualquer luzinha de Sol? – Queres fazer-me companhia? Podíamos ir dar um passeio…

Percebi que ele se tinha levantado e vinha minha direcção. Instintivamente, dei um passo atrás, mas tinha a parede.

-A menina está acompanhada, grandalhão – disse uma voz atrás de mim.

Nunca pensei dizer isso mas, graças a Deus, o Potter apareceu. Alto, magro e com uma expressão fechada e chateada. Isso era muito diferente do olhar divertido e do enorme sorriso que sempre tinha.

-E quem é o fracote? – Perguntou o homem, ironicamente.

-James E. Potter – respondeu ele, arrogante, sendo seguido pela entrada do Sirius e do Remus.

Eu suspirei aliviada.

-Potter? – Disse o outro, meio assustado.

-Sim, do Departamento de Aurors. Edward Potter é o meu pai e Ignatius Potter, meu avô. E você é o segundo bruxo na lista do meu pai. Sabe o que isso quer dizer, certo? Vou ver se não me esqueço de lhe dizer que o vi. Mas agora a Lily vai comigo. Aconselho-o a sair, enquanto tem tempo.

-Não é um fedelho de meia dúzia de anos que me vai dizer o que fazer ou não! – O outro pegou na varinha e, antes que ele conseguisse soprar um feitiço, um enorme cão preto saltou em cima dele e mordeu-lhe o braço.

O homem gritou e chorou como um bebé, enquanto o Potter me tirava dali com o braço por cima dos meus ombros.

-Estás bem, Lily? – Perguntou-me preocupado. Ele parecia mesmo preocupado comigo. E os olhos dele tinham um halo verde, à volta do castanho. Não sei como, achei aquilo muito atraente.

Então, arregalei os olhos ao perceber os meus pensamentos.

-Estou bem, Potter, muito obrigada – agradeci, livrando-me do braço dele. – Obrigada pelo que fizeste ali dentro. Agora tenho de me ir embora. Com licença.

-Se vais ter com a Marlene e com a Bia, nós também vamos – antecipou ele. – Também fomos convidados.

-Onde está o rato do Pettigrew? – Perguntei e pareceu-me que o Potter arregalava os olhos. Impressão minha.

-Não veio. Tinha coisas para fazer.

"Tudo bem", pensei. Menos um para eu aturar.

Eles auto-intitulavam-se Marauders, mas eu não sabia o que o Pettigrew tinha de maroto. Era baixo, feio, estúpido e completamente fora do contexto.

Enquanto que o Potter, o Black e o Remus eram bonitos, charmosos, bons alunos, sempre rodeados de raparigas. Embora o meu querido amigo Remus não fosse daqueles que trocava de namorada com quem trocava de camisa, igual ao Potter e ao Black. Eram os três muito bons alunos mas o Potter e o Black não eram propriamente excelentes alunos a Poções. Aí o Snivellus, o Snape ultrapassava-os.

-Como foram as férias, Lily? – Perguntou Remus juntando-se a nós, depois de ter a certeza de que não nos matava-mos um ao outro.

-Não foram más e as tuas, Remus?

-Ora, passei-as em casa do James… Tu sabes… Os Potter são muito simpáticos.

-Então já sabes que os nossos filhos vão ser muito simpáticos e bonitos, Lily – comentou o Potter casualmente, com o seu sorriso e eu respirei fundo.

-Para ti é Evan, Potter. Evans. E como é que vamos ter filhos se eu nem sequer gosto de ti?

-Lily Evans Potter é um bom nome… sonante…

Só senti a minha mão a voar e depois estava presa entre as do Potter. E como estavam quentes, as dele.

-Eu sei que já disse, e é verdade, bofetadas de amor Lily, não doem mas já estão um pouco repetitivas, meu amor.

-Não voltes a chamar-me isso – sibilei, um pouco entediada. Comecei a perceber que as minhas frases (e conversas) tinham sempre o mesmo teor, ele dizia que me amava e eu mandava-o dar uma volta. Às vezes até lhe batia, como quase acontecera hoje. Então, respirei fundo e tentei ser racional e civilizada, como sou com todas as outras pessoas. – Ouve, eu tenho de ir ter com as minhas amigas, portanto, larga-me a mão, por favor!

-Só depois de…

-Larga-a, Prongs – aconselhou Remus, quase arrancado de mim um sorriso. Sempre o democrático Remus John Lupin. – Não vamos querer uma discussão no meio da rua.

