And when I look back at all the crazy fights we had,
(E quando me lembro de todas as brigas loucas que tivemos,)
Like some kind of madness was taking control.
(É como se algum tipo de loucura estivesse tomando o controle.)
Muse – Madness
One: Control Yourself
Undisclosed Desires
Suoh Mikoto & Munakata Reisi
Munakata suspirou pesadamente, curvando-se levemente no encosto do enorme sofá branco. Os olhos cerrados e a feição tranquila acompanhavam o ar pacífico emanado pela quietude de seu apartamento. Era prazeroso sentir aquilo, afastando-o das inúmeras preocupações que o acompanhavam durante seus dias de trabalho como líder máximo da organização onde residia.
Apenas o doce e contínuo silêncio noturno lhe fazia companhia. Nada mais.
Nenhum barulho – e nenhum vizinho inconveniente.
E contrariando sua expectativa de noite harmoniosa, ouviu um som estridentemente alto sair do apartamento ao lado. Por pouco não perdera a intocável calma habitual, deixando escapar um impropério quase inaudível. Jogou a cabeça para trás, aspirando o ar profundamente, como se aquilo pudesse preservar sua paciência.
E mais uma vez, o vizinho inoportuno realizava mais uma de suas reuniões particulares – regadas a conversas estupidamente altas, gritos e músicas ensurdecedoras. Todo o conjunto que atiçava os nervos de Reisi.
— Suoh... – Sibilou, abrindo os olhos de forma lenta, deparando-se com a intensa luz que incidia sobre seus óculos. Quis levantar-se de onde estava e ir diretamente ao apartamento vizinho, dar algum jeito naquele incomodo. Porém refreou-se, imaginando os rumos que a tal conversa com o vizinho ruivo iria seguir – provavelmente iriam trocar palavras nada amigáveis, até que alguém cedesse à raiva e resolvesse ir embora.
Assim resumiam-se seus constantes confrontos pessoais com Suoh Mikoto, o inconsequente e pavio-curto habitante do apartamento ao lado. Ambos nunca chegavam a um consenso, seja lá que assunto estivesse em pauta. Forçavam uma convivência – quase – amigável, mesmo sabendo que todos os outros moradores do edifício soubessem do delicado fio amistoso que sustentava a paz dos dois residentes do 14º andar. As conversas diárias resumiam-se em cumprimentos desmotivados, respostas atrevidas e uma clássica pergunta: Que dia você se mudará daqui?
Inclinou o corpo para frente, voltando para a posição inicial. Descansou a cabeça, apoiando-a em um dos cotovelos, dedicando-se a ouvir os burburinhos alheios ecoarem pelo corredor – enquanto a batida da música continuava um tanto alta. As vozes pareciam se afastar gradativamente, até que o suave silêncio do correr se fizera presente.
A reunião parecia ter acabado ali.
Estaria tudo em paz, certamente. Se a irritante música que ainda tocava não estivesse tirando-o do sério. Munakata Reisi precisava apenas de alguns minutos de paz e Suoh Mikoto parecia não estar em concordância com seu desejo. Decidiu optar pela tentativa inútil – e única – que lhe fora disponível. Levantou-se bruscamente de onde estava, deixando seu próprio apartamento e enveredando-se até a porta vizinha, tocando levemente o botão da campainha, na esperança que o ruivo maldito o atendesse – pois lembrava-se do fato de que a maldita música estava deveras alta, para que o vizinho ouvisse seu chamado.
— Olha quem está aqui... – Uma voz arrastada e grave despertara Reisi de seus devaneios, fazendo seus olhos encararem a expressão entediada de Mikoto. Um meio sorriso serpenteava nos lábios alheios, enquanto os braços fortes apoiavam-se preguiçosamente em uma parede próxima. — Imagino que algo esteja irritando você, Munakata.
— Suoh, pedirei apenas uma vez. Reduza um pouco o volume da música. Está me incomodando. – Revelou apático, ajeitando os óculos de forma costumeira. Ouvira um muxoxo irônico, acompanhado do tamborilar de dedos na madeira da porta.
— Que seja.
