1. O ÚNICO COM PODER DE PARÁ-LO

Ele acordou, mas não abriu seus olhos, seu corpo doía e sua mente parecia ter se mantido ligada nas lembranças de tudo de tudo que tinha acontecido consigo até ali. Espera, havia algo errado. Não devia ter acordado. Era para estar morto, lembrava-se com excesso de detalhes de sua queda.

"Que lugar é esse?"

Perguntou-se tentando se localizar apenas por suas sensações, não estava onde seu corpo tinha perecido na noite anterior. O solo arenoso que tocava com as mãos e a temperatura gélida lhe fazia ter a certeza de que estava em uma caverna e este detalhe o fez se perguntar se haviam o levado de volta. Entretanto seu raciocínio esperto o lembrou de que isto era algo totalmente impossível, se fosse isso já teriam o matado.

Havia um barulho de água pingando em algum lugar perto dali. A consciência deste som o fez perceber o quanto sentia sede, mas seu corpo todo doía demais para conseguir alguma motivação para tentar se.

Cansado demais, a dor em seu corpo parecia implorar para que mantivesse seus olhos fechados e deixasse o sono o levar. Quis ceder a esta força maior, mas as engrenagens do seu cérebro engenhoso não o permitia, sabia que não era para estar ali por isso sabia também que algo não havia saído como planejado.

Abriu os olhos. Nada. Não via nada que pudesse lhe dar uma pista sobre onde estava, mas já esperava por isto. Tornou a fechá-los, porque era mais confortável e tentou se levantar, mas a dor em seu corpo não permitiu.

– Finalmente acordou. – a voz que o saudou era familiar, mas a fala não continha a satisfação que as palavras usadas deveriam conter.

– Também, depois de tantos meses, já estava até com receio de que nos descobrissem. – uma voz um tanto mais alta concluiu.

– Estúpido! Não tem como ninguém desconfiar. Eu disse para ele que nós o comemos, lembra? – a primeira voz voltou a soar.

Aquilo lhe deu toda certeza de que precisava. Ele conhecia as vozes que ouvia e as personalidades da pessoa que dialogava consigo mesma, mas não conseguia descobrir o que poderia significar aquilo, ainal.

– Zetsu?– chamou.

– Espero que não nos dê problema. – respondeu Zetsu branco.

– O líder nos ordenou que o matasse. – completou Zetsu preto.

– Mas não matamos, apenas escondemos. – explicou Zetsu branco.

– O que está acontecendo? Do que está falando? O que o Pain tem com isso tudo?

– Pain não, Itachi-san, Tobi é o verdadeiro líder. Ele se mostrou. – disse Zetsu branco.

– Agora descobrimos quem o líder de verdade é, mas não sobrou muitos de nós, não é mesmo. – Zetsu preto.

"Então ele finalmente deu as caras, esperou ter certeza que eu morreria." pensou o moreno que há muito já estava a par dos planos da mente perturbada que se escondia por trás de uma máscara cor de laranja.

– A mando dele filmei tua luta com Sasuke, quando caiu foi buscá-lo. – Zetsu preto.

– Quando vocês dois estavam desacordados, mas você estava tão mal que ele já tinha dado você como morto. – Zetsu branco.

– Aí trouxemos vocês dois pra cá e ouvimos escondidos a conversa deles. – Zetsu preto.

– Depois ele chamou e mandou te matar de uma vez. – Zetsu branco.

– Mas não foi possível matar Itachi-san depois de tudo o que ouvimos. – Zetsu preto.

– A história de Uchiha Itachi foi a mais impressionante que ouvimos. Está gravada. – Zetsu branco.

– Daí escondemos você. – Zetsu preto.

– Depois mentimos que o tínhamos comido. – Zetsu branco.

– Então aquele cabeça de bosta tem meu irmão...

– Sim, a Akatsuki tem seu irmão e ele deseja destruir Konoha.

"Uma vida inteira planejando o futuro de Sasuke para no final dar tudo errado. Mas esse desfecho também constava nas possibilidades de futuro que ele tinha pela frente, eu já sabia que isso poderia acontecer."

– Agora seu irmão trabalha com a Akatsuki, mas posso trazê-lo até aqui se for a vontade de Itachi-san. Talvez agora ele te escute.

– Não, ele não vai. Está realmente disposto a me ajudar?

– Sim, mas antes queremos dizer o motivo. – Zetsu branco.

– Quando ouvimos Tobi contando tudo para o Sasuke, descobrimos que também fomos enganados nessa história. – Zetsu preto.

– Por todo tempo que estivemos na Akatsuki nossa única tarefa era "siga e vigie Itachi"– Zetsu branco.