-Mas…

-Agora, por favor – pedi, já a ficar sem paciência. Pois, não tenho muita, pelos vistos. Puxei a minha mão e virei-lhes as costas.

-Onde as vais encontrar? – Insistiu o Potter.

-Florean – limitei-me a dizer, seguindo pela ruela alegre e movimentada. – E, se me vão seguir, por favor, não façam muito alarde disso, estamos entendidos? Não gosto de guarda-costas.

-Claro, ruivinha do meu coração, amor da minha vida – concordou o estúpido do Potter. Eu simplesmente limitei-me a murmurar baixinho: "Idiota!", mas eles, ou melhor Sirius Black, ouviu.

-Ora, Prongs, estás a perder a tua ruiva. Será que eu tenho alguma oportunidade contigo, Lily? – Perguntou ele, retoricamente, espero eu.

Não sei o que aconteceu atrás de mim, mas passado alguns segundos, ouvi o risinho de Remus, os resmungos do Potter e o arquejo do Black. Estava super curiosa, mas não olhei para trás. Não dei o braço a torcer.

Chegamos à Florean Fortescue's. E eu rezei para que eles fossem logo embora. Além de não estar a contar com eles e, talvez por isso, vesti-me de uma maneira mais informal, com jeans e uma camisola de alças com um casaco fininho. Preferia que eles pensassem em mim como a Evans, certinha e formal. Entrei na loja do senhor Florean e encontrei logo a Marlene e a Bia sentadas na mesa ao lado da enorme janela, com gelados voadores a mexerem-se de um lado para o outro.

-Lily! – Gritaram as duas, correndo a abraçar-me. Estava cheia de saudades delas também. Claro que falávamos por carta, mas a Athena não era propriamente um meio de comunicação íntimo, embora fosse a minha coruja. – Que saudades, como…

-Antes de mais qualquer coisa – interrompi, - quero saber porque raios convidaram o acéfalo do Potter e os amigos.

-Ahm… - Começou Marlene. – Bem… os Potter convidaram-me para ir a casa deles, ontem. E o estúpido do Black viu a tua carta. A Athena foi lá entregar e fez-se convidado. E já sabes como é o James… afinal, és a ruivinha dele e o amor d…

-Se eu ouço mais uma vez esse nome hoje, enfeitiço alguém – ameacei, danada. Estava farta daqueles apelidos que me davam, principalmente quando tinham a ver com o Potter.

-Alguém me sabe dizer quando eles vão embora? – Marlene olhou-me constrangida. Em vez de entrar em pânico, sentei-me – Ora, muito bem. Vai ser um longo dia.

-Ainda nos vais levar àquele lugar onde os Muggles fazem compras, não vais? – Perguntou-me Bia, ansiosa. – Eu queria comprar alguma coisa engraçada…

-Vamos ver como corre o dia – limitei-me a dizer. Se levasse o Potter e os outros a um shopping eles não saberiam manter-se discretos.

-Lily Evans – exclamou o senhor Florean. – Bem-vinda à Florean's. Onde está o seu amigo apaixonado?

Eu corei. Maldita seja! Ok, eu passo a explicar, há um ano atrás o inteligente do Potter comprou-me um gelado na Florean's e disse ao senhor Florean que era para a menina mais bonita do mundo. Na altura fiquei um pouco lisonjeada. Fiquei super chateada com ele e agora o dono da loja perguntava-me sempre por ele! Que seca!

-Senhor Fortescue! Receio que o Potter tenha ficado…

-Aqui mesmo – respondeu o próprio Troll, atrás de mim. – Senhor Florean, como estás?

-Muito bem, caro James. Então a rapariguinha ainda não caiu nos teus braços?

-Pode ser que mais um dos seus gelados a faça mudar de ideia. Creio que menta é o seu sabor preferido.

-Morango – contrariei. Realmente, menta era o meu preferido, mas nem perguntaria como ele sabia. – Já não gosto de menta.

-Seja – respondeu o Potter, com um sorriso confiante. – Ninguém percebe as mulheres…

-Devia ser uma ciência – confirmou o dono da gelataria.

-Nós vamos à… como se chama aquilo Lily? Shopi?

-Shopping – corrigi e tive o prazer de ver o Potter quase se engasgar com o sorvete dele.

-Um shopping? Vocês vão a um shopping?