Viu de relance Mikoto deixar a porta, atravessando o longo corredor do apartamento, encaminhando-se para um local que provavelmente deveria ser a sala. E tão brevemente o silêncio se fizera presente no local, tranquilizando a mente perturbada de Munakata. Viu o corpo alheio encostar-se novamente na parede, segurando uma caixa com cigarros. Suoh abriu a pequena caixa, oferecendo institivamente ao vizinho.
— Não é necessário. – Respondeu secamente, virando o corpo para o lado, indo em direção ao seu apartamento.
— É apenas cigarro. Que mal tem nisso? - Seus passou foram interrompidos pelas suaves palavras de Mikoto. Olhando-o de esguelha, percebeu a mão erguida, mostrando-lhe o maço de cigarros quase intacto. Ponderou nas circunstâncias de dividir alguns minutos do seu tempo, tragando o perigoso sabor do tabaco ao lado de seu suposto inimigo. Afinal, que problema teria? Suoh Mikoto parecia estar de bom humor naquele momento – embora o estado humorístico de Reisi não estivesse em seus melhores dias.
Levou uma das mãos ao maço, retirando um cigarro e levando-o a boca. Mal percebera a perigosa proximidade de Mikoto, reparando o brilho vermelho sobressair-se de um pequeno isqueiro, acendendo a ponta do cigarro em questão. E Munakata continuava ali, estático, apenas sentindo o estranho calor do corpo masculino próximo ao seu. Ambos os olhares se cruzaram por alguns segundos, enquanto o silêncio pairava no ar. Reisi apenas acompanhava o movimentar de Suoh, ao ascender o próprio cigarro à boca, tragando-o suavemente. Após deliciar-se da nicotina, jogara a cabeça para trás, expelindo lentamente a fumaça para o teto.
— Acho que esse vício é a única coisa que nos aproxima. – O tom de Mikoto revelava certo deboche, fazendo Munakata afastar-se de seu corpo, vendo-o repetir seu gesto anterior com o próprio cigarro.
— De fato. Não sou tolerante a músicas estupidamente altas e barulhos desnecessários.
— Você realmente é um incomodo, Munakata. – Virou o próprio corpo, colocando uma das mãos ao bolso da jaqueta preta que trajava. E usando a outra mão, segurava o cigarro entre os dedos. — Aproveitando esses minutos de paz, posso te convidar a tomar alguma coisa?
— Preciso dormir, Suoh. – Soprou suavemente contra o teto, vendo a fumaça misturar-se com o ar puro. Sentiu o olhar alheio sobre si, seguido de um suspiro entediado por parte do ruivo.
— É apenas uma bebida. Não vai te fazer mal algum.
Então relevou novamente, pensando seriamente se deveria ou não aceitar. O que importava? Eram apenas alguns drinques e nada mais. Nada que pudesse mudar a relação conturbada dos dois. Continuaram a serem os mesmos, despejando palavras de desdém todas as vezes que se encontrassem. Seriam como Azul e Vermelho, talvez. Frio e quente. Calmo e explosivo.
Totalmente diferentes.
Levou a mão à maçaneta de seu apartamento, fechando a porta de forma suave. Caminhou até a entrada vizinha, seguindo os passos de Mikoto pelo corredor do apartamento. Ora ascendia o cigarro aos lábios, ora observava o ambiente que constituía o esconderijo do vizinho incomodo. Parecia soar até irônico, mas o local era bem organizado – na medida do possível. Deparou-se com a enorme sala pintada de um tom que se assemelhava ao bege. Havia vários móveis espalhados pelo recinto, mas nada que ostentasse muito luxo. Reparou alguns copos sobre uma pequena mesa de centro, provavelmente deixado pelos visitantes de alguns minutos atrás. Percebeu Mikoto aproximar-se de si, oferecendo um líquido carmim em um copo. Hesitou em pegar, ouvindo mais um de dos suspiros tediosos de Suoh.
— Apenas uísque. Nada mais. – Revelou denotando uma surpresa irônica, o que não passou despercebido pelo olhar ferino que Munakata dirigiu a si. Após entregar o copo a Reisi, ofereceu-o um pequeno pires para que pudesse depositar os resquícios do cigarro que fumara.
