Perfectly
I won't lie
I won't sin
Maybe I don't wanna go
Can't you wait?
Maybe I don't wanna go.
Naruto olhou para o pergaminho à sua frente por mais um instante, sua mente trabalhando rápido para chegar a um consenso com seu coração. Pela primeira vez em sua vida ele queria tomar uma decisão extremamente egoísta, embora sua consciência diplomática pesasse como uma bigorna do outro lado e acabasse por obrigá-lo a pensar.
Desde que se tornara Hokage aprendera muito , e sempre – sempre – trabalhara para assegurar o bem de todos. Mas o pergaminho à sua frente possuía uma requisição que não asseguraria o seu próprio bem.
Seria muita prepotência de sua parte tomar uma decisão baseada apenas em seus próprios sentimentos, não seria? Seria mesmo egoísmo a palavra certa para classificar a vontade que tinha de ter Haruno Sakura sempre perto o suficiente para que seus olhos pudessem ver? Na verdade não precisava de ninguém ali para respondê-lo, porque já sabia a resposta para aquela pergunta.
Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, as palavras que Kakashi lhe falara mais cedo ecoando em seus ouvidos e o deixando ainda mais zangado. Sasuke havia sido avistado na fronteira com o som e, francamente, aquela requisição da presença de Sakura em outra vila, longe dali, lhe parecia bem oportuna quando analisada em paralelo à essa notícia.
Talvez estivesse sendo egoísta novamente, mas se parasse bem para pensar quem iria julgá-lo por querer o bem dela? Eles eram uma família, não eram? E como uma família, cuidavam um do outro da maneira que fosse necessária.
Recostou a cabeça na mão esquerda e com a outra tamborilou os dedos sobre a mesa.
Decisões, decisões...
Estava tão absorto em seu próprio dilema que se quer ouviu a porta abrindo.
"-Hokage-sama." – ergueu os olhos azuis e vivos para a mulher à sua frente e ergueu uma sobrancelha.
"-Naruto." – corrigiu-a, permitindo-se mais um suspiro. Antes que ela pudesse prosseguir, adiantou-se com uma simples pergunta. – "Ne, Shizune-sama, quando se ama uma pessoa... Se faz o que é melhor para ela não importa as consequências, certo?"
"-Certo." – ela parou por instantes. – "Porque está me perguntando isso, Hoga-Naruto?"
"-...Nada. O que queria mesmo?"
Ela ignorou a própria curiosidade em torno do questionamento anterior e resolveu que não insistiria no assunto. Pelo menos não agora. Ergueu os papéis que trazia nas mãos à altura dos olhos dele.
"-Relatórios médicos sobre a última equipe ANBU que chegou, conforme o protocolo." – ele pegou-o nas mãos, folheando rapidamente e mordendo o lábio inferior ao encontrar a assinatura de Sakura no final.
E dessa vez ele ouviu quando Shizune abriu a porta para sair.
"-Shizune-sama." – ela parou onde estava, voltando-se mais uma vez para fitá-lo. – "Como ficaria o hospital sem a Sakura-chan?"
"-Vazio." – ela respondeu sem rodeios.
"-Tecnicamente...?"
"-...Creio que bem. Konoha possui mão de obra qualificada o suficiente para caminhar com as próprias pernas... Mas não retiro minha afirmação anterior de que tudo ficaria vazio sem a presença dela." – e não era preciso ser muito inteligente para ligar os fatos e compreender o porque da primeira pergunta que ele a fizera tão logo entrara ali.
Naruto, por sua vez, entendeu perfeitamente o que deveria fazer.
Era melhor que Sunagakure tratasse bem a flor de Konoha... Ou ele pessoalmente iria até lá resolver esse problema.
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Sabaku no Gaara era um homem orgulhoso, mas sabia bem até que ponto esse orgulho poderia ser levado sem que interferisse em seu trabalho como Kazekage. Portanto, quando alguns ataques começaram a ocorrer em suas fronteiras por um grupo desconhecido e sua equipe médica revelou-se incapaz de lidar tanto com os feridos quanto com o veneno utilizado nos ataques, não hesitou em pedir ajuda à Konoha.
Sabia que os médicos lá eram mais do que qualificados, bem como seus conhecimentos. Logo, a ajuda seria bem-vinda e extremamente apreciada.
Não pôde evitar que um suspiro escapasse de seus lábios quando, naquela manhã, uma carta com o selo do Hokage chegou em suas mãos e seus olhos leram uma resposta positiva. Mas também não pôde evitar franzir o cenho ao ler mais atentamente a última parte da carta:
'Baka, se não cuidar bem dela vou pessoalmente até aí enforcá-lo em praça pública. Pro inferno com a diplomacia!
No mais, espero que dê tudo certo.
Realmente espero.
Uzumaki Naruto.'
Meneou a cabeça de maneira negativa lentamente, aparentemente a personalidade de Naruto nunca mudaria independente do cargo que aquele idiota estivesse ocupando... Mas talvez fosse exatamente por isso – e por alguns outros motivos, claro - que realmente apreciasse não apenas a companhia, mas também a amizade dele. E, bem, ele não era um homem de muitos amigos.
Ergueu os olhos para dessa vez fitar três guardas parados à sua frente.
"-Aguardem-na na fronteira, as ordens são escortá-la até os portões." – e com um movimento de mãos eles foram dispensados, sumindo rapidamente em uma pequena nuvem de fumaça.
Mais uma vez ele estava ali sozinho, livre para pensar por mais alguns instantes.
Haruno Sakura...