-Ih! Quando a tia Sarah vai a um shopping chega sempre a casa com muitos sacos…

-Que vocês vão carregar para nós – decidi que se eles fossem mesmo connosco era isso que iriam fazer.

-Tudo bem – acedeu o estúpido do Potter, deitando por terra os meus planos de tortura. – Afinal, o meu lírio não pode carregar com muito peso.

Bati com o copo do meu gelado com força e fui para a casa de banho. Mal tinha batido a porta quando a Marlene entrou também.

-Lily? – Perguntou preocupada.

-Diz ao teu amigo que, mais um apelido daqueles e ele vai parar a St. Mungo's.

-Ele não faz isso por mal. Acho que a tia Sarah e o tio Edward já o ouviram a falar tanto de ti que já te tratam por "norinha". E acho que não devia ter dito isso – gemeu ela.

-Muito bem. Não vou compactuar com isso. Os Potter têm de saber que o filho deles me persegue.

Marlene riu suavemente.

-Lily! O pai dele concordaria. E a mãe ralhava-lhe e ele continuaria a fazer o que faz. Acho que o tio Edward conquistou a tia Sarah da mesma maneira.

-Boa! Profecias – resmunguei. – Olha, eu aceito que eles fiquem connosco desde que não haja brincadeirinhas e piadinhas de mau gosto.

-Eu vou conversar com eles, Lily. Mas acalma-te. Eles não vão fazer mais nada. Prometo.

-Como podes prometer? Eles são imprevisíveis.

-Eu vou pedir-lhes.

-Ao menos o Pettigrew não está aqui – disse, aliviada. E parecia que Marlene era da mesma opinião que eu.

-Sim, ao menos isso.

Estive cinco minutos na casa de banho. Encostei a cabeça no espelho da parede e esfriei a cabeça. Não podia explodir de cada vez que eles me irritassem e eu sabia-o. Mas o Potter era irritante demais.

Já agora porque será que o nome do Potter está sempre no meu diário? Ele é tão parvo!

Quando saí da casa de banho, a nossa mesa era a única que estava ocupada e o Potter estava a olhar fixamente para uma chávena, pousada na mesa. Sentei-me e ele empurrou a chávena para a minha frente.

-Sei que bebes chá quando estás nervosa. Pedi um para ti. De chá preto e frutos.

Abri a boca para começar a discutir com ele mas não consegui. Ele tinha sido simpático ao pedir-me o chá.

-Obrigada Potter – agradeci, mas ele limitou-se a acenar com a cabeça.

-Gostaria que pensasses na hipótese de me tratar por James – voltou a dizer, mas a seguir, voltou ao seu silêncio anormal.

Acenei e bebi um pouco do chá. Tinha a certeza que os bruxos não conheciam certas infusões de plantas, sendo a mistura de frutos tropicais com chá, uma delas, mas aquele chá estava bom demais.

Bebi o chá e quando todos íamos a sair, o senhor Florean chamou o Potter aparte. Ficamos todos curiosos, inclusive o Black, que sabia tudo acerca do outro.

-O que é que o Florean queria, Prongs? – Perguntou-lhe quando ele se voltou a juntar a nós.

-Nada de especial, depois falo convosco – respondeu ele, guardando um embrulho pequeno dentro do bolso do casaco.

-Preciso de um estojo de poções – sussurrei para as meninas. – Vou ao Slug e depois encontro-vos na Madame Malkin.

Em vez de me contrariarem, elas acenaram e avisaram os rapazes. Só reparei na troca de olhares entre todos.

-Eu vou contigo – decidiu o Lupin.

-Mas não é preciso, Remus… - tentei dizer.

-É sim senhora. Vou contigo senão vai o James. Agora escolhe!

-Só ultimatos! – Exclamei. – Mais uma e estou fora. Não me interessa que tenha de aturar a Petúnia estúpida e o noivo parvo dela.

-Lily, é apenas uma questão de segurança – assegurou-me Bia, corando um pouco. Ela e o Lupin estavam os dois apaixonados e nenhum dos dois tinha coragem de dizer ao outro.

-Oh, pessoal – chamou o Potter, parecendo distante. – Se ela não quer companhia, para quê insistir. Afinal, estávamos só a ser amigos dela, mas ela não quer, por isso, vamos passear à vontade.

Eu fiquei ali parada, a olhá-lo. Onde estava o Potter que fazia tudo o que eu queria, ou quase?