Munakata bebericou o líquido vermelho, sentindo a própria garganta queimar. Sua mente dera uma leve divagada, situando-se logo em seguida. Não era seu costume beber muito, apenas guardava o vício para ocasiões especiais – ou não tão especiais assim.Observou Mikoto sentar-se de forma displicente sobre o sofá preto, mantendo uma postura desleixada. Segurava em suas mãos, uma dose de um líquido azul que a princípio Reisi não conseguira identificar. E rapidamente Suoh virara o copo sobre os lábios, bebendo de forma rápida, fazendo uma careta estranha logo em seguida.
— Não te aconselho a beber esse aqui. – Balançou o copo para Munakata, vendo-o arquear uma sobrancelha. – Mal conseguiu beber esse aí que ofereci a você.
— Está me testando, Suoh? – Os lábios de Reisi curvaram-se em um sorriso torto, levando-o a estender o próprio copo a Mikoto. Não era de aceitar desafios bobos, apenas considerava aquilo uma simples brincadeira. Era um jogo deveras interessante. — Se quiser me oferecer, estarei aceitando.
— Você é quem sabe. – Deixou uma risada discreta ecoar no ar, enquanto aproximava-se de um pequeno bar em um canto mais afastado da enorme sala. Retirou a garrafa em questão e algumas pedras de gelo, voltando em seguida com uma dose semelhante a que havia tomado. Estendeu o copo a Munakata, observando-o ajeitar os óculos, para em seguida pegar o drinque em suas mãos. Viu-o virar o copo de forma despudorada sobre os lábios, engolindo completamente o líquido extremamente azul.
A sensação que se apossara de seu corpo fora terrivelmente pior que antes. Sua garganta parecia estar em chamas, fazendo seus olhos perderem o foco por alguns segundos.
— Surpreendente. Achei que desabaria aqui mesmo com essa dose inofensiva. – Riu agourento, jogando-se de forma largada no sofá, admirando a expressão ferrenha de Reisi sobre si.
— Não seja presunçoso. – Sua voz era grave e indiferente, embora a garganta ainda estivesse incomodando um pouco.
Viu Mikoto aproximar-se novamente do bar e desta vez voltando com a tal garrafa de bebida azul. Tomou o copo de suas mãos, colocando-o sobre a mesa de centro, juntamente com o copo que pertencia a ele. Tornou a preencher ambos com o líquido azulado, olhando para Munakata de forma desafiadora.
— Se você realmente consegue, acho que não se importará em dividir esse momento comigo. – Aproximou-se sorrateiramente, oferecendo o copo ao vizinho. — Não é, Munakata?
Reisi tomara o copo das mãos alheias, ascendendo-o ironicamente sobre os olhos de Mikoto. Este fizera o mesmo, exibindo o conteúdo azul ao olhar atento do outro. E ao mesmo tempo viraram ambos o líquido, sentindo o clássico queimar em suas gargantas. Suoh exprimira um suspiro pausado, antes de colocar o copo sobre a mesa. Logo voltara a posição inicial, observando o olhar anuviado de Munakata, disfarçado sobre as lentes corretivas. Dirigiu seu olhar até os lábios entreabertos do vizinho, identificando uma teimosa gota no canto de sua boca. E tomado de um torpor inexplicável, aproximou-se do rosto de Reisi, fazendo-o afastar-se repentinamente.
— O que pensa estar fazendo, Suoh? – Viu o ruivo aproximar-se ainda mais, quase quebrando a ínfima distância que havia entre eles. Certamente, naquele momento sua mente estava perigosamente a mercê dos efeitos iniciais da bebida. Mas nada que o tirasse da completa sanidade, deixando-o totalmente estático e ausento de reações.
Mas, ironicamente, Reisi estava assim... Sem reação alguma.
— Nada de mais, Munakata. – Seu inconfundível tom de voz rouco, agora estranhamente provocante mexera com os sentidos de Reisi, fazendo-o despertar do estado de transe que se encontrava. Mal conseguira esboçar reação alguma, quando sentira a língua de Mikoto tocar a pele próxima a sua boca, como se buscasse algo ali. E em um tom bastante presunçoso, ouviu dos lábios alheios.