Lembrava-se bem daquela garota, e por mais de um motivo. Lembrava-se do olhar decidido que ela lhe lançou quando ele tentou matá-la. Do corpo pequeno que tremia, gritando o contrário de toda a certeza que os tons de verde dos olhos ela transpareciam. Lembrava-se da garota que havia salvo seu irmão tão habilmente, que não teve medo de enfrentar Sasori nas mãos de Chiyo e que inevitavelmente acabou por salvá-lo também – e aí então ela já não era mais aquela garotinha fraca e assustada, que apesar de estar sempre às costas de seus companheiros de equipe não teria hesitado um segundo se quer em dar a própria vida por eles.
Chegava a ser quase irônico – ou sádico – como, mais uma vez, estaria dependendo dela para algo. Dependendo da garota que ele quase matou no passado. Bem, não que aquilo servisse como algum tipo de consolo, mas agora ele se via grato por não ter sido bem sucedido em sua investida contra a vida dela.
Levantou-se de sua cadeira, pela segunda vez no dia meneando a cabeça.
Haruno Sakura...
Bem, tinha certeza que seus irmãos ficariam extremamente satisfeitos com a notícia.
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Foi atravessando o país em direção à fronteira que Sakura finalmente teve tempo para ponderar sobre o que estava fazendo, frustrando-se um pouco ao constatar que não sabia.
Seguindo ordens, é claro – sua mente gritou, quase como se ela estivesse alheia àquela constatação do óbvio. Mas não era como se ela não pudesse ter indicado outra pessoa. Como se não pudesse ter negado e pedido à Naruto para mandar outro alguém em seu lugar... E no entanto ali estava ela, atenta a cada resquício de areia em seu caminho que cada vez mais lhe indicava a aproximação com o País do Vento, onde o deserto a esperava.
Tudo parecia calmo demais... Estranho demais. Será que aquilo devia significar algo? Esperava francamente que não.
Mas afinal, porque estava tão apavorada com a idéia toda? Não era como se estivesse indo encontrar a morte, por mais que Gaara tivesse sim tentado matá-la uma vez, há muito tempo atrás. Aliás ele provavelmente nem teria tempo de vê-la, exatamente como Naruto – e agora e só agora ela agradecia por isso, porque duvidava muito que fosse se sentir confortável na presença do ruivo. Por outro lado, estaria revendo Kankuro e Temari, e aquilo quase era o suficiente para fazê-la sorrir... Quase.
Sakura parou exatamente onde a grama completamente virava areia e o número de árvores diminuía drasticamente, indícios claros de que ela havia enfim chego à fronteira ou então já passado dela.
Atravessar significaria não poder mais desistir e desistir agora significaria derrota. Fechou os olhos por instantes, sentindo a brisa leve lhe embalar os cabelos e lhe trazer o cheiro inconfundível de... Sangue.
As orbes esmeralda se abriram de maneira rápida e automática, escaneando seus arredores enquanto ela se esgueirava em meio aos galhos. Não demorou para que ela enfim encontrasse o que estava procurando... Um pouco mais à frente, em uma clareira, haviam três corpos espalhados pelo chão. O que mais a assustou não foram os corpos em si mas sim as bandanas da aldeia da areia que eles carregavam consigo e os indícios claros de que haviam sido atacados com algo envenenado: a pele roxa, a falta de marcas profundas de batalha, vômito.
Quando um deles moveu a mão, a kunoichi não pensou duas vezes antes de pular lá e agir.
E sem querer havia acabado de tomar sua decisão.
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Silêncio.
O restante da viagem de Sakura até Sunagakure no Sato foi rodeada do mais puro e mórbido silêncio, onde ironicamente seu próprio pensamento era o único disposto a quebrar aquele ciclo de areia, sol incessante e palavras não ditas.
Quando ela finalmente atingiu os grandes portões da cidade apertou as três bandanas que trazia em suas mãos com um pouco mais de força. Talvez se tivesse chego um pouco antes... Olhou para baixo, as roupas sujas de sangue que não era seu, as mãos imundas de um misto de terra e areia. E quando olhou para cima novamente foi apenas para encontrar o olhar atônito de Kankuro que vinha em sua direção, a boca se movendo rápido demais e a voz soando distante o suficiente para que ela fosse incapaz de entender algo.
"-Sakura."
Pelo menos ela havia chego sem desmaiar no caminho. E quando uma única palavra finalmente chegou aos seus ouvidos ela não evitou sorrir ao não ser capaz de identificar se aquela era sua própria mente ou Kankuro.
O importante era que o silêncio estarrecedor havia enfim sido quebrado, substituído por uma voz cheia de preocupação e cautela... Era quase como estar em casa.
Então quando seu corpo cedeu ao Sol, ao calor, à areia e à falta de chakra ela não tentou lutar. Deixou-se cair e ser abraçada pela escuridão para que pudesse descansar um pouco, mesmo sabendo que nada daquilo aliviaria o peso das vidas perdidas que trazia nas mãos.
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Letters To God – Box Car Racer
Bom... Eu sempre quis fazer um GaaSaku, e confesso que dessa vez não deu pra resistir à tentação...! A idéia simplesmente veio e a escrita saiu tão naturalmente no meu caderno que não pude deixar de postar. Eu realmente espero que gostem desse fic para que eu possa continuá-lo!
Eu tinha em mente – no meu computador que estragou, na verdade – um SasuSaku e um ItaSaku... Então quando eu recuperar meus tão estimados arquivos e eventualmente terminar esse fic aqui eu provavelmente vá postar os outros.
Acho que por enquanto é só haha
Comentários e sugestões são sempre bem-vindos e realmente apreciados!
Beijos!
