Fic nova é sempre uma emoção e essa é muito especial para mim. A Line Lins, que traduz as fics da Jayeliwood (Blind e Piece of Time) será minha beta nessa história, espero que gostem!
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Bella POV
Era o mais próximo do que eu poderia chamar de inferno na terra. As pessoas rindo animadas enquanto conversavam, o barulho irritante de risada alta, alguém cantando uma música da moda e tudo que eu mais queria era me concentrar na página do livro que eu lia, mas não estava conseguindo. Eu forçava meus olhos nas letras pretas, mas a alegria alheia me incomodava e deixei o livro emborcado sobre a mesa para apoiar meu queixo na mão e me render aos movimentos ao meu redor.
Setembro e eu me via presa mais uma vez nas paredes da escola secundária onde eu estudava mesmo odiando cada grama de cimento ali empregado. Eu não queria estudar na Forks High School desde o segundo que eu fiquei sabendo que precisava voltar àquela cidade após a morte de minha mãe, mas eu não poderia fazer nada a respeito. Restava apenas Charlie em minha vida, mesmo nossa relação de pai e filha não sendo a mais exemplar do mundo, e eu aceitei quando juiz me sentenciou a morar com ele depois de quase onze anos.
O motivo para odiar a escola era o mesmo para odiar Forks, para odiar a morte de minha mãe, para minha vida em si. Eu odiava a minha vida e isso era um fato concreto, mas ninguém sabia o motivo que me levava a morder o travesseiro para abafar o grito de ódio que eu dava toda vez antes de dormir. Ódio por mais um dia ter terminado e eu não pude fazer nada a respeito a minha vida, apenas aceitar que ela seria daquela forma. Eu sentia que havia uma forma de minha vida mudar e eu puder ser normal, mas algum filho da mãe egoísta escondia esse segredo só para fuder mais ainda a vida de pessoas como eu.
Eu não poderia contar a ninguém o que me levava a ser a pessoa mais azeda do mundo e dessa forma eu não tinha amigos. Nem mesmo aquele nerd estranho da escola que ficava isolado tinha a chance de se aproximar de mim, pois eu sempre tinha uma expressão mal-humorada na face e uma resposta grosseira a ser dada. Isso me tachava de estranha na escola inteira e ninguém queria ser meu amigo. Ótimo, melhor assim. Eu não queria envolver mais ninguém na desgraça de vida que eu levava e podia remoer meu ódio calada, observando as garotas e os garotos de minha idade serem normais e felizes ao contrário do que eu era.
Nem mesmo Charlie sabia por que sua filha de dezessete anos era tão de mal com o mundo e eu não pretendia contar a ele. Só precisava aturar aquele último ano na escola em paz e sem problemas maiores para no ano seguinte estar em um Estado muito longe na faculdade e tentando viver normalmente sem ninguém para me julgar. Eu poderia começar uma nova vida na faculdade, fingir que nada demais acontecia comigo, quem sabe até ter amigos e falar sobre isso com eles, mas o medo de ser julgada e excluída batia forte em minha mente só de imaginar contar para alguém. Eu vi como minha mãe sofreu quando resolveu se abrir com os colegas do trabalho e eu não queria passar por aquilo também, por isso me fechava nesse casulo impenetrável e esperava pacientemente uma melhoria. Seja ela com uma descoberta da medicina, seja ela com fim do meu sofrimento da única forma imaginável.
Tirando essa condição que mudou minha vida desde os três anos, eu poderia levar uma vida igual à de qualquer adolescente. Eu poderia praticar um esporte com tanto que não me machucasse mais seriamente, eu poderia viajar sozinha, poderia até mesmo ter um namorado, mas eu não queria colocar outra pessoa em risco e transformá-la em um condenado como eu estava. Já bastava eu sofrer a cada dia de inferno e eu queria encontrar alguém para apontar o dedo e chamar de culpado por eu estar assim, mas não havia um ser humano no mundo que assumisse essa culpa. Nem mesmo minha mãe, pois eu era apenas uma criança envolvida em um acidente.
Naquele intervalo para o almoço de Setembro onde eu condenava cada adolescente ao meu redor por ser feliz enquanto eu não era, resolvi que poderia passar a última hora na biblioteca estudando para a prova de Química da semana seguinte e não precisar mais agonizar no refeitório. Fechei meu livro sem vontade e o guardei dentro de minha bolsa surrada, saindo do local sem ninguém notar minha ausência. Se eu estivesse almoçando todos os dias na mesma mesa ou faltasse uma semana de aula, ninguém iria perceber se Isabella Swan existia ou se era uma aluna fantasma e eu gostava dessa condição. Eu não sabia se no dia seguinte estaria viva ou não, então preferia poupar qualquer pessoa de sofrer com minha ausência.