— Apenas evitando desperdícios. – Como se estivesse fora do domínio de sua própria mente, um sorriso se formara em seus lábios. Era incrível como o ruivo conseguia tirar proveito de situações imagináveis. E agora Munakata encontrava-se ali, a alguns centímetros dos lábios de Mikoto, apenas sentindo a respiração quente e nervosa sobre seu rosto.
Seu inimigo e seu oposto pessoal. Tão próximo de si, como se fosse...
Suoh afastou-se repentinamente, sentando-se no sofá onde estivera anteriormente. Um dissimular duvidoso brincava em seu rosto, enquanto fitava a expressão abismada de Munakata diante do contato repentino. Rapidamente, retomando a expressão apática de sempre, Reisi novamente ajeitou os óculos, sentindo o toque gelado do copo de vidro sendo colocado em suas mãos. Sem cerimônia alguma, tornou a virar o copo de forma rude, apreciando todo líquido azul que lhe fora oferecido. Não esboçara comentário algum sobre o atrevimento de Mikoto. Achou desnecessário desvendar a mente do vizinho inconsequente.
Parecia estranho, porém era prazeroso beber na companhia de Souh e do fúnebre silêncio – pois qualquer assunto que pudesse nascer ali, certamente acabaria em alguma discussão irredutível.
O tempo parecia passar lentamente. Tão devagar ao ponto de Munakata pegar-se sentado ao lado do ruivo, tentando contar quantos copos de uísque já havia tomado. Mas toda e qualquer conta que sua cabeça tentava fazer, era sumariamente dissipada por alguma onda tranquilizadora que ousava invadir seu corpo. E se ainda lhe restava um pouco de bom senso em sua mente séria e pragmática, esta certamente diria que estava na hora de ir embora.
— Preciso ir. – Tentou se levantar, falhando miseravelmente. Adquirindo um pouco mais de forma – e de controle mental – colocou-se pé de maneira rápida, caminhando habilmente até a saída. Antes, dirigiu um olhar obliquo a Suoh, fitando seus olhos perdidos em um ponto qualquer.
Quando conseguira tocar a fria maçaneta da porta, sentiu um par de mãos segurarem furtivamente seus ombros, fazendo seu corpo recostar-se brutalmente em uma das paredes. Usando um pouco de força desnecessária, sentiu tais mãos escorregaram até seus pulsos, prendendo-os contra a parede.
— Se ainda existe bom senso em você, aconselho a me soltar. – Disse ferinamente, fitando os olhos de Mikoto sobre o seus. Forçou o braço, na tentativa de livrar-se do aperto que lhe era imposto, desistindo logo em seguida, pela clara diferença de força que havia entre ambos.
— Me diga, Munakata... Você esperou algo de mim naquele momento? – Aproximou seu rosto dos lábios de Reisi, sentindo sua respiração duvidosamente controlada. Emanava o doce cheiro do álcool, misturado a algo que ele não reconhecera.
O aroma de confusão.
— E o que eu deveria esperar de você, Suoh? Basta-me o quão inconsequente você é. Nada me surpreendente. – Moveu-se novamente, sentindo o corpo do outro pressionando o seu de forma quase violenta.
— Te fiz uma pergunta. Responda!
— Entenda, Suoh. Não há nada para responder. E afaste-se de mim... Respirar o mesmo ar que você me enoja. – Reisi riu ironicamente, sentindo o laço em seu pulso esquerdo soltar-se pouco a pouco. Mikoto parecia afastar-se de si, porém o viu mudar de tática, sentindo o dedo alheio sobre sua boca, tocando-a levemente.
— Uma pena você dizer isso.
Livrando-o de sua prisão, Suoh levou uma das mãos à nuca de Munakata, enlaçando seus dedos aos fios de cabelo negro que ali se encontravam. Era deveras interessante ver o pragmático vizinho perder o dom da réplica, quando ambos discutiam por alguma coisa. Porém, aquela conversa em questão, tomara outros rumos – quem sabe... Perigosos demais. Deu alguns passos para frente, recostando inteiramente o corpo de Reisi na parede. Inclinou-se paulatinamente, sentindo o roçar dos lábios alheios sobre os seus.
Realmente... Era adorável quando Munakata não esboçava reação alguma.