– Como eram ordens, eu fiz. Sempre passamos nossas descobertas seus passos e planos em relatórios que nunca vimos Pain abrir. – Zetsu preto.

– Hoje compreendemos que aqueles relatórios iam direto para o da máscara. Se ele tem tantas informações sobre você e seu irmão foi porque nós as demos. Sinto muito. – Zetsu branco finalizou em uma rara frase no singular.

– Eu tenho pouco tempo, estou doente e morrendo, mas isso não importa. Eu quero morrer, mas antes preciso falar com uma pessoa, preciso que traga essa pessoa até mim o mais depressa que puder.

– Podemos trazer para cá, é seguro aqui.

– Escute, o líder tem o que mais queria, o poder que passei para Sasuke em suas mãos. Juntos serão quase inatingíveis, eu era a pessoa que mais tinha chance de parar algum deles, mas estou morrendo. Preciso que traga aqui a única pessoa que é capaz de parar pelo menos o Sasuke.

– Sim. Quem você quer que eu busquemos, é só dizer.

– Uzumaki Naruto.

– O nove caldas?

– Deve mantê-lo seguro.

– Hai– e sumiu se fundindo às pedras da gruta.

.:.

Chovia forte, mas ele não se importava continuava sentado num trapiche na beira de um rio que acompanhava a estrada que era caminho para sua casa. Ele se lembrava de ver seu melhor amigo sentado ali sempre sozinho e triste quando eram crianças. Era engraçado como a solidão, mesmo que tão singular, pudesse esconder em quadros iguais, histórias totalmente diferentes.

Sentia os pingos grossos de chuva batendo em seu rosto camuflando as lágrimas. Na frente de todos ele se esforçava para sorrir, mas quando estava sozinho deixava-se levar por todas suas lembranças. Sua infância vazia que era preenchida somente pelas agressões verbais que lhe eram direcionadas pelos cidadões da vila e ele nem sabia por que. As trapalhadas que fazia só para chamar atenção, na esperança de que alguém o visse e o entendesse ou pelo menos gritasse com ele e assim, sabia que mesmo que pela raiva, alguém sabia que ele estava ali. Iruka sensei, Terceiro, Sakura-chan, Kakashi- sensei e Sasuke foram os primeiros amigos que teve.

Mas o tempo lhe presenteou com mais:

Choji

Shikamaru

Lee

Kiba

Shino

Neji

Hinata

Tsunade-baa

Gaara...

Foi dizendo em sua cabeça os nomes e vendo os rostos das pessoas que tinham aprendido a gostar dele, ou pelo menos aceitá-lo como era. Não eram poucos, aquela lista estava cada mais longa e com pessoas de diferentes vilas e países, sua determinação já havia conquistado amigos por todos os lugares.

Por que sentia que não era suficiente? Por que a perda de um amigo pesava muito mais do que a conquista de tantos outros?

Por que Sasuke tinha que ir? Por que seu melhor amigo?

Por que ainda não voltou se já matou o irmão? Sua dor neste momento estaria menor se pelo Sasuke estivesse ali? Ou sua apenas aumentava pelo medo de que sabia que se Sasuke não escolhesse o caminho de volta para casa seu futuro poderia ser ainda mais dolorido do que chorar pela perda de um amigo?

Por que o ero-sanin? Por que tanta coisa e por que tantos por quês que não pareciam trazer nenhuma resposta.

– AHHHHHHHHHH– agarrou as duas mãos nas madeiras do trapiche e inclinou o corpo pra frete, gritou a todo pulmão, na esperança de que toda aquela dor saísse de dentro de si junto com o berro.

.:.

– Por que sempre fica o olhando escondida, Hinata-san. Vá até lá conversar com ele, talvez uma pessoa doce como você seja o que ele precisa no momento. – disse alguém a cobrindo com uma capa de chuva.

– E.. eu jamais sa.. saberia o que dizer. – disse se agarrando à capa e se virou para o dono da mesma que agora tentava inutilmente não se molhar protegido apenas por um pequeno guarda- chuva.

– Se fosse preciso falar alguma coisa pra ele eu mesmo iria, mas não há palavras que o possam o confortar agora, mas a presença de uma amiga doce como você talvez possa ajudar.

– Arigato Neji nii-san.

– Não demore muito, seu pai já está a sua procura. – concluiu e foi embora.

– Hai. – pensou mais um pouquinho se realmente deveria ir até lá e chegou a conclusão de que se fosse ela naquela situação, Naruto já teria ido a animar.

– N.. Na.. Na.. Naruto-kun. – disse atrás do loiro.

– Yo Hinata-chan. – respondeu sem olhar para ela, mas secando discretamente suas lágrimas.