Estava tão distraída nos pensamentos raivosos que não percebi quando ele surgiu em minha frente e nossos corpos se chocaram, me fazendo dar um passo forçado para trás. Segurei minha bolsa para ela não cair e levantei meus olhos para ver quem estava literalmente no meu caminho, encontrando aquele sorriso de canto mais desejado em toda a escola. Seu dono era um garoto de dezessete anos como qualquer um naquela escola, mas Edward Cullen era muito mais que isso e seu status me incomodava.
Ele era o típico garoto popular que jogava como zagueiro no time de futebol americano, que tinha qualquer garota na mão, o mais lindo e o melhor aluno. Poderia ser esnobe, tratar as garotas como lixo, tirar vantagem de sua credibilidade com os professores, mas era justamente ao contrário. Namorou por muito tempo Rosalie Hale, mas desde o ano anterior estava solteiro como eu escutei algumas garotas de minha aula de Biologia comentar e parecia não querer engatar um relacionamento. Era o atleta exemplar por comparecer a todos os treinos, ter uma dieta alimentar perfeita, não bebia, fumava ou participava das festas que sempre rolavam depois de algum jogo.
Edward Cullen era uma antítese do garoto popular do ensino médio e suas atitudes de "bonzinho" poderiam afastar todos os outros garotos inconsequentes de nossa idade, mas ele era tido como rei na escola. Era o exemplo que o diretor gostava de usar para domar os jovens rebeldes e o filho ideal que os outros pais queriam que os seus fossem, mas eu o achava um idiota. Não conseguia entender como alguém tinha nas mãos a chance de sacanear o mundo com as vantagens que ele tinha, mas na verdade só agia perfeitamente e de acordo com o que os adultos queriam. Parecia difícil entender por que ele era daquela forma e eu não iria me desgastar para tal feito.
- Desculpe. - ele disse sorrindo para mim.
- Tudo bem. - murmurei antes de continuar andando para longe do refeitório.
Eu odiava esses contatos diretos com outra pessoa, principalmente com alguém que era o oposto de mim. Edward Cullen era feliz e tinha uma vida perfeita enquanto eu odiava cada segundo que passava viva e desejava morrer logo para acabar com meu sofrimento, mas ninguém saberia desses meus pensamentos suicidas e eu seguiria infeliz e sozinha. Um dia após o outro, até que algo mudasse minha vida.
Sobrevivi a mais um dia na escola e fui a primeira aluna a deixar o prédio quando o último sinal tocou. Algumas pessoas gostavam de ficar mais um pouco na escola conversando, marcando algo para o final de semana, mas eu preferia ir para casa, fazer meu jantar, zapear pela TV algo para assistir e me enterrar em algum livro para passar meu tempo. Charlie só chegava tarde da noite e isso me permitia ficar só por algumas horas, não precisando agir diferente para evitar seus questionamentos sobre minhas atitudes raivosas. Mas tive uma surpresa quando estacionei minha picape velha na porta de casa e vi sua viatura da polícia em minha frente.
- Pai? - chamei quando entrei em casa.
- Sala. - ele gritou de volta.
Charlie estava sem o uniforme de chefe de polícia e assistia TV com uma lata de cerveja na mão. Era quinta-feira e ele geralmente estaria na delegacia trabalhando, não relaxando no sofá de casa sem pretensão alguma.
- Você não deveria estar trabalhando? - perguntei deixando minha bolsa na poltrona.
- Tirei a tarde de folga. - ele respondeu tomando um gole de cerveja. - Não há muito acontecendo na cidade.
- Como sempre. - murmurei só para mim. - Eu vou preparar o jantar, ok?
- Tudo bem. Eu como qualquer coisa que você preparar.
Era estranho jantar com meu pai, pois ele nunca estava em casa nesse horário, mas eu poderia sobreviver a uma noite diferente com Charlie. Só precisava arranjar o que preparara para o jantar já que eu estava enrolando para ir ao supermercado abastecer nossa dispensa.
René me ensinou a cozinha no seu último ano de vida mesmo não sabendo que era seu ano restante. Ela me disse que toda a garota deveria saber cozinhar para não ser escrava de comida delivery e muito menos depender de um homem para levá-la para jantar e eu concordava com ela nesse aspecto. Apesar de René não ser a melhor cozinheira do mundo, ela me ensinou coisas valiosas e eu adaptei suas dicas para criar meu próprio estilo de cozinhar.