— P-Pare com i-is- – Ouviu um reclamar quase inaudível, ignorando-o prontamente. Avançou mais alguns centímetros, sentindo a textura da boca de Reisi contra a sua. E gradativamente, Munakata deixara de corresponder os "nãos" que sua mente teimava em dizer – talvez porque estivesse tão fora de si ao ponto de ignorá-los de qualquer jeito. Deixou ambos os braços penderem ao lado de seu corpo, dedicando-se apenas sentir o gosto quente de Mikoto em sua boca. Em outras circunstâncias, poderia achar tudo aquilo uma completa loucura.
Mas ali não. Naquele momento em questão, definitivamente não.
Seria culpa da exagerada bebida?
Sentiu os lábios de Suoh moverem-se contra os seus, como se pedisse passagem para aquilo ser aprofundado – o que logo Munakata prontamente atendeu.Tocou a língua alheia com a sua, sentindo o gosto inconfundível da bebida misturar-se com o tabaco consumido há algum tempo. Era estupidamente viciante – coisa que Reisi descobrira no momento em que puxava brutalmente o colarinho da camiseta branca que Mikoto usava, incitando-o ainda mais contra seu corpo, buscando sentir mais daquele sabor.As línguas se entrelaçavam de forma lasciva, levando Munakata soltar um suspiro pesado ao ver seu lábio inferior ser sugado lentamente. Definitivamente estava fora de si – e sequer reprimindo qualquer vontade de continuar com aquilo. Sentiu a mão alheia pousar em sua cintura, movendo-se gradualmente contra a barra de sua camiseta, enquanto aproveitava a suave carícia que Mikoto fazia com língua em sua boca.
Mas independente do quanto aquilo estivesse agradando seus sentidos, em sua mente, aquele momento não podia se estender mais. Certamente, não deveria sequer ter acontecido. Usando o resto da sensatez que ainda corria em sua mente e abdicando do beijo quente que lhe era proporcionado, encostou a palma da mão na camiseta fina e branca de Suoh, sentido precisamente o abdome perfeito em seus dedos. Sua pele parecia febril, exalando um calor incomum. Era como se Mikoto Suoh fosse constituído de fogo. Dissipou tais pensamentos, forçando o braço contra o peito forte, afastando-o repentinamente.
— Suoh... J-Já chega. – Disse categoricamente – embora a maneira que pronunciara demonstrasse o quão entregue estava– reparando o olhar anuviado e semicerrado de Mikoto. E o ruivo não protestara de forma alguma, retraindo o próprio corpo, encostando-se à parede oposta. Elevando o olhar, fitou o rosto impassível de Munakata, que exibia um sorriso de escárnio nos lábios.
— Acho que quem estava esperando alguma coisa era você. – Riu, ajeitando os finos óculos costumeiramente, já colocando a mão sobre a fria maçaneta de aço. — Nos vemos depois, Suoh.
A única coisa que Mikoto pode ouvir fora o leve fechar da porta de seu apartamento, juntamente com a gélida ventania vinda do corredor. Ouviu um baque surdo ecoar longamente, indicando que Reisi havia entrado em casa. E então deixando o corpo escorregar lentamente sobre a parede, sentou-se no piso do corredor. Retirou a caixa de cigarros de um dos bolsos da jaqueta, levando um deles a boca, acendendo-o com um isqueiro. E apoiando displicentemente o cotovelo sobre um dos joelhos, pôs-se a divagar pelo repentino beijo de minutos atrás.
O gosto de Munakata era frio. Atrevidamente frio. Mas em contato com o seu, eram como se inúmeras sensações se misturassem de forma perigosa e tentadora. Gostara daquilo – sem dúvidas, fora algo surpreendente que fizera. E naquele momento daria tudo apenas para ver o estado emocional do vizinho austero.
Talvez alguns copos a mais de bebida tivessem criado tal tensão no local, fazendo a situação tomar aquele rumo.
Talvez.
Munakata Reisi era seu inimigo declarado – o vizinho sério e pragmático. Pareciam água e óleo, diferentes em todos os aspectos e imisturáveis.
Mas... Nada que alguns copos de bebida pudessem tomar o controle da situação.
Ascendeu o cigarro, levando-o a boca e expelindo a fumaça, observando-a desaparecer em meio ao corredor. E em seguida, sussurrou roucamente.
— Espero uma próxima visita, Munakata.