Antes que mais alguém dissesse alguma coisa, agarrei o Lupin pelo braço e puxei-o pela rua.

-Sabes que era isso que ele queria, certo? – Perguntou-me o meu amigo, com um sorriso. – Ele queria desafiar-te e conseguiu. Conseguiu mais de ti hoje, do que em quatro anos de tentativas, Lily.

-E? – Perguntei, fingindo-me desinteressada. Afinal, queria saber a resposta.

-E não sabes o quão chato ele vai estar, esta noite. "A Lily é tão linda. A Lily fez o que lhe pedi. A Lily é a minha princesa!". A sério, é um pouco constrangedor ouvi-lo falar de ti! Sem ofensa.

-Pois. Usa o silencio nele. Fazias um favor ao mundo – resmunguei.

-Ele não é assim tão mau, Lily… - Defendeu-o Lupin. – É bastante convencido e arrogante, mas tem o direito de o ser. E as raparigas que andam atrás dele… não é ele que as incita a fazê-lo, como fazia antigamente. Elas fazem-no porque querem.

-Isso não me interessa realmente, Remus – suspirei, derrotada. – Porque é que têm todos de me falar dele?

-É instintivo, Lils. Só queremos que não andem às cabeçadas um contra o outro.

-Isso é impossível. Mas vou tentar. Além disso, este ano temos os O.W.L.'s2. não posso deixar que ele me distraia. Ele ou qualquer um outro.

-Ele mudou Lily. tu vais ver este ano. Ele mudou. Já não é o mesmo James E. Potter que gostava de andar atrás das miúdas.

-Se calhar, Remus, mas agora eu quero ir comprar o meu material para Poções, não quero desapontar o Slughorn, certo?

-Claro que a melhor das melhores nunca desapontaria Horace Slughorn, Lily. Eu também tenho de comprar um kit de Poções. Entramos os dois.

Quando entramos na Slug, os clientes que estavam lá dentro calaram-se todos, como se estivéssemos a incomodá-los.

-Menina Evans, Senhor Lupin, por favor. Querem reabastecer os vossos estojos de Poções? – Perguntou o empregado, como se estivesse com medo de alguma coisa e nos quisesse despachar.

-Sim. Eu queria um kit de poções novo – pedi desejando, eu também, sair dali o mais depressa possível.

-Eu também – disse Remus, ao meu lado.

Na escuridão da noite, eu só conseguia ver um cabelo quase branco e muito comprido, quase feminino se a voz dessa pessoa não fosse masculina. Eu conhecia-a de algum lado.

O cheiro da loja era nauseabundo, a ovos podres e fez os meus olhos lacrimejarem.

-Ora, ora – exclamou o dono daquele cabelo. – Se não é o lobo e a sangue de lama imunda.

-Lucius Malfoy – disse Remus, sarcástico. – Saíste do mundo perfeito de Malfoy Manor para o mundo comum dos mortais?

-Pois, sabes como é a vida, Lupin, ou se calhar não sabes, certo? O Potter sabe que tu lhe roubaste a miúda dele? Ou a Evans anda com os dois? – A maldade era perfeitamente audível no seu tom de voz. Mesmo assim, Lily sentiu vontade de defender o Potter da acidez das palavras do outro.

-E a Narcissa, Malfoy? – Perguntei, ignorando o aviso nos olhos do Remus. – Ouvi dizer que ela estava a divertir-se, o ano passado, na Sala das Necessidades, com o MacMiller, não foi? Estavam a estudar para os O.W.L.'s não foi?

-A Narcissa sabe perfeitamente o lugar ao qual pertence. Os erros são para ser perdoados quando é necessário – respondeu-me ele, com altivez, embora eu conseguisse perceber a raiva na voz dele.

-Vamos embora, Lily. O James e o Sirius devem estar à nossa espera com as raparigas. Vamos pagar.

-Claro, vão embora. E, Lupin, não te esqueças de dizer ao Potter que o nosso assunto não está terminado. Ainda temos muito que conversar acerca do que ele pode e do que ele deve fazer.

Quando saímos da Slug, andei um pouco até estarmos longe o suficiente e virei-me para o meu amigo, confrontei-o.

-Que conversa era aquela do Potter, Remus? – Não queria soar preocupada mas, depois de tanto anos, parece que só eu tenho o direito de discutir e tratar mal o Potter.

-É um assunto pendente entre eles os dois, Lily – limitou-se a dizer. – Não me parece que o James gostasse que tu soubesses. É entre eles.