Só me restou preparar macarrão com molho de tomate caseiro, já que era a única coisa que tinha na geladeira além de água e cerveja. Eu cortava os tomates sem pressa quando Charlie entrou na cozinha e abriu a geladeira para pegar outra lata, parando ao meu lado para me observar preparar o jantar. Fiquei tensa enquanto cortava o tomate, pois eu não gostava de ser observava, muito menos quando estava com algo cortante na mão.
- Então, - ele disse abrindo a latinha. - Como vai a escola?
- A mesma coisa. - respondi sem ânimo.
- Alguma novidade? Fez algum amigo?
- Não para as duas perguntas. Acho que sou estranha demais para os outros alunos.
- Talvez, se fosse ficasse menos na defensiva e fosse mais aberta...
- Eu não quero ser aberta. - falei entre meus dentes sentindo meu sangue começar a ferver. - Eu só quero terminar esse ano e poder ir embora.
- Bella, eu sei que você ainda está chateada com a morte de René, mas...
- Eu não estou chateada com a morte de René, Charlie. - bradei parando de cortar o tomate e o encarando. - Eu sabia que ela iria morrer mais cedo ou mais tarde e eu aceitei isso, ok? Então, pare de me tratar como a filha abandonada no mundo.
- Ok, desculpe... - ele murmurou sem graça.
Respirei fundo para me acalmar, ainda tomada pela raiva de todo mundo me tratar como de cristal porque minha mãe tinha morrido a menos de quatro meses. Eu sentia falta de René e eu estava assustada por ela ter morrido da mesma forma que eu iria, mas eu não precisava da pena de ninguém para piorar minha dor mais ainda. Eu já sofria o suficiente sabendo que meu fim também estava próximo.
Charlie não se mexeu enquanto tomava a cerveja e eu tentei voltar ao preparo do jantar, mas quando segurei a faca para voltar a cortar os tomates acabei cortando a palma de minha mão. Rapidamente o sangue muito vermelho começou a jorrar do corte profundo e eu larguei a faca sobre o balcão para correr até a torneira.
- Você está bem? - Charlie perguntou me seguindo.
- Estou... - murmurei abrindo a torneira e colocando minha mão sob a água.
- Parece sério. Deixe-me ver. - ele disse tentando segurar minha mão, mas eu afastei rapidamente.
- Não. - gritei me afastando dele. - Não toque em mim, por favor.
- Bella, qual o problema? Eu só quero ver seu corte.
- Não, pai. É arriscado.
- É só sangue, Bella. - Charlie disse tentando segurando minha mão, mas eu tentava lutar contra ele. - Qual o problema com isso...
- Você pode se contaminar. - falei sem pensar direito.
- Contaminar? - ele perguntou sem entender.
Minha cabeça estava fervendo de nervosismo por eu estar sangrando e meu pai querer me tocar que eu nem raciocinei direito antes de falar:
- Eu tenho AIDS, pai.
Eu vi o espanto se espalhar por sua face quando ele entendeu minha frase. Era a mesma expressão que minha mãe teve quando descobriu que eu também era soro positivo com apenas três anos, era a expressão que todos tinham quando René contava que também tinha AIDS. Eu odiava aquela expressão porque junto com ela vinham as frases de preconceito e as estipulações sobre como alguém com minha idade pudesse ter uma doença tão grave assim.
- O quê... - ele tentou dizer ainda em estado de choque. - Como? Você não pode ter AIDS, Bella.
- Mas eu tenho, ok? - retruquei voltando a molhar minha mão, mas o sangue não parava de jorrar.
- Você só tem dezessete anos. - ele gritou entrando no estágio onde as pessoas me achariam irresponsável e culpada por minha condição. - Você se droga, é isso? Compartilha seringa ou sei lá o quê...
- Não, eu não compartilho seringa, eu não faço sexo sem proteção, eu não fiz piercing ou tatuagem em locais clandestinos. - falei sem paciência alguma. - Eu sou soro positivo desde os três anos, pai.
- Como você pegou? - ele quis saber, mas eu não estava em condições de ter aquela conversa com ele.
- Olha, eu posso te explicar tudo o que aconteceu desde que você e a mamãe se separaram, mas eu estou sangrando muito e preciso ir ao hospital. Se você tiver paciência, quando eu voltar, posso responder todas as suas perguntas.
- Eu vou com você. - Charlie disse me entregando um pano para estancar o sangue.
- Não precisa, eu posso me virar sozinha.
- Bella, eu não vou deixar você dirigir por aí com uma mão sangrando e... nessas condições.