– Po.. posso me sentar aí com vo.. você?

– Não seria uma boa ideia pegar toda essa chuva.

– Não tem problema. – ignorou a resposta do menino e sentou ao lado dele.

– O que você faz na rua num dia como hoje?

– Só ca.. caminhando, aí vi você aqui...

– E o que quer falar comigo?

– Só q..q.. quero ficar aqui com vo.. você. – disse muito baixo, não conseguindo evitar o vermelho que aparecia em sua face.

– Hun? Por quê?– olhou pra ela em confusão.

– Eu sei que você está triste e embora quisesse ser capaz de te dizer algo confortante não saberia o que dizer, mas acredito que se puder ficar aqui do seu lado, mesmo que em silêncio sei que pelo menos não estará sozinho. – conseguiu dizer sem gaguejar.

– Arigato Hinata. – disse com os olhos cheios de lágrimas abraçando a menina.

Ficaram ali abraçados por muito tempo, ele começou a chorar novamente e ficou grudado nela o tempo necessário pra chorar todas as lágrimas que tinha. A chuva foi ficando cada vez mais fina até que finalmente parou deixando apenas um céu cinza, da cor dos olhos de Hinata para trás.

Soltou a amiga finalmente olhando nos olhos dela. Hinata sorria, estava feliz por estar ali. Ela não estava ali por sentir pena dele, mas sim porque se importava com ele. E mostrou isso de alguma forma conseguiu demonstrar isto do seu jeito. Hinata apesar de ser de família nobre carregava uma enorme tristeza no coração, Uzumaki sabia disso, mesmo assim ela sempre esteve por perto.

– Me desculpe por isso, Hina-chan.

– Não há pelo que se desculpar, Naruto-kun, nem mesmo você pode ser forte em todos os momentos. – ele lhe sorriu percebendo que Hinata não estava mais gaguejando e, pra quem não ia falar nada, estava o confortando bem.

– Eu queria muito ser forte em todos os momentos.

– Se fosse assim você não teria motivação para ficar ainda mais forte, não é mesmo? – ela viu um sorriso do estilo Uzumaki Naruto nos lábios do rapaz e mais uma vez se sentiu totalmente satisfeita consigo mesma.

– Ta cem por certa. Hinata quer ir comigo comer ramen?

– Ahh, mas Naruto-kun, estamos encharcados da chuva.

– E se pegarmos o ramen e comermos na praça?

– Hai. – concordou com um largo sorriso.

Foram caminhando lado a lado, como sempre acontecia quando estavam juntos. Naruto falou o caminho todo e Hinata só ria com ele, nem perceberam que já estavam em frente ao Ichiraku Ramen.

Naruto pediu dois pra viagem, sem nem perguntar a Hinata qual ela queria. Sabia qual era o sabor preferido da amiga de tanto que ela, o Kiba e o Shino já tinham ido ali com ele. Os bancos da pracinha estavam todos molhados, mas eles nem ligaram, já estavam completamente molhados de qualquer forma. Ficaram ali conversando por muito tempo até que ela espirrou.

– Esse banho de chuva vai te render uma gripe, isso sim.

– Não se preocupe, Naruto-kun.

– Naruto-kun, Hinata-sama. – fez uma leve reverência aos dois.

– Neji.

– Nii-san – respondeu a menina em uma reverência apenas com a cabeça.

– Seu pai me mandou atrás de você, você saiu muito cedo e sem avisar. Tenho ordem de só voltar com você.

– Naruto- ku...

– Arigato pela tarde Hinata, nos vemos amanhã. Ja ne, Neji.

– Ja ne Naruto. – e os Hyuugas sumiram de vista.

O loiro ficou ali por mais algum tempo pensando em muitas coisas e nem coisa nenhuma ao mesmo tempo. Diferente de quando estava chorando no trapiche, sua mente não estava inundada com questionamentos e angústias, a tarde com Hinata havia sido tão divertida que ele passou a lembrar de algumas missões que tivera com ela. Até mesmo aquela última em foram juntos atrás de Sasuke, missão que aconteceu na mesma data em que o mais novo dos Uchiha matou seu anisan.

"O que será que aconteceu naquele dia?"

– Yo Naruto, o que faz aqui parecendo um maltrapilha?

– Atchinn! Yo Sakura-chan, só estava pensando na vida.

– E pelo visto pegou toda chuva de hoje, to certa, vai pegar um resfriado.

– Eu me recupero rápido lembra, não sabia que se preocupava tanto assim comigo.

– Baka, eu me preocupo sim, com que cara que eu vou dizer pro Sasuke-kun que não soube cuidar de você quando ele voltar.