Não insisti mais no assunto, primeiro porque estávamos a chegar à Madame Malkin e já tinha visto os dois rapazes à porta, segundo porque não queria que o Remus pensasse que estava preocupada com o Potter, o que realmente não estava.

-Já chegaram? – Perguntou o Black.

-Pois… - Respondi, sarcástica. – O que te parece? Que ainda estamos na Slug?

-Estás mal-humorada – adivinhou ele, de uma maneira muito inteligente, pensei eu, um pouco maldosa.

-Estamos todos um pouco lentos, não Black? – Retorqui. – As meninas estão lá dentro?

-Estão – respondeu o Black, mais uma vez. Estranhei o facto do Potter ainda não ter falado comigo. E eu estou a dar demasiada importância a isso.

-Vimos o Malfoy, na Slug, ele perguntou por ti, Potter – avisei, antes de entrar.

A Marlene e a Bia estavam as duas à volta de um manto preto que não parecia ter nada de especial, mas quando cheguei mais perto, percebi que as linhas eram diferentes do normal.

-Lily, tens de o experimentar. Ele não ficou bem a nenhuma das duas! Tem de te ficar bem. A abertura do pescoço, em vez de ser tradicional, tinha um decote em bico que fazia sobressair as linhas.

-Moda de Mantos – resmunguei antes de entrar no provador.

Ao fim, acabei por levar o manto porque, gostei dele e pelos vistos, ficava-me bem.

Quando saímos da loja, estiquei o braço e entreguei o saco ao Remus, que o entregou ao Black que, por sua vez, o entregou ao Potter. Ele limitou-se a encolher os ombros e caminhar pela rua.

-Lily! – Exclamou a Bia. – Já podemos ir ao shopping?

-Claro. Mas acho que primeiro vão querer trocar os vossos galeões por dinheiro Muggle.

Eles suspiraram, desiludidos e excitados ao mesmo tempo.

Expliquei-lhes mais uma vez como funcionava o dinheiro Muggle e eles ficaram espantados com a suposta facilidade daquilo.

Voltamos ao Leaky Cauldron e, em vez de entrarmos na lareira, fomos directamente para a porta, onde os meus amigos feiticeiros não conheciam nada.

-Onde é que estamos? – Perguntou Marlene, um pouco assustada.

-Charing Cross Road – respondi, com um sorriso, divertido. – Não vais ser assassinada ao virar da esquina. Além disso, o shopping é já aqui ao lado.

-A tia Sarah não tinha o dia de folga, hoje, James? – Perguntou a Marlene com um sorriso.

-Não. Ela ia ficar, mas aconteceu um imprevisto no Departamento de Aurors e ela teve de ir verificar o que se estava a passar – confirmou ele, com um sorriso amigável.

-O que é aquilo? – Perguntou o Sirius, muito sério, a apontar para um poster do rei.

-Ah, aquele é o Rei, Sirius – respondi. – que dia é hoje?

-Dezasseis de Agosto – respondeu o Potter, voltando outra vez ao seu estado mudo.

-Hoje faz oito anos que o Rei do rock, Elvis Presley morreu.

-Elvis quê? – Insistiu o Black, atarantado. – Ele é o Phineas Peabody. Aquele feiticeiro que tem uma casa perto de Hogwarts, lembraste Prongs?

-Qualquer coisa Sirius. Não me chateies, Padfoot – respondeu o outro mal-humorado.

-Desculpa? Eu sei o que estou a dizer. O Rei do rock morreu há oito anos e foi enterrado. Por favor, não és um daqueles fãs que diz que viu o Elvis a passear pela rua, na versão feiticeiro.

*Fim do Flashback*

Em vez de contar tudo o que se passou, vou resumir. Já lá vão dez páginas.

O Potter ficou cada vez mais mudo, enquanto o dia passava. Enquanto os outros se riam e se divertiam com as coisas "esquisitas" do mundo Muggle.

Como me vi encurralada, convidei-os a todos para ir a minha casa. Esse todos incluía o Potter, por quem a minha mãe se engraçou. Motivo pelo qual, há poucos minutos atrás veio cá, falar-me dele e da sua boa educação.

*Flashback*

-Lily? – Perguntou da porta, quando eu peguei no meu diário.

-Sim, mamã?

-Queria falar contigo. Importas-te? – Perguntou, sentando-se na beira da minha cama.

-Diz.