Eu estava acostumada com René cuidando de meus machucados, pois com ela não havia perigo de contaminação já que foi ela que me passou o vírus, mas ter Charlie envolvido na situação de risco era diferente. Eu precisava ter muito cuidado para nenhuma gota de sangue tocar nele mesmo não tendo uma ferida exposta e, apertando o pano com força em minha mão, eu sentei no banco de passageiro de minha picape e Charlie dirigiu com pressa para o único hospital de Forks.
Para nossa sorte, não havia ninguém na emergência do hospital e uma enfermeira baixinha veio em minha direção quando me viu apertando o pano encharcado de sangue.
- O que aconteceu? - ela perguntou tentando tocar minha mão, mas eu a afastei como sempre fazia.
- Ela se cortou e não pára de sangrar. - Charlie explicou.
- O Dr. Cullen está de plantão agora, senhorita...
- Isabella Swan. - meu pai disse.
- Bella. - eu corrigi. - Vai demorar muito para eu ser atendida?
- Não, venha comigo.
Fui levada para uma sala isolada da emergência e a enfermeira me fez sentar na maca tentando tirar o pano de minha mão, mas eu não a deixei tocar nem mesmo meu braço. Tive medo de alguma gota de sangue estar em minha pele e ela tocar sem luva podendo se contaminar também. Expliquei que preferia que o médico de plantão me examinasse só por segurança.
O Dr. Cullen não demorou muito a aparecer e eu me assustei quando ele surgiu na porta da sala. Era a copia exata de Edward, apenas um pouco mais velho, e eu senti meu sangue ferver de uma raiva sem explicação por estar sendo cuidada pelo pai daquele garoto que tanto me irritava com ser jeito perfeito. Mas ele não parecia se incomodar com minha expressão dura, pois sorriu para mim enquanto olhava minha ficha.
- Isabella Swan. - ele disse parando em minha frente.
- Bella. - corrigi por odiar meu nome inteiro.
- Desculpe. Bella, você se cortou, não foi?
- Foi. Com a faca enquanto cortava tomate em casa.
- Vejo que cozinha não é o seu forte. - ele comentou fazendo meu pai rir, mas eu me mantive séria. - Posso dar uma olhada nesse corte?
- Você não irá colocar a luva? - perguntei retraindo minha mão.
- Claro, você tem razão. - ele disse assentindo.
Charlie me olhava apreensivo enquanto o Dr. Cullen colocava as luvas cirúrgicas nas mãos, como se esperasse o momento para que eu contasse ao médico sobre minha condição de saúde, mas se ele fizesse tudo sem risco não precisaria ficar sabendo e eu poderia seguir minha vida sem precisar ser a notícia daquela cidadezinha.
- Não foi tão profundo, mas você precisará de pontos. - Dr. Cullen explicou limpando meu corte com a gaze. - Você não tem medo de agulhas, não é?
- Não, já estou acostumada. - respondi gemendo baixo de dor por causa do anti-séptico que ele passava no corte.
- Serão dez pontos, coisa rápida.
O olhar de Charlie não desapareceu e se tornou mais desesperado ainda quando eu o sibilei que era desnecessário contar aquilo, mas ele estava disposto, até porque queria uma explicação também de como eu contrai o vírus. Mas eu não queria que mais alguém soubesse e me lançasse os olhares que acompanhavam a notícia; espanto, preconceito, para então se tornar um olhar de pena.
- Doutor - Charlie o chamou enquanto ele colocava os objetos cirúrgicos na bandeja. - Bella se esqueceu de contar uma coisa.
- Pai, por favor. - murmurei irritada.
- O que seria, Bella? - Dr. Cullen perguntou se concentrando em mim.
- Não é nada...
- Bella. - o chefe de polícia Swan tomou o lugar do pai naquele momento e eu não tinha mais como escapar.
- Eu sou soro positivo. - expliquei bufando baixo e fitando meus joelhos.
- Entendi. - o escutei dizer e ao levantar meu rosto eu percebi que sua expressão era amena. - Por isso a preocupação com as luvas.
- Ela não corre nenhum risco com o corte, não é? - Charlie perguntou preocupado. - Ela perdeu sangue e sua imunidade...
- Se Bella estiver seguindo a medicação corretamente e tomando os cuidados necessários que ela já deve saber, ficará bem. Você está, não é?
- Eu estava tomando, mas meus remédios acabaram na semana passada. - falei ignorando os olhares sobre mim.
- Como... eu nunca te vi tomando os remédios? - Charlie questionou ainda sem acreditar. - Você está morando comigo há mais de um mês.