– Sakura... – o garoto o chamou e então pareceu desviar seu pensamento para algum lugar muito longe – Eu acho que ele não vai voltar.

– O que quer dizer com isto?

– Sakura-chan, me desculpe, não posso te contar sobre isso.

– Naruto, não me diga que está desistindo do Sasuke logo agora que ele conseguiu finalizar a vingança dele. É só uma questão de tempo pra ele voltar, eu acredito nisso.

– No começo eu também pensei assim, mas depois que passaram todos esses meses e ele não voltou, eu me obrigo a acreditar que..

– Não ouse terminar essa frase! – alertou a rosada em tom alterado.

– Gomen Sakura, não me pergunte como nem porque, mas tenho meus motivos pra acreditar que o Sasuke não vai voltar. – ele desviou o olhar dela, em sua mente agora se passava um filme.

Naruto´s POV

– Saiba que lutar contra mim, é lutar contra mil! – disse o loiro em posição de ataque.

– Não vim aqui lutar com você. – respondeu o outro calmo.

– O que quer comigo?

– Quero saber o que você fará se Sasuke não quiser voltar pra Konoha?

– Ora, eu o arrasto. Levo-o de volta pra casa nem que tenha que quebrar todos os ossos dele para isso. – gritou seu discurso inflamado.

– Sim, isso se ele simplesmente não quiser voltar. O que você vai fazr se ele quiser destruir Konoha?

– Deixe de ser idiota, porque ele faria isso? A única coisa que ele quer destruir é você! – gritou.

– Há uma chance de meu irmão querer sim, destruir a vila oculta da folha depois de me matar. E eu quero saber o que você vai fazer a respeito disso.

– Se o que diz for verdade, eu encontro um caminho para salvar os dois, Sasuke e Konoha.

– O tempo de ser ingênuo já passou, Naruto-kun, é hora de começar a agir e enxergar o mundo como um shinobi. Se quiser proteger Konoha, terá que parar Sasuke da maneira que for.

– E por que isso importa pra você?

– Adoraria ficar conversando com você aqui, mas meu tempo é curto. Você queria lutar não é mesmo?

De repente Naruto se viu em um Genjutsu. Uma pequena batalha se formava ali, por fim Naruto destruíra Itachi com uma manobra que pareceu ser simples demais para fazer com que o poderoso adversário se dividisse em inúmeros corvos.

– Você é forte Naruto-kun, mas ainda não é o suficiente. Vou dar um presente pra você. – um corvo invadiu a boca do loiro e forçou-se por sua garganta – Vou te dar um pouco do meu poder.

Em agonia, Naruto não conseguiu prestar atenção no inimigo além da ave que o fazia ter a impressão de se afogar. Era uma ilusão afinal, mas quando voltou a si o Uchiha mais velho já não estava mais em sua companhia.

– Agora vou encontrar meu querido irmão. Esteja pronto quando a hora chegar. E não se esqueça que quando eu estiver morto a Akatsuki estará mais perto de você. – ainda pôde ouvir a voz de ninguém.

– Por que está fazendo isso? Por que veio aqui me dizer estas coisas? Por que diz ter me dado um pouco do seu poder?

– Porque você é o único que tem chance de pará-lo caso ele vá para Konoha. – ouviu e o pio de um corvo chamou sua atenção antes que a ave sumisse deixando apenas algumas penas para trás.

Naruto´s POV off

"Ele parecia tão certo sobre seu futuro, como se estivesse planejando isso há tempos" foi o pensamento que nunca saiu da cabeça do Uzumaki.

– Naruto-kun, o que há com você? Você nunca desiste das coisas, ás vezes chega a ser chato de tão cabeça dura. Eu te imploro, não comece a desistir agora, logo com Sasuke.

– E se Sasuke fizer duas coisas que eu amo muito entrar conflito?

– Escolha a mais importante, não é obvio? Não sei o que isso tem a ver com o Sasuke-kun. – disse cruzando os braços.

– Deixa pra lá.

– Ahh essa não! – começou parecendo se lembrar de algo – Tsunade-sama vai me matar, ficamos jogando conversa fora e esqueci de te avisar que ela quer falar com você.

– Então vamos logo ou o sermão vai ser ainda mais longo.

– Nem pensar, você não pode entrar no escritório da Hokage assim, ensopado e com cheiro de cachorro molhado.

– Mas se eu for pra casa tomar um banho antes, os gritos dela serão audíveis lá de Suna.

– Não se eu for pro escritório e avisar ela.

– Ta certo, então eu acho que vou pra casa tomar um banho e apareço lá.

– Quinze minutos e nada mais! – alertou e sumiu.