-Os teus amigos são muito simpáticos e bem-educados. Nada a ver com as amigas da Petúnia. E aquele James? Muito simpático e lisonjeador. Acho que nunca tinha ouvido um miúdo com idade para ser meu filho dizer-me que eu sou muito bonita… Fez-me bem ao ego.

Quase rolei os olhos. Aquele Potter paga-me, pensei.

-Sim, mãe, ele é tudo e mais alguma coisa – concordei, num pequeno amuo.

-O que se passa? Pareceu-me que não gostas dele…

-Nem por isso mãe – voltei a concordar. – Ele é arrogante, convencido e as miúdas andam todas atrás dele.

-Depois temos de falar nisso. Vou mandar-te uma coruja a explicar-te certas coisas.

-Mãe… queria pedir-te uma coisa…

-A Marlene já falou comigo. Quer que tu vás passar o resto das tuas férias a casa dela. Queres ir?

-Claro mamã – respondi, atirando os braços à volta do seu pescoço. Adoro-te.

-O que é isso? – Perguntou-me a mãe, agarrando-me no pulso.

-Ahm… não é nada. É só uma pulseira. Que eu ia tirar agorinha mesmo – repliquei, tentando abrir o fecho da pulseirinha.

-Deixa-me ver isso.

Quando ela viu as letras gravadas na placa de prata, sorriu.

-Não é nada? Eu não acho que isso seja nada. Ele tem as miúdas atrás dele? E porque daria ele uma pulseira dessas a uma se poderia ter todas as que quisesse sem gastar um cêntimo?

-Não sei. – Admiti.

-Pensa nisso, meu anjo. Faz as malas. Vou chamar as meninas. E não te esqueças de me escrever. E não te esqueças de mandar a Athena várias vezes. Quero saber como andam as coisas na escola.

-Claro. Adoro-te mamã.

*Fim do Flashback*

O jantar não podia ter sido pior, com a Petúnia a ser irónica a cada garfada que metia na boca. Sinceramente, não sei como ela pode ser tão magra se come como um cavalo!

E o Troll do Dursley a olhar-nos de lado.

Esta noite, foi a minha vez de levantar a mesa e o Potter, para meu completo espanto, ajudou-me.

Ainda não contei como é que o néscio do Potter me deu a pulseira.

*Flashback*

Estávamos todos na sala e, na altura de eles irem embora tive de, sob a pena de ouvir um sermão da minha mãe, acompanhá-los à porta.

Ele limitou-se a estender-me o embrulho que o Senhor Florean lhe tinha entregue de manhã e eu limitei-me a olhar para ele.

Quando abri o embrulho ele já tinha ido embora e a pulseira de prata, que repousava na seda vermelha, era muito bonita e simples.

E eu apaixonei-me por ela. Nem sequer pensem que eu escrevi o que estava aqui nesta linha. Não gostei. Odiei o presente. Se não fosse por uma questão de boa educação.

-Obrigada – limitei-me a dizer. Ele lançou-me aquele sorriso que não fora usual hoje e eu dei por mim a sorrir como uma parva.

*Fim do Flashback*

Mas enquanto ele estava na sala de jantar, a preparar a loiça, o noivo da minha irmã entrou na cozinha e tentou agarrar-me.

Mais uma vez e, do nada, apareceu um enorme cão preto. O mesmo que atacou aquele homem no Leaky e ele foi para a sala, fingindo não se ter passado nada.

Agora vou para a cama.

Amanhã vou para casa da Marlene, passar os últimos dias do Verão.

E adeus ao Rei.

"We're caught in a trap,

I can't walk out

Because I love you too much baby…

Why can't you see

What she's doing to me,

When you don't believe a word I say

We can go on together

With suspicious minds

And we can build our dreams

On suspicious minds

So, if an old friend I know

Drops by to say hello

Would I still see suspicion in your eyes?

Here we go again

Asking where I've been

You can't see these tears are real

I'm crying

We can't go on together

With suspicious minds

And be can't build our dreams

On suspicious minds

Oh let our love survive

Or dry the tears from your eyes

Let's don't let a good thing die

When honey, you know

I've never lied to you

Mmm yeah, yeah"

Elvis Presley, Suspicious Minds.

Até depois, Lils.

1 Leaky Cauldron – Caldeirão Escoante.

2 O.W.L. – Ordinary Wizarding Levels, em português: N.B.F.'s – Níveis Básicos de Feitiçaria.