- Não é exatamente difícil esconder isso das pessoas. - murmurei com sinceridade.
- Você não precisa esconder isso. - Dr. Cullen me disse. - É mais comum do que você imaginar.
- Me diga quantas pessoas com dezessete anos tem AIDS? Eu não conheço nenhuma, muito menos nessa cidade. - retruquei nervosa com aquele papo desnecessário. Eu já sabia como as pessoas reagiam e não precisava piorar minha situação.
- Você estuda na Forks High School, não é?
- Estudo.
- Pois saiba que você não é a única lá nessa condição. - ele explicou com um sorriso discreto nos lábios.
Eu abri minha boca para retrucar se comentário, mas uma batida na porta nos interrompeu e o Dr. Cullen mandou a pessoa entrar. Só para piorar minha noite, Edward Cullen apareceu segurando um pacote com a logomarca do hospital, mas congelou quando percebeu quem estava dentro da sala com o pai. Não sei se ele me reconheceu da escola, mas seus olhos me analisaram com interesse. Eu apenas abaixei os olhos e suspirei de cansaço mental.
- Desculpe, não queria interromper. - eu o escutei dizer.
- Não tem problema, não é Bella? - Dr. Cullen me perguntou.
- Não. - murmurei sem encará-los.
- Eu só vim pegar os remédios. - Edward disse indicando o pacote na mão.
- Você fez bem, pois eu provavelmente esqueceria.
- Já estou indo.
- Você conhece Bella Swan? - Dr. Cullen o perguntou. - Ela estuda na Forks High School.
- Conheço de vista. - Edward respondeu e eu percebi pelo seu tom de voz que ele estava desconfortável com a situação.
- Um estudante da Forks como você, Bella. - ele disse piscando para mim. - Como você. - ele frisou a frase novamente.
Eu estava cansada e com dor, logo não percebi o que aquela frase significava de verdade. Sim, ele era um estudante da Forks como eu, mas sua vida não tinha nada a ver com a que eu levava. Pelo menos eu imaginei isso.
- Te vejo em casa. - Edward disse ao pai antes de fechar a porta e sair.
- Filho único, não é? - Charlie perguntou ao Dr. Cullen.
- Tenho a Alice, que é filha da Esme, mas eu considero minha filha. De qualquer forma ele é meu único filho, mas sendo adolescente ele vale por cinco. Você sabe como é isso.
- Um pouco. - ele riu e olhou pra mim, mas eu estava séria até demais. - Grande garoto, nunca ouvi uma reclamação sobre ele.
- Edward é mesmo um exemplo para os garotos dessa cidade.
- E ouvi dizer que é excelente jogador também...
- Vai demorar muito para eu poder ir embora? - perguntei os interrompendo quando comecei a ficar sem paciência com aquele papo.
- Não, já vou te liberar. - ele respondeu sorrindo novamente. Eu odiava aquele sorriso na época. - Mas antes eu preciso de seus dados para te cadastrar na distribuição do coquetel pelo hospital. É gratuito e você poderá vir pegá-los todos os meses sem problemas.
- Obrigado, Dr. Cullen. - Charlie disse com sinceridade. - Eu não saberia como lidar com isso tudo e...
- Tudo bem, chefe Swan. Eu tenho filho adolescente, sei bem como é cuidar deles.
Dr. Cullen foi rápido em suturar minha mão e me receitar um analgésico para caso eu sentir dor e para minha sorte não comentou mais nada sobre eu ser soro positivo. Apenas me deu seu cartão com telefone para contato caso eu precisasse de algum tipo de ajudar. Qualquer tipo, ele garantiu com um sorriso acalentador, mas eu não queria a ajuda de ninguém. Eu me virei sozinha esse tempo todo mesmo tendo minha mãe ao meu lado, mas desde os treze anos eu fazia meu tratamento sozinha e não seria agora que eu precisaria de orientação.
O caminho feito de volta para casa foi preenchido pelo barulho do motor rodando, pois eu estava cansada e Charlie ainda estava digerindo todas as notícias da noite. Descansar seria a última coisa que eu faria assim que chegássemos à nossa casa, pois o olhar que ele me lançou quando estacionou o carro na garagem era de que a noite seria longa.
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Eu sei que AIDS é um assunto pesado e muita gente ainda tem preconceito com soro positivo e tal, mas foi justamente por isso que eu escolhi esse assunto. Eu não sei como é ter o vírus e tentar ser um adolescente normal, mas também não é tão difícil imaginar isso. É só uma tentativa de mostrar que nós passamos pelos mesmos problemas e questionamentos com essa idade, doente ou não.
